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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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31.10.05

Capa do próximo disco do Strokes

Primeiras Impressões

Acho que essa é furo no Brasil. Dessa vez, é ponto para o sobremusica.

Essa é a capa do próximo disco do Strokes, "First Impressions of Earth". Como eu sei que você vai comprar mesmo, vai se acostumando.


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E vai ouvir "I'll try anything once" logo, vai. Pode ser que você ache na rede com o nome de "You only live once". Tanto faz, mas ouve por favor.

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Coincidência ou não, este post está sendo finalizado às 12:51. It's the time my voice found the words. Bom sinal.

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Ops, agora já é 12:52.


Leia mais sobre The Strokes:
Show: the Strokes * Show: the Strokes (2) * Show: the Strokes (3)

Show: Paralamas 28/10/2005

A turnê do décimo-quinto disco dos Paralamas do Sucesso começou no Rio de Janeiro, na última sexta-feira. Ou foi a chuva, ou o público do grupo está envelhecendo. Muito ruim chegar num show da banda e encontrar a frente do palco tomada por cadeiras de pessoas que "não olham para a coluna da direita" do cardápio. O pessoal que comprou o ingresso de pista foi jogado para as laterais do palco. Tristão.

Mas tudo bem, o show mostrou que a banda está ligada em seus últimos trabalhos e calcou 80% do repertório em músicas do último disco, "Hoje" (2005), e dos seus anteriores "Longo Caminho" (2002), "Hey Na Na" (1998) e "Nove Luas" (1996). O show começou igualzinho ao disco novo, com "2A" ('de caatinga...'), "Pétalas" (ainda mais bonita no show) e a nova música de trabalho, "Na Pista". Depois, vieram as canções do "Hey Na Na", com "Ela disse adeus" e "O Trem da Juventude". Daí começam a misturar alguns hits de sempre com músicas não tão na boca da galera. "Meu erro" (com direito ao solo de guitarra original!), "Lanterna dos Afogados", "Caleidoscópio" (com um arranjo próximo ao do "Acústico MTV") e um resgate de "Perplexo", que há album tempo não estava no show.

Além de "Perplexo", há outras surpresas. "O muro", faixa do terceiro disco solo de Herbert, "O som do sim" (2000), aparece, mas sem a participação de Black Alien, que estava na platéia, mas não subiu para cantar. Em seguida, "Navegar Impreciso", que assim como "Perplexo" soa incomodamente atual. "Soledad Cidadão", do disco novo, vem com o trombonista Bidu répiando no lugar de Manu Chao. Mais a frente, a banda sai e ficam no palco apenas Herbert e João Fera, o tecladista, num momento intimista que é servido de "Porque não eu?", sucesso do Kid Abelha nos anos 80 e agora, de volta às paradas, pelo duo de Herbert com Leoni, e "Quase um segundo".

A mulambada $entada de frente para o show parece com vergonha de esboçar reações exaltadas. Em alguns momentos, são as vozes e as palmas que vem das laterais que ajudam o show a seguir, dado o desânimo dos senhores das mesas e o pequeno público. Só nas últimas cinco ou seis músicas, essa gente se levanta. Parece que, aí sim, começou um show dos Paralamas. "Busca Vida", com um novo arranjo, mais animado e rock'n roll surpreende, assim como a presença de "Capitães de Indústria" no repertório. Para terminar, "Uma brasileira" e "Alagados". A esta altura, William Bonner e senhora já se esbaldavam, assim como Marcelo Camelo e os outros senhores sentados nas mesas centrais. Impossível não comentar o inusitado que é ver sr. Bonner requebrando os bracinhos, exaltado, empolgadão!

O bis quase que imediato ao fim do show, veio com "Loirinha Bombril" e "Deus lhe pague". Nesta última, assim como em outros momentos do show, Herbert esqueceu-se da (díficil) letra. Rolou um certo constragimento geral, pois a galera não sabia cantá-la. Não deu nem pra disfarçar que era uma deixa para que o público conduzisse. A galera percebeu a saia-justa, mas incentivou o cantor a continuar. Uns nove versos depois do lapso, ele retomou e segurou até o fim. Em seguida, "2A" ("de Saara..."), de novo. Não ficou claro porque que a banda encerrou o show com a mesma música que abrira. Fiquei com a sensação de que alguém confundiu a introdução e todo optou por seguir. Mas já soube que no sábado, o show também foi encerrado assim. Enfim...

A maior ausência foi de "Ao acaso", ótima música do novo disco. O show ainda deve melhorar ao longo da turnê. A banda parecia um pouco fora de forma, mas foi uma apresentação muito bonita, uma celebração de uma amizade que une os sete músicos, já que são os mesmos que acompanham o grupo há muito tempo. O repertório escolhido está muito certinho, dialogando com o momento da banda e do país.


Como em todo show dOs Paralamas, eu saí feliz de lá.

Faltam fotos, é verdade. Esqueci
de levar a máquina. Foi mal.

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Nosso colaborador ia gostar. Eles tocaram também "Cuide bem do seu amor" e "Seguindo estrelas". Dedicaram as duas a P. Vaz.


Leia mais sobre Os Paralamas do Sucesso:

28.10.05

Entrevista: Renato Martins, do Canastra (2)

E o Que Eu Faço Incomoda...

      Aqui vai a segunda metadinha, menor do que a primeira, da entrevista de Renato Martins: fotos amareladas, um terceiro disco do Acabou la Tequila (com o cuidado do “se houver” e o descuido do “agora a banda é mais cultuada do que na ativa”), e lendas e mitos sobre a moda. Me permiti comentários entre parênteses e em negrito.
      Senhores e senhoras, divirtam-se!


sobremusica: Quando você fala em um universo mais específico e mais direcionado criado pelo Canastra (pergunta 2), que universo é este? Dá para se aprofundar?
RM: O universo mais específico, mais direcionado a que me referi diz respeito à estética do som do Canastra. Meio som antigo, remete a música antiga. O Canastra tem uma proposta sonora de fazer uma uma música com textura amarelada. Tipo foto antiga. Esse norte que perpassa as composições, os arranjos e até os próprios instrumentos da banda pode um dia ser mudado, mas é nítido, você não acha? (acho sim, mas você falando é mais legal, né?) Já o Tequila nunca teve isso. Os dois discos são diferentes entre si. Se houver um terceiro, também será. As músicas não se conectam entre si.

s: Rondam histórias as mais diversas sobre a demora para o lançamento do disco “O Som da Moda”. A música 'Som da Moda' teve a ver com a demora, seguida de engavetamento, do lançamento do disco do Tequila? Parece que teve ainda uma troca de presidente da Abril Music na história, né?
RM: Cara, essa história é uma lenda, um mito, não se sabe o que aconteceu. Mas pense bem: se coloque no lugar de um executivo de gravadora que recebe na mesa um disco de uma banda que tem uma letra como esta ("tá todo mundo falando mal de mim/ porque eu não faço o som da moda/ porque eu não faço o que eles querem ouvir/ (...)então não vai tocar no rádio/ Radio D´Jaba..."). A gravadora era a Abril Music, que chegou no mercado disposta a pagar o necessário pra se estabelecer. Tudo que os caras lançaram tinha muito jabá por trás. Parece, no mínimo, engraçado, não? (ou triste, você escolhe.)

s: E por último: O Tequila é a banda seminal do rock carioca bacana? E, nessa história de rock carioca: como é tocar dentro e fora do Rio?
RM: Não faço quase shows com o Tequila dentro ou fora do Rio. Faço com o Canastra e com o Lafayete e os Tremendões. São sempre legais, por que como você já viu, a gente se diverte muito tocando. Quanto à história de ter influenciado outras bandas, não sei ... São as tais bandas que têm que dizer. (Algumas já disseram, né?) A sensação que eu e alguns dos tequilas temos é que agora a banda é muito mais cultuada do que quando estávamos na ativa. Enfim...

Alô?!? Alôôô!!!!

Presentinho para o Natal de quem (i)Pod

Se liga aê!!!

(Tudo com trocadilho, por favor!)




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Se interessar, o bichinho já está a venda no Brasil pela Tim.

27.10.05

Shows: Dona Ivone Lara e Dr John

Rio de Janeiro x Nova Orleans

       Festivais de cinema, de música, maratonas culturais, todos esses eventos são a grande realização de quem ama e de qualquer forma vive mesmo mergulhado nas expressões artísticas que buscam a alma humana. Mas cada nova edição de uma destas séries loucas de oportunidades imperdíveis a se perder que se passam a cada ano, especialmente a cada segundo semestre de cada ano, se for reparar, vem também com uma ponta de reflexão sobre os tempos modernos.
       O consumismo. A ansiedade por querer estar em todos os lugares ao mesmo tempo, e encontrar todas as pessoas legais e ainda algumas novas, de calcular um “será que vai dar tempo” com a variável “não pode atrasar” ou, às vezes, “tem que atrasar um pouquinho” – tudo isso é comum e implica necessariamente em filmes que não maturaram na retina quando você já está entregando o ingresso para a outra sessão, em fraseados ou movimentos no palco que foram atropelados pelo baticum de outra tenda, pelo violãozinho moderno e bossa nova no meio da platéia micaretada, do cavaquinho punk e assim por diante.

       Domingo, depois de um surpreendente show de um Buena Vista Social Club do batuque, sem mujeres a não ser a convidada Leny Andrade e a receita do cigarro para não afinar a voz, o Conga Kings se despediu com o pequeno congueiro engolido pelo terno às lágrimas. Bonito, mas este filme cubano já passou no festival de anos passados.
       O que vinha depois era uma dupla em nada parecida. A primeira atração, Dona Ivone Lara, a dama do samba do Império Serrano, em roupas de gala e jóias de rainha, com um microfone falhando sem entender o papel ali de cetro da música clássica brasileira, do blues nascido carioca, do muito bem chamado e sem necessidade de epítetos Samba.
       Ninguém, entre pagantes ou convidados ali perdidos, tinha vindo para ela, e muitos ainda estranhavam o deslocamento de Dona Ivone em uma escalação que tinha ainda uma orquestra de frevo, mas nenhum representante da música instrumental brasileira mais próxima ao jazz. Ora, o samba e o frevo têm palcos pela cidade, e agora tomava o de um festival que se distancia mais e mais do que já foi seu nome – ao lado do antigo patrocinador. Pois bem...
       Dona Ivone veio de lá pequeninha, e seguiu o aviso de pisar naquele chão devagarinho. Depois de um número só com a banda, com dois casais no coro, o piano de Leandro Braga, dois violões, um cavaquinho e dois percussionistas, ela entra nobre no palco, passa pela cadeira que usaria ao longo da apresentação para cantar com jeito de vó contadora de histórias e começa a soltar a voz. O som é ruim, um chiado faz desconfiar de interferência, ou de cabo com mau contato, mas ela não tira o sorriso digno e dolente e encanta uma platéia que perde feio para os garçons na hora de acompanhar a poesia imperiana no gogó.
       De deslocada, Dona Ivone não se faz de rogada e lá pro meio do show se apresenta: “eu vim de lá, eu vim de lá, pequininha/ mas eu vim de lá pequininha/ alguém me avisou pra eu pisar neste chão devagarinho/ alguém me avisou pra eu pisar neste chão devagarinho”. No canto, em frente ao palco, uma galerinha de meninas e, por conseqüência de marmanjos com olho grande, respondeu: “foram me chamar/ eu estou aqui o que que há”.
       Logo em seguida, jogou uma ‘Sonho meu’ - que Gal e Bethânia já haviam apresentado ao repertório de qualquer classe média - e assim botou o público heterogêneo de rappers paulistas a maurícios do Leblon e casais de cabeça branca que não olham para a coluna direita do cardápio para acompanhar o bumbo com a palma da mão e, há quem diga, com aquele músculo percussivo que fica dentro do peito.
       Para terminar, o momento mais lindo da primeira metade da noite: com a comunhão de vozes de um terreiro e a sofisticação dos sambas feitos em botecos de vizinhança suburbana, Dona Ivone Lara invocou a nostalgia do negro há muito distante da Mãe África em uma canção de liberdade, de louvação à cor da pele e à cor da tradição que não depende de espaços para se manter resistente e bela. “Um sorriso negro, um abraço negro / Traz....felicidade / Negro sem emprego, fica sem sossego / Negro é a raiz da liberdade”.

       Uma pizza e cerveja depois, do lado de fora que era menos assalto, tinha início a segunda metade da noite. Ao contrário do que sonhava, já sabia que Dr John viria sem naipes de metais, só com um baterista de marchin’ band, um guitarrista de rock’n’roll setentista e um baixo funkaria até o caroço. Todos capazes de passear pela praia dos outros e por mais ainda: de jazz à mardi gras ao blues à santeria caribenha e a baladas de corações partidos.
       E o bruxo franco-caribo-sulestadonunidense, ou simplesmente a imagem folclórica de Nova Orleans como ela já foi e há de voltar a ser, rezemos, agradou a todos mesmo assim.
       Dr John entra no palco de terno laranja, chapéu panamá e bengala africana (lembra o guru babuíno do Rei Leão?), senta-se entre o piano de cauda com uma caveira em cima e o Hammond que o acompanharia em uma ou outra música, na mão direita, com a esquerda fazendo o baixo no piano e o pezinho marcando o tempo, em uma apresentação mais para o r’n’b do que para o blues ou o jazz dos discos.
       Teve a tradicional ‘My Indian Red’, a marchinha franco-carnavalesca ‘Didn’t He Ramble’, o choro derramado de blues ‘Goodnight Irene’ com resposta em coro do baixista e guitarrista, só para citar as do meu disco preferido “Goin’ Back to New Orleans”. E mais músicas e músicas, várias que eu não conhecia, com solo de concha e uma série de barulhinhos e percussõezinhas, que me fizeram batucar incessantemente as coxas que não demoraram a ficar doloridas, alegres e doloridas.
       O montinho de gente ao lado do palco cresceu em relação ao da Dona Ivone, e o baterista ajudou a confusão das mesinhas organizadas com um grito de “this is jazz, come on, stand up and dance” no mais próximo que se podia chegar a um carnaval fora de época com a cerveja a exorbitantes cinco reais. E foi aí que a festa ficou séria.
       A marcha fúnebre já tinha sido citada uma ou duas vezes, e de novo voltou para uma versão triste e melancólica do antigo hino da alegria da Luisiana: ‘When the Saints Go Marchin’ In’. Meio torta e fora-da-ordem, o estranhamento demorou a bater e revelar o sentido de toda a simbologia com o passado e o momento político atual do estranho país do jazz. Os santos voltarão para casa, depois de cumprido o tempo de luto e reconstrução.
       Antes de ir embora de vez, Dr John entoou um "Home sweet home, we'll gotta go back to New Orleans, Right after the storm". Um lamento de liberdade e renascimento para a terra negra da América de lá. Viva Orleans!! O Rio de Janeiro!! E os carnavais!!


       E eu só agora entendi.

Paralamas Novo (2)

Acaba de chegar ao meu monitor o release de "Hoje", o novo disco dos Paralamas.

Para a minha surpresa, quem é o autor dele?!?! Quem?! QUEM?!?! RAIMUNDO NONATO?!?!

Não, Marcelo Camelo.

Lendo o que ele escreveu, acho que minhas impressões não foram tão descabidas assim. Se te interessar lê-lo também, clica aqui.

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Diversão! Solução, sim.

Leia mais sobre Os Paralamas do Sucesso:
Paralamas Novo * One more time?!?!

Leia mais sobre Los Hermanos:

ERRATA

O trecho "Te mando beijos em outdoors pela avenida/ e você tão distraída/ passa e não vê", citado no texto "Paralamas Novo", não é da letra de "Cuide bem do seu amor", e sim de "Seguindo Estrelas". A observação foi feita pelo assíduo leitor "P.Vaz".

Mais um erro, que passara desapercebido por mim e pelo meu colaborador P.Vaz: a letra correta é "Te mando beijos em outdoors pela avenida/ e você SEMPRE tão distraída/ passa e não vê". Como coloquei entre aspas, vale a correção.


Foi mal, gente.
Obrigado, "P".

26.10.05

Paralamas Novo

Era para esse texto ter saído antes, mas o strokatrina que passou pelo Rio no fim-de-semana, atrasou os trabalhos.

O novo disco dOs Paralamas do Sucesso é uma das gratas surpresas do ano. Para quem imaginou - como eu - que a capacidade de compor de Herbert Vianna tinha ficado no mar de Mangaratiba, o engano bate à porta. Para mim, não é tão importante analisar o teor ou as qualidades da letra, até pode se fazer isso, mas não é tão relevante. O que vale mesmo é ver que o talento continua ali, os traços, as idiossincrasias, a forma de compor... é só ouvir para reconhecer: "É o Herbert!".

Paralamas é aquele tipo de banda que me comove pelo simples fato de existir. Ao ouvir que o disco e constatar que a banda continua a existir, meus olhos não choraram, mas minha alegria veio ao rosto. Como naqueles filmes em que a criancinha vibra ao ver o herói dar a volta por cima, eu vibrava ouvindo. Assim como para muitos, Paralamas é a banda da minha vida. E isso é muito, né não?!

O disco começa com "2A". Uma letra esquisita, é verdade, mas que mostra que Herbert tá ali! Afinal, alguém que compôs "somos do interior do milho", também pode compor "Então xinga/ Com 2A de Caatinga/ Ou então pára/ Seja 2A de Saara"... Bem, não entendi. Mas como eu vi que era ele ali, sorri. Antes dessa parte tatibitate os versos que abrem a música lembram Marcelo Camelo "Meu destino não me deixa em paz/ de coração, eu não sei se posso amar/(...) /Pruma princesa eu entreguei meu coração...". Lembra ou não? Vale a pena ressaltar que nos últimos anos, as duas bandas estiveram muito próximas, fazendo vários shows juntas.

A segunda é "Pétalas", uma linda letra de Nando Reis, tem um clima meio "Nove Luas" (1996), numa série de acordes menores que crescem no refrão e traz um instrumental conduzido pelas palhetadas corda-a-corda, pelos metais e a batera. "Sou um homem que tem sobre a pele pétalas (...)/ que dorme na escuridão dos milagres/ e cresce na geração dos seus filhos/ Minha mãe trago em mim também/ Sem sua mão vou buscar caminhos/ E o amor que desfaz meu ódio/ Nos meus olhos retrato vivo". Boa, Nando. Ainda não ouvi o ex-titã cantando isso, mas acho que, assim como na maioria de suas músicas, esta também ficará melhor com o outro intérprete do que com ele.

Aí vem o petardo que já está nas rádios. "Na pista" abre com o naipe de metais meio circense, meio... Los Hermanos (?)... (de novo?!?)... Mas Los Hermanos quando era maneiro! A letra é rasa? É, mas precisa ser profunda? Não! É Paralamas. Isso é o que importa. "Soledad Cidadão" traz um trecho versado (muito bem) por Manu Chao. A grande marca desta música é a letra totalmente herbertiana. O que dizer de versos como "soledad cidadão/ solidão en la ciudad" ?! "Passo Lento", de novo vou me repetir, é para acabar com qualquer dúvida sobre a capacidade recuperada de Herbert. A música é diferente das outras, mas aquele jeito de cantar, quase falado é fatal! Nesse sentido, lembra "Pólvora", mas o refrão "hoje eu não te vejo/ainda sim te mando beijos/ por sentir tanta amplitude no desejo", lembra a de um sucesso recente "Cuide bem do seu amor" ("Te mando beijos em outdoors pela avenida/ e você tão distraída/ passa e não vê"). O tom confessional que já se rascunhava nas primeiras faixas ganha força neste refrão. Herbert está vomitando seus fantasmas. Não bastasse a evidência de tais versos, que indicam estarem falando com sua mulher Lucy Needham (morta no acidente de ultraleve em 2001), os anteriores a ele confirmam isto. "Não quero estar em seu lugar/ Onde eu for local/ E você for só uma estrangeira". Lucy era inglesa.

"De perto" começa com um verso parecido com a da faixa anterior. "Não quero estar nesse lugar/ E ver você partir". Na verdade, parece uma continuação lírica. Esta faixa também tem um clima de "Nove Luas". Se os Paralamas não evoluíram consideravelmente neste disco, pelo menos não retrocederam muito. Os teclados de João Fera estão mais presentes e essa é uma das faixas que deixa isso evidente. Os timbres são aqueles que estão na moda no pop-rock brasileiro. Você pode ouvi-los tanto no "Cosmotron", do Skank, quanto no "Ventura", do LH, no "Ao vivo", do Jota Quest e mais num montão de discos. O solo de guitarra no final, confirma, de novo, o autor da música.

"Ao acaso" é deliciosa. Mais uma vez, um verso se repete "Hoje eu não te vejo e, ainda sim, te mando beijos". É, os beijos dele são freqëentes. Mais confissões? Toma: "Já vai longe o dia em que eu me entregava ao choro/ e nada via/ me anulei demais/ mas em dado instante/ despertei e pensei/ como é importante/ o que o vento traz/ ao acaso/ não vê que a casualidade é uma força/ inesgotável". Com certeza será uma das melhores ao vivo. A entrada da bateria no refrão indica isso.

A partir da oitava música, o disco cai um pouco. O que só comprova, mais uma vez, ser Paralamas. Disco dos Paralamas que não caí de qualidade de repente, não é disco dos Paralamas. "Hoje eu não sei/ se foi o que eu vi/ou se eu viajei/ numa onda de amor entre você e eu/ sorrio, mas é claro que não me calei" são versos que descem tortos, logo com um segundo de faixa. Esquisito. Herbert. "Eu gosto, mas eu sei que não faz bem/ a mistura homogêna/ meu leite, teu mel". (?) "Fora de lugar" traz, de novo, um quê daquele modelo de rockzinho que os Paralamas fizeram até dizer chega no início da década de 1990. "220 desencapado" é o melhor nome de música, mas a sonoridade está mais para choquinho. De novo, as letras sem métrica, sem arredondamento, faladas em cima de uma base, mas sem ser rap. Estas três músicas soam meio "Os grãos" (1991), meio "Severino" (1994), saca?!

"Ponto de vista" é puro rock'n roll, guitarrona distorcida, um bom riff, com mais uma letra vomitada: "Você aí em pé/você não deve saber/ como é o mundo aos olhos/ de quem sofre ao se mover/ eu vou seguindo na luta/ com problemas normais/ (...)/ olhando para o céu/com muita dor no coração". No final, Herbert manda uma ótima frase: "Mas faltam cordas novas no meu violão". Faltam mesmo, mas só de o violão estar sendo tocado, já valeu. O novo ainda deve vir.

"Deus lhe pague", de Chico Buarque, é a penúltima faixa. Ela foi escolhida pelos fãs no site, vencendo, entre outras, "Todo Carnaval tem seu fim" do Los Hermanos (tô falando, tô falando...) e "Para Lennon e McCartney", de Lô Borges (mas gravada por um montão de gente). A versão ficou legal, digna. Com menos elementos do que a original, com o naipe de metais sendo o grande responsável pelo climão, que no disco"Construção" (1971) é feito originalmente pelo baixo, pelos tambores e pela flauta. A versão paralâmica fica devendo bastante à original, mas fica bem assinada pela banda. Depois, pra terminar, uma versão dublight de "Ao acaso". No encarte vem assim: "Ao acaso (dub)". Isso é ou não é nome de música dos Paralamas?! É, os Paralamas do Sucesso estão de volta na capital...

Não é o melhor disco do grupo, mas não era essa sua função. Basta saber que o Herbert está ali. Não importa se ele está cantando pior do que nunca. Sim, este é o disco em que Herbert Vianna pior canta, mas e daí? A música é menor que a vida.

Não é?!?!

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28 a 30 de outubro, no Canecão.

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Só para terminar. Como eu não entendo mesmo nada sobre música, alguém pode me explicar porque nos dois shows dos Strokes no Rio, a música que começou a tocar imediatamente após o fim das apresentações foi "Could it be love", do Bob Marley?!?! Tanto no sábado, quanto no domingo. Será que em SP e PoA também foi assim? Fiquei sem entender essa.


Leia mais sobre Os Paralamas do Sucesso:

Leia mais sobre The Strokes:

25.10.05

Show: The Strokes (3)

Na Ressaca
As coisas começam a assentar. O devaneio se põem e deixa suas seqüelas.

Depois de passada a necessidade de deixar expresso as impressões sobre os shows desse fim-de-semana, vamos a um pouquinho, mas só um pouquinho, de jornalismo.

Os dois shows que os Strokes apresentaram no Rio de Janeiro foram bem diferentes um do outro. Há um ano sem fazer shows, os novaiorquinos voltaram aos palcos aqui. Eles tocaram todas as músicas do primeiro disco e quase todas do segundo, mais uma porção do que estará no terceiro, a ser lançado em janeiro.

Com setlist completamente diferentes um do outro, a banda parecia consciente de que a cidade natal do baterista merecia dois espetáculos singulares e o fez. No repertório novo fica nítida a renovação que a banda se propõe, mas sem perder suas próprias características. Os destaques são as músicas You only live once (disponível na internet e recomendadíssssssima!!) e Razor blade.

A apresentação de sexta-feira veio cercada por uma aura diferente. Era o primeiro encontro e todo primeiro encontro é especial. É como se fosse uma mulher bonita, ela continua bonita no primeiro, no segundo e em todas as vezes que você a vir, mas o primeiro impacto marca mais. Isso aconteceu tanto para o público quanto para a banda. Talvez porque na sexta estavam os verdadeiros fãs da banda, que se amontoaram durante quatro dias em setembro, nas filas que rapidamente esgotaram ingressos. Os de sábado só acabaram três dias antes do show.

Essa distinção deixou claro que o público do Strokes não é tão teen quanto se pensava. Os adolescentes marcaram presença no sábado, nem tanto na sexta. Apesar da aura do primeiro encontro, o segundo também foi lindo. A banda mostrou que sua simplicidade e objetividade atacam no âmago. Porrada no estômago a cada riff certeiro, exato, na medida. Ninguém é fraco ali. Grandes músicos, conscientes e um pequeno gênio disfarçado de vocalista. A empatia de quem estava em cima do palco, com quem estava de frente para ele foi tão forte, que dois bis eram inevitáveis.

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Vamos parar por aqui, pois os fatos já se embaralham na minha mente. Já não sei o que foi o quê e estou com medo de escrever besteira. Assim como vários sites independentes, o sobremusica não foi credenciado para o evento, o que nos afastou, em parte, do compromisso jornalístico. Fomos? Sim, fomos. Por diversão. E a gente gosta de dividir, também, a diversão com quem nos lê.

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A seguir, cenas dos próximos capítulos:


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The end has no end...

24.10.05

Show: The Strokes (2)

O que escrever sobre um show que pareceu ser o melhor de sua vida? O que dizer quando a música e o tesão de vivenciá-la transbordam? O que dizer quando você se sente meio bobão, soando exagerado, ainda que tanta gente tenha gostado do show? O que dizer quando você vai a um show de uma banda que você acha muito legal, mas que não está na lista das suas prediletas e sai de lá se sentindo um débil por não ter decorado todas as letras com intensidade e com a sensação de que aquela banda, que - de novo - não era a sua favorita, faz um show que coloca todos os outros que você já viu, inclusive os das bandas que você, até então, achava melhores do que aquela, no chinelo? Não sei.

O que os shows do The Strokes causaram em minha vida nesse fim-de-semana foi algo muito forte. O rock faz sentido, o rock pulsa. Mais do que o rock, a música. A paixão ainda faz sentido. Ainda vale a pena se expor com toda a sua bestialidade e sua fragilidade diante de coisas que, aos olhos do mundo - e às vezes até ao seu próprio "olhar crítico" - soem estúpidas, mas que dentro de você (estúpido que é), fazem todo o sentido.

Nada vale me estender aqui. Só para dimensionar, o babaca (eu) foi ao show da sexta-feira e se sentiu obrigado a ir de novo no sábado, ainda que não tivesse ingresso para tal. Duas horas e meia negociando com cambistas para ver um show que já tinha visto?! Definitivamente, aquilo não faz parte dos meus hábitos. Mas que se fodam todos os hábitos diante da sensação de que você tem que fazer aquilo, simplesmente porque sua paixão veio à tona e te disse que, por mais rídiculo que aquele ato possa parecer para os outros, não corresponder aquele sentimento besta seu (e só seu) custaria um eterno pesar, uma eterna culpa que só você saberia existir, ainda que o mundo fosse então, achar que você é um ser normal.

Eu não sou tão normal e foi muito, muito bom ver esses dois shows.

Sem mais.

22.10.05

Show: the Strokes

Last Night

      A última noite... Bem: pessoas, elas não entendem. As namoradas, elas não podem entender. Os netos não vão entender. E mais, nem eu tenho como explicar.


      Começou com um show correto do mundo livre s/a, com a ingrata missão de abrir os trabalhos para as duas atrações principais poucas semanas depois de ter tocado na cidade de graça, no Teatro Rival. Finalmente deu pra ouvir a 'Guns of Brixton' meio Manu Chao de Fred 04, talvez a mais aplaudida dos caranguejos livres. Em seguida, uma mensagem pelo Sim, amanhã. Daí, veio o show competente mas nada além do Kings of Leon, caipira, cabeludo, às vezes quase um Bon Jovi, se isso não fosse uma ofensa - e não é pra ser.

      Mas...

      Mas...

      Mas daí veio the Strokes, a banda que reinventou o rock como o conhecíamos, que provou que a internet não precisava de MTV ou rádio ou gravadora, que fez o Velvet Underground quebrar o espelho de inveja e orgulho com o que deu. O início do século XXI para o rock.

      Antes do início, enquanto entram no palco e se posicionam, soa nas caixas 'It must be Love' do Madness. Daí, o show começa com 'Hard to Explain' e 'Someday', incríveis, as letras drogadas, a voz de bêbado apaixonado que rasga o peito, todos desleixados e amigos de infância. Pose, diversão e aplicação em timbres únicos e frases repetidas até que seja impossível não dançar. Ou pular.
      O primeiro álbum, "Is This It" seria todo tocado, tal qual no disco, sem improvisos, sem descansos, sem respirações fora do lugar, sem recursos fáceis de "canta junto". Chegou uma hora que Julian Casablancas, suado e surpreso, vestido de Sgt. Pepper azul, já tendo desistido de apresentar as músicas novas como se isso precisasse de um pedido de desculpas (foram cinco, duas pelo menos com a mesma força de todo o "Is This It" e da metade boa do "Room on Fire"), agradeceu as palmas ritmadas que nem tinham sido pedidas, em 'Barely Legal' e depois em mais um monte.

      Além disso, Casablanca ainda insistia em juntar as mãos em gratidão aos quatro mil pulantes e gritantes presentes, depois de cada versão histórica de músicas inesquecíveis. De bis, três que não podiam faltar: 'Reptilia', 'Is This It' e a pedida em coro 'New York City Cops'. (A melhor do primeiro disco, pra mim e, pelo visto e minha surpresa, pra vários). E mais, um segundo bis, 'I Can´t Win', do "RoF".
      O tempo voltou a correr, o espaço voltou a ser fechado, e cada um seguiu seu caminho, satisfeito, buscando uma forma de fazer quem perdeu entender. Mas não, nunca vão entender.

      Foi isso, depois rolava um B Negão improvisando sobre as bases frenéticas de Marky, interessante mas só.



Nada a ver

Meu direito de ir e vir não deve prevalecer ao seu de, se quiser, um dia, querer adquirir uma arma? (Sim!)

21.10.05

Altenativa à rainha dos baixinhos pós-plocs

A Pitty é uma xuxa pós-moderna. Isso é notório. Hoje ela é a rainha dos baixinhos. Assim como as meninas da minha geração queriam ser paquitas, minha irmãzinha, de de cinco anos, chegou por esses dias em casa dizendo que quer ser cantora de rock... As menininhas todas se vestem como a Pitty (pfff...), mas tudo bem. Afinal de contas, ela é a ídola (sic) MTV 2005, não é?! Ídola da geração...

Nada contra a "baianinha". Até porque, prefiro viver um tempo onde a "baianinha" mais querida do Brasil não é a Carla Perez. Contudo, acho ela super-valorizada.

Para quem curte a postura dela, sugiro que ouça uma música que acabou de cruzar meu caminho na MTV. "Cotidiano de um casal feliz", do cantor Jay Vaquer. Esse rapaz já vem há algum tempo fazendo uns singles maneirinhos, mas que só tocam na televisão. Acho que se tivesse mais divulgação, o rapaz arrebentaria nas paradas nesse tempo de monopóliorockinho.

Jay Vaquer não é revolucionário, não traz muitas novidades, mas pelo menos essa música tem um texto bacana. Melhor que o da Pitty. Prometo tentar me aprofundar, mas não que o farei. Dei uma olhada no site do cara e lá tem um blog onde ele fala uma porção de coisa, fala bem de si, mal dos outros, mas é legal porque ele se expõe. Põe a cara a tapa, mostra a opinião muito mais explicitamente do que se vê no mundinho da MTV. Mais do que o que a Pitty diz fazer. Fala mal até de quem escreve suas opiniões sobre música, como os críticos musicais, sem ver que o que ele está fazendo é exatamente o mesmo.

Mas é legal. Vale a pena conferir. Se você curte Pitty, procura saber do Jay Vaquer. Parece ser bacana.

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Mas ele dá mole... No tal blog ele fala mal do Magic Numbers... Menos, Jay, menos. Tem muito chão na sua frente ainda...

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É hoje o dia/ da alegria/ e a tristeza/ nem pode pensar em chegar...


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Quem se interessar, Sr. Fabrizio Moretti já foi visto pelos pubs de Ipanema, mais especificamente, no Empório. Chega lá, mané! (End. Rua Maria Quitéria, qualquer coisa do lado direito, perto da Prudente de Morais)

16.10.05

Entrevista: Renato Martins, do Canastra

Um nome seminal para o rock carioca

      O Canastra está na semifinal do Oi Tem Peixe na Rede. O Acabou la Tequila acabou de abrir para a atração principal (Weezer) de um dos festivais mais importantes do país (Curitiba Rock Festival).

      Renato Martins, vocalista e compositor de uma e de outra banda, pacientemente respondeu a algumas perguntas por e-mail, e até gostou de não ter que explicar a origem do nome Acabou la Tequila. Se essa era a tua maior curiosidade, fica pra próxima, não perguntei.
      Em dado momento, cutucou o parceiro Nervoso, de quem – no campo das idéias – rouba e é roubado. Uma coisa legal, essa de citar como referência alguém próximo e amigo. Bem melhor do que quem faz música só e exclusivamente pensando em gente-unanimidade, como Chico Buarque, Noel Rosa, Mutantes, ou sei lá. Todos muito bons e importantes, mas igualmente óbvios quando um artista está se apresentando, ou se definindo até. Levantar bandeiras não parece uma opção. “Música é sete notas e só” diz Renato.
      Como podia-se esperar, sobra uma espetada no repórter (eu!?): “os jornalistas é que precisam de novidades o tempo todo, não gostam disso [a música ser essencialmente repetitiva]”.
      No que eu puder discordar, uma coisa é repetir clichê, outra é se valer deles para brincar, subverter. O jazz é feito de tema e improviso, e quem gosta de dixieland sabe que o formato é que permite a liberdade do solo. (Estou lendo Salman Rushdie, que diz muito bem que liberdade não é paz, é guerra.) O Canastra e o Acabou la Tequila debocham sim da repetição dos sons da moda. Hehe.
      Ainda bem-humorado, Renatinho comenta o show do Tequila em Curitiba, quando entraram me parecendo nervosos: “A galera não tava tensa, estava é de saco cheio mesmo. (...) O Kassin parecia menos tenso... bom, o Kassin foi de avião.” Hehe, de novo.
      Sobre o Tequila, ainda uma observação: “nós aprendemos a fazer música juntos, embora só eu admita isso publicamente”.

      E só para saber, o Canastra toca aqui no Rio na próxima quinta, no Circo Voador – ao lado de Jumbo Elektro, Irreversíveis e Hapax.


sobremusica: Pra mim, o mais legal do show do Canastra é a impressão de que o que está ali no palco é muito próximo a você. Já escrevi isso inclusive aqui no site. A impressão, e é um elogio, é que tá rolando um show da galera da rua no play do prédio. Você gosta mais de compor, de trabalhar em estúdio sobre arranjos, ou de tocar ao vivo?
Renato Martins: Eu me sinto mais compositor. É o terreno mais tranquilo pra mim. Mas, hoje em dia, tanto no Canastra quanto nos Tremendões [banda que acompanha o tecladista Lafayette com repertório de Jovem Guarda], o show é a maior curtição. E isso é bom! Porque, num show, 70% da informação que você recebe é visual. O áudio, num show, não é como ouvir em casa um cd. No show é importante a noção de espetáculo. E isso o Canastra tem. O show é cheio de truques e marcações.

s: Outra sensação, vendo o show do Canastra (que eu já tinha com o AlT) é que as músicas de vocês têm muito de influência de cinema e tv. Isso fora o evidente clima de Velho Oeste aqui e ali. Me faz lembrar de uma coisa que li sobre o Tarantino, na época do lançamento de Kill Bill, que dizia que o filme não se passava num mundo fantástico ou real, mas num mundo ‘tarantiniano’. Existe um mundo canastriano? E existiu um mundo tequilano?
RM: Todo artista monta esse universo temático, consciente ou inconscientemente. No caso do Tequila, o que eu acho legal é que esse universo reflete algumas característica da nossa cultura atual, que é fragmentada e multifacetada. Ou seja, um pouquinho de tudo. Tudo mesmo, não só do universo artístico. Já no Canastra, isso acontece de forma mais direcionada. O objetivo no Canastra é remeter o espectador a um universo bem específico. É uma tarefa mais difícil, mas estamos indo bem.

s: O rock, desde os anos 90, com Raimundos e o mangue bit, voltou a querer ter dna regional, como tentaram os Mutantes, a Tropicália, Jorge Ben, etc. E, com os Los Hermanos em destaque, o samba voltou a ser um pouco bandeira pra um rock brasileiro, ou no mínimo, carioca. Você concorda?
RM: Não. A minha visão de música é outra. São sete notas e só. A música é essencialmente repetitiva, formada por uma sucessão de clichês. Não dá pra inventar muito o tempo todo. Os jornalistas é que precisam de novidade o tempo todo, não gostam disso [de música ser clichê]. Mas pra mim é assim. O que existe é um espaço de 20 ou 30% em que a música, generosamente, nos permite inserir nossas digitais. Isto é, a sua pegada, seu jeito de ser, ali impresso na música. Se você consegue fazer isso, passa a ser um artista interessante. Mas por trás de todos os rótulos e tendências, os meus olhos enxergam sempre as mesmas sete notas. Quanto a levantar bandeira, é complicado. Se for pra levantar alguma, prefiro levantar a do meu Mengão (mesmo caindo pra segunda).

s: É diferente tocar em uma banda como o Tequila, de amigos do colégio, e em uma banda como o Canastra, de bons músicos escolhidos sem uma forte história anterior à banda?
RM: Hoje em dia é igual por que a convivência fez todo mundo ficar amigo. Sou tão amigo dos canastras quanto dos Tequilas. O Canastra já tem sua história e a convivência é mais harmônica. Temos objetivos e funções distribuídas na banda (não de forma rigorosa). Já no Tequila é tudo caótico. Não temos nada, só a nossa amizade.

s: Li em alguma entrevista tua, que obviamente não encontrei mais, que o Tequila tinha um problema de criação: cinco compositores disputando criatividade e idéias no repertório. Se olharmos hoje os rumos tomados, o Kassin tem um projeto em que cada um dos três membros lança o próprio disco (o +2), você foi liderar o Canastra, o Nervoso foi pra carreira solo e Donida é o compositor do Matanza. O Léo Monteiro tá na Orquestra Imperial. Quer dizer, essa ânsia fez algum sentido, né? Mesmo assim, há paralelos entre os rumos que cada um tomou. Por exemplo, eu acho muito engraçado, e legal, a música ‘O Mala’ do Nervoso. Parece uma leitura dele do tema da tua ‘Péla-saco’, não?
RM: O Nervoso sempre rouba as minhas idéias!! Eu acho ‘O Mala’ mais parecida com uma música do Canastra chamada ‘Nuvem negra’. Aliás, várias frases dessa música eu roubei do Nervoso. Quando a gente ia lançar o cd, eu perguntei pra ele se ele queria parceria na canção. Ele, gentilmente, disse que não. Enfim, eu consigo ver semelhanças em todos esses trabalhos. Por que nós aprendemos a fazer música juntos, embora só eu admita isso publicamente.

s: O Canastra tem participado de coletâneas bacanas, como a trilha de ‘A Pessoa É Para o que Nasce’ e a de comemoração da Loud, que ainda vai ser lançada. Como compositor, o que muda ao escrever música para um álbum próprio ou para um projeto “encomendado”?
RM: Pra mim é um desafio muito foda. Uma coisa é uma musica dentro de um álbum só seu. A parada ressoa com um todo. Numa coletânea é diferente, é tipo programa eleitoral do Enéas. Você dá o recado e passa a bola. Outra coisa é uma música pra uma trilha de uma filme, onde você não é o centro das atenções. Justamente por isso, tem que medir mais as "palavras". E tem ainda o lance de fazer música pra um outro artista. Tipo música pro Autoramas, pra Érica (ex-Penélope) ou a Nina Becker(Orquestra Imperial), que são artistas que eu curto e que me pediram música. Mas eles já têm uma personalidade formada, eu é que tive que me adaptar.

14.10.05

A necrofilia da arte

Acho que Renato nem iria se amarrar...

Ainda mais, sabendo que ele, Renato, estaria sendo "vivido" por um quarentão pagando de garotão, sem camisa, com as cuecas de fora aparecendo, correndo de um lado pro outro que nem barata tonta, com óculos escuro atá para cantar baladas.

Para falar a verdade, acho que Renato iria ficar envergonhado.

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Ainda dentro do mesmo tema, Renato manda dizer:

"e o carinha do rádio não quer calar a boca / e quer o meu dinheiro e as minhas opiniões/ ora, se você quiser se divertir / invente suas próprias canções (...)/ Existem muitos formatos/ que só tem verniz e não tem invenção/ e tudo aquilo contra o que sempre lutam / é exatamente tudo aquilo que eles são".

Faz sentido.

crédito:
Marcianos invadem a terra (Renato Russo)
Álbum: Uma outra estação, 1997 - Legião Urbana

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É sempre bom lembrar desta épocalegião da minha vida. E quem não teve a sua, né verdade?!

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Se não estou enganado (posso realmente estar), a música citada acima era do repertório do Aborto Elétrico... Fazêoquê, né?!... :+/

13.10.05

O melhor DVD já feito por um artista brasileiro

DVD é uma nova mídia. Sempre me pegava pensando se era o único interessado em música que tinha entendido isso. Mais do que me achar a frente de qualquer pensamento, isso me era motivo de grande angústia. Graças a Deus, descobri que não precisarei carregar este peso. Graças ao Gram.

Em uma conversa com Sérgio, vocalista da banda, no Abril Pro Rock desse ano, dividi essa minha angústia e ele, aquiescendo, me falou categoricamente: "Putz, você tem que ir pra São Paulo, em maio, assistir a gravação do nosso DVD... Vai ter exatamente isso que você tá falando, uns lances com umas projeções... Pra você ver, estamos fazendo mais cinco clipes que nem o do gatinho..." Foi quando eu perguntei: "Mas agora, pelo menos, você não precisa mais desenhar tudo a mão, né?". Veio o troco: "O que?!??! TUDO A MÃO!!"

Aquele papo teve que ser interrompido pelo horário. Ficou aquilo comigo, mas não levei muita fé. Dei mole. O DVD "MTV apresenta Gram" chegou na minha estante semana passada (no encarte lê-se que a gravação foi no dia 29 de ABRIL) . Assisti ontem, antes e depois de Brasil 3 x 0 Venezuela.

O primeiro DVD da banda paulistana traz uma nova compreensão do aproveitamento desta mídia. Há uma compreensão de que o DVD não é apenas um CD onde cabem imagens e, por conseqüência, se pode colocar uns extras vagabundos para ocupar o maior espaço oferecido ali do que nas bolachinhas tradicionais de áudio. Faltava alguém fazer isso: entender que o DVD era uma coisa nova, totalmente diferente do CD, que se parece com o CD apenas no fato de ser um compact-disc. Só.

O Gram entende a lição dos anos 90 e sabe que o trabalho de um artista, em tempos multimidias, vai além da composição de boas músicas. O conceito imagético se atrelou ao musical para compor um novo paradigma sobre o que seja ser arte pop. O pop é imagem. Não dá para se pensar música pop sem se pensar em imagem. Pense Andy Warhol, pense Christo and Jeanne-Claude, pense em Michael Jackson, pense em Jean-Michel Basquiat... Pop é um estágio da arte contemporânea, assim como foi o renascentismo, o cubismo, o surrealismo, cada qual com suas particularidades e idiossoncrasias. Uma das particulardidades do pop - e talvez a maior delas - é a imagem. O pop vai morrer, mas ainda está na flor da idade.

O cuidado de se construir uma identidade visual que o Gram mostrou desde o primeiro clipe (primoroso) da (linda) música "Você pode ir na janela", ainda como artistas independentes, já dava esse norte. O primeiro DVD da banda entende que o DVD é uma ferramenta a serviço da imagem e da construção de valores relacionados a ela. Para desenvolvê-lo de uma forma honesta, a banda sentou e produziu mais 5 clipes. Ao longo da performance ao vivo, eles são projetados num imenso telão atrás da banda. Como a banda está redonda e segura, a sensação que dá é que o clipe é conduzido pelas mãos dos músicos. As mudanças de clima do clipe coincidem com as mudanças da música, parece ser uma coisa só e é. Uma espécie de "The Wall" moderno, em menor escala, lógico. A banda entendeu que era preciso ser a dona da imagem, conduzi-la da sua forma e que isto só serviria para agregar valor à música.

No botão "Angle" do controle do DVD, o espectador pode escolher se assiste aquela faixa dentro do palco ou dentro do telão. Sem comprometer o andamento da música e com um simples toque no controle é possível se alterar totalmente o seu olhar sobre aquilo. Ao invés do multi-ângulo servir para enxergar a mesma coisa de outro ponto, passa a servir para transportar o espectador para outro lugar, para o universo pintado a mão pelos membros da banda, sob forma de animação. É possível escolher se se assiste o show ou o que está sendo projetado no telão. Essa interatividade permite que uma pessoa nunca assista exatamente a mesma coisa que outra, a não ser que se opte por um dos dois "ângulos" em tempo integral. A minha dica, porém, é ficar trocando. Ora o show, ora a animação. O espectador vira o comandante da mesa de corte, edita da sua forma e vê o que quiser, quantas vezes quiser, todas diferentes das anteriores.

Ainda é pouco, pois a banda ainda é pequena e não tem estrutura para correr atrás de mais. Em breve terá, e promete muita coisa boa e inteligente por vir.

O repertório do DVD não surpreende, é igual ao do show. A sensação que tive foi que no DVD, Sérgio está mais tempo no piano do que na guitarra, do que acontece no show 'real'. Pode ter sido impressão. As músicas são uma mistura perdida de Radiohead, com Beatles, Ivan Lins e Los Hermanos. Um Coldplay brasileiro, só que menos raso, mais inteligente. "Across the universe" e "Dias de luta" são as músicas não-próprias que dão as caras. A primeira vem bem parecida com a original, tirando que Sérgio não tem o agudo de Lennon. Sua voz é mais grave. A segunda, do Ira!, vem numa versão bem arrastada, conduzida pelo pianão e fica bonita também, encaixando no clima que o espetáculo tem.

No fim das contas, o melhor de tudo é saber que o DVD do Gram é um passo a frente da mesmice. Parabéns também para a MTV que se abriu a essa inovação de linguagem e ainda vai colher os louros por isso.



Cor: Colorido
Ano de Lançamento: 2005
Multi-Região
Legenda: Português, Inglês, Espanhol
Formatos de Tela: Widescreen
Faixas
1. Serenada 2. Sonho Bom 3. Vem Você 4. Toda Luz 5. Seu Troféu 6. Melhor Assim 7. Moonshine 8. Across the Universe 9. Faça Alguma Coisa 10. É a Vida 11. Quase Ilusão 12. Dias de Luta 13. Reinvento 14. Você Pode Ir na Janela
**********************
100 textos... É, sobremusica já tá um verdadeiro rapazinho.

12.10.05

Gram

Ainda estou na quinta música, mas já tenho a certeza de estar assistindo o melhor DVD já lançado por um artista brasileiro.



Em breve, mais.

6.10.05

One more time ?!?!

Recentemente, os brasileiros se acostumaram a ver encontros, abraços e apertos de mão esquisitos, entre figuras que sempre se odiaram, se combateram e, de repente, não mais que de repente, passaram a pousar como 'velhos amigos'.

Deu no que deu... Será que depois do PT e do futebol, a cara de pau também está chegando à música brasileira?!

(Deu no RoncaRonca)

Se for isso, é fechar a porta e o último que sair, por gentileza, apague a luz.

2.10.05

Música para (ouv)ir música - (Nokia Trends 2005)

Continuando a saga da desvirginação eletrônica, teve o Nokia Trends...

Duas cidades ligadas através de uma mega estrutura, de tal forma que, quem estava no Jockey Clube paulista podia acompanhar em tempo real a festa que acontecia nos Armazéns do cais do porto no Rio de Janeiro, e vice-versa. Graçasa um jogo de telões instalados em um ambiente próprio e que transmitiam o que era captado pelas câmeras na outra cidade.

Milhares de pessoas passaram pelos locais dos shows nas duas cidades, no dia 24 de setembro. O espaço dividido em vários ambientes facilitou um certo conforto. Com uma estrutura impressionante, poucas vezes vista em eventos musicais no país, o Nokia Trends impressionou. Tanto em termos logísticos e estruturais, quanto em termos de conceitos e de atrações, o vanguardismo era evidente. Nomes e conceitos já trabalhados em outros pontos do planeta, chegaram ao país pelo festival. Ao contrário do show do Moby, a organização foi um ponto alto da festa. Tirando, é claro, a ausência de estacionamentos na região do cais do porto, o que deixa todo mundo réfem das EXTORSÕES praticadas pela máfia dos flanelinhas. Sim! Aquilo é uma máfia e eles usam até coletes amarelos identificando-os como integrantes de uma mesma espécie de cooperativa. Mais um dos desmandos cada vez mais crescentes, grosseiros e discarados desta cidade, antes tida como maravilhosa.

Como já foi dito aqui, minha grande motivação era assistir o show do Asian Dub Foundation (ADF, a partir daqui) e entender a lógica da música eletrônica, onde DJ's são guitarheros e bandas são DJ's.

O ADF foi um dos principais nomes do Nokia Trends 2005 e só entrou na escalação dez dias antes do evento. A banda foi chamada substituir a cantora irlandesa Róisín Murphy, que cancelou sua apresentação alegando motivos pessoais. Para muitos, a troca foi encarada como um upgrade no line-up. O ADF é uma das bandas mais cultuadas e engajadas da Europae isso era sabido até por mim. O que meus olhos e ouvidos puderam ver da apresentação deles foi a mistura de eletrônica, rock, jungle, raggamuffin (sim, o ADF é raggamuffin!), dub e várias outras tendências. A variedade de referências no som do grupo pode ser prevista só de olhar para os rostos dos integrantes. Numa verdadeira torre de babel, sobem juntos ao palco, um japonês, um negro rastafari, um branco, um outro de traços árabes e três outros com feições indianas. É o sinal mais evidente (junto com o Black Eyed Peas) de que a globalização tomou também a música!

Alguns poderiam argumentar que o ADF é uma banda de rock. Talvez seja, mas a falta de uma baterista e a presença de um DJ em seu lugar indica que as coisas não são exatamente assim. O grupo enfileira bases eletrônicas e samples atrás de guitarras pesadas e distorções. O show foi animadíssimo, com uma platéia íntima da banda e dançando muito. Há um potencial radiofônico nas músicas do grupo, mas o convencionalismo das rádios ainda não percebem. Isto podia ser medido pelos comentários elogiosos de pessoas que não conheciam o som do grupo e que confessavam não gostar de música eletrônica. Ouvi os discos também e achei a banda melhor ao vivo do que em estúdio.


Até em função dos alardes feitos pelo "íntimos" de música eletrônica, outro nome muito aguardado por mim, foi o Audio Bullys, composta pelos amigos Simon Franks e Tom Dinsdale. A dupla é tida como uma das mais vanguardistas da música eletrônica mundial. Misturando house e hip-hop, os dois lotaram a pista do palco Live, o maior público da noite carioca. Para mim, aquilo foi uma surpresa. Com um show pesado, os ingleses não deixaram ninguém ficar parado. Nem havia como, já que graves desconcertantes e intensos tiravam qualquer corpo da inércia. Se não fosse por opção da pessoa dançar, ela dançaria de qualquer jeito tamanha era a pressão que vinha dos graves. Imagens aceleradas projetadas no telão, um ar meio marginal, a dupla saiu muito aplaudida do cais do porto. Muitos efeitos de iluminação, projeções de raios sobre a platéia e sons sintetizados e comprimidos marcaram o set-list.

O dia tinha sido longo e o show do Audio Bullys terminou quase às 4 da matina. Admito que a tentação de esperar para ver o sol nascer no cais do porto, acompanhado pela minha amada, foi forte. Mas o cansaço nos pegou de jeito e o melhor foi voltar para ver se o carro ainda estaria lá e em que estado. Até que a extorsão paga na chegada, serviu para preservação do bichinho... Que preço que se paga por viver no Rio...

E no final de tudo, fiquei achando que eventos de música eletrônica podem ser legais ou não e que uma das variáveis mais fortes é a criatividade e organização oferecida por quem pensa o evento em si. A música eletrônica depende de um evento. Fica difícil imaginar um grupo de amigos se reunindo sábado à noite, na casa de alguém, para conversar e 'fazerumsom' para se divertir e confraternizar tendo o baixos e baterias disparadas pelas pickups como motivação. Fico achando que a essência da música se perde um pouco e fica encoberta pela do evento e pela lógica de uma sociedade em que o setor de serviços cresce cada vez mais. A música eletrônica, mais do que música, é uma experiência antropológica. Isso não a faz menor, mas certamente, é a razão da diferença entre ela e as antigas formas de se curtir um som. A música eletrônica é consequência do universo do eletrônico e não o contrário. Ela não é origem, e sim desdobramento.

Música eletrônica é para se ir, não tanto para se ouvir. E nisso, especificamente, não vai juízo de valor.


Enfim, a casa própria
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