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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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28.11.05

Claro Q É Rock

Confusões, atrasos e a apoteose do Flaming Lips

A organização do Claro Q É Rock montou um casting muito interessante de artistas, diferente do convencional, agradando aos mais tradicionais, aos mais alternativos e aos mais MTV. Porém foi essa mesma organização que permitiu que um acidente com um caminhão que trazia parte das estruturas de São Paulo para o Rio, estragasse a edição carioca do evento. Atrasos que chegaram a mais de 4 horas, obrigaram muita gente a ir embora antes de ver o que queria, à bandas diminuirem a duração de seus shows e até um show cancelado, o da Nação Zumbi.

Um lamentável acontecimento diante de um festival que superou às expectativas em termos de estrutura. Acesso tranqüilo (apesar do estacionamento caríssimo, R$15!, mesmo preço que eu paguei lá dentro pelo CD novo da Nação Zumbi e sobre o qual voltarei a falar daqui uns dias), bastante espaço para a movimentação das pessoas, vários banheiros, camarote para os vips sem atrapalhar a visão de quem fora assistir aos shows, além de uma boa estrutura para a imprensa, o que permitiu a primeira cobertura ao vivo, em tempo real, do sobremusica.

O Cachorro Grande abriu a noite com o talento, mas com um som mal resolvido. Em cada lugar da Cidade do Rock se ouvia de um jeito. A passagem de som feita pela equipe do Good Charlotte após o show dos gaúchos revelou que os cuidados técnicos também foram prejudicados em razão do acidente na Dutra. A disposição e o carisma dos cinco terninhos pretos seguraram a galera e mostraram que eles já têm um bocado de músicas bem conhecidas pelo público.

O Good Charlotte fez o show-histeria da noite. Consagrados junto a um público da MTV, que não estava nem aí pra quem era Iggy Pop, eles mostraram competência para repetir no palco tudo o que mostram em videoclips. Rebeldia e pulinhos ensaiados, visual ridículo-lamentável-desagradável-e-repetido-por-boa-parte-dos-fãs-adolescentes, roupas pretas escritas "Misfits" (tsctsc), máscaras, etc... Fora a velha tática do clichê que tanto dá certo. Bandeira do Brasil, weloveyous, etc... Mas foi bacaninha, eles cumpriram bem o seu papel no festival. A garotada saiu extremamente satisfeita. Gritinhos e choro em grupos, uma confraternização pueril de sonho realizado aos 16 anos... Eles viram os ídolos, que corresponderam às expectativas, e voltaram para a casa, afinal, a última semana de novembro costuma ser decisiva nos rumos escolares de que ainda não passou dos 18.

A terceira seria a Nação. Não foi. O Fantomas, de Mike Patton, subiu ao palco num set pequeno, tanto de instrumentos quanto de músicas. Muito ruído, sem concessão nenhuma ao público, música industrial, difícil de falar e dizer se era bom ou ruim. Eu não gostei, mas como a banda saiu muito aplaudida, sei lá, né... Eu vi tanta coisa bizarra por lá, que essa foi só mais uma.

O show de Patton e sua turma mal acabou e o Flaming Lips já chamava a galera para correr até o outro palco. Era hora de recuperar o tempo perdido. Em algum lugar eu li o vocalista dizendo que o show da banda era uma celebração pré-fim de mundo. No meio do show eu me lembrei disso. Era a definição que eu estava procurando. Eu quero que o mundo acabe num show do Flaming Lips. Quero mesmo!

O show trouxe a contradição de ter a apoteose no início. Mas como ela seguiu adiante, não me deixou palavras. Às vezes me pego pensando se posso ser um jornalista musical se tão facilmente perco minhas palavras diante das emoções que sinto vindas dessa arte, que há tantos anos me sensibiliza num grau maior do que o resto das coisas deste mundo.


Voltando à apoteose do Flaming Lips. Vários bichinhos dançando no palco, a banda fantasiada, sendo o tecladista de papai-noel, Wayne Coyne andando dentro de uma bolha gigante, bolas coloridas jogadas para a platéia... Existem shows e existe o que o Flaming Lips faz. Muito mais bonito e emocionante. Confetes, serpentinas, carisma, simpatia...

Para não iniciados, como esse que vos escreve, a surpresa foi tamanha, que depois de alguns minutos fazendo fotos na beirada do palco, simplesmente abri mão e resolvi aproveitar o privilégio de estar naquela posição num show daqueles. Parei para ver. No final do tempo permitido aos repórteres fotografar dali, não me contive e olhando para o vocalista, fiz um sinal de positivo, já com a produção me empurrando para sair. Qual não foi meu susto quando, nessa exata hora, ele olhou na minha direção e viu meu gesto. Eu já tinha desviado o olhar quando me dei conta disso. Me virei, voltei, e olhei para ele de novo. Ele aguardou e me retribuiu com o mesmo sinal, aquiescendo. Tá bom, pode parecer meio viado, mas foi foda e eu fiquei felizão! Esse era o chão do palco depois de 5 minutos de show.

O que o Flaming Lips faz continuou por mais 40 minutos. Para explicar melhor, o Flaming Lips é o que Pato Fu queria ser, só que ainda não chegou lá (e não vai chegar). John Ulhoa deve rezar todo dia pela alma de Wayne Coyne. Experimental? Sim, mas extremamente doce aos ouvidos, mostrando que existe caminhos para o tal do experimentalismo além dos ruídos do Fantomas e do Sonic Youth (que eu não pude assistir direito, só de passagem. Mas falarei disso lá na frente).

Depois de Coyne e sua turma, veio ele. O cão. Ele que quer ser o seu cachorro. Ele que não tem diversão. O capeta de calça da Gang. O roqueiro que carrega o pop no nome e que batizou vários animais de estimação planeta a fora. Iggy.

(Mas só daqui a pouco. Esse texto será complementado nas próximas 24 horas e esse parenteses sumirá daqui dando lugar a relatos de punk, libidinagem, pan-sexualismo, chutes e outras sandices. Sem falar nas fotos!)
**A partir deste post, todas as fotos do evento são do autor do texto.

Claro Q É Rock (Cobertura Ao Vivo) 5

Acabo de chegar na roomdação do sobremusica e sou informado de que o show da Nação Zumbi foi cancelado, conforme imaginava. Depois de conversar com um membro da equipe da banda pernambucana, ele me explicou que a Nação cedera a vez para o Fantomas, mas que, COM CERTEZA, seria a banda seguinte. Logo depois disso, o que vi foi o Flaming Lips no palco. Algo estava esquisito. Depois veio o Iggy Pop.
Ao contrário do que se comentava na sala de imprensa pouco antes de acabar nossa passagem por lá, eu não acreditava que a Nação aceitaria a tarefa fechar a noite, para um descampado vazio, depois das 3hs da manhã. Pensei na possibilidade de estar previsto em contrato a possibilidade de alteração na ordem das bandas, o que obrigaria a Nação Zumbi a tocar, mas mesmo assim, achei que não iria rolar. E não rolou. Que pena. Os comentários de quem os viu em São Paulo foram os melhores possíveis e eu estava ansioso.
Pelo menos eu comprei o Futura por quinze contos.

Claro Q É Rock (Cobertura Ao Vivo) 4

Foda.

Bem, vamos lá... De volta, direto e curto.

Fantomas - Muito barulho por nada, mas geral aplaudiu.



Flaming Lips - O show mais lindo da história da humanidade


Iggy Pop - Esse velho é louco e eu levei um chute dele... Rock'n rollzaço.



Estamos encerrando a cobertura ao vivo. Devido ao adiantado da hora, acho que Sonic Youth e Nine Inch Nails vão ficar pruma próxima. A Nação Zumbi não entrou no palco e, até agora, não descobri o porquê. Mas eu comprei o CD. Depois eu falo disso também.

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Pra terminar bonito, replay dessa... Boa noite e durma bem!


27.11.05

Claro Q É Rock (Cobertura Ao Vivo) 3

22h53. 4h13 minutos de atraso e começa o terceiro show. Surpresa! Não é a Nação quem sobe ao palco!!! Fantomas está lá. Que confusão! Enfim, vou lá.


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Só uma coisa. Se você quiser ver mais fotos do festival, elas estão em http://fotos.terra.com.br/album.cgi/*claroqueerock . Em tempo real.

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Espera aê que eu já volto!

Claro Q É Rock (Cobertura Ao Vivo) 2


Acabou Good Charlotte. Popzinho MTV demais... Cheio de clichês, bandeira do Brasil no palco e brados de que sempre sonharam em vir ao Brasil e "You, guys, make my dreams come true"... aham, sei..

A banda é competente, domina o palco, soa bem parecido com o que se ouve na rádio. A música de trabalho (sic) atual "Chronicle of Life and Death" ficou de fora do repertório.

Os trabalhos por aqui continuam muito atrasados. A Nação Zumbi vai subir ao palco dentro de alguns minutos, ou segundos... Alguém parece anunciar alguma coisa lá fora.. Não, não é a banda ainda. Já são 22h36 e o terceiro show, previsto para começar às 18h40, ainda não começou. 4 horas de atraso!!! Infelizmente, pelo andar da carruagem, acho que não vou poder ver os últimos shows. Uma pena.



Daqui a pouco vou ouvir o "Futura", da Nação, ao vivo. A criançada já se foi. Amanhã tem aula e prova final!!

Por enquanto, o absurdo da noite ficou por conta do fotógrafo que se identificou como sendo do jornal "O Dia". Ele falava com uma assessora que era um absurdo, ele, fotógrafo profissional (ui), ter que disputar espaço com fotógrafos com câmeras digitais amadoras. É, tem gente que é atropelada pelo tempo e não vê... Amanhã falarei mais sobre o lamentável acontecimento.

Todas as fotos que estão sendo publicadas hoje são oferecidas pela organização do festival.

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22h46. Nada da Nação subir ao palco...

Claro Q É Rock (Cobertura Ao Vivo)

Mais uma. Essa é a primeira cobertura ao vivo que o sobremusica faz de um evento sobre música. Direto da Cidade do Rock no Rio, vamos registrando impressões.

A primeira é que a organização está muito aquém do razoável. Nesse momento, o Good Charlotte está no palco, onde subiram com mais de 3 horas de atraso. Depois do Cachorro Grande, quase uma hora de passagem de som com todo mundo esperando. Corre a história de que um caminhão que trazia os aparelhos de som tombou na estrada e tudo atrasou. Um dos palcos ainda não está pronto, mas daqui a pouco, os shows vão ter que rolar por lá também. Os Cartolas, a banda vencedora do concurso promovido pelo festival, não pode tocar aqui devido a todo o atraso... Sacanagem, afinal, a intenção da parada era promover bandas novas. O objetivo, em parte, se perdeu.

A molecada enlouquecida gritava contra nós, jornalistas, tentando fotografar o começo da apresentação. Normal. Criançada é assim e vambora...

O Cachorro Grande abriu bem a noite, com o som mal equalizado. Guitarra altas demais, teclados só sendo ouvidos em algumas partes da Cidade do Rock. Vários hitzinhos e "Helter Skelter" dos Beatles para terminar.



Daqui a pouco, voltamos com mais... Vou ali ver o que o Good Charlotte tá fazendo. Daqui, não parece bom...


Provavelmente erros aparecerão. Coisas de cobertura ao vivo. Tudo será corrigido amanhã. Inclusive, as fotos devem estar gigantes. É o que dá. Vambora!

25.11.05

Entrevista: Nervoso (2)

Nada no Mundo Capaz de Me Abalar

      A conversa, feita no intervalo de uma apresentação dos Tremendões, em praça aberta no Centro do Rio, acabou sendo longa, e precisando ir ao ar em duas partes. Tão longa que a fita do gravador bateu, e trechos foram perdidos e reconstituídos por memória e telefone, em um processo que se perdeu um pouco da espontaneidade da primeira vez em que se conta uma história, ganhou em revisões e detalhes da segunda vez em que é relatada.
      A resposta sobre a informação como matéria para experiências que viram som encaminha para uma reflexão sobre um momento de decisão, de virada, quando o tal muro de que já tinha falado é finalmente atravessado. Dá pra pensar que uma relação foi desmanchada, e por coincidência, Nervoso está feliz. Uma relação não necessariamente com ninguém, mas de encarar-se no mundo, com o compromisso com os sonhos e os desejos. E uma felicidade difícil, com obstáculos, e pela qual tem-se que brigar. De alguma forma, o Tony Ramos está no meio da história, mas só lendo dá pra entender.
      Por fim, a história do Acabou la Tequila, que bem podia ser o autor da ‘It´s the End of the World As We Know It’ que toca agora no meu computador. Isso, se o mundo for aquele meio maluco disputado a idéias por cinco integrantes e mais vários convidados que se conhece. E o fim, aquele que bate com um começo, no que parece não fazer sentido, mas faz sim. Pensa só na tua própria vida, ser humano, e me explica sem gaguejar.
      Mas faz isso depois de ler a entrevista.
      No dia 16 de dezembro, uma semana depois de gravar o clipe de ‘O Percurso’, Nervoso estará com a banda de Calmantes na festa de aniversário do selo midsummermadness. Ao lado, Canastra, Valv, Luísa Mandou um Beijo, Verbase e Incrível Banda de Baile do midsummermadness, no Teatro Odisséia, na Lapa do Rio de Janeiro.


s: E isso de você sempre ter sido um baterista que desce a porrada no instrumento, ter tocado em várias bandas pesadas, e de repente se lançar solo com um ep e um disco tranqüilos, que privilegiam a melodia, com sambinha e iê-iê-iê? Você ouviu muito isso, quis surpreender de propósito?
N: Ouvi milhões de vezes, de diferentes pessoas. O primeiro ep, “Personalidade”, ele abre com um sambinha do Nelson Gonçalves, que é ‘A Visita’. Ninguém entende nada, porque olha pro meu visual (mostra as tatuagens no braço e no pescoço) e imaginam o meu universo com um som mais pesado. E eu já tive banda de baile punk, que foi o Seven Seven Idols, uma homenagem às bandas européias que eu adoro, do fim dos anos 70. Aí ficou isso, mas o meu universo musical ele foi se enriquecendo desde quando eu tinha dez anos de idade, que eu ouvia rock’n’roll. Eu morava em Jacarepaguá, eu ouvi muito rock progressivo, muito som eletrônico também nos anos 80, tinha um programa do José Roberto Mahr (na primeira fase da Rádio Fluminense, de Niterói). O Roberto Carlos eu ouvi dos tempos de criança, tinha os especiais de Natal do Roberto Carlos, eu era louco e tinha os discos do Roberto. Mas quando você é criança e tá formando o universo, você se limita a um só. Então, dos onze aos doze, eu ouvi heavy metal, Iron Maiden, Metallica. Aí depois do Rock in Rio, eu comecei a implicar. Ficou muito acessível, e eu comecei a ir pro progressivo: Gênesis, tenho todos os discos do Peter Gabriel até hoje, e aquelas bandas todas, Premiata [Forneria Marcone, PFM], Gentle Giant, as bandas européias loucas, de músicas de vinte minutos. Depois comecei a passar pro punk rock, e pro pós-punk, né? Siouxsie and the Banshees, Joy Division, e muito eletrônico.
Entrando pro Acabou la Tequila, em 94, com vinte-e-dois anos, pra mim foi maravilhoso, porque eu comecei a voltar prum som brasileiro.

s: E você já tinha o que? Uns cinco anos tocando em bandas?
N: É. Cara, na verdade, meu primeiro contato com banda foi molequinho mesmo. Eu conto tudo porque tudo é escola. Até pegar lata de sorvete, que eu catava na rua, em Jacarepaguá, porque lá não tinha nada pra fazer. A gente morava num loteamento e juntava a molecada no quarto, violão, caneta (como se fosse baqueta), fazia uma bateria igual à do Rush, de quem eu era fã, os tons de lata, o abajur era o prato, e ficava viajando. Usava os elementos lá e fazia apresentações, chamava mamãe, papai, titia, e olha a música que a gente fez, a Besta Maldita. Hahaha. Pra mim tudo isso é escola.
E, cara, pra mim, sempre foi tão apaixonante, que eu nunca imaginei que um dia ganharia dinheiro fazendo isso. Eu nunca tive isso perto de mim, na minha família eu sou o único cara que faz isso, que cria, que trabalha com arte, eu sou realmente o primeiro cara. Eu não conheço ninguém na família parecido, o único é um primo meu que pirou. Talvez por causa disso, de toda a pressão, sabe?

((Nervoso atende o telefone.))

s: Teve uma entrevista aqui do site com o Sergio Filho, do Gram, em que ele falava da importância dos três designers na banda, pelas idéias pras apresentações no palco ou em videoclipes. Você é jornalista, trabalha num canal a cabo de entretenimento, em que isso influencia a tua banda?
N: Eu tô sempre em contato com informação, né bicho? O que eu faço: roteiro. Antes, eu fazia roteiro prum programa de cinema, eu recebo material bruto, direto. O que vai ao ar é uma coisa, é uma edição. Eu decupo o material bruto, eu vejo tudo, qualquer coisa que o cara fala em off, história da vida, bate-papo com repórter, e o lance que eu te falei de conhecer as pessoas. Um cara que eu virei fã, e não era antes de entrar no canal, é o Tony Ramos. Ele te passa uma energia... (s: uma vez eu acompanhei uma entrevista do Tony Ramos com o Chico Pinheiro, que é mineiro. E o Tony, na época, fazia um papel de mineiro. Então eles ficaram horas forçando o sotaque, e fizeram a entrevista assim, muito engraçado...) Bom, muito bom. Eu sinto uma positividade no cara, um cara rico, que te passa coisas boas. A última entrevista que eu vi dele, foi na coletiva da nova novela da Globo, Belíssima, e a repórter do canal perguntou pra ele sobre o que é o conceito de beleza, hoje em dia. A resposta dele foi maravilhosa, sobre o que é beleza, falou em ler bons livros, se aventurar por outros mundos, “isso é que é um cidadão”. O cara brinca com as palavras, é disso que eu gosto: saber falar, se expressar, eu luto por isso também. Quero saber me expressar, isso é tudo na vida. Se você não souber você perde em várias situações. Eu já me fodi em várias situações, em que eu não soube me defender, não tive capacidade, ou até criatividade pra me defender, ficou por isso mesmo, e você se acomoda. Às vezes, você não tá com paciência, tá com muitas idéias na cabeça, e quer tocar a tua coisa pra frente, sem ficar remoendo, e diz: foda-se. Mas não é foda-se, porque o motivo pelo qual você mandou o foda-se é importante. E aí você evita a coisa a voltar a acontecer. Eu às vezes sou meio relaxado com isso. Eu sou muito apaixonado por música, pelo que eu faço...

s: Isso tem a ver com aquela decisão tua de sair detrás da bateria pra assumir um trabalho na frente de palco, né?
N: É... Como assim? Não entendi.

s: Você falou antes da tua angústia em ter músicas, mas elas não funcionavam nas bandas onde você trabalhou, porque ali sentado na bateria era difícil passar a idéia, fazer a banda comprar a tua composição. E agora você tá falando da dificuldade de comunicação, de não dizer foda-se ou ficar remoendo algo que você devia ter dito ou defendido melhor. Quer dizer, tudo tem a ver com o momento em que se toma a decisão de mudar, no teu caso, mudar de lugar no palco, é quando a briga pelas tuas idéias sai do fundo para o primeiro plano.
N: (interrompendo) Entendi, e acho que é mais ou menos. Você tá chegando num ponto que eu queria mencionar, que é eu ter ficado tanto tempo remoendo.
s: (interrompendo) Pois é, tem uma mudança de postura aí, né?
N: Cara, eu não sei. Eu sou um cara movimentado. Eu sou muito movimentado, bicho, e sou um apaixonado por bateria. Mas aquilo ali [estar ‘preso’ atrás da bateria] se tornou uma limitação, um muro, sabe? Eu comecei ali. (pausa) Calhou de ser meu primeiro instrumento, e se fosse um instrumento que possibilitasse maior expressão oral, de troca de olhares, e vocal, eu poderia ter botado as músicas mais pra frente. Como eu te falei, eu tinha uma dificuldade de passar as músicas através da bateria.
Mas eu sou apaixonado por bateria, e é complicado lidar com as duas paixões. A vida é assim, você vai sossegando. E uma coisa que eu aprendi em banda é que se você não tá se divertindo, nem tá ganhando dinheiro, sai fora. Eu cheguei ao ponto de estar tocando no Matanza pensando nas minhas músicas. Não é ir pra casa depois do ensaio e esquecer do Matanza, é no ato de tocar bateria estar com a cabeça em outra música, outro arranjo, e errar. Aí pedir desculpa, foi mau galera, e recomeçar. Chegou uma hora em que eu tive que sair, falei pro Marco André [Donida], que é um amigão, é padrinho do meu filho, que não conseguia mais ficar.

s: E foi tranqüilo?
N: Nunca é, né? Hoje já entenderam, a gente toma cerveja junto, não tem mais nada, mas ninguém entendeu quando eu falei. Porque já tinha uma coisa que funcionava junto, comigo na bateria, descendo a porrada, e ter que recomeçar, passar tudo, ia ser uma estacionada da banda. Foi aí que eu vim com o nome do Fausto. Falei, pô, tem um moleque aí que toca bem, também desce a porrada, e é ele. Ele segura a onda. E deu certo. Porque tinha vários problemas, mesmo comigo na banda. Tipo, show do Acabou, eu queria ir, e ficava uma coisa chata com o Marco, porque ele tava na banda ideal dele que sempre foi o country, mais pesado, meio Johnny Cash. Aí eu ia pro Tequila e o Matanza se virava lá com baterista.

s: E falando em Acabou la Tequila, o Renato também disse uma coisa aqui no site, que a banda é mais cultuada depois que acabou, agora, do que era antes...
N: O Tequila nunca acabou, associaram o não-lançamento do segundo disco com o fim, mas nunca rolou um comentário. Ficou tudo meio mítico, mas a história é que nunca acabou. Hoje, a banda fica seis meses sem tocar, é chamada para um show e vai sem ensaiar. Foi o que houve com o Weezer, lá em Curitiba, que a gente ensaiou uma vez, mas porque o Melvin ia tocar no lugar do Donida e precisava pegar as músicas. Se não, se bobear nem ensaiava.

s: Mas e a história do disco?
N: É, eu nem lembro bem como eu fui avisado. Acho que foi o Berna [Ceppas], que tava produzindo pra gente. Eu não era muito ligado na parte executiva, agora que eu tenho precisado mais assumir esse lado. Eu ficava mais preocupado no som, nos sucos de laranja que a gente entregava de conta todo mês pra gravadora porque não podia escrever cerveja, nos amigos que a gente chamava pra ficar brincando com os instrumentos do estúdio.
Mas a história toda é que o primeiro disco tinha sido lançado pelo selo Excelente, que tinha também o primeiro do mundo livre, do Raimundos, etc. Era onde trabalhavam o [Carlos Eduardo] Miranda e o [Brian] Butler. E acabou que eles brigaram, aí foi o Butler pra Abril e o Miranda pra uma nova que tava surgindo com dinheiro do VR [Trama], que acho que nem tinha nome ainda. E os dois nos fizeram propostas. A do Butler foi bem maior, e a gente até era mais ligado no Miranda, tava sempre do lado da gente, mas cresceu o olho. E daí a gente ficou com a Abril, pegou um estudiozão, contratou o melhor técnico de som, que já tinha trabalhado com o Roberto Carlos, Eduardo Costa, o Pingüim. Tocamos com tudo que tinha de melhor, chamamos convidados, eu só fazia isso da vida, eu lembro que ‘Solarização’ eu toquei com um [órgão] Hammond do Lafayette, antes mesmo de conhecer o cara e pensar em fazer o Tremendões. Mas o Brian saiu da gravadora no meio da gravação, e veio o João Augusto, que é pai do Rafael Ramos, hoje sócio da DeckDisc. E veio o recado de que ele queria falar com a gente.
E tinha uma história que ele já não gostava do Kassin, o show business tem muito disso, a gente não quer se envolver mas acaba não tendo como fugir. Ele chegou um dia lá no estúdio, tava eu, o Berna e o Kassin, e ele já chegou zoando a gente, botando defeito, perguntando quando ia acabar, que o disco não saía. Falou que se faltava gente na gravação era porque a banda não era unida, que então não tinha futuro. O disco foi até pra fábrica... ou não foi? Não me lembro, mas chegou a ser finalizado, aprovado e tal.
E na época o João Augusto contratou o Los Hermanos. Acho que ele tinha visto um show deles no Empório, lembra do Empório?
s: Voltou a ter show lá, sabia?
N: É, tinha show lá direto. E ele foi num show daqueles pra trinta pessoas, mas com todo cantando tudo e gostou. Por isso que eu acho que show é fundamental, é muito importante ter o público cantando, é a relação mais maravilhosa do artista com as pessoas. É ali que acontece tudo.
A gente ficou feliz de estar juntos na mesma gravadora, a gente não sabia que estrategicamente eles [Los Hermanos] podiam estar sendo contratados, talvez, para ser lançados no nosso lugar. Eles tinham essa coisa de trabalhar a melodia, de mexer com ritmo brasileiro, de botar a bateria pra dobrar o tempo e fazer quase um hardcore, que o Raimundos também tinham , só que com forró. Engraçado, nunca tinha pensado nisso, nessa característica do primeiro disco do Raimundos, que a gente também tinha. Tem a história do release que o Marcelo Camelo escreveu pra gente, de um show do Super Demo lá no Arpoador, em que a gente tocava ‘Vou Festejar’ da Beth Carvalho e ia acelerando e terminava apoteótico. O Botafogo tinha acabado de ser campeão brasileiro [1995], e eu toquei enrolado no manto. E acho que é isso.
Mas a gente [Acabou la Tequila e Los Hermanos] era super amigo e ficou feliz de estar na mesma gravadora, de ter passado pelo filtro. Eu to me lembrando agora, de uma vez que fui eu e o Alex Werner [então produtor da banda] lá pro Emoções, na Rocinha, ver um show do Reginaldo Rossi. A gente ficou um tempão tomando cerveja... No final, ele foi pro show do Metallica, queria me levar, falou que pegava meu ingresso. Mas eu não fui, ia tá muito cheio.

s: Qual dos dois cds você prefere?
N: Ah, o segundo é bem melhor, né veio? É disparado, em maturidade dos arranjos, nas composições, qualidade da gravação, é disparado o melhor.
E quem sabe a gente não grava o terceiro?

s: Não sou eu, né? Vocês é que podem saber...
N: É, a gente fica esperando o Kassin chamar a gente: ele é quem tem estúdio, o selo pra lançar... Idéia pra música não falta, cinco malucos juntos...

21.11.05

Entrevista: Nervoso (1)

Cada situação é uma fábula

      Fã tanto de Tony Ramos quanto de memórias, Nervoso está interessado no ser humano e em transpor paredes. Ele está sempre querendo ouvir sons e músicas, e cita do punk rock europeu e o progressivo ao despertar eletrônico dos anos 80. O que explica a inclusão da última faixa do único disco, assim como aponta para o que pode ser o disco de remix que vem aí, e que está quase pronto. Faltam duas faixas, a que será retrabalhada por ele mesmo e a que será entregue ao Jumbo Elektro. Mas, claro, se vier uma surpresa, não será a primeira vez.
      A conversa foi acompanhada de dois ou três chopps no chamado Verdinho, da Cinelândia. E foi cheia de lembranças, como o surgimento do nome de um disco do Autoramas, ou o nome da atual banda em que atua, a criação do projeto-paralelo Tremendões, a inclusão de ‘Solarização’ no “Som da Moda” do Acabou la Tequila e o lançamento de Los Hermanos pela mesma Abril Music que engavetava o segundo (“bem melhor, né veio?”) da banda.
      O ex-baterista de não se sabem quantas bandas cariocas do fim dos 80 até hoje usa duas vezes a figura do muro para falar do momento em que tem um filho, questiona a chegada dos trinta anos, larga o Matanza e parte para o projeto solo.
      Ao falar da concepção do disco, Nervoso diz que não pensou na história de um personagem, sem perceber que talvez ele mesmo seja o próprio herói das aventuras (ou do percurso) de “Saudades de Minhas Lembranças”.



sobremusica: Vou repetir uma pergunta que eu fiz para o Renato Martins, aqui no site, sobre o universo de uma trabalho. O teu disco começa com uma frase: “Tudo o que eu quero é só viver, num quarto escuro sem janela e dor”, vai para os obstáculos – o mala, a menina mimada – e vai crescendo um tom de esperança ao longo do disco até que termina com uma faixa instrumental, meio etéreo...
Nervoso: É, não cheguei a pensar nessa historinha toda que você bolou, mas achei interessante... Na verdade, o disco foi concebido de uma forma bem diversificada. Ele foi gravado em vários estúdios, não houve preocupação com uma unidade. A ordem das músicas foi inclusive definida depois, eu fiquei tentando definir o que seria melhor, mas não pensei em seguir uma história não, uma história de um personagem, o que seria até interessante. Até penso em fazer uma coisa parecida, acho bacana: um disco temático...
Eu peneirei algumas das idéias que eu tenho, e concentrei nesse disco, sabe?

s: O disco foi gravado em quanto tempo?
N: Cara, a gente começou a gravar em dezembro de 2003, aí em fevereiro/março de 2004 ele tava quase pronto. Pintou mais uma música que foi nova, que foi a primeira música que contou com a participação da banda inteira, que é ‘O Percurso’, e aí a gente gravou, fez questão. Nosso editor, o Dario Alvarez, da editora Humaitá, pagou o estúdio para a gente e fez questão da música estar no disco. Para a gente foi um momento maravilhoso, e vai ser a música do nosso segundo clipe, que é uma música que define bem a transição entre o começo que foi uma concepção minha desse trabalho: Nervoso; e agora que já é Nervoso e os Calmantes, que já tem a participação de todo mundo da banda, cada vez mais. E começa com o processo de composição. Eu achei justo meio que me separar disso, até porque tem outros projetos que eu assino como Nervoso, aí as pessoas associam Nervoso-banda com o Nervoso que sou só eu... A gente foi abrir o show do Barão Vermelho, no Claro Hall, e saiu banda Nervoso. Não acho agradável, não gosto disso. É estranho, não é banda Nervoso, mas também não é carreira solo Nervoso, é uma banda... Existia a dificuldade de achar um nome que funcionasse. E o nome veio num estalar: a gente tava em Niterói, num bar, bebendo, só os cinco, num momento mágico e de repente (estala o dedo!): cara, Nervoso e os Calmantes. Do caralho!
E esse nome tava na nossa cara, mas você não vê o sinal. Tem um poeta chamado Tavinho Paes que ficava o tempo todo martelando, com aquele jeito dele, teatral: “cara, tem que arrumar patrocínio de um laboratório químico, porra, calmante cara, vocês vão viajar o Brasil inteiro. Vão alugar um ônibus pra vocês com patrocínio...” Sei lá, falou o nome de um remédio louco lá. Aí, eu me lembrei do cara.

s: Você já viu ‘Cinema, Aspirina e Urubus’, um filme pernambucano? É um cara que viaja num caminhão de Aspirinas. Não tem nada a ver, só lembrei agora.
N: Não vi. Mas aí veio o nome e o cara juntos, era uma coisa que devia estar meio subliminar, guardada na cabeça. Mas aí eu encontrei com ele no show dos Paralamas, e falei: “sabia que o nome da banda é Nervoso e os Calmantes?” “Tinha que ser...”, ele é aquele cara beatnik, né? Haha. Ele nunca deu a idéia de ficar como nome, sempre era a coisa do patrocínio. Mas ficou uma luzinha.

s: O disco é todo de músicas tuas, só tem uma que é do Renatinho. (Nervoso: E ‘O Percurso’ que é de todo mundo). E ‘O Percurso’ que é de todo mundo... Mas como é a parceria e mesmo a relação entre você e o Renatinho, que tocam juntos no Acabou la Tequila, moraram no mesmo prédio...
N: Tem isso, a gente morou em Botafogo, um prédio onde eu já morava com a minha ex-mulher e meu filho. Aí o Renato alugou o apartamento debaixo, por indicação minha. A dona do prédio se arrepende até hoje de ter seguido minha indicação. Hihihahaha. Virou uma bagunça, aquela porra.

s: Mas aí vocês fizeram música juntos na trilha de ‘A Pessoa É Para o Que Nasce’, aquela do Xalo (a música se chama ‘Coco do Leão Arretado’)...
N: Cara, eu e o Renato, eu acho que a gente compõe menos do que deveria. Porque a gente tem o nosso universo, mas tem uma sintonia fabulosa. Quando a gente consegue parar pra fazer, sabe? Acho que muito pouco foi feito, como se merecia, mas... E ainda tem que a gente morou no mesmo prédio: a gente fazia coisa, pegava o violão. Inclusive, os Tremendões, eu montei lá naquele prédio. Foi numa época que rolava um vazio, eu tinha saído do Matanza, não tinha ainda começado a conceber meu trabalho, não tinha o pé no chão ainda pra fazer, aí falei: “vamos montar uma banda de baile, com música do Roberto Carlos”. Eu desci lá, o Renato tava naquele clima de cigarrinho na janela, sem trabalho fixo, sem nada, começando a montar o Canastra, que antes se chamava Influenza, e eu falei: “Pô, Renato, vamos fazer uma banda de baile, eu, você, a gente chama o Gabriel (Thomas, do Autoramas), por enquanto nós três, vamos ver o que acontece.” Aí o Gabriel já deu a idéia de chamar o Melvin, mas foi concebido lá no prédio. ‘O Bom Veneno’, a gente compôs lá também. Eu tinha a base. O Renato fez praticamente a música, a letra é dele.

s: Na entrevista aqui pro site, ele chegou a brincar que você roubava música dele...
N: Ah, a gente sempre brincou com personagem, sempre brincou com a terceira pessoa no Acabou la Tequila. O Acabou la Tequila, antigamente, já era uma banda de Roberto Carlos, antes dos anos 90. Eram aqueles molequinhos de escola, o Renatinho, o Donida que é do Matanza, o Perna que hoje é advogado, o João Calado, que hoje toca cavaquinho com a Tereza Cristina, um sambista e compositor do caralho. Existia essa banda, que tinha mais um baterista, depois entrou o Bacalhau, que hoje tá no Autoramas, tudo é uma meinha foda entre a gente. Então, essa brincadeira com a terceira pessoa sempre teve.
Eu tinha uma música com o Acabou la Tequila, ‘Solarização’, que era isso. Era o cara: o estranho, o brincalhão. O Autoramas também faz muito isso. Brincar com o personagem.
Uma vez, eu tava no ônibus com o Gabriel, há muito tempo, eu tinha acabado de entrar pro Autoramas, tinha acabado de montar com ele a banda, e a gente olhou um cartaz: Estresse, depressão, síndrome de pânico. Aí o Gabriel: “caralho, foda isso”, e virou o nome do disco.
A gente adora isso, agora foi com Nervoso e os Calmantes. O ser humano é tão complexo quanto assustador, pra mim. Cada situação é uma fábula.
Eu vi outro dia uma entrevista com o Aguinaldo Silva, aquele noveleiro, ele tira as histórias dele de coisas que ele lê no jornal. Ele é viciado em jornal. Ele passa o dia inteiro lendo jornal. (sobremusica: Ele veio pro Rio para ser jornalista...) Pois é, e eu – além da leitura, que eu adoro – eu leio muito, mas o cotidiano é muito mais enriquecedor. As pessoas, você tem que tomar cuidado com elas, mas eu preciso delas. As pessoas têm características à minha volta, e pra mim é tudo elemento essencial, na hora de fazer música.

s: E isso é tudo: trabalho, casa, festa,...
N: Trabalho, casa, festa. Família, muito.O meu filho é fonte de inspiração maravilhosa.

s: Quantos anos ele tem?
N: Quatro anos. Cara, organicamente, o Guilherme foi uma grande parede. Uma parede de motivação, uma grande segurança pra montar a banda, esse projeto-solo, porque eu sempre fiquei na bateria. Você não sabe o que vai ser ali. Aí você para, sou pai de família, tenho trinta anos, tenho que saber o que eu quero. E é um pensamento inocente, bobo, puro, mas tem fundamento. Você não sabe a tua voz, como vai ser lá, se você nunca impôs a sua voz. Você cantar de brincadeira, fazer um backing vocal, cantar uma música ou outra lá no Acabou la Tequila, no Autoramas, é uma coisa. Agora, um show inteiro, um ensaio inteiro, você não sabe como vai ser, é uma luta, sempre.
E tem as músicas, que foram outra motivação pra montar a banda, porque elas não funcionavam em outras bandas. Eu mostrava pros caras, eles adoravam tanto as músicas quanto as melodias, mas na hora de botar em prática, eu tava na bateria. E eu acho que se expressar na bateria pra passar uma melodia e arranjo é muito mais limitador do que estar na guitarra, na voz. Você na bateria fica só: “faz assim!”, daí tem que levantar e pegar na guitarra. Aí neguinho desanima, no outro ensaio já esqueceu da música, e isso ia atropelando. E esse tipo de coisa, pra eles, era esquecido, mas pra mim não. Pra mim era mais um tumorzinho que ficava ali.

s: ‘Solarização’ foi uma que rolou...
N: ‘Solarização’ rolou, mas quando rolou, quase não rolou. A gente tava em estúdio, e não tava achando o clima, o Renato não tava conseguindo cantar ela direito, não tava funcionando. E neguinho já tava querendo desistir, e eu falei: “desistir é o caralho, mermão.” Eu peguei o microfone, o Renatinho: “canta aí, então”, aí tá, ele fez o backing e ficou perfeito. Mas se eu não tivesse tomado essa atitude, a música ia acabar ficando de fora. Tinham umas vinte pra entrar no disco, várias ficaram de fora.

16.11.05

Ballroom

Memórias

Esse era o retrato do Ballroom na última segunda. O corpo não estava lá. Eles não leram a placa da cancela.













Esse lugar foi muito importante pra mim. Entre outras diversas experiências musicais (ou não) lá vividas, teve uma, em cima do palco, guitarrando "Drain You", do Nirvana, fodaça.

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Não curto tanto o Nirvana, mas o Ballroom eu curti.

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Menos um.

11.11.05

Elocubrações: ouvido para música

Ouvido Para Música

           Ontem, fiquei conversando com a faxineira aqui de casa. Ela canta no coral da igreja, uma igreja longe uns dois bairros e dois túneis da casa dela. Ensaia toda semana, duas vezes em épocas mais concorridas, e canta todo domingo, às dez da manhã. Participa também das ocasiões em que uma noiva quer ver os cantadores na cerimônia do matrimônio, quando uma esposa os quer para as bodas, do Natal, da Páscoa, e de toda vez em que é convidada. Nos casamentos, não fica pra festa, porque ninguém do coral vai querer ficar até tarde, tendo que acordar cedo no dia seguinte.
           Regina é mezzo soprano, mas prefere cantar na ala dos contraltos, porque tem menos gente e ela gosta mais da voz mais grave. Só canta música litúrgica, a não ser quando a missa é de sétimo dia, e os parentes pedem uma específica da preferência do homenageado – geralmente um sambinha ao qual ela faz careta: ninguém sabe nem a letra!
           Ela ganhou um violão de uma mulher onde ela trabalha toda semana há anos, mas nunca conseguiu tocar o instrumento. Também nunca se esforçou. A onda dela é cantar mesmo, e quando é cobrada pela patroa sobre a procedência do presente, se defende e diz que não deu não e que o violão tá guardado em cima do armário, pra um dia ela pegar e aprender.
           Dois irmãos, que moram no Maranhão, tocam na noite, mas não vivem disso, porque não são os filhos de Francisco. Só Zezé e Luciano ganham grana com música, o Lulu Santos até ganha, mas não é a mesma coisa. Tanto que tentaram seqüestrar o Lulu e não conseguiram. Nessa hora, ela dá uma gargalhada do que disse. Se ele fosse rico teria sido ao menos seqüestrado. Caetano Veloso é outro que vive de música, mas não ganha o dinheiro dos sertanejos. Percebo, de alguma forma, que ela quer me provocar com a tese sertaneja, mas eu fico quieto. Não vou defender Lulu Santos. Fico só pensando como eu sou desinformado ao só ter descoberto lendo entrevistas publicadas na Carta Capital há menos de um mês que o popstar tem uma briga famosíssima com os caipiras.
           Ao meu silêncio, ela se cansa de sutileza e ataca. Às vezes, o coral também toca com banda, e ela inclusive já tocou com gente de trombone, daquela outro assim, e de saxofone que nem o que você tem naquela caixa. Mas ela não gosta. Tuchê! Não me lembro de ter aberto o queise pra ela, ou de ter comentado o que tinha dentro, mas o ponto não é esse. Eu sou o Lulu Santos, do saxofone, ela é o Zezé, com a diferença do dinheiro. Ela ri sozinha.
           Caio na provocação e digo que eu não, em determinado momento decidi que ia me esforçar pelo jornalismo ao invés da música, e que é só por isso que eu não ganho dinheiro soprando, mas correndo escrevendo editando criando repetindo fazendo uma roda aí girar. Já os irmãos dela é que são legais, porque não desistiram de tocar o que gostam, mesmo que precisem de outros trabalhos. Quem não precisa? (Tá, Zezé não vale, mas ele faz propaganda política também). Mas a relação de legitimidade entre a origem social, cantar e ganhar dinheiro é que é engraçada.
           Ela resolve abrir um pouco mais o jogo e diz que o coral da igreja às vezes é muito chato, porque as velhinhas vão lá só pra conversar e contar as doenças, e que ela sempre se vira pro maestro e pergunta como está a terapia de grupo, mas ele ganha pra isso e ela não, e sorri. Depois de tudo isso vem a frase que despertou uma série de pensamentos (ainda mais) difusos e soltos. Regina diz que tem ouvido para música, não assim um super ouvido de entender tudo na música, mas um ouvido que funciona pra cantar, e ver o que está errado. Eu digo que se eu cantasse, tudo estaria errado. Ela diz que não, porque quem toca acaba sabendo cantar, o contrário é que é difícil, cantar e saber tocar. O ouvido de tocar é mais difícil. Ela volta ao Zezé e Luciano, apostando que eles têm ouvido pra cantar – enquanto Caetano e Lulu, com certeza, têm ouvido pra tocar também.


           De uma forma muito estranha, bateu em mim forte essa coisa de separar um andar de cima: meu, de Lulu e Caetano, ligado aos instrumentos, onde não há espaço para os irmãos dela (que pelo visto tocam muito mais do que eu, por exemplo); e um de baixo, o dela e de Zezé e Luciano. Nesse, mesmo que ganhando mais dinheiro, dinheiro de verdade, podendo até ser seqüestrado, nesse há espaço para o ouvido de cantar, habilidade orgânica e de resistência.
           Antes de reagir, afinal era muito mais uma implicância em cima do patrão bagunceiro improvisada na hora, me vieram algumas questões sobre a música popular e a Música Popular Brasileira.
           Estava ouvindo, justo naqueles últimos quinze ou vinte dias, a trilha de ‘A Pessoa É Para O Que Nasce’, um cd duplo. No disco 1, que não priorizei por um motivo ou outro que qualquer Freud socialista militante enxergaria facilmente, estão as três ceguinhas “multiplicando muitas vezes seu repertório, imprimindo em sua memória os sucessos passageiros e os clássicos que nunca deixam de ser tocados”, como descreve belamente o encarte. Ouço sem parar o disco 2, de reinterpretações por “artistas profissionais” (encarte). É difícil entendê-lo, mas eu tento.
           Quem abre o disco é B Negão ao lado dos Paralamas, que fazem uma música bacana com o melhor versinho do repertório de Indaiá, Poroca e Maroca transformado em refrão para rimas enfileiradas: “Atirei no mar/ O mar vazou/ Atirei na moreninha/ Baleei o meu amor”. Legal, mas o destaque é mesmo ‘Siga e Venha, Siga e Vá’, também de B Negão, agora com dj Rodrigues.
           O acerto que torna a faixa o que há de mais belo entre as releituras é que B ousa em fazer o caminho contrário ao de todos os outros artistas. Ao invés de trazer para seu universo os cantos ingênuos, simples e non-sense das personagens de Roberto Berliner, o rapper ouviu com atenção e foi falar a língua das três – claro, com o sotaque todo dele.
           Assim, B Negão vira um pedinte de canto repetitivo e quase monocórdio, de artistas de rua que absorvem como mantra palavras e melodias ouvidas e reagrupadas no que o encarte poderia de chamar de processo poético de um dia-a-dia duro. Não há brilhos sobrando, roupa de gala para a elegância da pobreza. As batidas do dj Rodrigues só reforçam o universo da rua como o palco das composições de sample de memória das que não vêem.
           Claro, não se está aqui tentando o elogio por exclusão ou contraste, o disco é todo fantástico e muito diferente: Pato Fu faz uma baladinha linda, assim como o mombojó. O Eddie aplica o carimbo de terceiro mundo do lixo-lama na brega-pop ‘Laurinda’, Lenine formata para seu violão a linda ‘Como É Bom A Gente Amar’, o caos realça as versões de Fausto Fawcett e Lula Queroga, e ‘Tamborim’ de samba sujo vira um samba limpo com Zé Renato e Teresa Cristina. Muito boa também, minha segunda preferida, é a ‘Coco do Leão Arretado’ de Canastra e Nervoso e os Calmantes, que virou um duelo climático e pseudo-sertão de bang bang.
           Mas a tal história do ouvido pra música está mesmo mais clara no B Negão.

           Nisso tudo, entre pensamentos, fui ver a pré-estréia de ‘Cinema, Aspirina e Urubus’, de Marcelo Gomes (roteirista de Madame Satã). É o terceiro longa de ficção pernambucano desde a Retomada a entrar em circuito no Rio. O primeiro foi ‘Baile Perfumado’, que se apresentava como Árido Movie: “a mistura inquieta de estilos, linguagens e ritmos é o paralelo comum que existe entre a música e o cinema que se faz no Recife”, palavras da dupla de diretores. Em ‘Amarelo Manga’, o diretor Claudio Assis escreve que “o universo aqui é o da vida-satélite e dos tipos que giram em torno das órbitas próprias”. Um satélite na cabeça de quem não adivinhar de que cena foram convidados os artistas responsáveis pela trilha dos dois filmes.
           Pois, ‘Cinema, Aspirina e Urubus’ é sem dúvidas um árido movie, mas não tem nada de mangue bit. A começar pela trilha, mais para Lupicínio Rodrigues e Carmen Miranda, não há nada (cores, personagens, aspecto social) que remeta às relações de tradição e modernidade ou miséria e sofisticação da estética dos caranguejos com cérebro. A coragem do pernambucano (o imdb dá que ele nasceu em Manaus, mas vá lá) em dar um passo à frente para não ficar no mesmo lugar só enriquece o cinema brasileiro. Trata-se de uma fábula de dois homens que se tornam amigos ao aproximar os passados e desejos opostos: dois mundos que demoram a se ouvir. E quando se ouvem... não vou contar.

           Por último, a capa do terceiro disco dos Strokes, que deu ao sobremusica o maior número de visitas em um dia, em uma semana, em um mês. Imagem e música, uma só estética, e a importância do ouvido, do ouvir, o gancho é este.
           Se depender das comunidades do orkut para a banda no Brasil, os nova-iorquinos deviam pensar em trocar os planos. Depois de um primeiro disco histórico com uma capa que esfrega na cara que é rock’n’roll, que é sujo e marginal, preto-e-branco, abusado e explicitamente sugestivo, veio o ‘Room on Fire’ com uma capa retrô sem muito charme. Desculpe-se aquela história toda de segundo disco, mas a terceira capa dos Strokes tinha que dizer ao que veio a banda. As músicas do disco – já conhecidas ao vivo ou virtualmente – deixam claro que a banda é aquela mesma que fez bater de uma vez em todas as cabeças uma onda de novidade, visitando o passado, mas novidade. O leque de timbres está algo maior, mas ninguém se surpreenderá a não ser por eles ainda conseguirem botar a Internet e os shows ao vivo (não por acaso a forma de divulgação mais nova e a mais velha) a favor da obra.
           E diante disso tudo vem uma capa abstrata, que estabelece que o título do disco 'First Impressions of Earth' não é uma ironia. A verdade é que se não tivessem as músicas sido apresentadas (ninguém acredita que “vazou”, né?) antes, todos esperariam um disco progressivo e experimental, no máximo mais perto de David Bowie na fase Ziggy Stardust, e não é bem assim. Os traços verticais mais claros também sugerem uma separação ou ruptura que não está nas músicas.
           Donde se conclui, sem certeza, que é uma capa sem ouvido para a música.

           Por último, uma letra do Cansei de Ser Sexy, que – decidi – vai ganhar uma segunda ouvida minha:

From all the drugs the one I like more is music
From all the junks the one I need more is music
From all the boys the one I take home is music
From all the ladies the one I kiss is music (muah!)
Music is my boyfriend
Music is my girlfriend
Music is my dead end
Music is my imaginary friend
Music is my brother
Music is my great-grand-daughter
Music is my sister
Music is my favorite mistress
From all the shit the one I gotta buy is music
From all the jobs the one I choose is music
From all the drinks the one I get drunk is music
From all the bitches the one I wannabe is music
Music is my beach house
Music is my hometown
Music is my kingsize bed
Music is my hot hot bath
Music is my hot hot sex
Music is my back rub
Music is where I'd like you to touch

U2 no Brasil

E aí? Qual vai ser?

Depois de alguns dias de rebuliços e até alguns ataques a este modesto site, que só fez apurar as informações sobre os supostos shows do U2 no Brasil, a novela continua. Vale frisar que o sobremusica torce, sim, para a vinda da banda. Não somos contra, nem torcemos pelo pior. Só fazemos, de vez em quando, um pouquinho de jornalismo.

Olha a balbúrdia de hoje:




respectivamente: Ancelmo Góis, Lúcio Ribeiro, Vítor [Comunidade U2 no Orkut]

Se diverte, malandro. Onde é que tu mora mesmo?!?!

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Se você apostar no Lúcio Ribeiro, da Folha, ele ainda diz que rola Franz Ferdinand na abertura. E aí? Quer pagar quanto?

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Conforme o Bernardo Mortimer informou no "Opine" do texto de ontem, aqui está o link para o site do Canastra.

10.11.05

Festivais independentes

A força da grana









Festivais independentes teriam a função de revelar o novo, dar chance a quem não tem chance. Por isso mesmo, nesse mês em que dois dos maiores festivais deste tipo chegam ao fim, é preciso crescer o olho e ficar atento. Com algum cuidado de pesquisar, descobre-se coisas importantes. Por exemplo: o Luxúria, banda carioca finalista do "Oi tem peixe na rede" já é empresariado pela mesma agência que cuida dos interesses de nomes como Pitty e Marcelo D2, a "Na moral" Produções. É só checar no site da banda que se descobre isso. Além disso, a banda já tem um clipe de alta produção rolando na MTV. Com toda a força de capital e lobby que existe na mão de Marcelo Lobato, o chefão da "Na Moral", fica difícil imaginar outro vencedor para o concurso.

Inevitavelmente me vem a cabeça a pergunta: o que é ser independente? É só não ter gravadora? Não ter disco lançado? E ser conduzido por um dos maiores empresários do ramo no país, pode? Para quem não sabe, o concurso dará ao vencedor um contrato com a gravadora Sony/BMG, a mesma que tem em D2 uma de suas galinhas de ovos mais dourados. Já corre à boca pequena as histórias de quem acompanhou o tamanho da cobrança feita pelo empresário quanto aos resultados do desempenho da banda nas votações do "Oi tem peixe na rede".

A independência está diretamente ligada a fazer as coisas por si, correr atrás sem ter muita experiência, seguir a intuição, a paixão e o suor. Lógico que ninguém vai coibir a ação de empresários e nem dizer que a banda não deva querer crescer e ter uma pessoa de renome cuidando de seus passos. Claro que não. Muito menos contra Lobato, que só está fazendo seu papel, provavelmente com competência. Só que a partir do momento em que uniões deste tipo se concretizam, tal banda não pode mais entrar numa competição com quem não tem cacife igual. É botar uma Ferrari contra um velocípede.

Os critérios desses festivais deveriam ampliar suas observações. Hoje em dia, com o mercado independente se misturando tanto com o tal do mainstream, é preciso muito cuidado para ser justo e dar condições a todo mundo de participar da brincadeira em igualdade de condições.

Boa sorte a todos e que vença o melhor.

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'Engraçado' é observar que, assim como no 'mainstream', parece que também entre os sem gravadora, são as operadoras de telefonia móvel que estão fazendo a roda andar. O "Oi tem peixe na rede" e "Claro q é rock" revelaram alguns bons nomes, mas de uma forma geral não jogaram luz sobre muitas novidades. A maioria dos classificados para as fases finais já são velhos conhecidos da imprensa especializada e de boa parte do público. Com algumas (boas e ruins) exceções.

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Só para se fazer justiça. Estes são os sites dos outros finalistas do "Oi tem peixe na rede":
Katia Dotto
Besouro Zorah
Canastra e Dr.Spinoza, segundo informações do site do festival, não têm sites oficiais.

7.11.05

U2 no Brasil ?!?!

Lógico que a possibilidade de mais um megashow em terras canárias atiçou os ânimos da roomdação do sobremusica. Porém, por enquanto, o alarme é falso.

Os shows do U2 no Brasil em 2006 ainda não estão confirmados, ao contrário do que afirmou a Folha de São Paulo. O sobremusica falou com a Planmusic (empresa que segundo o jornal teria confirmado o show) e ouviu um desmentido quanto à informação. De concreto existe o interesse, este sim, confirmadíssimo. Já é alguma coisa.

O site do U2 também ainda não informa nenhuma data de apresentações no país. A informação da Folha dá conta de que os show seriam nos dias 21 e 22 de fevereiro, o que também é bem improvável, já que esta mesma empresa vai promover o show dos Rolling Stones, na praia de Copacabana, no dia 18. E isso, eles confirmaram.

É difícil imaginar que a Planmusic fosse agendar dois megashows como estes para a mesma semana. A vinda deles eu até boto fé, mas essa data é bem improvável.

Mas de qualquer forma, tá no ar...

4.11.05

Entrevista mombojó, participação especial de Renato L.

(Recife 04/2005)

Muita gréia e experimentação

Uma cerveja tarde da noite é muito bom para ficar conversando melhor. Ok, eu não bebo cerveja, mas a conversa foi muito bacana. Nas cadeiras de metal de um restaurante do Recife, às vésperas do Abril Pro Rock 2005, o sobremusica, antes mesmo de entrar no ar, já se preparava e entrevistava uma das mais consistentes promessas da música pop brasileira para o novo século, a mombojó. Amanhã eles tocam no Circo Voador, com Junio Barreto e Los Sebozos Postisos. Por isso, me dei ao trabalho de tirar a poeira da fitinha e detoná-la aqui, mesmo depois de tanto tempo...

Com a presença ilustre de Renato L, um dos pais do manguebit, os ‘filhos’ dessa fertilidade da lama falam sobre rock’n roll metafísico, a experiência com a Revista Outracoisa (quem diria, Lobão), programas de incentivo à cultura, experimentação, projetos paralelos e várias outras coisas. Entrevista fragmentada, bem solta... Tão solta que quando fui ver, já tinha começado e eu não tinha reparado. Lá pelas tantas, comecei a gravar...

É importante atentar que a entrevista é de abril de 2005, com Marcelo Campello e O Rafa, responsáveis pelos violões, cavaquinhos e instrumentos de sopro na banda. Devido a distância temporal, algumas coisas já podem soar velhas. Hoje a banda já está assinada com a Trama, por onde lançará um novo álbum em 2006, depois do carnaval. As gravações começam agora em novembro, no estúdio da gravadora nova, em São Paulo.

'Tá velha a entrevista, então!' . Não importa. Esse era o retrato de uma banda no meio do caminho entre ser independente, assinar, ser querida pela crítica e estar ganhando o público. Um grupo de amigos, em torno dos 20 anos, curtindo pra caralho a possibilidade de viver de música.


O Rafa: Hoje em dia a gente nem escuta mais rock’n rol direito.
Marcelo: Até escuta coisas mais rock’n roll, mas num sentido mais metafísico, tipo Schoenberg.
(risos!)

sm: Tá bom, eu não ia perguntar, mas já que vocês tocaram no assunto, eu sou obrigado. O que vocês escutam?
Marcelo: Eu estou numa fase bem pessoal, não posso falar pela banda, de estudar coisas de orquestração. Estou ouvindo alguns nomes mais eruditos como John Cage, Stockhausen, até de antes, Debussy, Schoenberg, mas isso é um universinho muito meu, não tem nada a ver com o resto da galera da banda.
O Rafa: Neguinho está escutando Dub pra caralho!
Marcelo: Mas se você perguntasse isso há um ano seria outra história. Se você perguntar pro Chiquinho, tecladista, ele está ouvindo dub, raggamufin’, coisas que eu ouvi pra caralho quando entrei na banda. Na época, estava ouvindo Air e coisas de dub.
O Rafa: Hoje em dia eu ouço muito Hermeto (Pascoal, multiinstrumentista) e muitas coisas de orquestra, tipo Beethoven e música renascentista.
Marcelo: A gente estava falando de referências, é isso. Tudo se reflete de forma inusitada no som, saca?! Você não vai encontrar claramente de onde saiu aquela história ali, mas de uma forma ou de outra foi...

sm: Porque de rock’n roll, da forma mais cruamente conhecida, no trabalho de vocês têm “A Missa”, “Deixe-se acreditar”...
Marcelo: A galera deu uma ‘abominizada’ em rock’n roll, saca?! Cansou daquela história.
Sm: Beleza, mas ainda são as músicas que trazem a galera para mais perto da banda durante os shows. Isso de alguma forma assusta vocês, a possibilidade de tirar essa veia da banda e...
Marcelo: E declinar o público?
sm: Não, mas o show não ficar tão interessante aos olhos de quem quer ‘consumir’ um show simplesmente.
Marcelo: Não sei dizer.
sm: Mas essa preocupação interessa a vocês?
Marcelo: A gente tenta dar uma cara instigada pra parada, porque as músicas tendem, naturalmente, a ser melancolias. É coisa do compositor mesmo, o Felipe (S., vocalista da banda) e eu também...
sm: Vocês curtem uma fossa? (risos)
Marcelo: É normal... A gente vai fazer o arranjo tenta dar uma instigadinha para não ficar aquela viagem autista, sabe?! Porque você, às vezes, vê que a letra é triste pra caralho, mas, com o arranjo, não fica aquela coisa pedante, sabe?!

sm: Vocês estão em fase de pré-produção agora. A previsão é lançar em 2006, falta um ano inteiro. O que é o Mombojó em 2005? É estúdio ou show?
Marcelo: É os dois.
O Rafa: Não tem como parar.
Marcelo: É, mas quando a gente entrar em estúdio, a gente vai passar aquele período assim... Dois meses bem centrado. Mas a gente vai ter que estar levantando caixinha porque a banda precisa evoluir. Precisa comprar case, microfone, pedal.
O Rafa: Ir se equipando, né...

Marcelo: É, precisa fazer esse investimento paralelo e dinheiro... a gente não ta com esse cachê do caralho (risos)
sm: Só R$50 mil só... (risos)
Marcelo: R$50 mil (muitos risos!). Isso é Lenine, véio! O pernambucano mais bem sucedido. Diminua por dez que chega mais junto...
sm: Diminuo dez, dá R$40 mil. É isso, então? (risos)
Marcelo e O Rafa: (muitos risos). DIVIDA por dez!!! Divida por dez... (risos!)

(conversa, bebe e volta)

Mombojó em 2002. Foto: Hélder Carvalho

Marcelo: Uma coisa que é importante. A gente tem um site, mas que tem um espaço limitado de informação lá. O ideal era ter mais, para por mais coisa. Ele está no C. E.S.A.R, que nos patrocina.
Renato L: O C.E.S.A.R é uma empresa aqui do Recife de tecnologia, mas os provedores deles têm umas limitações...
Marcelo: É falta de possibilidade técnica.


sm: Vocês falaram de patrocínio. Isso era outra pergunta. O disco foi patrocinado por um hospital, certo? Como vocês chegaram a isso.
Marcelo: Isso foi graças a lei de incentivo à cultura. Você arruma uma empresa para patrocinar e a ajuda que ela der vai ser descontada dos impostos que ela pagaria.
sm: Qual a ligação de vocês com o hospital?
Marcelo: Eles já patrocinavam, já tinha esse..
Renato L: É um hospital grande daqui, chamado Santa Joana, e eles têm uma tradição de apoiar projetos culturais.
Marcelo: Não teve padrinho, não...
Renato L: Eles colocaram no SIC, que é o sistema municipal e foram aprovados.
Marcelo. A gente teve muita sorte, porque a gente teve padrinho assim...

(interrompe-se a conversa pela chegada de Luciano, empresário dos caras. Lá pelas tantas...)

sm: O disco foi lançado em 2001 pra 2002, você falou..
Marcelo: 2002 pra 2003...
sm: Isso! E só saiu nacional em 2004.
Marcelo: 2003.
O Rafa: Não era nem mombojó o nome da banda...Era 'mombojó ragajá'
Marcelo: Cortou pra ficar comercialmente viável! (muitos risos!!)
O Rafa: (muitos risos!) É, porque mombojó é um nome super comercial, né?! (risos)
Renato L: É engraçado porque era um projeto em que eu trabalhava. Um projeto da galera da Nação
(Zumbi), do Devotos e da prefeitura, com um monte de shows na periferia. E o mombojó se apresentou, com um show muito bom. Uma surpresa. Era sempre Nação, Devotos e uma banda iniciante. Um dia foram eles.

apertados na Outracoisa. Foto: Luiz Santos


sm: E como vocês chegaram na Outracoisa?
Marcelo: Nesse momento a gente já tinha uma reverberação grande, saca?!
sm: Mas ainda era demo?
Marcelo: Nada! Já era o disquinho... A gente tinha prensado mil cópias, ele pegou a matriz e prensou 20 mil. Ele foi oportunista na parada, hahahah (risos!)
O Rafa: Não, mas a gente também foi. Porque 20 mil cópias...
Marcelo: É, mas ele foi, bicho! Eu não vi um real dessa porra!! Heheheh! (muitos risos)
sm: Mas eu ‘estou gravando’ ou é em ‘off’ (a máquina estava claramente gravando)?
Marcelo: Tá gravando!!!
Luciano Meira (empresário): Do que vocês estão falando?
Marcelo: Da Outracoisa...
Luciano: Não, tá tudo certo. Tem um determinado número de cópias que temos que vender antes de começar a ganhar. Agora, a gente ainda há de fazer um estudo para saber porque a gente não vendeu 5 mil cópias ainda... (risos)
Marcelo: É, eu também acho! (risos)
sm: Eu achei que tava muito mais de 5 mil. Só eu comprei quatro!
O Rafa: Ou a distribuição não ta tão competente...
Luciano: Eles só querem que a gente venda o CD junto com a revista. Para levar uma caixa de quarenta revistas para um show é um peso da porra! Aí o que eu faço, quando vou para São Paulo, por exemplo, eu pego da Tratore (selo) e vendo no show. Aí eu faço consignação lá em São Paulo e em cada cidade que a gente vai. Porque viajar com duzentos exemplares da revista... São cinco caixas!
sm: Mas vocês não têm o direito sobre a master para prensar mais?
Marcelo: Direito a gente tem, só não tem é o dinheiro pra pensar (risos!).
Luciano: Eu prefiro fazer isso no segundo disco!
Marcelo (para Luciano): A gente tava falando da Lei Rouanet... É uma realidade...

(mais cerveja, caranguejo e abstrações noite adentro...)

sm: E o DelRey (banda comandada por China, com repertório baseado em músicas de Roberto Carlos), é um projeto mesmo ou só uma válvula de escape?
O Rafa: Isso aí eu posso falar porque eu sou da banda e ele não é! DelRey é porque...
Marcelo: Mas eu posso falar também!
O Rafa: Pode.. (risos)
Marcelo: Pra mim, DelRey é uma onda que surgiu de um cara tentado reconquistar o amor da namorada dele: China. Eles tinham acabado um namoro e, pra mim, foi isso. Eu vi surgir a parada Eu era muito amigo dele, sou ainda, e vi o repertório inicial eram todas as músicas de Roberto Carlos que se encaixavam melhor naquilo que o cara estava vivendo. Agora, com o sentido de ser banda para dar um dinheirinho para o cara. Mas aí depois que o cara reconquistou a mulher, aí virou outra história que O Rafa pode dizer melhor que eu.
O Rafa: É, assim... Eu fui chamado depois, porque o pessoal já tinha uma banda chamada Os Monstros...
Marcelo: D’Os Monstros eu fazia parte..
O Rafa: É... E veio DelRey, onde quem tocava baixo era Samuel (baixista da mombojó), mas ele não se agüentou, aí eu entrei tocando baixo e fiquei.
Marcelo: Eu também ia ser, mas eu viajei num mesmo final de semana da estréia do DelRey e... Foi melhor assim...
sm: Mas se pensa em gravar?
O Rafa: Não pode gravar porque é tudo muito caro.
Marcelo: É Roberto Carlos, véio..
O Rafa: E também não é nenhuma banda com pretensões... E de qualquer forma, se você quiser vai no soulseek... É uma banda de baile, só que a gente consegue arranjar legal as músicas.
Marcelo: É uma banda de baile que não é careta, saca?
O Rafa: Isso! A gente consegue dar uns arranjos mais instigados, legais, com uma roupagem mais noventa... A gente se baseia nos arranjos originais
Marcelo: E China tem Roberto Carlos tatuado na batata da perna!
Luciano: Eu conheço esses meninos, véio, há muito tempo. O mais novo eu conheci quando tinha cinco anos de idade. Eles gostam muito de exercitar a diversidade e de experimentar as possibilidades. Tinha essa história, mas tinha que bater com o interesse dos outros. Chiquinho (tecladista) tinha o desejo de pesquisar a sonoridade dos teclados dos anos sessenta. Isso foi uma puta coincidência, foi um encaixe perfeito... Se você juntar esse desejo de ‘experimentalidade’ com esse senso de gréia que você está vendo que eles têm – e tocar Roberto Carlos tem que ter um senso de gréia do caralho!!

Isso é uma gréia da porra! Foto: Paulo Victor

sm: Senso de quê? Desculpa...
Todos: De Gréia... É tiração de onda...
sm: Ah...
Luciano: É, mas de uma forma saudável...
O Rafa: Às vezes não! (risos!)
Luciano: Mas nunca tem uma intenção má. É uma coisa meio carnavalesca. Juntando esses desejos... Outro dia, Marcelo Machado
(guitarrista da mombojó) estava com uma idéia de formar uma banda à la StereoLab, o Laboratório Estéreo, um negócio desse.. De novo o sentido de gréia e de experimentação. Tem o lance dos Originais do Sample, que Chiquinho tá com Marcelo Machado, de novo é querer ir além da mombojó e isso só ajuda a banda a crescer...

(mais cerveja, mais caranguejo e chega...)

Fim de noite. O Rafa, BM, Marcelo Campello e Renato L

Foto: Garçom


Leia mais sobre mombojó:
"
Tá todo mundo dançando, eu também quero dançar" *
Sábado Canastrão *
APR 2005

1.11.05

Entrevista Sérgio Filho, do Gram (Parte 1)


A banda que fez o melhor DVD de um artista brasileiro, merecia o interesse do sobremusica em fazer uma entrevista com ela. Longa conversa via embratel, num sábado à noite (veja você), e aqui está a primeira (e longa) parte deste bate-papo com o vocalista do grupo.

Sérgio Filho é designer, tem 32 anos e não se deslumbra com o crescimento da repercussão em torno de sua banda. Ainda dependente de outras fontes de renda, ele é um músico contemporâneo que, confirmando a teoria do produtor Carlos Eduardo Miranda, do TramaVirtual, sabe que essa é a realidade de quem quer fazer música nestes tempos de facilidades tecnológicas e gravadoras em crise. Um mercado onde a oferta de artistas é enorme e o espaço, nem tanto.

O vocalista fala ainda da importância do conceito visual e da sua construção junto à identidade da banda. Discorre sobre técnica de animação e resgata influências como exemplos do que pensa. Não precisaria, o trabalho de sua banda já mostra que ele sabe onde está indo.

Entrevista com Sérgio Filho, vocalista do Gram

sobremusica: Você chegou a ler a crítica do DVD aqui no site?
Sérgio Filho: Li, sim.

sm: Você acha que aquelas referências estão bem identificadas e a leitura sobre a postura da banda tem um pé na realidade ou foi devaneio nosso?
SF: Quando a gente recebeu o convite pra fazer o DVD, a gente pensou em fazer o melhor possível, a gente trata tudo como a última chance. Os cinco da banda sempre pensaram assim e quanto à vida mesmo. Foi natural que agarrassemos aquilo com muito carinho e tentássemos melhorar o show. O nosso empresário (Ricardo Cantaluppi) também ajudou a dividir bem as tarefas dentro da banda, deu uma organizada na gente.

sm: E o que é “deu uma organizada na gente”?
SF: Distribuiu bem as funções. Ele conhece muito de produção visual, pois é ele quem cuida dos DVD’s da Deckdisc. Ele apontou onde dava para mexer, o que dava pra fazer, ‘dá pra botar um telão?!’, dá pra botar...

sm: Foi a MTV que convidou ou a Deck propôs para a MTV?
SF: Sinceramente eu não sei. Acho que pode ter partido dos dois lados, pois a MTV sempre gostou da gente e a Deck estava afim de investir na banda.

sm: Como foi o processo de discussão do formato que o DVD teria?
SF: A gente assistiu muita coisa. Vimos um DVD do U2 que não tinha nem amplificador no palco! Os músicos de apoio nem apareciam, ficavam tocando em baixo. A gente achou a idéia de limpar o palco muito foda, mas acabou não rolando tanto. Os amplificadores tiveram que ficar, senão ia deixar tudo muito pelado. Vimos muitas coisas... Teve um também, da Marisa Monte, que tinha um monte de recortes com um pano pendurado atrás, passando umas projeções e a idéia de ter projeções veio dali. Pensamos em usar uns infláveis pra fazer projeções, só que a gente queria algo viável de levar para a estrada e, por isso, o pano foi a melhor opção. A gente projetou os panos, mas quem demos para um pintor finalizar, em cima dos nossos desenhos. Não daria tempo para nós pintarmos.

sm: A banda tem três designers. Em que medida isso é bom ou gera mais conflitos?
SF: Não, imagina. A gente divide bem as coisas. No DVD, eu cuidei mais das projeções, o Marco também fez duas e cuidou do site... o projeto do cenário fui eu quem fez, o Riba ficou com a capa e os layouts, eu também fiz os menus do DVD. Os outros integrantes participaram mais do desenvolvimento do conceito, já que eles não desenham e não teriam muito como ajudar. Mas participaram das reuniões todas. Depois que a gente decidiu que teria que ser em cima do clipe do gatinho, a gente pensou em como botar as pessoas dentro do clipe.

sm: E porque “teria que ser em cima do clipe do gatinho”?
SM: Ah, sei lá. A gente achou que era a última chance de mostrar aquilo que foi tão importante pra gente, seria a última música... A gente sabia que “Você pode ir na janela” ia ser a última música do setlist, as outras nós fomos tentando encaixar. “Toda luz” vem na seqüência de “Seu troféu”, por causa dos clipes. Na verdade, os clipes delas são emendados um no outro, são uma coisa só. Deu o maior trampo pra fazer aquilo, eu desenhei em cima de filme! Aquela mão é minha, o pé é da minha mãe andando na esteira... Eu filmei todas aquelas cenas, joguei no computador e desenhei em cima do filme. É uma técnica diferente, pra não ficar igual ao do gato, que é outra técnica.

sm Que é o quê?
SF: O clipe do gato é uma técnica mais Hanna-Barbera. Você utiliza elementos estáticos e só mexe o braço, só mexe a cabeça, ou a boca.

sm: Eu li que pra cada frame (1 segundo tem 29 frames), você teve que fazer dois desenhos?
SF: É... Pra cada coisa que aparece, eu tive que fazer dois desenhos pra ficar tremido. Já o clipe de “Toda luz”, ele treme porque eu não desenhei com traço firme no papel. Nele, eu desloco o traço de propósito para dar mais movimento. Como são poucos frames, é um desenho mais feito às pressas, então não deu pra fazer com tanto capricho. A Disney, por exemplo, desenha com aquelas mesas de luz. Então eles fazem o traço ficar muito firme, cada movimento você não sente. Mas pra deixar com mais movimento, porque você vai fazer com menos frames, você usa essa técnica onde se dá uma sensação de mais movimento, já que tudo mexe na tela. É um truquezinho sujo...

sm: Quando você vai fazer o clipe, você se baseia na história da música ou cria como se fossem duas coisas independentes?
SF: É... No de “Toda luz” eu pensei na frase que as pessoas mais cantam no show, que é “bem atrás da casa havia uma linda flor e você nem viu”. Então eu resolvi que o protagonista seria a florzinha e que as coisas em volta ajudariam ela a crescer. E depois vem “Seu troféu”, que não é um clipe tão dinâmico quanto o do gatinho. Eles são mais parados porque são projeções, não são clipes de fato. Eles estão compondo um cenário. Você olha para projeção um pouco, depois pra banda no palco e aquilo serve como mais um elemento.

sm: Foi quanto tempo de pré-produção?
SF: Três meses ralando mesmo! No último mês, eu trabalhei 16 horas por dia.

sm: O Gram já consegue viver de música ou vocês ainda dependem de outros trabalhos?
SF: Ainda depende, mas eu acho ok, é uma realidade. É lógico que a gente quer viver só de show, de direitos autorais, mas eu não ligo de desenhar, nem quero parar de desenhar. Eu demorei tanto para chegar num ponto profissional, legal, onde as pessoas me respeitam e me passam trabalhos bacanas... Eu tenho medo de perder o traço, porque você perde mesmo...

sm: Tem algum outro trabalho seu, fora do Gram, que as pessoas reconheçam?
SF: Tem. O “Mesa pra dois”, do Multishow, fui eu que fiz. É um desenho bem tosco, mas é o que eles queriam. Normalmente você tem que fazer o que o cliente quer, no Gram, não! (risos). Fiz o piloto de um desenho animado da “Garrafinha” para a Rede Globo, fiz muita coisa do Iguinho, o site infantil do portal IG. A “Garrafinha” e o “Mesa pra dois” foram trabalhos que eu já fiz com o Gram rolando e o Marco Loschiavo me ajudou com a colorização.

sm: O clipe do gatinho já te ajudou como portifólio?
SF: Não, acho que não. Os trabalhos que eu fiz depois foram com clientes meus já antigos.

sm: Quanto vocês economizam, pra vocês e para gravadora, fazendo todo esse trabalho gráfico?
SF: Cara, se alguém me pedisse para fazer aquele clipe do gatinho, se eu fosse fazer tudo, fazer roteiro, elaboração de personagens, e tal, fazendo sozinho, como eu fiz, eu TERIA que cobrar, como ilustrador, no mínimo uns R$ 40 mil. Não tem jeito.

sm: E quanto tempo de trabalho vai ali?
SF: Eu gastei um mês. Quinze dias para pensar e mais quinze pra fazer. Mas eu trabalhei pra cacete! Eu fiquei aqui sem ver a hora. Era muito prazeroso fazer! Eu não sabia se eu estava dormindo, se estava acordado. Eu nem saía de casa, eu sou muito caseiro mesmo. Até por isso foi rápido.

sm: Mas eu digo em relação a todo o conceito visual. Vocês fazem tudo ou a Deck pega um pouco para a equipe dela cuidar? Isso é uma opção estética de vocês ou é uma decorrência de ser uma banda iniciante?
SF: Por enquanto a gente faz tudo. A gente gosta de fazer tudo e eles gostam do que a gente faz. A gente pretende, por enquanto, manter tudo assim, porque gostamos. O próximo clipe nós estamos pensando em fazer com outra pessoa, para ver como é. Estamos curiosos. Na próxima conversa sobre clipes, nós vamos levantar a idéia de filmar, senão fica chato ser só animação, não é? Eu já tenho inclusive alguns roteiros prontos, tanto para essas músicas do primeiro disco, quanto para as do segundo que nós vamos gravar. O próximo clipe a rolar, ainda deve ser o de “Toda luz”, que está no DVD.

sm: Vocês, enquanto uma banda de designers, como enxergam a importância da conceituação visual da banda? Foi uma coisa que vocês sempre se preocuparam em cuidar ou foi uma demanda gerada pelo sucesso do clipe do gatinho?
SF: Designers têm TOC (transtorno obsessivo compulsivo)! (risos)Quando a gente pega um projeto, a gente quer que tudo tenha a mesma cara. Gosta de trabalhar a coerência com a imagem. Como são as mesmas músicas no CD e no DVD, a capa do DVD e a bolacha do DVD estão diretamente ligadas ao que foi no CD. O site, até então, era laranja, igual ao do disco.

sm: Mas isso já vinha desde os tempos de banda independente ou foi depois de assinar? Vocês já tinham preocupação com cenário, com fazer uma capa de demo com conceito...
SF: A nossa demo é o nosso disco, igualzinho. Só quis regravar duas vozes, que estavam muito ruins, que eu tinha gravado em casa, mas o resto é igual, o encarte, a parte gráfica toda. A Deck só comprou a matriz e remixou. Agora, a questão visual é natural de sermos três designers.

sm: E a questão de cenário de show e de figurino?
SF: Também é conseqüência de terem três designers que gostam de botar a mão na massa. Antigamente, a gente tinha uma imensa cara do gato atrás da gente no palco. Nós gostamos, achamos interessante se trazer além do show, o apelo visual, não só o som. A performance também é importante, cada um tem uma posição no palco. No Gram, a gente tenta sempre formar um “W”, para todo mundo aparecer. Lógico que tem palco que não dá, né,que é muito pequeno. Sempre foi uma preocupação desde a época que nós fazíamos Beatles Cover. Aquilo era mais teatral, até por isso era a imagem era importante. Eu sempre fui muito perfeccionista com as roupas. Eu levava todos os detalhes das roupas dos Sgt. Peppers para minha mãe e minha vó costurarem. Acho que eu puxei daí, pra trazer pro Gram. Os outros integrantes também eram preocupados com isso.


(continua em breve...)

Leia mais sobre o Gram:
O melhor DVD já feito por um artista brasileiro * Gram


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