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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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31.12.05

O melhor do ano

Desde junho eu venho enrolando para escrever sobre o disco de estréia dos gordinhos do The Magic Numbers. De novo aquele lance de as palavras ficarem aquém do disco. Relaxei e já aviso que qualquer coisa que eu escreva estará, sim, abaixo da qualidade do que se revelou ser o melhor lançamento de 2005. Para começar 2006 bem, nada melhor do que escrever sobre o melhor disco do ano que passou, esperando que ele seja superado no ano que vem.

Com suas variações de andamento, de divisões silábicas, de climas, o grupo renova o espírito do rock desta primeira década do século. Não querendo desmerecer, mas o estilo rockdance que teve no Strokes o precursor, já estava precisando de um novo ar. O Magic Numbers te põe pra dançar, te põe pra cantar, te põe pra beijar, pra chorar... Tudo muito fácil de descer aos ouvidos, tudo que as rádios poderiam querer. "Morning Elevens", a música que abre o disco, é uma destas. Ela se rompe a barreira dos cinco minutos sem perder a ternura e a popice jamais. Quando ela chega aos 4'15", você acha que a música acabou, mas não. Ela volta e o faz por cima. A sensação é de que quando você acha que aquele tema já foi destrinchado pela banda, os quatro conseguem rearranjá-lo e fazê-lo de novo.

"Forever lost" mostra que o Lulu Santos passou pela terra da rainha e foi elevado a uma classe mais pomposa, mas não menos pop. "I wanna go where the people go/ Cause I forever lost", canta Romeo Stodart. Ou esse rapaz é muito modesto ou fica a torcida para que ele não se encontre, nem encontre o caminho por onde todo mundo vai. Se o sobremusica tivesse feito uma lista das melhores músicas do ano, esta certamente apareceria.


O clima vai para o mais intimista na terceira faixa, "The mule", com a melhor frase do disco e que poderia estar estampada em quanquer camiseta por aí... "One more drink and I'll be fine/ One more girl to take you off my mind"... O lirismo do desabafo revelam que não é qualquer um que ostenta a pena. As guitarras no quase-final dela trazem a raiva que a candura da texto escondeu.

Não demora para chegar ao seu ouvido "Love me like you". A melhor. Os versos "All my life I'd hurt the ones I loved/But, baby, You can turn it round" servem de pré-refrão e antecedem o delicioso corinho de "ahhhh, aaHHHH, AAAHHHHH" acompanhado da guitarra que acelera, igualzinho ao que você já ouviu em "Twist and shout" e em tantas outras... Um dos méritos deste grupo é saber usar os clichês a seu favor. Recentemente falei disso quando escrevi sobre o último álbum de Paul McCartney. Paul, que aliás, fez parte do grupo que consagrou os "ahhhh, aaHHHH, AAAHHHHH's" de "Twist and Shout" e os "Yeah, Yeah Yeah's" de outras muitas, é a grande referência deste álbum. Logo ali na frente, no fim do refrão, as palminhas marcam o tempo. Os corinhos da ahhh's, oooo's, uuuu's são o charme! Não acabou. Vale atenção no trecho lento "All those years gone by /I only want to find a way to make it hard for you" e como a música volta a crescer. É fantástico o arranjo que a banda faz. Empolgue-se demais nessa parte! Por fim, o refrão para acabar em clima de ressaca.

Depois dessa pancada, dessa aula de música pop, as baladas cortantes:"Which way to happy" e I see you, you see me". Da primeira, toma e chora; "Tell me a joke and I will love you / Pour me a drink and I'm yours / I couldn't lie to anyone/ Who's ever felt sure/ Of a real life romance/ There's no beaten cause /Surrounding me now /There's no bleeding heart/And I don't wanna know you right now/Make time to show me your scars/ And which way to happy/And which way to hell/For I think I lost direction/When you threw me out of bed". Não falo mais sobre ela. Da segunda, eu te pergunto se você lembra de "Giz", música que Renato Russo dizia ser a sua preferida em toda a obra da Legião Urbana? Pois é. Lembra quando ele cantava "Lá vem, lá vem, lá vem de novo/ acho que estou gostando de alguém". Então. Em inglês vem assim, no refrão desta música: "And it's alright/I never thought I'd fall in love again/ It's alright/ I look to you as my only friend/ It's alright/ I never thought that I could feel there's something/Rising, rising in my veins/ Looks like it's happened again". Já são dois: Lulu Santos e Renato Russo passeando pela Inglaterra. A segunda parte dessa música traz o eu-lírico feminino respondendo na voz de uma das duas moças do quarteto. "I never thought taht you wanted for me to stay/ So I left you with the girls that came your way/But, darling, whn I see you, I see me". Beija, beija, beija!! Aê!!! Eles dividem o vocal na volta do segundo refrão, como se um cantasse para o outro. Casaram! Na parte final, a bateria acelera, conduz um outro clima e o dueto das voz masculina com a feminina faz o ponto alto do disco em termos de arranjos vocais. Infelizmente eu não descobri se quem canta é Angela Gannon ou se é a irmã de Romeo, Michele Stodart, porque desde já, seria minha voz feminina preferida nesse meio do rock... Docinha, lembrando Suzanne Vega. E a música termina, dando lugar a faixa mais gostosa do disco: "Don't give up the fight". A oitava faixa conduzida pela panderola e pela guitarra flerta com as baladas da black music. Marvin Gaye poderia cantá-la sob o corinho feminino das duas garotas da banda...

O violão quase flamenco em "This Love" faz o disco escorregar um pouco. Era a hora de voltar com um pancadão daqueles que sobram nas primeiras faixas. A "This Love" aqui devia ser aquela do Maroon 5. Ia ficar bacana. Só que não é. A versão dos ingleses traz um cello conduzindo a base dá soninho, mas não entenda isso como algo ruim, não... A música seguinte, "Wheel's on fire", segue a mesma linha.

O disco volta a subir com a introdução de "Love's a game". A música se revela outra balada, mas mais animada. As guitarras e as letras do pré-refrão e do refrão salvam com sobras a décima-primeira faixa. O pré-refrão é minha parte preferida: "Maybe I'm a fool for walking in line/And maybe I should try to lead this time/ I'm an honest mistake that you made/ Did you mean to?" Bom demais, né?

O auge do intimismo chega na penúltima faixa, "Try", quando Romeo canta vários pedaços a capella com bastante competência. Apesar de mais um bom arranjo, "Try" fica abaixo devido a sua duração que, nesse caso, pela primeira e única vez no disco, cansam um pouco.

O disco termina no frio de um campo inglês qualquer. "Hymn for her" faz a paisagem da janela ser nublada, com aquele sereno da noite, Romeo canta para quem ainda não dormiu, embarcar de vez nos melhores sonhos possíveis. Você nota isso mesmo antes de ele cantar "And if sunday rain/I don't wanna know/ Just like I won't forget your face/ When I awake to find you here". Essa é a aula que o Chris Martin estava precisando para deixar de ser tão pedante em suas letras. Toda a delicadeza que o Coldplay queria ter, você descobre que estão escondidos em outro lugar da Inglaterra. A magia dos números oferecidos por essa banda é o que há, com trocadilho e tudo! Bons sonhos. Bom 2006.

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Outro dia eu falo do flerte do Magic Numbers com o eletrônico, mas a sugestão que já fica desde já é "Water Song", que pode ser encontrada nos soulseeks da vida. Acho que eu já tinha falado disso antes aqui no site, mas como a opinião continua sendo a mesma, repito-me. O resto fica pro ano que vem!

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Em 2006, muita felicidade, música, sorte e, principalmente, saúde! Paz.


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Muito obrigado por todas as quase cinco mil visitas e quase sete mil page views neste primeiro ano do sobremusica. Esperamos que continuem nos lendo e convidando seus amigos a fazerem o mesmo em 2006. Valeu, gente!

Listas, a retrospectiva do ano que passou...

Hoje é o último dia do primeiro ano do sobremusica. Não poderia passar em branco sem as habituais listas. Não chega a ser um "Prêmio sobremusica 2005" (esse fica para o ano que vem - primeira promessa), mas vá lá. Já que não é para premiar ninguém, as ordens em que os nomes aparecem nas listas não significa necessariamente uma ordem de preferência.

Discos Nacionais 2005
Toda Cura para todo o mal - Pato Fu
Moonrock - Moptop
menção honrosa: Futura - Nação Zumbi;

Discos Internacionais 2005
The Magic Numbers - The Magic Numbers
You Could Have it so much better - Franz Ferdinand
menção honrosa: Live in Rio - Strokes (que rola nos Ipods brasileiros)

Melhores Discos que ficaram lá pra frente...
First Impressions of the Earth - The Strokes
Whatever People Say I Am, That's What I'm Not - Arctic Monkeys
menção honrosa: Um disco do Los Hermanos a altura dos três primeiros...


Shows 2005
1 - Strokes 21/10/2005
2 - Pearl Jam 04/12/2005
3 - Strokes 22/10/2005
4 - Flaming Lips 27/11/2005
5 - Pato Fu 16/09/2005
6 - Iggy Pop 27/11/2005
7 - Wagner Tiso 10/12/2005
8 - Orquestra Manguefônica 01/04/2005
9 - Moptop 08/06/2005
10 - Placebo (Abril Pro Rock) 15/04/2005 e Asian Dub Foundation 24/09/2005


Todas as listas poderiam se extender, bem como poderiam haver outras listas, mas prefiro parar assim.

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Finado ano, vamos checar o que se confirmou dos boatos do rock (jul/2005) no ano mais recheado de shows bacanas da história do país.
Foo Fighters - ERA CAÔ.
Weezer - VEIO.
Garbage - ERA CAÔ
Oasis - ERA CAÔ, (mas jura que ano que vem, vem.)
Kings of Leon - VEIO.
The Strokes - OHHH, SE VEIO...
Wilco - VEIO
Flaming Lips - AINDA BEM QUE VEIO!
Outkast - ERA CAÔ.
White Stripes de novo - ERA CAÔ. Só rolou mesmo aquela do primeiro semestre.

26.12.05

Natalinas (2)

O disco de Paul McCartney , como já escrevi, é um disco de canções e essa é sua especialidade. Pode-se comprovar isso na biografia "Many Years From Now", que aliás foi o presente que dei para meu irmão querido, de 12 anos, que está se iniciando em música pop.



Voltando às canções de Paul. Em alguns momentos, Chaos and Creation on the backyard pode soar repetitivo. As introduções de arpeggio de piano são um dos bons clichês das baladas de pop-rock, mas no disco elas cansam um pouco, desgasta. A mencionada "Anyway" é uma das que flerta com esse clichê, mas também inverte um pouco uma das principais e mais famosas linhas de influência da música pop. Nela, é Paul McCartney quem bebe em "Pet Sounds", dos Beach Boys, na hora de rearranjar as vocalizações. Outro clichê desta faixa é a entrada de um naipe de cada vez, dando a sensação de que a canção está crescendo... Isso sem falar no velho truque, do qual também já falei, de se esconder uma continuação da faixa, minutos depois do aparente fim dela. Aqui rola isso. Primeiro, com um rockzão, depois começa a ficar mais abstrato. Não chega a virar um dub, mas vai quase lá com uma sinfonia de buzinas repetidas e sons de microfonias manipuladas. Oficialmente, no encarte, a faixa tem 3'50. Mas pode deixar rolar até os 4'10'' que essa "faixa escondida" se revela. Clichês, clichês, clichês... É, eu sei, eu sei que já falei aqui que essa é uma das minhas favoritas. Pois é, adoro clichês bem usados ou, pelo menos, usados bem. E Paul McCartney por si só já é um clichê. O meu favorito.



"Two much rain" remete a "Two of us", do Let it be, especialmente em uma frase: "it's one right / in one life", que lembra "On our way home/We're gonna way home..." Só que a atual canção de Paul soa mais doce do que a "road-song", dos Beatles.
Para terminar, vou destacar também "This never happened before" que lembra uma coisa meio 'balada do Stevie Wonder'. Na verdade, ela me lembra alguma música que nesse momento não consigo identificar ao certo, mas que, por alguma coisa, acho que é do Stevie Wonder. Não, não é "Ebony and Ivory", em que ele dueta com Paul, não. Parece as músicas que tocavam no fim da tarde da finada (sem trocadilhos) Alvorada FM, aqui do Rio de Janeiro.
No final, Chaos and Creation(...) é um ótimo disco para salvar dias nublados, principalmente para os cariocas, que como eu, não gostam muito deles.

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Também ganhei uma coletânea do Caetano. Ainda não ouvi, mas pelas músicas impressas na contracapa, acho que dá um bom panorama da carreira dele. Falta alguma coisa a mais do iníciozinho, mas vá lá.

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Uma pequena recomendação: O disco do Trio Taluá, que saiu em 2004 (ou 2003) pela Delira Música, voltou a tocar esses dias aqui no meu som e fez um bem danado. É um ótimo álbum, com bons músicos e excelente repertório. O que me deixa mais triste é lembrar que esse cd chegou a mim certa vez em que limpava umas gavetas de uma redação jornalística. Perguntei de quem era e a resposta que recebi foi: "Isso tá aí há um tempão. Leva pra você". Pois é. Ainda bem que eu trouxe.

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Ainda em destaques instrumentais, o violonista Ulisses Rocha com o disco "Álbum" (2000), produzido/bancado pelo escritório Ernesto Tzirulnik Advocacia, dentro do Projeto Ceará 202. Provavelmente alguma coisa relacionada ao uso de incentivo cultural. Este foi bem usado. Clássicos do rock/pop do século XX, em versões para relaxar e ter bons sonhos. Ponto alto: "Change the world", a última grande música do Eric Clapton.

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Mentira, Clapton fez "Bell bottom blues" depois disso... Esqueci.
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Sabe aquela vinheta da MTV, "Desligue a TV e vá ler um livro" ? Pois é. "Many years from now" é ótimo para quem não consegue fazer outra coisa que não seja assistir MTV e ficar horas conversando nos MSN's da vida... Para quem não vive assim, também é bom. É parcial, mas é bom.

25.12.05

Natalinas

And so this is Christmas...

As impressões musicais são sempre reforçadas pelo natal. Algumas óbvias, como as causadas pela, sempre tocada, música acima, de Mr. Lennon. Óbvias também são algumas pessoas para presentes. Eu sou uma delas. Toda ocasião em que as pessoas acham por bem me presentear, acabo recebendo CD's, DVD's e objetos referentes à música. Que bom! Adoro ser óbvio! Evita desgostos e trabalho de trocar coisas em lojas que se tornam impraticáveis nessa época.

Sou tão óbvio para os outros, que também acabo sendo óbvio para mim. Não seria difícil adivinhar com o que me presenteio nessas ocasiões... Chego ao que, imagino ser, o balanço final. Algumas barbadas, algumas supresas, todas muito bacanas, vindas de todos os lados.

No quesito barbadas dadas por mim a mim mesmo, a caixa "Amor e Mar" do Caymmi. Estávamos flertando há tempo e, agora, concretizamos o que, imagino, será uma relação eterna até que uma arrebatadora crise financeira se abata sobre mim ou que alguém me roube. Isola. A caixa fica devendo. Quer dizer, não que fique devendo. Eu deveria ter me informado melhor. Mas a embalagem da caixa também poderia ajudar. Digo isso porque os sete cd's, acompanhados de um belo encarte ilustrado pelo próprio Caymmi, trazem várias faixas repetidas em várias versões. Isso não é, em si, uma coisa ruim, mas não era o que eu esperava dela. As versões que são acompanhadas por orquestras e coros me deixam um pouco decepcionado. Prefiro a singeleza da coisa, quando vem mais limpo, mais puro. Até por isso aguardo ansiosamente o presente que um amigo me prometeu a meses: um cd com o show de 70 anos do baiano, no qual ele só canta, conta histórias e toca um violão. Só e tudo. É o que eu estou querendo. Como surpresa positiva, algumas músicas que nunca imaginei que fossem de Caymmi tal é a forma como elas estão impregnadas na veia da cultura popular brasileira e que imaginamos serem de domínio público e autor desconhecido.

Ainda me presentei com a nova caixa de DVDs do Chico Buarque, que ainda não assisti, mas que estou com o pé atrás. Vi um pedacinho do episódio "Chico e Mangueira" na Band, semana passada, e achei muito abaixo dos outros. Forçado, enrolando, sem chegar, sem ir, sem concluir, sem começar... Enfim, pode ser só impressão. Mas vamos lá...

Pra terminar meus presentes a mim mesmo, já que o bolso de jornalista costuma ser (e no meu caso é) raso, comprei um disco dos japoneses Pizzicato Five. Para os não iniciados, como eu, Pizzicato é uma banda cool que aparecia com uns clipes diferentes na MTV, além de ser a banda da "música de abertura do Teleguiado", finado programa da music televisão brasileira, um dos melhores que houve por lá. Certa vez, conversando com Jonas Sá e Bubu, eles me falaram do encanto deles pela música pop japonesa. Falaram de muita coisa louca e me deram um panorama quase antropológico da cena de bandas nipônicas. Posso estar sendo enganado pela memória, mas me lembro de eles dizerem que Pizzicato era uma banda mais aberta à influências do ocidente e que tinha uma razão para isso, mas eu não me lembro qual. Comecei a ouvir, estou gostando, mas ainda não tenho muito o que escrever.

O que já posso falar com um pouco mais de propriedade, dada as duas audições, é o cd novo de Paul McCartney, presente da minha amada. Disco cheio de canções, que desce muito bem. A começar pelas duas capas. Sim, duas, porque o meu é uma edição especial que vem junto com um dvd que ainda não assisti. A capa mesmo é uma linda foto de Paul, menino, num quintal com um violão. Sensível, mas contraditório com a maturidade do dinossauro da música pop, que já trocou a ingenuidade pelo doutorado na área, há muito tempo. A outra é uma de papelão vermelho, também bonita, mas com letras que parecem anunciar a trilha sonora do Harry Potter.

Dentro disso tudo, o disco. Na maioria das músicas, o disco soa reflexivo, cheio de arranjos grandiloquentes, por mais que às vezes a voz de Paul venha te falar tão próximo ao ouvido como se aquilo tudo estivesse a capella. "Jenny Wren" tem uma estrutura que você já ouviu em "Blackbird", e isso é bom. Violões, baixo, voz e um Duduk, instrumento armênio de sopro e de madeira, que soa entre o clarinete e o trombone. A faixa seguinte, "At the Mercy", já volta com a orquestra de cordas inteira, além de outros muitos instrumentos. "English Tea" remete ainda mais à atmosfera fabfour. Lembra aquele pianinho de "In my life", lembra "Golden Slumbers". As que mais gostei até aqui foram "Too much rain" e "Anyway", esta a última tem uma continuação escondida cerca de um minuto depois do aparente fim. Velha técnica do pop.

Ainda volto a falar mais.

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Depois de um ano em que o Natalino Joel Santana fez o maior desfavor do ano, rubro-negros têm que comemorar duplamente o natal. Eu só rio deles.

14.12.05

Wagner Tiso e Victor Biglione

No último dia 10, o maestro Wagner Tiso foi homenageado por amigos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Uma bela festa, atrapalhada pela má organização que causou filas enormes na Avenida Rio Branco, sob forte chuva. Lá dentro, a festa foi realmente bonita. O maestro mostrou que, hoje em dia, é um dos principais compositores brasileiros na aproximação do erudito com o popular. Dono de uma sofisticação que remete aos sons das estradas de ferro de Minas, ao mesmo tempo em que se funde ao jazz e a pompa clássica, ele esbanja. Pra piorar, ele ainda é simpático, sorridente, generoso, como pude constatar na entrevista que fiz com ele no fim de novembro.

Reproduzo aqui, o resultado dessa conversa que para completar, foi feita com ele e Victor Biglione, a pedido da Revista Backstage. Um trabalho que só podia ser encarado como prazer por alguém que é jornalista e gosta de música, como eu. O encontro foi publicado na capa da edição de dezembro/2005 da revista, mas reproduzo-a, na íntegra, aqui embaixo. Publico no sobremusica como forma de homenagem aos 60 anos de Tiso, comemorados na última segunda-feira.

Um mundo em quatro mãos
Wagner Tiso e Victor Biglione celebram 20 anos de parceria e 2 anos do disco em duo “Tocar a poética do som”, com uma cumplicidade impressionante. (por Bruno Maia)


Quando Victor Biglione e Wágner Tiso estão em um mesmo ambiente, o que acontece? Música, responderia o leitor rapidamente. Mas não, é mais que isso. “Nossa cabeça não é só fechada para música. Têm músicos que, quando se encontram, só falam de captador, de que corda o outro usa... A gente se interessa por tudo que a vida pode nos oferecer”, conta Biglione. A música é decorrência. “Nós temos interesses amplos e parecidos. Ambos têm um pensamento político parecido, somos de esquerda, nos interessamos por cinema... Isso tudo acaba instigando um ao outro e o nosso duo musical cresce por causa disso”, completa.

Dois anos após o lançamento do disco “Tocar a poética do som”, além de pensar um relançamento do disco com algumas modificações, os dois se preparam para o show em homenagem a Wagner Tiso, no início de dezembro, no Teatro Municipal. “É para entregar que eu sou velho”, diz o homenageado, aos risos. Victor Biglione será um dos convidados ilustres da festa. Ao longo dos quarenta e cinco anos de carreira de Tiso e os quase trinta de Biglione, a história da música brasileira desenhou alguns de seus capítulos mais importantes.

Um maestro mineiro
Desde os tempos em que montou seus primeiros grupos, ainda na cidade de Três Pontas, em Minas Gerais, Wagner Tiso já desenhava a história da música brasileira junto com seu mais antigo parceiro, Milton Nascimento, nos bailes da vida ou num bar, em troca de pão. Juntos, em Belo Horizonte, começaram a fazer apresentações um pouco mais sérias. “Foi lá que eu conheci melhor o jazz e a bossa nova,. Havia casas de shows especializadas neste tipo de som, de improvisos e big bands. Montamos um trio para tocar esse tipo de música, Milton, Paulinho Braga e eu”, relembra o maestro. Corre a lenda que Tiso teria insistido para Milton Nascimento tocar baixo neste trio, pois já existiam muitos cantores no mercado. “É mentira. Na verdade, eu pedi para ele tocar baixo, pois aquilo era um formato que existia das bandas de jazz e bossa nova, de piano, bateria e baixo. Por isso, ele foi tocar baixo e começou a estudar o instrumento. Ele fazia uma coisa que ninguém fazia: cantar as frases para si e tocar o baixo, ao mesmo tempo. Ele sempre foi muito musical”, explica. “E essa época foi a minha grande escola”.

A capital cultural do país ainda era o Rio de Janeiro e Wagner Tiso não tardou a se mudar para a cidade, em 1965. “Fiz muito baile também no Rio, até que o Paulo Moura me achou nas boates, perdido, e me levou para tocar. Eu devo a ele o início da minha carreira artística”. Em 1969, formou o grupo Som Imaginário, que sacudiu a música instrumental brasileira, juntando o que havia de informação mais nova no exterior, que era o uso dos teclados sintetizadores, tão em voga atualmente, com as orquestrações. O grupo acabou por vários motivos. “Alguns confessáveis, outros não (risos), mas a verdade é que nada dura para sempre”.

Outro momento em que Wagner Tiso interferiu sobre a história da música brasileira foi no disco “Milagre dos Peixes Ao Vivo – Milton Nascimento e Som Imaginário”, em 1974. Neste disco, Tiso buscou juntar a orquestra com a música popular, recurso que viria a se banalizar na música brasileira do fim do século XX, principalmente com a moda dos acústicos. “Aquilo foi algo que me marcou muito em termos de música nacional”, relembra Victor Biglione, para completar: “Antes eu tinha um registro disso no disco Gate of Dreams, do Claus Ogermann”. Tiso lembra de outras influências para aquele momento: “Veio muito do cinema. Eu gostava de ouvir as orquestras nas músicas dos filmes. Às vezes, eu não sabia nem que tipo de naipe era aquele, mas me encantava ouvir. Eu tinha a vontade de unir o erudito sinfônico com o popular”. Olhando para os dias atuais, Victor Biglione sentencia: ”Hoje se usa isso porque está na moda e, muitas vezes, não há nenhum conteúdo, nenhuma emoção no trabalho”.

O primeiro disco solo de Wagner Tiso só foi ser gravado quando ele já tinha dezoito anos de carreira, em 1978. “Depois de ter ficado muito tempo no Som Imaginário, eu passei um ano nos Estados Unidos e, na volta, fiz o meu disco”, conta o maestro. “Eu sempre fiz tudo em grupo, sempre fui muito gregário. Ao longo dos anos, eu fui descobrindo que eu tinha muito repertório para mostrar e, nessa volta dos Estados Unidos, a Gisele (esposa) me convenceu, até porque eu ainda tinha um contrato com a Odeon, herdado do Som Imaginário”.

No auge da abertura política, veio o maior sucesso, “Coração de Estudante”. Graças a ela, Tiso conseguiu uma marca histórica nas vendagens de música instrumental no país com quase 100 mil cópias. “Só não chegou nesse número por um erro estratégico da gravadora. O disco estava vendendo muito, quando a gravadora resolveu soltar um outro compacto, com a minha versão de um lado e, no outro, com o Milton Nascimento cantando. Com isso, o pessoal passou a comprar este disco que trazia o Bituca (apelido de Milton Nascimento) junto”, explicou Wagner Tiso.

Naquele momento, o encontro com Victor Biglione começou a se desenhar. “Na excursão do Coração de estudante, o Victor passou a fazer parte da banda e, dali, começamos a desenvolver uma identidade musical. Já naquela época, no meio da própria turnê, aconteciam show especiais só em duo e o repertório que gravamos neste último disco foi surgindo assim, desde aquela época”, conta o pianista. “Quando eu vim para o Rio, na década de 60, era para tocar jazz. Mas eu fui me envolvendo com o Clube da Esquina, com o Som Imaginário, com o rock e me afastei do que sempre foi minha predileção fazer: tocar jazz e orquestrar. O Victor me trouxe de volta para isso”.


O argentino mais brasileiro
Não pergunte a Victor Biglione se ele é brasileiro ou argentino. “Eu sou reservista do exército brasileiro!”, afirma, retumbante. Mas logo ali na frente, ele mostra um outro lado. “Fui informado que, está quase certo que, a Unesco vai me dar um prêmio por ter sido o estrangeiro que mais trabalhou com a música brasileira. Dos que nasceram fora do território nacional, eu fui o que mais tocou com a MPB! (...) Meu pai foi presidente da juventude comunista argentina, por isso que eu vim para cá com cinco anos!”. Pouco depois, ele acrescenta: “As pessoas adoram falar que eu sou argentino, mas eu sou metade judeu...” . E ainda: “Minha família andou pelo leste europeu, tenho uma coisa meio cigana comigo”.

É dessa mistura inusitada de influências que se moldou o brasileiríssimo violão de Victor Biglione. O apoio familiar para que estudasse a fundo o violão foi decisivo em sua adolescência. “Eu comecei a ter aula aos doze anos, até que surgiu a CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical, do Zimbo Trio) com um método muito bom de formação harmônica e aquilo foi fundamental para mim”, relembra o violonista e guitarrista.

A carreira marcada por encontros com grandes nomes da música brasileira – vide o tal prêmio que a Unesco deve lhe conceder – foi sempre sua grande marca. O primeiro disco solo só saiu sete anos depois de ter se profissionalizado. “Quando eu fiz meus discos, eu já tinha tocado com muita gente, para aprender, agregar influências. Hoje em dia, qualquer um tem disco”, explica Biglione. “Foi uma opção pelo aprendizado e para ter conteúdo. Tem gente que toca muito, mas não tem o que dizer. Não sei porque existe essa obrigação de se gravar um disco por ano. Nem todo mundo nasceu para ficar gravando trabalhos autorais”.

Victor Biglione fez parte de um dos últimos grandes momentos de sucesso da música instrumental no país, que foi a geração dos anos 80. “A gente era parado na rua, dava autógrafo, encerrava os jornais locais de televisão. Com o advento do jabá, a coisa mudou e o instrumental foi vetado dos veículos de comunicação, tanto da rádio quanto da televisão. Hoje, o que interessa são só as coisas sensacionalistas, como crime e sangue, e as de consumo rápido”, esbraveja. “Nos Estados Unidos, eles gravavam o Michael Jackson, mas davam o mesmo tratamento ao Miles Davis, pois sabiam a importância cultural daquilo para o país. No Brasil, as gravadoras multinacionais estão fazendo um trabalho de só servir aos interesses comerciais da matriz, sem prestar atenção no papel que elas têm a cumprir junto à cultura nacional”.

Tão contundente quanto é na defesa da música instrumental, ele também sabe ser na crítica aos músicos. “O músico brasileiro tem uma tendência muito grande a ficar mascarado e achar que não precisa ensaiar, principalmente na hora de fazer os duos. Ele vira para o outro e fala ‘você é muito bom, eu também, é só a gente entrar no palco e arrebentar’. Não é assim”, esbraveja. “Wagner Tiso e eu ensaiamos muito e isso tem feito a diferença. Outro dia, eu encontrei com um músico que virou para mim e falou: ‘Pô, vocês vão ensaiar de novo?! Vocês não param de ensaiar!’. Claro que vamos! Me desculpem falar, mas o pessoal é mascarado e preguiçoso!”, sentencia.

A comunicação musical de Victor Biglione certamente é mais estreita com o Brasil e os números mostram isso. Porém, isso não restringiu, ao longo dos anos, o alcance de sua obra, que entre outros, tem disco em homenagem a Jimi Hendrix e dois em parceria com o inglês Andy Summers, ex-guitarrista do The Police. Mesmo dialogando com esses músicos internacionais, o país que escolheu para adotar sempre volta à tona. “O meu último disco com Andy Summers é só com repertório brasileiro e ficou muito bonito”.

Em “Tocar a poética do som”, com Wagner Tiso, o repertório é essencialmente brasileiro. “Até ‘Autumm leaves’ tem um arranjo brasileiríssimo. A gente gosta muito de música de fora, de jazz, de bossa nova tocada por americano, mas nós somos brasileiros e isso se reflete no trabalho. A gente anda aqui, respira aqui e isso aparece na música”. Wagner Tiso interfere e comenta, aos risos: “Acho que a gente gosta um pouquinho de música brasileira, não é?”.

Olhando o mundo
A consciência política e cultural dos dois também os unem e isso fica claro. “Outro dia nós estávamos conversando sobre a velocidade com que a arte é feita e consumida atualmente. Está muito mais difícil algo se tornar um clássico, seja no cinema, seja na música. As pessoas não têm mais tempo de se relacionar com a arte, aquilo é feito para entrar, vender e dar lugar à outra que vem em seguida, também só para vender”, conta Biglione. Wagner Tiso completa: “O jogo do mercado mudou muito. Hoje em dia, você faz e vende. Não tem música que fica, a música só passa”, pondera o tecladista, antes de concluir: “Um músico novo ou se adequa a esta realidade, ou nunca vai ter espaço”.

O trabalho de ambos sempre esteve ligado a própria evolução da história contemporânea brasileira e esta característica permanece. Em setembro, Tiso causou polêmica no meio artístico ao declarar que, apesar de todos os fatos revelados em 2005, ainda repetiria o voto no presidente Luís Inácio Lula da Silva, pensamento com o qual Biglione partilha. “Eu sou leal aos meus princípios, eu lutei anos na esquerda brasileira”, explica Tiso. “Eu lembro do Lula no aniversário de 40 anos do Wagner, na casa da Dina Sfat, em 1985. Quantos shows nós fizemos juntos pelas diretas, não vai ser na primeira dificuldade que a gente vai desistir”, completa Biglione. A repercussão das declarações de Wagner Tiso foi grande. “Não param de falar disso. O jornal onde isso saiu me mandou um e-mail, dizendo que eu tinha causado um imenso rebuliço entre os leitores. Foram 80 cartas, 40 a favor e 40 contra. Então eu estou bem”, conclui às gargalhadas.

Entre os próximos projetos de Biglione estão três filmes. “Um deles eu faço questão de falar, que é o do Roberto Mader. São 50 horas documentadas sobre a Operação Condor, no Chile, Uruguai, Argentina e Brasil. Isso me emociona muito, pois faz parte da minha história e, como eu disse, foi por conta disso que eu vim para o Brasil. Eu conheço o tema e estou muito empolgado com o projeto”.

DVD no Teatro Municipal
Em dezembro, uma noite dedicada a Wagner Tiso, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, comemorará os seus 60 anos. “É uma homenagem que a minha esposa e produtora, Gisele, está organizando. Ela, a Petrobras e a Orquestra Sinfônica da Petrobrás estão me homenageando e eu vou apresentar trabalhos meus. É uma celebração pelos meus 60 anos de vida, 45 de músico e 40 de Rio de Janeiro”. A noite terá vários convidados especiais, com momentos que remeterão a trajetória do músico. “Uma parte como compositor, da época do Som Imaginário, com a participação do grupo Uakti e da Congada de Minas, representando o meu estado. Depois, o Victor Biglione vai ser inserido numa simulação de Som Imaginário, com Toninho Horta. Além de outros convidados que me ajudaram no início da minha carreira, como o Cauby Peixoto. O primeiro lugar que eu trabalhei no Rio foi na boate dele. Além de ter pessoas para quem eu orquestrei e que foram caras para mim, como o Milton e a Gal Costa”. A apresentação deve virar um DVD, a ser lançado em 2006.

13.12.05

Toda atenção no trânsito é pouca.

A nova cena de pop-rock do Brasil perdeu um de seus mais motivados membros, Liô Mariz, da banda Som da Rua. E da forma mais estúpida que poderia acontecer: um acidente de carro. Não sei nada sobre o que aconteceu, só sei que foi nas ruas de Ipanema, Rio de Janeiro, depois de colidir com um ônibus.



De quem foi a culpa, não interessa. Só as condolências e sentimentos à família que teve seus sonhos abortados e aos amigos próximos.

A única coisa a se dizer é aquela velha história de atenção no trânsito selvagem das nossas grandes cidades. Não xingue, não buzine asperamente se não houver necessidade, não corte, não provoque. Dirija no limite permitido que você chega do mesmo jeito. Buzine e pisque os faróis antes de passar por cruzamentos à noite. Não beba. Tenha consciência que o trânsito não depende apenas de você e de que a sua vida pode estar na mão dos outros.

Paz aê.

12.12.05

Exposição: Iggy Pop

Sei que é com atraso (e muito) que estas fotos vêm ao site. Desde já, me desculpo com quem as esperava há dias.

A boa notícia que posso dar é que escolhi só as minhas favoritas, as melhores, para expô-las. A outra é que essas fotos de Iggy Pop inauguram as exposições do sobremusica. Por enquanto, seguimos nesse formato visual. Mas isso é só mais um dos preparativos, antes da cereja do bolo que será a nova diagramação visual que em breve estará no ar.

Senhoras e senhores, Mr. Iggy Pop.




**************
É, sim, o capeta.

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Parabéns ao Canastra e ao 'Oi tem peixe na rede'. Parece que a lisura do festival foi mantida.

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Queria pedir desculpas aos leitores que enviaram perguntas e e-mails nos últimos dias e aos quais ainda não respondemos. Ainda esta semana estaremos zerando isso. Foi mal.

Canastra vencedor do Oi Tem Peixe na Rede

Parabéns Entrevista do Renatinho para o site, em outubro: parte 1, parte 2.

9.12.05

3 bandas novas

Queimem os hereges

       Ouvir Os Hereges é meio que um prenúncio. Há uma sensação de que algo de consistente vai amadurecer dali, ou seja, o caminho está certo. Músicos com técnica, boas idéias, entrega, suor, conhecimento de rock. O que ainda falta é afinação de posturas, entrosamento. E isso só vem com horas de palco, de estúdio, de erros e tentativas. Só na Inglaterra há espaço para uma melhor banda do mundo por semana, e Os Hereges só não devem é ter pressa para que o algo novo surpreenda e apareça.
       No show, há brincadeiras estilísticas com Pink Floyd, Franz Ferdinand, Muse, Madonna, Los Hermanos e Strokes. Fora as referências explícitas dos exercícios de música que eles apresentam (será que a prova final de uma Escola do Rock seria um pedaço da apresentação ao vivo da banda?), há ainda espaço para the Jam e Velvet Underground. Ainda assim, a apresentação é desigual, falta equilíbrio.
       As guitarras têm timbres e riffs setentistas, o vocalista toca ao lado de um teclado com programações e sonoridades algo Radioheads, mas não muito. A voz é boa, mas ainda destoa para alcançar a entrega da dupla de guitarras. Em segundo plano, a correção do baixo e a técnica da bateria, em apoio aos homens de frente.
       Quando o fã de Paralamas do Sucesso e Los Hermanos, Felipe Aranha, sai da guitarra-solo para a frente do palco, não se vê nada ali de Herbert Vianna, em detrimento a Rodrigo Amarante. Promissor, a qualquer hora pode virar, e você não vai querer perder.

Imperfeitos e Cachorrinhos

       Os Imperfeitos tem muito de Cachorro Grande, embora não soem tão bêbados e sujos. As levadas de guitarras também são setentistas – repetitivas, fáceis, mas com timbres altamente pegajosos. A voz é que é bem menor do que as intenções, e não alcança nem o sentimento nem a textura do rock pretendido.
       As composições não têm urgência, e ficam presas a um vocabulário pobre que atrasa a métrica. Ao optar por contar historinhas, as músicas ficaram sem consistência. Ainda falta o que se diferencie, e o que justifique ouvir aquilo e não qualquer outra coisa.

Nome Inglês Para Música de Brasil

       O Reverse é uma banda com a riqueza e os perigos de duas caras. Se tem ataques consistentes de guitarras, tem também uma mixagem que as joga pra bem abaixo do volume da voz. Isso facilita a execução em rádios fm, o que tem rolado na MPB do Rio, mas também implica em um show praticamente de outra banda. Ainda mais porque a voz é educada, e conta histórias de amor leves, pop românticas...
       Na gravação, o som remete a Paulinho Moska, Jairzinho ou Zélia Duncan, artistas que soam mais pops do que são na primeira audição, que quase escondem referências por concessão ao público. Ao vivo, remete a brit pop da década passada – doce e levado, com muita guitarra para basear a melodia de uma voz chorada. A cover de Cartola, ‘Basta de clamares inocência’, é um dos pontos altos e uma leve dica do tom das outras letras, embora não se compare um mestre do samba com o letrista, vocalista e guitarrista Daniel Lopes.

       Reverse está gravando o segundo disco, Imperfeitos estão todas as quintas no Empório, em Ipanema, e Os Hereges estarão por aí, é só prestar atenção.



Nada a ver (1)

       O Urbe, site maneiríssimo sobre música e urbanidades, teve problemas com o servidor e está em endereço temporário.



Nada a ver (2)

       Eu adoro listas:

Os 50 melhores discos de 2005, na opinião da "NME":
1 Bloc Party - "Silent Alarm"
2 Arcade Fire - "Funeral"
3 Franz Ferdinand - "You Could Have It So Much Better"
4 Antony & The Johnsons - "I Am a Bird Now"
5 Kaiser Chiefs - "Employment"
6 The White Stripes - "Get Behind Me Satan"
7 Sufjan Stevens - "Illinoise"
8 Kanye West - "Late Registration"
9 Babyshambles - "Down In Albion"
10 Gorillaz - "Demon Days"
11 The Cribs - "The New Fellas"
12 Devendra Banhart - "Cripple Crow"
13 The Rakes - "Capture/Release"
14 Dungen - "Ta Det Lungt"
15 Maximo Park - "A Certain Trigger"
16 British Sea Power - "Open Season"
17 The Magic Numbers - "The Magic Numbers"
18 Art Brut - "Bang, Bang Rock'n'Roll"
19 Coldplay - "X&Y"
20 Editors - "The Back Room"
21 LCD Soundsystem - "LCD Soundsystem"
22 Raveonettes - "Pretty In Black"
23 Hard-Fi - "Stars of CCTV"
24 Oasis - "Don't Believe The Truth"
25 MIA - "Arular"
26 Super Furry Animals - "Love Kraft"
27 Kate Bush - "Aerial"
28 Absentee - "Donkey Stock"
29 Madonna - "Confessions on A Dance Floor"
30 Doves - "Some Cities"
31 Bright Eyes - "I'm Wide Awake It's Morning"
32 Queens Of The Stone Age - "Lullabies To Paralyze"
33 We Are Scientists - "With Love and Squalor"
34 Rufus Wainwright - "Want Two"
35 Elbow - "Leaders Of The Free World"
36 The Bravery - "The Bravery"
37 Circulus - "Lick On The Tip Of An Envelope"
38 Autolux - "Future Perfect"
39 Vitalic - "OK Cowboy"
40 The Brakes - "The Brakes"
41 Nine Black Alps - "Everything Is"
42 Sigur Ros - "Takk"
43 The Engineers - "The Engineers"
44 Field Music - "Field Music"
45 Shout Out Louds - "Howl Howl Gaff Gaff"
46 The Duke Spirit - "Cuts Across The Land"
47 Sleater-Kinney - "The Woods"
48 Ladytron - "The Witching Hour"
49 Dead Meadow - "Feathers"
50 Test Icicles - "For Screening Purposes Only"


Os artistas que encabeçaram a listagem de melhores do ano da revista "NME" nos últimos 10 anos:
2004 - Franz Ferdinand
2003 - The White Stripes
2002 - Coldplay
2001 - The Strokes
2000 - Queens Of The Stone Age
1999 - The Flaming Lips
1998 - Mercury Rev
1997 - Spiritualized
1996 - Beck
1995 - Tricky

Beatles x Green Day e Good Charlotte

Alguém tem algo a dizer ?

Em meio ao quarto de século sem John Lennon, aqui vai nosso breve registro sobre o tema.

Recebo um e-mail de Aleuto Vargas, leitor assíduo deste site, chamando a atenção para um tópico que havia lido numa lista de discussões do site Cifraclub. Lá, alguém questionava aos demais: "Será que sou só eu que não gosto de Beatles?"

Eis que um 'esclarecido' remetente assim escreve:

"Enviado: 8/dez/05 19:09
Quote: Mean Mr Mustard

eles são lembrados até hj simplismente porque resolveram inovar... sairam do comum, tiraram o mundo da musica da monotomia q era na época...sem duvida q daqui uns 10 anos, green day, e good charlotte tbm vão ser lembrados como "inventores do rock" igual os beatles... mas nós do fórum, sabemos q beatles e as outras merdas são considerados os melhores porque qm elegeu eles o melhores foram a massa ignorante ne selva de pedras q eh a humanidade!!!! entendeu agora pq beatles eh lembrado assim??"


Alguém teria algo a dizer sobre tamanha profundeza filosófica?

6.12.05

Show: Pearl Jam

O Pearl Jam É Grande Demais

       “Make it safe, first”. O Pearl Jam só toca para platéias de até 40 mil pessoas, não permite a venda de bebidas alcoólicas durante a apresentação, não se atrasa (foram vinte minutos no Rio), rejeita convites de festivais ou de patrocinadores como marcas de cigarros, viaja com as famílias e amigos/ídolos – o que na América do Sul inclui integrantes de Ramones e Mudhoney. A estrada percorrida pela banda inclui homenagens a Bob Dylan, Ramones, the Who, Neil Young, Crazy Horse (juntos e separados, portanto), Keith Richards e the Doors. Também conta com posturas como três discos no topo de paradas de vendas e execução em rádio sem nenhum vídeo-clipe, períodos de quase nenhuma entrevista, campanhas ecológicas, políticas, e mais de setenta discos ao vivo. Tudo, sempre com um motivo nobre: o mais conhecido deles, o trauma pela morte de nove pessoas esmagadas na frente do palco na Dinamarca, em 2000.
       Há mais. ‘Ten’ é um dos cinco melhores discos de rock da década de 90 em qualquer lista decente; “Jeremy”, “Alive” e “Even Flow” entram em qualquer lista de mp3s obrigatórios para quem quiser um Ipod e um boné pra trás, sem contar com “Daughter”, “Yellow Ledbetter”, “Do the Evolution”, “Black”, “Once” e “Last Kiss” – um cover que viria a entrar em uma coletânea pelos refugiados de Kosovo. E, se for pensar, do grunge que marcou o rock há treze, quatorze anos, só o Pearl Jam ainda vive.



      Pela primeira vez no Brasil e na América do Sul, o Pearl Jam tocou para quase 160 mil pessoas em uma semana, 120 mil em três dias, duas cidades e nenhum ingresso sobrando. Eddie Vedder aprendeu a ler foneticamente português tropeçado só para isso. E brincou de comandar e reger fãs com palmas, ô-ô-ôs, e sem deixar de cantar (a não ser uma vez, e estou falando só do show que vi, no Rio) nenhum pedaço de letra. Ainda cantarolou uma canção sobre a vontade que tinha de vir ao Rio. Ainda emendou “I wanna be your boyfriend” antes de puxar a música mais pearljam do repertório do Ramones – os que inventaram a origem daquilo tudo, e um sinto muito para Neil Young.
      Teve também “Last Kiss”, a música mais ramones do repertório do Pearl Jam, com palminhas da banda. E “Given to Fly”.
      Em duas horas e quase meia, antes de se despedir com um desejo e um pedido de paz, a banda ainda lembrou do punk politizado de MC5 com “Kick Out the Jam” cantada por Mark Arm, do bom show de abertura e da bela “Touch me I’m Sick”, vocalista do Mudhoney. E da chamada mais perfeita banda de rock que já houve, e isso depende da interpretação, claro, the Who, com ‘Baba O’Riley”, que encerrou a noite.
      Houve “Animal” também. A demora por “Jeremy”, que arrepiou todos que berravam a letra ou a escutavam com sussurros de olhos fechados. Os solos simples e complicados de “Black”, os arranjos angustiados e agressivos das guitarras, destaque para a alegria de Mike Cready. Como se entendeu em português, um desfile de escola campeã, e um esforço convincente para fazer da passagem pelo Rio a melhor do Brasil. A certeza disso, só a fé na voz única do único a se apresentar bebendo vinho. E de todas as músicas que não foram apresentadas, só para a gente querer que a banda volte uma próxima vez.

2.12.05

Claro Q É Rock (Parte 2)

O último show da noite, da minha noite, no Claro Q É Rock foi o show da noite... É, eu já disse que existem shows e existe o que o Flaming Lips faz. Iggy Pop foi um show. O cara do auge dos quase-60 anos, entrou com certo atraso, requebrando que nem uma gazela manca, demonstrando um rock que depende da atitude, do mis-en-scene, da libidinagem... Na última Trip, Caetano conta que nos shows dos Stones na década de 60, a mera presença de Mick Jagger no palco já fazia as pessoas se agarrarem, se beijarem e terem a líbido atiçada num ponto quase animal. Iggy parte para a mesma tática. Ele quer seu corpo (o dele e o seu que vê tudo), ele quer sua alma... Ele quer a guitarra, ele quer o guitarrista, ele quer o amplificador e sua alma. Por isso simula cenas de pan-sexualismo com os amps e com os microfones.

Cada show de Iggy é único. Mas do que uma redundância, isso é uma constatação, já que o espetáculo caminha de acordo com o público. Iggy joga a bola, se ela não voltar, o show não existe. Mas ela volta sempre e esse é o encantamento que ele causa. É por isso que em dado momento do show ele chama a platéia para subir ao palco com ele. Na Cidade do Rock havia cerca de 30 pessoas "estranhas" on the stage naquele momento. Sonhos são realizados pelos fãs e isso gera uma coisa um tanto quanto SalvadorDaliniana... Corpos se perderm, se acham, Iggy surge e some... Apesar do cenário inexistente, é tudo muito surrealista, meio Jardim das Delícias, meio Boschiano...

De repente ele sai. Volta para o backstage e não volta.

Talvez um dia volte... Mas tão surrealista quanto o show é acreditar que aquela figura anacrônica que é Iggy Pop sobreviva mais cinco anos para poder voltar aqui... Se bem que depois do Keith Richards confirmar sua terceira apresentação com os tais dos Stones para fevereiro de 2006, tudo que é surreal, justifica o seu sufixo.

(Fotos virão logo)


Enfim, a casa própria
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Show: Momo, no Cinemathèque
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