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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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26.4.06

A entrevista que eu não fiz

fonte: Google Image
Mais um que foi fazer samba lá do outro lado. Guilherme de Brito foi um dos maiores compositores do samba carioca. Parceiro de Nélson Cavaquinho, era de linhagem nobre. Desde o início do sobremusica, Guilherme de Brito era uma das entrevistas que eu queria fazer, mas por "n" razões fui adiando... Adiei porque um outro site já tinha feito, adiei porque estava sem tempo, adiei porque tinha um excesso de reverência, adiei por medo de não saber o que perguntar, adiei por motivos fúteis...

Engraçado que hoje eu ouvi anunciarem o que seria "a melhor entrevista de Telê Santana", feita por João Moreira Salles e Artur Fontes. Pensei na hora: "pô, o destino acabou 'ajudando' o João... Agora que o Telê morreu, querer entrevistá-lo parece óbvio..." E logo em seguida, pensei: "Quem eu gostaria de entrevistar e que tenho que ser rápido para que essa frustração não venha a me atingir se o cara morrer?!". Não, não pensei em Guilherme de Brito. Me esqueci de lembrar dele. Me esqueci de há quanto tempo queria entrevistá-lo. Melhor assim.

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Disco: Os quatro grandes do samba (1977) :
Nélson Cavaquinho
Candeia
Guilherme de Brito
Elton Medeiros

22.4.06

Conversa: Patrick Laplan (parte 1)

Fotos: Divulgação
Patrick Laplan é um cara bastante simpáti- co. Acessível e papo fácil. Numa entrevista que já vinha sendo planejada há muito tempo, ele permitiu perguntas que talvez só um grau maior de intimidade permitissem. O detalhe é que nos conhecemos na hora da entrevista e a intimidade era zero. Disposto, sonhador e dedicado, ele chega ao primeiro produto de um trabalho que tem a sua cara: um EP, de quatro músicas, de sua banda Eskimo. E foi sobre isso a conversa que seguiu...


sobremusica
: falando da história de lançar o EP. Você disse que já tem 16 músicas e que...
Patrick Laplan: São várias horas de riffs, canções, letras... São cinco anos de material, mas muita coisa é de dois anos para cá, que foi quando deslanchou. Como o tempo inteiro fui eu despedindo pessoas, chegou ao ponto que eu virei um déspota! Por isso eu falo que eu sou meio escroto, meio mandão com algumas coisas. Ainda rola uma mão de ferro e o conceito ainda é muito em cima do que eu quero. Espero, MUITO, poder dividir a pedra com o Henrique. Mas uma das coisas que eu fiz de conceito até agora é o seguinte: começamos com o EP, de brincadeira - isso é para dar para jornalista e alavancar o recurso para gravar um disco...

sm: fazer shows...?
PL: A idéia é lançar o disco antes de fazer show, mas acho que não vai rolar.
sm: Mas você pensa em lançar por gravadora?
PL: Penso, penso... Não sei se gravadora, porque hoje esse formato tá meio complicado. Mas alguma máquina por trás vai ter. É necessário. Nem que sejamos nós mesmos ou empresário botando dinheiro. Esse EP já tem versões diferentes das que vão rolar no disco, o que já faz dele uma coisa única. Todas as músicas dele vão estar no disco cheio. A idéia é: fazer um EP, fazer um disco, fazer um EP, fazer um disco... O Beastie Boys faz algumas coisas de EP’s... Alguém me falou que o Beck também faz, que há os discos oficiais e os EP’s estranhos. Mas esse nosso não é um EP estranho. Pelo contrário. É um EP mais acessível do que o disco vai ser. De repente, a gravadora, ou quem quer que seja, não se interesse por lançar os EPs experimentais-nada-a-ver-com-a-banda. Então a idéia é fazer os cd's normais com a idéia inicial da banda e os EPs 'nada-a-ver', 'loucura'...

sm: Qual o passo que existe entre fazer um EP-loucura-e-foda-se e um disco-não-loucura-e-não-foda-se? O que há nesse caminho que os torna diferentes?
PL: Não há nada limitando o Eskimo em conceito, mas a banda tem uma coisa de trilha-sonora... é provavelmente mais sério do que seriam os EPs. Eu não faria um disco inteiro de carreira tipo Kraftwerk, todo eletrônico, com um cara cantando igual a um robô.
sm: O que você faria no meio?
PL: Faria um disco maneiro, músicas lindas... Ou então um disco meio de jazz, ou então todo de dj, mas com coisas pra cantar, sabe?

sm: Você acredita num formato pop, não pop-banal, mas num som mais fácil para o Eskimo ter um alcance maior?
PL: Claro! Cara, isso é tão natural pra mim... Eu ouço tanto Meshuggar e Slayer, quanto eu ouço Sheryl Crow... “Canção para os amigos”, a quarta música do EP, é pop pra caralho. A galera diz que é a música da novela. É pop pra caralho e é isso mesmo! Eu acho linda, a letra é muito triste, e é um lado meu. Eu juro por Deus: o maior conceito que o Eskimo tem, é se expressar. Se eu tenho um lado merda-dream-theater, ou se eu gosto do Yngwie Malmsteen, eu vou colocar! Se eu tenho um lado pop e quero fazer um EP dance, sei lá, eu vou fazer. Se quiser fazer remixes de eletrônico, eu vou fazer...

sm: Você disse que esse projeto começou há cinco anos, que ele já não é mais o que era no início e que várias pessoas já passaram pelo caminho. O que era, o que passou e como você enxerga ele hoje? Ele é melhor do que era há cinco anos?
PL: É difícil explicar. Acho que é mais maduro, eu entendo mais o que eu estou fazendo. Acho também que eu melhorei como pessoa, não estava preparado para lançar naquela época e, graças a Deus, não o consegui...
sm: Você começou logo depois de sair do Los Hermanos? Ou quando você estava na banda já tinha...
PL: Não, já tinha musiquinha, mas não era “tenho uma banda”. Era, enfim... Uma coisa que sempre me irritou – eu não gosto de citar nome porque eu sou amigo de todo mundo de banda brasileira –, eu odeio 99,9% das bandas brasileiras. Sempre odiei, sempre achei uma bosta. Acho que está melhorando, mas ainda acho...
sm: Inclusive as que você tocou...
PL: Não. Eu sou suspeito, mas, por incrível que pareça, eu acho que todas as bandas em que eu toquei se salvam. Com certeza se salvam. O Los Hermanos eu acho maneiro, acho que é uma banda que está top. Não é exatamente o tipo de som que eu gosto, mas eu entendo que eles estão fazendo uma parada nova e pra mim já tá no 0,1%, porque o resto é muito lixo. Sempre me incomodou - e eu sempre quis na minha vida, acho que todo mundo quer - é fazer uma vez o disco que eu vou poder ouvir na minha casa e dizer: 'Do caralho: fiz exatamente o que eu queria. Foda-se se alguém gostou ou não, fiz exatamente o que eu queria. Se vai dar certo ou errado, se alguém mais vai gostar, ótimo'. Em relação ao início, acho que eu estou arranjando melhor as músicas, estou produzindo melhor, apesar de ainda ser um produtor-cru, o EP tem milhares de falhas...

sm: E o Henrique já estava contigo no início do projeto? Ele chegou como?
PL: Amigo da PUC, da época de Los Hermanos, chegou no meio do caminho. Ele já cantava numa banda chamada Infierno. Eu vi um show e fiquei muito admirado. Ele tem uma presença foda, uma luz. Bizarro. Eu tenho os meus músicos favoritos e, se eu fosse ter um projeto, ele estava na lista de quem eu achava que ia ser legal. No início, quando eu estava montando a coisa, eu cheguei a ensaiar com o Henrique uns 5 meses e dispensei ele, só pra você ter uma idéia de como mudou tudo. Eu achava que ele tinha uma voz muito limpa, aguda, que não era muito rasgado, eu queria um cara mais barulhento...
sm: Você pensou em cantar?
PL: Não, não. Eu tenho noção dos meus limites. Um backing vocal dá pra fazer. Se fosse um projeto muito esquisito, vá lá... Gosto muito de cantar, mas sei que sou desafinado.

sm: O tempo passa, você fica montando e remontando uma banda, e agora, 2006, você lança o EP e a sua ‘banda’, que na verdade é um duo. Isso foi uma urgência de que tinha que lançar agora, então vai só com os dois, como estava, ou chegou-se a isso como um conceito?
PL: As duas coisas juntas e uma justifica a outra. Eu cansei de experimentar pessoas. Fiquei quase até o final com um guitarrista fixo que, no final, eu decidi que eu não queria fazer show com ele, um dos meus melhores amigos, foda, que é super talentoso, mas eu ia brigar com o cara. Você começa a dividir as coisas e vê que vai dar merda. Ele vai gravar no meu disco, vai continuar trabalhando com a gente, mas enfim... E com a minha experiência de bandas, Biquíni, Rodox,..., eu aprendi que quanto menos cabeças pra pensar, são menos cabeças pra bater.
sm: E o show? O que você vai fazer?
PL: Vai ser uma galera amiga, contratada.
sm: Ad eternum? Você acha que o duo...
PL: Eu acho, hoje, que é eterno. Amanhã eu não sei. A idéia é que, tendo duas pessoas, eu posso tocar qualquer merda ou então nem tocar nada, posso fazer um disco só DJ, corda e voz... Se eu tiver um guitarrista na banda, eu não posso virar para ele e dizer: ‘cara, foi mal. Esse disco eu quero fazer sem guitarra...’. O cara da banda vai ficar sentido e com razão. Eu quero essa liberdade de fazer um disco sem guitarra, ou sem baixo, ou sem teclado...

sm: Entendi, mas aí eu me permito uma pergunta um pouco mais... talvez... atirada. Isso não vem de uma questão muito personalista do trabalho que é incompatível com o conceito de banda? Não é quase um trabalho solo com alguém te acompa- nhando?
PL: No começo sim. Todo mundo sabe disso e o Henrique sabe disso. As letras são quase todas minhas, as músicas são muito minhas, no disco vão ter uma ou duas letras que são metade-metade. Eu queria explicar o seguinte: no começo, sim, é quase um projeto solo. Só agora que ele entrou, eu juro por Deus, é um peso do inferno, que eu não gosto. É muito ruim carregar isso sozinho.
sm: Você diz artisticamente ou...
PL: Artisticamente. E é muito pesado, muita coisa pra fazer, você tem que produzir, tocar bateria, pensar no arranjo, ficar ouvindo o que ele tá cantando de errado, divulgar... É um inferno. Eu estou num pique louco. Eu gosto de pegar onda e não entro no mar há seis meses. Mas o que eu ia explicar pra você é o seguinte: com a minha experiência de Biquíni Cavadão, eu sei o quanto eu somo para eles, é quase igual a se eu fosse da banda, mas eles têm o limite total de vetar o que eu quero. Pra que ele vai me botar na banda se ele pode ter um cara ali que não vai ganhar tanto, que não precisa estar ali, ele tem um lado bom. E eu posso ter isso pra mim. Nesse disco, a música que o Márcio (Seguin) tocou guitarra, ele era da banda...


sm: Mas você não reconhece uma dificuldade sua em dividir não?
PL: Claro, com certeza. Mais ou menos... Pode se achar que é um trauma de experiências passadas
sm: (risos) Não tinha pensado por aí, não...
PL: Eu acho muito que não é. Assim que eu terminei, eu tentei agrupar o máximo de pessoas possível.
sm: O que me parece é que seja um traço da sua personalidade musical, nesse primeiro momento, te conhecendo agora.
PL: Pode ser. Modéstia a parte, eu acho que eu tive a idéia genial de conseguir poder montar a parada que eu vá poder mudar de banda todo show, todo dia, todo disco e que se a parada andar, eu vou ter dinheiro pra chamar os caras que eu sempre sonhei em tocar junto. Vou dar uma grana pro Zakk Wylde e ele vai gravar uma guitarra, vou pagar o baterista da Fiona Apple e ele vai gravar pra mim... Isso é fora de série, isso é absurdo! Logo que eu saí, eu tentei montar a banda com seis cabeças, todo mundo fazia música. E, só pra tentar reforçar minha tese, quando eu saí do Los Hermanos, eu não era compositor e eu não fazia letra e tentei montar banda logo nessa época. E ninguém fazia porra nenhuma. Posso ter dado azar de ter escolhido as pessoas erradas. A coisa não andava. “Não tá andando? Ninguém faz? Beleza, vou escrever a letra. Ninguém faz? Vou fazer a música...” Maluco não estava fazendo porra nenhuma e...
sm: Mas você gosta de concentrar a criação, de certa forma...
PL: Eu gosto do trabalho de produtor, de estar ali.. Isso é muito escroto, mas você ser o cara que afunila, que filtra é muito bom!

20.4.06

Aviões de papel

O sobremusica não costuma publicar muitas coisas que escapem do seu tema principal. Mas pensando em alguns amigos meus que são gênios, desempregados ou desocupados, e também pensando naqueles que reúnem todas essas qualidades, peço licença. Resolvi colocar o link desse sensacional evento que pode dar projeção mundial a qualquer um deles: o Campeonato Mundial de Aviões de Papel.

É sério.

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A quem interessar possa, o brasileiro vencedor da seletiva nacional na categoria "Maior distância de vôo", Diniz Nunes, alcançou a marca de 31,35 mts. Haja RedBull!

18.4.06

Dois parágrafos sobre o Binário

[[[ A noite de ontem prometia com o show de duas das bandas mais elogiadas da renovada cena musical carioca: Binário e Moptop, na Melt. Divulgação fraca e forte chuva formam uma dupla infalível que resulta quase sempre em local vazio. Ontem não foi diferente. ]]]

O Binário entrou no palco para me surpreender. Já tinha ouvido falar bem, mas uma crítica que eu li sobre a apresentação dos caras no Humaitá Pra Peixe 2006, me desanimou. Lá dizia que era muita informação, muita arte, muita gente no palco a ponto de faltar um rumo... Não sei porque, mas isso me desanimou. Que bobagem! O Binário realmente não tem rumo, mas a questão é a seguinte: quem precisa de rumo? Alguns precisam e é bom ter um. Mas também não é um rumo optar por não ter rumo? Como diria aquela música do Paulinho Moska, qual é a graça de saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada?!

O Binário parte por uma série de experimentações que me lembraram o Hurtmold e o Mombojó. Bernardo disse que lembrava Tortoise. É pode ser, lembra também. Os dois bateristas (Bernardo Palmeira e Rafael Rocha) não atravessam, pelo contrário, se somam bem. Uma formação diferente e que funciona. Estevão Casé, que de início parecia só um nerd, mostra que não é bem assim e avacalha nos teclados e na regência. É ele quem levanta e distribui os solos e reencontros, rocker total. Como o combinado era escrever só dois parágrafos, vou destacar que a voz só entra a serviço do arranjo, quando é necessário, assim como o Hurtmold falou na entrevista publicada em março. As letras são boas e, na memória de 14hs e um longo sono depois, alguns versos cantados por Lucas Vasconcellos ainda ressoam na minha cabeça. Um deles dizia algo parecido com "o ruim de crescer é ver que o mundo não precisa de você e você levou todo esse tempo pra perceber". Que eles cresçam e que o mundo não precise deles, pois assim é que é mais legal. Toda arte é desnecessária. (É?). Nem todo mundo nasceu pra ser U2 e salvar o planeta. Ainda bem. Que sigam sem rumo! Vida longa e longos shows para o Binário.

17.4.06

Crítica :: Islands, Return to the sea

O melhor disco do ano (até aqui)

Ano passado foi o Magic Numbers. Esse ano não tem pra Arctic Monkeys – apesar do ótimo 'Whatever People Say I am, That's What I am Not'. O melhor disco lançado em 2006, até o presente momento, foi “Return to the sea”, dos canadenses do Islands. Parece que a banda é uma remontagem de outro grupo, o finado The Unicorns, que era apontado pela imprensa canadense como a menina-dos-olhos quando apareceu. Não conheci o trabalho deste grupo, mas agora vou correr atrás.

“Return to the sea” saiu pelo selo canadense Equator, mas está sendo distribuído ao redor do mundo pelo selo inglês que está mudando a cara do rock-pop mundial nesta década, o sensacional Rough Trade. No casting, esses ingleses contam, além do Islands, com algumas coisinhas que você já deve ter ouvido falar como: The Strokes, Arcade Fire, Belle and Sebastian, The Libertines, Babyshambles, Antony & The Johnsons, Cornershop, Sufjan Stevens e Super Furry Animals, só pra ficar nos mais famosinhos...

O Islands é uma das novidades do Rough Trade. O ótimo disco de estréia do grupo amplia as fronteiras da geração que está sendo chamada de “novo rock”. O grupo sabe usar as baterias retas quando precisa, mas sabe ir além. Para mim, é como um Arcade Fire, só que menos hermético. Pelo menos eu acho o Arcade Fire hermético demais.

A abertura de "Return to the sea" é feita pela épica “Swans (Life after death)”, com seus intensos noveminutosetrintaedois. Acredito que o nome da faixa seja inspirado na história da banda ter surgido após o fim do The Unicorns. A segunda é “Humans”, que me lembra alguma música dos Beatles que eu não consegui descobrir qual. Acho que é alguma coisa entre o Revolver e o Sgt Peppers, não sei, mas traz aquela bateria marcada, quase marcial. Na ótima “Don’t call me Whitney, Bobby” (desde já, o melhor nome de música da década), eles vão do dubi-dubi-du até o calipso, passando por aqueles vocais intimistas e com flautas iluminando geral.

“Rough Gem” é o atual single dos caras. Que musicão! É como se o New Order tivesse voltado, se reatualizado, não soasse datado e ainda fosse mais legal. Os teclados oitentistas estão ali, assim como a bateria reta revitalizada por todas essas bandas pós-punks e reassumidas agora pela turma do “novo rock”. Só tome um cuidado: o risco de que as frases melódicas, tanto da voz quanto dos teclados não saia da sua cabeça durante uns cinco dias é grande.

:: [[pedacinho da letra pra você sacar]]
The world beat you for the something nice
You worked hard, died more
You mined what you died for Diamonds
You can whistle my name
It's the mines, in Africa
That are to blame
You can Scoop out my brain
Shape it into an ear and then tell me your pain
"
(Islands – Rough Gem)

O clima muda totalmente quando chega a faixa “Tsuxiit”. Os teclados partem para o soturno, a bateria grave, abafada e distante sugerem um clima mais denso, que só é aliviado, vez por outra, por algo que parece um moog e traz alguma luz à toda aquela sombra. “Where There's a Will There's a Whalebone” mostra ao Linkin Park um jeito mais digno de se misturar com o rap. A faixa conta com a ótima participação de Subtitle e Busdriver, dois rappers desconhecidos por mim, mas que entram com uma agressividade vocal e de sintetizadores que deixam tudo soando bem aos ouvidos.

Como se transição não existisse, o calipso volta a ensolarar o disco com “Jogging Gorgeous Summer”, trazendo a reboque aquelas flautinhas peruanas (ou seriam bolivianas?) para enfeitar o dia. “Volcanoes” é o outro grande momento de genialidade. A faixa começa com a gravação de uma voz de tevê e a música começa com uma cadência de música de circo, de caixinha-de-música, com aqueles baixos que são parecidos com os baixos do samba, bem clássicos. Quando você já está balançando a cabeça de um lado pro outro, sai o circo, entra a orquestra de cordas e traz um ar melancólico e lindo. Me lembrei do Carequinha, que Deus o tenha. Ah! Depois das cordas, o ‘circo’ volta. Ah! E você ainda está na metade dos cinco minutos da faixa. Os dois minutos finais vão repetir a estrutura da primeira, sem perder o brilho e sem se tornar bobo. No finalzinho, uma apoteose acontece, tipo show do Flaming Lips no Claro Q É Rock, saca?! Pois é. Final rockzão. Lindão. Isso tudo porque estou ignorando o non-sense absoluto da letra da música que não tem nada a ver com nada disso. A parte da orquestra, por exemplo, é pano de fundo para isso, oh: “We washed our mouths at the riverbed /When we noticed something glowing / It was growing/ Things are going to change / Hot rainfalls made of magma melts Alaska /And in icy Argentine they say now I've seen it all/ Who knew? Volcanoes!”. Nonsense dos bons!

A caixinha-de-música volta em “If”, ainda mais doce. A voz coladinha ao ouvido, a bateria e o baixo quase-jazz se somam a uma rápida passagem de umo sax-totaljazz e só não digo que é um jazz por que, apesar do cantar joãogilbertiano, a misturada com um teclado quase-polka descaracteriza o que podia ser um jazz. Essa é pra ouvir a dois, total. Se liga na estrofe final: “When the sky finally falls, if you’re holding me/ I can die finally knowing it ends peacefully…” Putz!

O disco termina com a intimista "Ones" e com uma faixa escondida. Não sei não, mas tá aí um forte candidato a melhor de 2006. Dentro da minha pesquisa, não encontrei nenhum site deste ainda novato grupo. O máximo que achei foi a tal página no Myspace.com . Parece que ainda é tinta fresca e em estado bruto! Quem sabe esses festivais mais descolados como o Tim Festival não se ligam e saem na frente trazendo os caras? Eles nem devem ser tão caros assim.

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Não sei se o disco já está a venda no Brasil. Eu também não comprei ainda.

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E essa história do Arctic Monkeys em Curitiba, hein?! Que coisa mais esquisita, rapaz...

16.4.06

Shows: Canastra e Nervoso e os Calmantes

As Coisas Estão Acontecendo

      Tinha perdido todos os últimos shows do Canastra desde que a banda ganhou o Oi Tem Peixe na Rede e começou a pensar seriamente no próximo disco. Ainda tinha em mente apresentações que trouxeram o assunto ao sobremusica, e a idéia de que o show tinha cara de sarau no playground da rua (ver dia 3/7). Tudo muito próximo nas referências, muito perto na relação com música, e um clima quase intimista – apesar de não ser nada piano bar ou qualquer primeira coisa que venha à mente quando se fala em intimismo (eu sempre penso em uma cantora de longa roxo deitado em cima do piano branco ao lado do gin tônica do pianista, mas eu sou meio estranho). De qualquer forma, a fase passou. O Canastra está grandioso, com o show mais bem marcado (as marcações de palco são as mesmas, mas menos canastras, er, rerrê).
      Tudo flui melhor, o que não é necessariamente esperado. De um set de treze músicas, oito são novas. Duas são covers, ‘Dallas’ do Acabou la Tequila, e ‘Tu Vuo Fa l’Americano’, de O Talentoso Sr Ripley. Ou seja, velhas conhecidas do público e próprias, só quatro. Pouco para uma apresentação em que o público teve tanta importância no resultado final. Mas não soou pouco.
      As músicas novas têm um universo mais concentrado do que as do “Traz a Pessoa Amada em Três Dias”. Isso musicalmente. As letras ainda têm aquela aura de seriado de tv da década de 70, caso de ‘Chevete’ e ‘Pomo’. ‘Falsas Promessas’, que deve ser a primeira a ser trabalhada pela gravadora, segundo critérios da minha cabeça, é a ligação conceitual entre o primeiro disco e o próximo. Que aliás, já está com bateria e baixo gravados, pelo que consta. Excelente fecho da noite, a banda do contrabaixo branco.

      Antes do Canastra, Nervoso e Os Calmantes se derramaram no palco do Odisséia. O rock que um jornalista e professor presente chamou de “se acha fodão”, concordando comigo e com o Mão (Lasciva Lula) que fodinha é o que a gente dá por aí quando consegue, também dá passos de segurança – o percurso das duas bandas egressas do Acabou la Tequila, aliás, é bem equilibrado. Ou seja, se não se acha fodão, nem sobe no palco.
      Mesmo curto, um contraste para o longo e já esgotado cd, o show de Nervoso é firme e equilibra as doses de jovem guarda reciclada pelos gaúchos da década de 90 com os sintetizadores da década de 80 e a loucura cep 20.000 que tornam cada experiência tão importante e diferente. E mais do que “se achar fodão”, o que interessa ali são as incertezas românticas do prosseguirei declarado. Guerreiro. Essa vez – mesmo com o novo baterista ainda oscilante vez ou outra – foi bem melhor do que no Ruído festival de semanas atrás.

      Staples foi legal, mas repetitivo. Soa muito perto de CPM 22 e Detonautas, o que empobrece o resultado final. A vocalista tem desempenho de palco ótimo e a baterista é uma atração à parte, com ganância nas baquetas. Se abrirem a cabeça para variar as referências, podem chegar mais longe.



Nada a ver

      Pela quantidade de links que eu joguei aí em cima, desconfio que já sei quais foram os assuntos mais tocados por mim nesse quase um ano de site. ((Já???))

15.4.06

Boatos do rock (vs.2006b)

Arctic Monkeys e Black Rebel Motorcycle Club juntos, mês que vem, no Brasil. O culpado seria o Curitiba Rock Festival.

Tá, tá bom, eu também tô achando esquisito. Mas como eu já queimei a língua uma vez, não falo mais nada. Fica a torcida. Pena que eu não vou estar por aqui.

O som do silêncio

capa de I'm a bird now
Já tinha lido boas referências sobre Antony & The Johnsons. Também já tinha baixado músicas de seu último disco "I'm a bird now". Já tinha tentado ouvir, mas não tinha conseguido. A voz carregada, pesada, ainda que linda, me deixava com certo receio. Parecia algo triste e ainda não me ocorrera neste período vontade de ouvir músicas-de-fossa. Só que ontem eu descobri o lugar correto para ouvir este trabalho: é o disco perfeito para acompanhar o silêncio.

Naqueles momentos em que você está curtindo a ausência de sons, seja no peso da madrugada, seja no despertar de cada um, ou até mesmo naquela tarde que você tira para arrumar suas coisas sozinho, essa é a hora de Antony. O rapaz, que é apadrinhado por Lou Reed, tem uma voz aveludada e ao mesmo tempo rouca. Os arranjos calcados em pianos de mão cheia podem dar aquela sensação deprê numa primeira audição, mas ele é um ótimo companheiro para o seu silêncio. No meu caso, ele veio acompanhar o peso de uma madrugada insone. Resolvi aproveitar aquele silêncio para ler a Bizz com os Paralamas na capa e convidei Antony para ser a trilha sonora de uma revista que não trazia nada que remetesse diretamente ao som que escolhi. Contudo, Antony soube seu lugar e me acompanhou perfeitamente. Respeitador, amigo, exato, preciso, agradável, parceiro. Descobri o som do silêncio e gostei.

13.4.06

:: instantâneas

Para viúvos (as) da Era dos Festivais, na Europa, o bicho tá pegando.

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"I'm the Antenna catching vibration /
You're the transmitter, give information!"
(Kraftwerk: Antenna, álbum Radioaktivität, 1975)

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Para belos dias de sol: "Rain Song" - Led Zeppelin

Diferença de gerações: uma bobeira

O Volver vai tocar com o Frank Jorge no Abril Pro Rock deste ano, né... Pois é, eu vi o show do Volver no APR do ano passado... Boa banda. Dessas que têm surgido no Recife, com uma pegada mais pop, é a que mais me interessa. Não curto tanto a Rádio de Outono, por exemplo. Parafusa também é legal, mas é outra onda. A Superoutro, que tocou lá no APR2005, também era bacana, se aproximava de um rockão mais climático, não tão pop, mas com belas faixas. Deles, não ouvi mais falar. Não sei se ainda estão de pé. Tomara que sim.

A mistura do Volver com Mr. Jorge parece que vai ser interessante. Queria ver isso acontecendo mais freqüentemente no rock nacional, essa aproximação de gerações. Quer dizer, não só no rock como na música brasileira como um todo.

São poucos os casos como Paulo Moura e Yamandu, Orquestra Imperial e Wilson das Neves... Principalmente quando se trata de aproximações para CRIAR, COMPOR. Essas são muito escassas... Só rolam assim, pra fazer uns showzinhos e tal, criar um alarde, uma justificativa para vender a apresentação. No máximo, um coroa chama alguém mais novo para produzir o seu disco. Não sai disso. Não se vê nenhum dos nossos sessentões apostarem numa nova geração para compor, como Vinícius fez com eles, por exemplo...

Bacana a o Frank e o Volver se juntarem, ainda mais sendo de estados aparentemente tão diferentes, de culturas muito particulares... Tem tudo pra ser bonzão! Tomara que isso vá além dos palcos do APR 2006.

12.4.06

Crítica: Eskimo, EP

À sombra de sua própria estrela

Tem aquele papo, né, de que que bons vocais são fundamentais para qualquer banda. É comum se escutar por aí que "a voz é a primeira coisa em que se presta atenção". Ok. Mas no caso do Eskimo, a lógica se inverte a partir do momento em que se sabe que Eskimo é também o nome da "nova banda do Patrick Laplan".

O talento dele como instrumentista é inegável, goste-se ou não de seu estilo agressivo. Desde suas primeiras aparições públicas, conduzindo o baixo do Los Hermanos, ele já roubava os holofotes. Sempre foi um head-liner, sem o ser de fato. Tanto é que nunca encontrou qual era exatamente o seu espaço nas bandas por que passou; o faz agora, com o lançamento do primeiro trabalho do Eskimo: um EP, com quatro faixas. A banda, na verdade, é um duo, formado por Laplan e Henrique Zumpichiatti. O primeiro cuida de toda a parte instrumental, o segundo das vozes.

Quem acompanhou com interesse o trabalho desenvolvido pelo baixista (que, na verdade, é um grande multi-instrumentista, estilo Lenny Kravitz, Prince...) - seja no Los Hermanos, no Rodox, no Biquini Cavadão ou no Trêmula - reconhece sua assinatura nas bases instrumentais de todas as faixas, somado ao fato de agora ser também compositor e produtor. As letras de Laplan já apresentam alguns bons momentos, mas ainda estão aquém do seu trabalho como músico - não indo aqui nenhum desestímulo, muito pelo contrário.

Nas quatro faixas do primeiro EP da banda, vários caminhos bacanas se apresentam e se perdem. Isso porque há claramente um conceito de fragmentação, de recorte na construção das músicas. Uma coisa que aparece no próprio release do grupo, que faz referências a "Tim Burton" e "mudanças de clima bruscas". E climas é uma parada que não falta nesse EP. São muitos e diversos, com passagens secas, duras, ásperas. Para quem curtiu/curte as bandas pelas quais Patrick passou, vale a pena ouvir. Todas elas estão neste EP. É um trabalho estreitamente identificado com o baixista, daqueles que se ouve e não ficam dúvidas sobre quem é que está ali. É o Patrick! Isso seria um grande mérito se fosse um trabalho autoral e personalista, mas dá margens a questionamentos quando é assinado sob a alcunha de uma banda. O tempo irá dizer e Patrick deve tomar cuidado para não fazer no Eskimo as mesmas coisas das quais foi vítima em suas outras bandas.

O ponto fraco está nos vocais de Henrique Zumpichiatti (ex-Infierno). A voz parece deslocada em vários momentos, perdidas em tons muito baixos, doce demais, dando um quê chato de emo bobo, de Ramirez, que definitivamente não é adequado ao rebuscamento instrumental. Essa diferença faz com que o trabalho ainda soe mais como um disco do Patrick Laplan do que de uma banda propriamente. Um trabalho que tem força para dar certo, mas ainda não se apresenta por inteiro neste EP. Nem é essa a intenção, mas isso o próprio Patrick vai explicar daqui a uns dias, numa entrevista bacana...

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http://www.eskimosounds.com

11.4.06

Uma curiosidade tomou conta de mim

Para não atrapalhar o ótimo texto do Bernardo aqui embaixo, vou ser rápido: uma curiosidade tomou conta de mim. Chama-se Maquinado.

Ouvidos atentos

Samba da Pizza


      O presente passa, o presente muda, a obra-de-arte fica. E o Lula? Que dia é hoje mesmo? Ah, sim. Mais do que um tanto faz, é a surpresa do mentiroso, ou pior, do arauto da verdade da transmissão ao vivo da vez. O tempo passa, e o luladepelúcia ocupa o cargo máximo da nação. O PT não é o partido que era antes de 2003, ou é e não dava para desconfiar. O núcleo duro foi o que se desmanchou no ar.
      A arte datada nem sempre é o contrário da arte eterna, e é fácil derrubar tanto um quanto o outro rótulos. O complicado é mexer com a arte que veste a camisa do jornal do dia, do último plantão do canal de notícias a cabo, da última atualização do blog do jornalistão do site. Quando o conceito de arte aberta incorpora o excesso de informação de um personagem que adora mídia, e que é amado e odiado historicamente em doses iguais pelos homens por trás de teclados, microfones, máquinas fotográficas ou gravadores, não dá pra entender aquilo definitivamente. Sempre haverá um dia seguinte para que a obra se torne outra coisa, uma curiosidade em descobrir o que era a obra quando só idéia.
      João Moreira Salles e Eduardo Coutinho tiveram dúvidas sobre reeditar os documentários ‘Entreatos’ e ‘Peões’ por causa do escândalo de José Dirceu e da matéria estranha de um Larry Rohter. O correspondente acabaria peça de folclore de gringo louco no carnaval. Um dos diretores cortou cenas do filme pensando nos novos significados que não estavam ali na hora da gravação. A Folha de São Paulo questionou.
      Herbert Vianna nunca mais incluiu ‘Luís Inácio (300 Picaretas)’ em um set list do Paralamas do Sucesso. Dinho Ouro Preto entrou com o Capital Inicial em um projeto de regravar o Aborto Elétrico e recolocou ‘Que País É Esse?’ pela infinitésima vez na lista de mais tocadas. O Titãs também picaretou o punk com um refrão de palavrões em ‘Vossa Excelência’.
      O artista plástico Raul Mourão não precisou tomar nenhuma decisão. “O que era apenas um trabalho de arte cheio de ironia e bom humor se transformou num brinquedo assassino”. A aura do luladepelúcia está na cabeça do público. Se era cheio de ironia e bom humor, assim ficou. O mau humor é nosso. E de assassino o brinquedo não tem nada. Ou pelo menos cada sentença que escolha que cabeça é a que rola, e como.

      O domingo à noite já tinha virado madrugada de segunda, e a larica já ia para o segundo xisburguer de posto de gasolina quando Jards Macalé entrou na loja de conveniência falando besteira e comprando cigarro. Atrapalhado, daquelas formas que o vapor barato e a hora adiantada explicam, se molhou com um líquido qualquer que a hora barata e o vapor adiantados impedem a lembrança. Foi aí que veio a aproximação, e daí o assunto, em cima de uma manchete qualquer da revista semanal.
      - Tão afundando o governo.
      - Mas o Alckmin? Não afunda nem São Paulo, esse aí.
      - Que Alckmin, governo que é bom se afunda sozinho, sem ajuda.
      - É, e esse tá mais competente que a oposição pra se detonar.
      - É que o governo não gosta de terra firme.
      - Não gosta de terra firme, de enterrar firme...
      O Jards adorou o trocadilho safado. Ficou pulando fazendo gestos de enterrar firme que é melhor não repetir aqui, e fazendo prffff com a língua pra fora.
      No mesmo dia, madrugada feita tarde, Palocci caía. Macalé falou, Macalé avisou.

      Brinquedo assassino ou governo suicida? (E paranóico, e neurótico, e às vezes esquizofrênico, mas isso fica pra outro texto.) Caído Palocci, o luladepelucia vira outra coisa. Um homem só, sem querer sair do poder. Sem ter quem defenda a mudança de perfil da dívida, o maior salário mínimo em muito tempo, o fim do nepotismo, os recordes do comércio externo. Sem ter quem evite os ataques aos juros já irreais, o crescimento do PIB e da indústria abaixo de qualquer expectativa, a política social eleitoreira, a educação básica com menos verbas do que a superior, as obras em estrada sem resultado.
      Na mesma semana da queda, uma pesquisa Ibope revelava a partir de 13 perguntas sobre pecados acessíveis do dia-a-dia como comprar um produto pirata ou apresentar um atestado médico falso para faltar ao trabalho: quanto mais educado, quanto mais alta a classe social, quanto mais ao sul do país, e quanto mais jovem é o brasileiro, mais tolerante ele é com a corrupção. Quer dizer, brasileirodepelúcia também não vai faltar?

      A dança no plenário do Congresso é a da criança abandonada sem luladepelúcia. Todos seremos falcões. Ou todos já somos falcões, os do Fantástico, e pronto. Quem sabe eu não sou mais uma garotinha... Já era.
      Palocci, no dia da despedida do governo: “Talvez eu tenha falhado na minha crença na convivência pacífica. Talvez ela seja ingênua”. Paloccidepelúcia, cínico ou trouxa, o Brasil perdeu mais um tanto de ingenuidade com um fim de governo duro e áspero. Nada a ver com pelúcia.

9.4.06

sobremusica na Alemanha



É com muito prazer que anunciamos, oficialmente, a próxima grande empreitada deste pequeno grande site. A partir de 20 de maio, o sobremusica estará na Alemanha, representado pela pessoa deste que vos escreve, vendo onde é que música e futebol se encontram.

Mais que isso: durante três meses pretendo tentar descobrir o que está se produzindo de música interessante naquele velho continente (isso inclui outros países além da nossa querida
Deutschland
). Prometo que vou tentar ir além das obviedades indies inglesas que tanto já ouvimos por aqui.

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Mas é claro que se der para entrevistar o Arctic Monkeys... hehehe!

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Como o maior interesse é gerar conteúdo sobre vários ângulos, quem se sentir à vontade, pode enviar sugestões de pauta, de artistas, de movimentos, ou de qualquer outra coisa. Até marca de cerveja para esse quase-abstêmio procurar...

Sites, revistas, tevês, rádios e veículos de qualquer outra mídia, que queiram matérias/material a parte, também podem entrar em contato pelo bruno@sobremusica.com.br . Estarei gerando conteúdo de todas as naturezas. O importante é fazer a informação circular! Vamo que vamo!

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Tschüs!

8.4.06

Agradecimentos, orações e torcida


Fonte: Google Image



4.4.06

Música a granel

Ontem eu fui na casa do Jonas Sá e ele passou quase 3000 músicas para o meu Ipod, das quais mais da metade eu não sei do que se trata.

Alguém tem idéia do que são 3000 músicas para uma pessoa te passar do tipo 'ah, ouve isso aê'? Alguém imagina isso tudo ser passado por alguém para outro alguém em meras duas horas? Inevitável lembrar de 1995, quando pela primeira vez um amigo meu ganhou um cd player próprio. Foi uma festa no prédio. Lembro de comprar fitas da Basf, de preferência as cromadas que supostamente duravam mais que as de ferro, e lhe entregar para que copiasse alguns de seus cds para mim. Lembro de uma fita em que ele fez sua seleção entre Cidade Negra e Skank. Ouvi até dizer chega. E até hoje, no meu inconsciente, quando ouço alguma música do Calango ou do Sobre todas as forças, inevitavelmente minha cabeça emenda um Jackie Tequila em um Pensamento.

Mas ontem eu peguei 3000 músicas e isso me assustou. Lógico que eu já conheço muito mais do que isso, mas sei lá... Foi gradativo, uma-a-uma. Serei eu, será qualquer ser humano capaz de digerir tanto? O que é excessivo? Com quantas dessas eu vou criar essa relação, desenvolvida em meados da década de 1990?

Tudo bem, não há necessidade de que se crie relações afetivas com todas as músicas, em todas as fases da sua vida. Mas isso tudo me assusta. E eu ainda não sei se receber 3000 músicas de presente é fodão ou se é caído.

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De qualquer forma, obrigado Jonas, obrigado Lelê! Poucos bons corações têm tanta boa vontade como vocês tiveram ontem à tarde. Além do que, o material que vocês me forneceram foi tão significativo e tão promissor de render textos para este site, que estou pensando em colocar um banner com a cara de vocês, como forma de retribuir o "patrocínio".

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Banner ainda não tenho como colocar. Mas desde já, fica aí o link do trabalho do Jonas Sá.

1.4.06

Eu fui Eddie

Muros precisam ser construídos para caírem


      Um livro do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, ‘Modernidade Líquida’, cita no posfácio o poeta tcheco Jan Skácel, via Milan Kundera. Para Bauman, escrever sociologia é como escrever poemas: os versos “estiveram sempre, profundamente lá”. Palavras de Skácel encontradas por Bauman em livro de Kundera. Indo adiante, já em Kundera, “escrever significa para o poeta romper a muralha atrás da qual se esconde alguma coisa que ‘sempre esteve esteve lá’”. O objetivo do sociólogo que cita o romancista que se baseou no poeta é aproximar tudo – sociologia, poesia, literatura, história e arte. Não há invenção, só descoberta. E trabalho duro, quebração de paredes.
      Um dia, acontece de um show do Eddie despertar uma certa combustão de idéias. Descobertas. Eddie, uma banda fundamental para a cena do mangue bit, mas que não estava presente na hora da explosão (entre 93 e 95), e demorou para voltar organizada e revolucionária, em ‘Original Olinda Style’. Antes, diga-se, na pré-história, era uma banda de hard core com Roger (cadê ô?) à frente. “Quando a Maré Encher” era o hit, muito antes de Nação Zumbi, e portanto mais ainda de Cássia Eller acústica.
      Feita a divisão, nascido o Bonsucesso Samba Clube e o (novo) Eddie, cada uma das metades lança uma mistura de dub, Pernambuco, punk e batucadas. E o Eddie se sai melhor. Bota lixo e miséria junto com Cabral de Mello Neto, academicismo-ganja e ácido. Nascem versos como “é assim que ela é, metade futebol, metade mulher”. “Tô sentado à beira, à beira do rio, esperando a sujeira passar” e “Pintou o céu, bonito ficou. Trabalha com amor. Com gratidão, satisfação, felicidade”. Tudo é bonito, lírico, e doce. Mas duro. Um muro desceu abaixo.
      A banda viaja, passeia, conhece a Europa. Faz fãs. Lança um segundo disco, ‘Metropolitano’. Chega a hora de voltar ao Rio, apresentar a cria. Estaria Olinda em festa, de novo? (ainda?) “As Flores e As Cores” lembra trilha de blaxpoitation. “As Lombrigas e Os Vermes” tem uma animação de carnaval, embora a miséria seja o tema. A voz é a mesma de um coroa que parece debochado mas não é. Quem vê ao vivo não liga à pessoa. Sem coroas. “Fuleragem” é um mundo livre s/a falando de política sem ter lido os mesmos livros. “Ontem Eu Sambei” é uma desconstrução do ritmo que não engata. Os barulhinhos eletrônicos, moscas inclusive, estão lá para realçar o que é tradição e o que é invenção (no fim das contas tudo é os dois, né?). Nessa onda vem o papo de maluco em frevo de “Vida Boa”, um caminho que Chico Science apontava em contraponto ao maracatu dos caranguejos da década de 90. Tem a entrada do disco, como a do ‘Olinda...’ em prenúncio a algo de outra ordem, de “Metropolitano” – a música – com o tema da pobreza e do abandono, o mesmo bom e velho corinho feminino desafinado e som de autêntico. Quem ainda duvida do poder do estúdio? E não é tudo uma grande invenção? E “Quando A Maré Encher” é o grito de um pai reivindicando pra si o sucesso de um passado pouco desfrutado: hardcore e levada dub pernambucana em cima de um notícia do jornal da semana passada.



      O gosto na boca não é dos melhores. Não há mais desafio no entendimento da mensagem. Um muro já quebrado é só um monte de resto de parede. Quando fica fácil de entender, quando acaba o mistério e a sedução, quando não há o que se estranhar... Mello Neto sumiu. O ácido virou caixa registradora. O acamicismo-ganja virou poesia de rádio fm. Há pouco valor nas ruínas.


Enfim, a casa própria
Perda :: Dorival Caymmi
Dorival Caymmi :: Compilação de vídeos
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