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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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31.1.07

A quem interessar possa...


Já rola há quase um ano, mas nunca falamos disso por aqui. Talvez porque nós realmente não somos os mais viciados em Orkut...

Mas enfim... Quem quiser, tá convidado a entrar e dar uma agitada na comunidade do SOBREMUSICA.

30.1.07

André Ramiro :: Vencedor do Desafio de Verão da Batalha dos MCs - HPP 2007

Depois de uma série de batalhas de altissímo nível, André Ramiro bateu Emicida na final. Emicida fez uma campanha impressionante, ganhando 3 batalhas seguidas, levando os R$100 de uma das semifinais. Depois ainda atropelou Brigante e foi pra final, com mérito e pinta de favorito.

Mas Ramiro consagrou seu estilo particular. Se concentra, analisa o adversário e isso deu resultado. Em primeira mão, aqui ainda na Melt, ele vai falar e eu vou digitar. Vai sair tudo errado, mas vamo pra dentro... Vê qual é...

"A final foi dificil, o Emicida é um advesario muito bom. Mas pra ganhar foi necessario escutar o que ele tava falando, pra poder responder a altura . Cada batalha é uma, é botar a cara e bater cabeça com o cara. Nao tem como nao analisar o adversario. Eu ja tinha percebido que ele falou algumas coisas que eu podia usar contra ele. A gente tem uma filosofia de que vc perde a batalha pra si mesmo. É quem errar mais perde. Uma batalha com o Emicida, que eh um bom MC, quem errar mais perde. Mas foi de alto nível, a galera se amarrou. O importante é a cultura ser propagada. A coisa tem que evoluir pra gente er sustento da nossa própria arte. As vezes a gente canta ai enao ganha nem agua pra beber. O artista aqui no Brasil nao é respeitado. Ja cansei de cantar e nao rolar nem agua pra beber. Logico quea gente nao eh mercenario, mas a gente tem amor pelo que nós fazemos. Nada mais justo do que a gente receber. As pessoas que soh pensam em lucrar com isso, tem que se ligar que estao lidando com seres humanos. Homenageio o nosso amigo Zé Bolinho que deixou um disco gravado, mas agora tá no céu...

Sem querer menosprezar, essa foi só mais uma batalha entre várias que ja tiveraam. Ja houve varios campeoes e gracas a Deus eu fui mais um. A gente nunca chega sabendo se vai ganhar. Hoje fui eu, mas espero que surjam outros. Nao quero ser capmpeao de tudo, eu quero que os outros levem também. As vezes a nossa performance inspira um moleque que tá vendo. A gente que tem um mic na mao tem uma responsa mto grande no que vai falar, pq a galera vai se influencia e no momento a gente é formador de opiniao. To feliz por ter ganhado. O Emicida ganhou a Liga, foi merecedor, levou a liga com méritos. Nao existe rixa. A batalha acaba e a gente se cumprimenta, ninguem é inimigo, só adversário. Nao tenho nada contra os americanos, mas temos que expandir a cultura do hip hop brasileiro. To muito feliz."

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Fim de HPP 2007. Ducaaaa!! Parabéns Levinson, Gabriel Lupi e demais. Até ano que vem!

29.1.07

Mais um na festa


Aquele papo de novo, né...

A MTV diz que, por enquanto, nunca mais quer saber de videoclipes e segue alimentando a programação de verão com uma porção de reprises, dizendo que a principal atração da grade nesse início de ano é um carro rosa que corre o país se abrindo pra presepadas da "audiência".

A CNT atinge a maior audiência de sua história, coisa de 5 pontos no Ibope, com um programa de videoclipes insano, no horário nobre (!!!! 20h30 -21h30 !!!!) apresentado por Luiza Sarmento e com esquetes de humor dos MCs Gorila e Preto. Perdido numa programação tão insana quanto, o +Pop vem entre dois programas de cultos religiosos. Tudo isso metendo um Brasov, um Daft Punk ou um B Negão no meio de Justin, de Beyoncé e Rebelde.

A faixa jovem da MixTV continua crescendo sem parar, bem como a da Play TV, que misturando com interatividade e videogames, usa a música da forma mais potente: colocando-a em todo lugar. Ah! E a Mix tá chegando no dial carioca para ocupar a freqüencia da Jovem Pan. O Multishow tá na mesma fila. Com o sucesso crescente das faixas de clipes na programação - que não tem pudor nenhum em bombar o Bob Sinclair ou o Simple Plan - o canal está pronto para entrar nos dials brasileiros. A Multishow FM já está rolando com alguma repercussão na internet.

E não é que, com todo o atraso do mundo, é justamente nesse momento que a VH1 (VideoHits 1) resolve aportar de vez por aqui??? Criada menos de cinco anos após a MTV, numa parceria entre a Warner e o pessoal a frente da MTV americana, ela é a irmã caçula da Music Television e também faz parte da Viacom. Recentemente, alguns programas da VH1 já vinham aparecendo nas telinhas daqui, mas na grade do Multishow. O mais famoso deles é o Behind the Fame.

O anúncio da entrada do canal no "dial" da NET já era aguardado desde que a MTV era vanguarda. Agora que, parece, a MTV tenta voltar a ser - por ora mais no discurso do que na prática - a VH1 finalmente 'chega'. Ok, ok, a programação é um pouco mais brega do que o que se acostumou a gostar nos áureos momentos da MTV, mas isso não vem ao caso.

Essa entrada bagunça ainda mais um mercado no qual ninguém tem a menor certeza de pra onde está andando. Se o videoclipe já não faz mais tanto sentido, por que a Viacom agora vem com essa de investir mais forte num VH1 Brasil? Não estava lá, mas ao que tudo indica o anúncio foi feito no último dia 23, em São Paulo, data em que havia um evento marcado para a imprensa. Neste fim-de-semana já era possível ver a programação do canal rolando no 37 da maior operadora de tv a cabo do país. Pelo menos no RJ, o 37 é o canal base; sempre que se liga o decoder, é nele que está sintonizado. Estratégia forte para dizer "querida, cheguei". No domingo, já rolava o aviso da programação que rolava no canal 89.

Mas... mas... vem cá. 89 não era uma rádio rock famozona em São Paulo? A mais conceituada do país e que agora não se constrange em bombar Chris Brown e Vanessa Hudgens sob o pretexto de que "é disso que o povo gosta"? Ou seria "é disso que o jabá quer saber"? Então a VH1 é 89? A 89 ainda é alguma coisa? Alguém aí é digital? Alguém tá entendendo por que misturar uma coisa com a outra - que não têm nada a ver - no fim desse texto? Alguém aí tá entendendo alguma coisa? Alguém?

Eu desisto. Por enquanto.

28.1.07

Móveis Coloniais de Acaju no HPP

Corre Atrás




      Olhando para o público, o jogo tá ganho. Pela agenda do grupo, que enfileirou em uma semana Belo Horizonte, São Paulo, o fechamento de gala do HPP e Barretos (de olho nos rodeios de 2007), não é uma brincadeira para ver no que vai dar. E pela seriedade no camarim, a concentração com tudo, é um show para se consagrar. “Não pode ficar nervoso, não, éim...” O Esdras, saxbaritonista, responde que não, não tem mais dessa não, véio. Os móveis tão de boa. Agora, de melhor.

      Léo Bursztyn, guitarrista e quase doutor em Economia em Harvard, é o primeiro a entrar e puxa riffs que soam meio Franz Ferdinand, meio novo rock-disco-punk. Com ele vem Fábio Pedroza, no baixo e pulos, o baterista Renato Rojas, e BC, na segunda guitarra, que dá espaço para um bandolim e um cavaquinho ao longo do show. A levada “lucioribeiro” se mantém por alguns compassos, até a entrada do resto dos outros seis, e André Gonzalez, vocalista e dançarino concreto, se apresenta: “Muito prazer, eu sou você amanhã... Só não me apresentei antes, por medo de desmotivar”.
      Foi esse o começo do carnaval sem fim dos móveis, que misturam surrealismo, metamorfoses tchecas, Consenso de Washington e resistência à guerra da Bósnia nas letras. E fanfarras ciganas, chorinho brasiliense, ska japonês e gafieira copacabanense no som. Festa com letras de desilusão. Sem contar com todas as outras coisas. E, não. A letra de Seria o Rolex? não é uma citação ao ecstasy, como pensou parte do público mineiro, na semana passada.

      Sem parar muito entre uma música e outra, a não ser para um pouco do papo cabeça eu e você, a gente pode se dar bem essa noite de André, o Móveis faz um revezamento de alta velocidade nas posições e nas frases de: é uma gaita?, é uma flauta?, é um sax tenor?. Não, eles são de Brasília e vão fazer de tudo para você se divertir ao máximo, o que inclui se divertirem também, sem escolher público, sem pensar no quanto vale estar ali. Se fosse um show num palco apertado, sem retorno, e com cinqüenta pessoas, eles não iam fazer pior. Até porque cinquenta pessoas não rola mais. Só tocando mais alto para os outros trezentos que ficaram do lado de fora.

      Mas não é o caso, claro, e o Sérgio Porto está cheio, atulhado, e todos pulam, indo além do bom começo que o Turbo Trio já tinha tratado de providenciar. Dali a pouco, experimentam mais um pouco a nova Lista de Casamento, pop. Tem gente na platéia que sabe a letra, e BC sorri contente. Dali a pouco seria a ultrajiana Sem Palavras, afinal BRock também entra na culinária.
Nos sopros, algo de Moacir Santos pesa mais nos arranjos do que James Brown, por exemplo. Melodias nos metais, mais do que ritmo. Mas melodias quentes, pelando. Ou é Xande Burztyn, balançando o trombone com linhas graves e suinguentas, ou Paulo Rogério jazzificando em solos e miudinhando no pé, ou Esdras Nogueiras sambando pesado em ataques curtos e frases elegantes, ali, meio aveludadas, quando não circenses.

      A qualidade do som não era ruim, mas faltava um pouco de brilho. A voz e a flauta, por exemplo, soavam meio embaçadas. Detalhes, tão pequenos. Aliás, a flauta é parte fundamental para o humor das músicas coloniais de acaju. Os fraseados de Beto Mejía têm algo de artista de rua, saltitam, têm que prender a atenção do cara que passa, se não não tem moeda no chapéu para ajudar lá em casa. A alegria segue na gaita e nos efeitos do teclado de Borém (Eduardo), que quietinho ali no canto é essencial para o toque contemporâneo que os móveis coloniais têm. Não é som de brechó, mas a coleção é inspirada em discos da vovó. Também.

      Para encerrar, o compromisso da banda com a formação de cada um deles. A Brasília dos anos 90, Gabriel Thomaz e Little Quail, com Stock Car e o hino da galera da capital 1,2,3,4. A..., antes tinha rolado um Portishead que volta e meia é a cover do dia, assim como Take Me Out (FFerdinand) ou Eu me Amo (Ultraje). E, já com B Negão no palco, Se Essa Rua Fosse Minha, com o rapper contando que se essa rua fosse dele, botava o acaju para tocar, se essa rua fosse dele, não pagava o tal jabá.

      Estava ganha a noite, mas ainda teve E Agora Gregório?, só porque o Gabriel Autorama e toda a platéia insistiram. As metamorfoses que fizeram todos suar. De agora em diante, o Móveis Coloniais de Acaju estão aí. Corre atrás.

Turbo Trio no HPP

Até o Caroço




      Turbo Trio. Além do nome, a composição: B Negão, Alexandre Basa (Mamelo SSystem) e Tejo Damasceno (Instituto). Não tem muito erro, é grave nas caixas – haja o mc conferindo com a platéia se o peito tava sentindo de fato – e a filosofia esfumaçada das ruas cariocas, em um itinerário Zona Norte-Centro-Zona Sul, sem muito caminho definido a não ser aquele racional de um Tim Maia parte fundamental do dna do som. O Caminho do Bem.
      Uma apresentação do trio era a dívida que Basa, Negão e Tejo tinham com o Rio, e vice-versa. O clima entre o público era de “só vi no YouTube” e a curiosidade beirava a ansiedade, até que entrou no palco a dupla de... bem, djs usam discos, e não era o caso. Disparadas as primeiras bases e iniciado o processo de recriação a partir do pré-gravado, entram as projeções do Azóia, que em muitos momentos eram o foco do show. E em seguida B Negão, cada vez mais ícone do underground, ainda com um visual quase de hq, se há uns anos era um chapéu de palha furado por onde saíam grossos dreads, quem se lembra do Funk Fuckers?, hoje é o boné enfiado até praticamente abaixo dos olhos.

      Muito grave, batida reta que de repente quebra, Kraftwerk suado, o som mostra que quando tem B o clima Bailão Classe A é a missão. E o Sérgio Porto lotado foi percebendo isso sem muita demora, levando junto uma garotada à espera dos móveis que fechariam a noite dali a pouquinho.

      O melhor do som do Trio é que apesar de passear do hip hop de Miami até o funk carioca, com umas piscadinhas para um electro de Nova Iorque, um ragga jamaicano e um kraut synth sei-lá-o-que europeu, as letras não vão nos temas marrentos de mulher-bagulho-bebedeira. E, me permita a brincadeira, não é emo. B Negão dá a idéia do que quer falar, filosofa sobre o ângulo do “se liga, cumpade”, e ainda chama para a pista de dança. Em português ou inglês, em palavras próprias ou citadas, em um papo reto ou na sedução da sugestão.

      Para terminar, a música que eu menos gosto do disco com o Seletores, mas sem dúvida o clássico do Enxugando Gelo: Dança do Patinho, pancadão pra não dar mole. Em seguida, a sessão saideira. E para finalizar, uma homenagem a Sabotage, Dorobo relida, e na memória dos felizes presentes naquela noite, a lembrança do último show em vida do rapper paulista, em 2003, ao lado do Instituto, na abertura de um Humaitá Pra Peixe lindo. Esse ano, foi mais um. Bailão estrondado.

27.1.07

Semana Forte

Começou com Ben Harper e Canastra na quinta. Duplexx e Vulgue ontem no HPP. Hoje, tem Móveis Coloniais de Acaju e Turbo Trio. Amanhã tem debate e Matisyahu.. Janeiro no Rio está terminando em alto nível.

Pra esquentar, videozinho de Joca Vidal gravado no show de Ben Harper, quando o judeuzão ortodoxo subiu para dar uma palhinha do que virá amanhã.

A apresentação de Matisyahu no Roskilde foi uma das melhores que vi ano passado, com uma mistura de dancehall com rock'n roll e oração. Estupendo. Carisma transbordando em um domínio de palco muito particular. A banda que o acompanha também é pressão. Olho atento no guitarrista Aaron Dugan.

Pra quem está por essas terras guanabarescas, quer ir e ainda não conseguiu comprar ingresso porque "só está vendendo pra comunidade judaica", esquece esse papo e corre. A boa é chegar no Rio Sul, na loja Q-VIZU (T-SHIRTERIA), 4º PISO, LOJA D 35. É a boa. Chega lá e pede o ingresso que o vendedor vai te sorrir. R$30.

Amanhã então é isso. Esquenta no HPP e corre pro Matisyahu. Nervoso...

26.1.07

Saudade: Tom Jobim

Reencontros. Ou, simplesmente, 'Vai...'


      Essa manhã, enquanto eu tentava me manter acordado na frente do computador, via com o canto do olho o Arquivo N do Tom Jobim, na Globo News. Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim foi um ídolo da minha infância, ao lado de improváveis Michael Jackson e Madonna, antes do Rock in Rio 2 me apresentar o Information Society, o Megadeth, o Joe Cocker, e muito antes de eu passar tardes vendo a extinta MTV ou passar noites no Empório acompanhando os sets dos djs, que sempre passavam por REM, Placebo, Garbage, Ramones, etc. Isso para não me alongar muito.
      Pois, você já sabe, o Tom faria oitenta anos no dia 25 de janeiro. Ontem. Isso me faz lembrar direitinho quando eu, ainda um aluno de flauta doce que preferiria tocar um instrumento mais pop, fui encorajado pela minha mãe na Cobal do Leblon. "É o Tom Jobim, diz que você toca as músicas dele na flauta, pede um autógrafo". Fui lá. Fiquei nervoso, não falei direito, quem pediu o autógrafo foi a minha mãe mesmo. Eu fiquei olhando, o Tom ficou meio orgulhoso, meio debochado, me mostrando para um casal de amigos e tentando se lembrar qual tinha sido a última vez que tinha dado um autógrafo. Na época, foi só quando a minha mãe contou para o meu pai que o meu espanto indignado virou um sorriso diante da ironia cínica de Tom. O autógrafo e a lembrança da mão na minha cabeça, falando qualquer coisa como "Vai..., Tua vida, Teu caminho é de paz e amor...", continuam por aí.
      Remexendo um pouco, voltam. Cada vez um pouco mais amarelados. A assinatura de Tom, e eu me acho no direito de repetir o tratamento assim, carinhosa e intimamente, era quase uma linha de batimento cardíaco. Talvez fosse o meu, menino, naquele dia.
      Dias, meses, eu diria quatro ou cinco anos depois, eu estava longe de só dançar samba, vai, ainda nos twists, calipsos e tcha-tcha-tchás. Em um dia oito de dezembro de noventa e quatro, férias da escola, quatorze anos, e vi entrar no ar um plantão do MTV No Ar. Sem muitas informações, minha memória diz que com ar bem sério e até gaguejante, Chris Couto dava a notícia: morreu Tom Jobim, em decorrência de uma operação que fazia nos EUA. Ninguém sabia que ele tinha viajado por problemas de saúde, a operação não era grave, e nos últimos anos ele vinha fazendo mais shows no Brasil, inclusive levando um piano para a pedra do Arpoador, na tentativa de ver os brasileiros conhecendo o que os brasileiros fazem, assim, sem necessariamente o B maiúsculo que ninguém mais do que Antônio Carlos mereceria.
      Assim que saiu o plantão da MTV, avisando que mais informações viriam a qualquer momento, eu fiquei deitado na cama dos meus pais por um tempo. Sem reação. Triste. Chorei. Não me lembro de ter chorado com uma notícia de tv, a não ser nesse dia 8 de dezembro, aos quatorze anos. Fiquei trocando de canal, Globo e MTV, sem controle remoto, esperando alguma nova informação. Liguei para minha mãe, no trabalho, e ela ficou triste, mas não abalada como eu achava que seria o natural. Que devia ser o natural. Ora, era o Tom. Aquele que tinha autografado o caderninho de telefones dela. Passei a tarde atrás de novas informações, cruzando notícias sobre a morte, querendo ouvir as repercussões, acompanhando a cobertura que começou na guerrilheira MTV de então, furando a poderosa líder de audiência, e terminou com uma edição do Jornal Nacional cheia de correspondentes e caras sérias.
      Anos depois, era eu o jornalista. Tom teria oitenta anos. Eu tenho vinte e seis. Já aprendi que "a única coisa que se leva da vida é a vida que se leva", que meu "caminho é de paz e amor", e não pretendo parar de circular por novas lições de Tom, um cara que gostava de música, conversa, bebidas e de natureza. Desses caras que os jornais costumam dizer que era apaixonado pela vida.

      Ouvindo: "Em Minas Ao Vivo Piano e Voz"

23.1.07

SOBREMUSICA iTV
Entrevista :: John, do Pato Fu (1)




23 de janeiro de 2007, 19h21. Finalmente no ar um dos nossos mais antigos planos, o SOBREMUSICA iTV.

A proposta desse canal audiovisual é continuar exercitando as experiências musicais do sobremusica, em um novo formato.

Quem já nos acompanha podia até prever que algo desse tipo aconteceria. Em vários momentos esse assunto esteve presente por aqui. A principal intenção é tentar encarar o desafio de desenvolver uma linguagem nova e própria para a internet. Ir além do exercício de apenas filmar e subir o conteúdo para o YouTube, que foi bastante eficiente no início da popularização desta mídia. Porém, assim como a televisão começou apenas reduplicando o que se fazia no rádio, até achar sua própria linguagem, o audiovisual na internet também fez o mesmo: começou sendo um duplicador da forma de se fazer (e até do conteúdo da) televisão, com as mesmas formas de filmagem, com as mesmas edições, com a mesma linguagem, para dentro dos computadores. A chegada do YouTube potencializou isso de uma forma selvagem.

O tempo está andando e cabe a quem olha para a comunicação com curiosidade tentar desenvolver um novo modelo de se filmar, montar, editar... Levando sempre em consideração as potencialidades, limitações e funcionalidades desta nova mídia que é o audiovisual transmitido por bits na rede. Blogs, celulares, Myspace, podcasts, YouTube, Second Life, TV digital, web 2.0, interatividade, Creative Commons, Riaa, Webcams, MSN's, iPod, LonelyGirl15, Orkut, Wikipedia. Eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também.

É preciso encarar as possibilidades da internet como um novo caminho. Mais do que apresentar modelos, a idéia do SOBREMUSICA iTV é experimentar possibilidades e tentar estimular que outros façam o mesmo. Essa é a diferença do SOBREMUSICA iTV para o SOBREMUSICA TV que já vinha rolando. Nesse novo canal, a linguagem é pensada de forma mais ampla, não é só uma duplicação de conteúdo.

Nosso primeiro convidado é o John, do Pato Fu. Fiz uma entrevista com ele, eu cá, no Rio de Janeiro, e ele lá, perto do delicioso restaurante Xapuri, em BH, onde ele vai buscar almoço pra Nina vez por outra... Já que a troca de arquivos p2p fez com que a música rodasse o mundo com uma facilidade que nunca se vira antes - quando se dependia de ter uma boa distribuidora -, agora é a vez de tentar acabar com as barreiras da divulgação. Há de chegar o dia que as bandas brasileiras só precisarão vir para o RJ e SP para fazer shows e não divulgação na mídia. Isso facilitaria ainda mais o trabalho de cada artista, tornando o cenário ainda mais justo. Cada um no seu lugar, conseguindo ser universal. Pernambuco, Minas, Bahia, Cuiabá, Rio de Janeiro, Rio Branco, Xique-Xique, Sheffield e Austin debaixo dos pés e a cabeça na imensidão, como um dia já sugeriu Francisco França.

Nessa roda insana, a gente vai levando.

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Esta entrevista foi gravada em 9 de dezembro de 2006, dois dias após a MTV anunciar que os videoclipes não fariam mais parte da programação do canal. A demora a entrar no ar foi mais por culpa de uns acertos técnicos, de compatibilidade de formatos, de experiências e de discussões. Agora que já está tudo mais bem desenhado, vamo que vamo.

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Créditos:

Entrevista:
Bruno Maia

Cinegrafistas:
Felipe Mortimer (HDV)
Bruno Maia (webcam)
John Ulhôa (webcam)

Edição e montagem:

sobremusica iTV

SOBREMUSICA iTV(R) 2007

22.1.07

CD :: Mariana Aydar, "Kavita 1"

Como se faz uma resenha sobre o disco de uma nova cantora? No caso, Mariana Aydar. "Kavita 1" é o incensado début da paulistana. E de cara digo que, pra mim, não bateu. Sei que, em teoria, uma resenha tem que justificar as impressões que crava. Acho que não vou conseguir fazê-lo. Até porque não estou dizendo que o disco é ruim - o que me obrigaria à justificativa. Não estou dizendo que ela canta mal, muito pelo contrário. Não estou dizendo nada disso. Mas o fato é que... sei lá, entende?

Vamos tentar.


- A voz dela é boa?
É, ela é super afinada, tem potência... A voz tem presença, mas cai um pouco na sarjeta de lembrar Elis Regina. Nada contra Elis, pelo contrário, tudo contra quem tenta imitá-la. Não é o caso de Mariana. Mas as interpretações, vira-e-mexe, acabam esbarrando naquela coisa meio... meio... meio Elis.

- O repertório é bom?
Hmmm... Tá aí outra questão. É e não é. As músicas são bacaninhas, mas sem grandes novidades. A versão de "Deixa o verão" (Rodrigo Amarante) é especialmente sem graça. Além do que, ser "nova cantora" e lançar o primeiro disco com alguma música do Los Hermanos já não é, digamos, muito original. "Na gangorra" (Giana Viscardi/Michael Ruzitschka), por sua vez, é charmosinha, maliciosa, gostosinha... "Zé do Caroço", de Lecy Brandão, é chata demais! Muito chata! Papo de um herói que fica fazendo discurso na favela durante a novela... Que coisa mais boba... Usar estas características para descrever um "novo líder" emergente de uma comunidade pobre é até desrespeitoso em tempos de José Júnior, MV Bill, Gutti Fraga...

- Tem novos compositores?
Sim, tem. Isso conta pontos? Pra mim, conta. Mas são poucos e nenhuma música desperta sensação de renovação - nem dos novos, nem dos velhos. O disco não me soprou ar fresco. Ao mesmo tempo, como reclamar de um time que tem Danilo Caymmi, Paulo César Pinheiro, João Nogueira, João Donato...? Sei lá, mas fato é que nenhuma das faixas empolga pra valer.



Independente dessas perguntas, outras questões surgem. Até quando as cantoras brasileiras vão achar que precisam falar de macumba, de Xangô & Amalá, de candomblé... Aydar tem uma música (curiosamente chamada "Candomblé") só dedicada ao tema. Fato é que a produção rebuscada, cheia de texturas de BiD (grande produtor de Chico Science, Nação Zumbi, Seu Jorge, D2, Soulslinger, Planet Hemp...), as fotos da capa - que aliás é bem feia, com vários retratos de Mariana em posições diferentes durante um ensaio fotográfico qualquer, organizados numa espécie de caleidoscópio - não deixam ninguém acreditar que ela seja realmente chegada em bater cabeça num terreiro... Parece que a religiosidade dessas cantoras só pode passar pelo candomblé, como se isso garantisse um quê de brasilidade... Esses excessos de clichês, de lugares-seguros, é que travam tudo. Difícil sentenciar que ela não vá vingar. Também é difícil esvaziar as composições, que com o tempo podem ganhar peso de clássicos. Mas é complicado acreditar que isso vá acontecer.

A fusão de temperos, de barulhinhos com forró, samba, candomblé, etc, não criam o roteiro apropriado. A voz dela é boa, mas isso é pouco. "Braseiro", de Roberta Sá, por exemplo, trouxe bem mais frescor, mais espontaneidade, menos pretensão. Roberta mostrou ser 'mais verde' do que Mariana, mas até isso contava a favor... Vá lá que Roberta também peque por um repertório cheio de bambas, sem olhar tanto para seus contemporâneos (afora, é claro, Los Hermanos).

No fim, o disco de Mariana fica nisso. Não dá pra dizer que "é só mais uma cantora", mas também não me faz querer ouvir de novo.

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Aliás, uma pena eu ter perdido o show de Érika Machado, no HPP. Li em alguns lugares que deixou a desejar. Como as fontes eram confiáveis, acredito. Só sei que o disco é bom pacas. Pra mim, o mais interessante que ouvi entre os lançados pelas 'novas cantoras' da vez.

20.1.07

Érika Machado no Humaitá Pra Peixe

No Tempo Da Delicadeza


      Érika Machado é fofa, tem um jeito bonitinho de atrair a atenção no palco, e um sorriso frequente para e pela delicadeza. A estratégia é o charme. Ao desfilar referências mais ou menos explícitas, aponta para um caminho que vai sempre depender de muito equilíbrio. O risco de ser comparada, de não ser levada a sério... Em uma palavra, a desconfiança vai estar sempre ali.


      Ela é mineira e pop; ou o público vai esperar Clube da Esquina, ou vai esperar Pato Fu (estou considerando o Sepultura gringo e o Skank primeiro de praia, e agora do Clube). Daí, ela vai e chama John Ulhôa para produzi-la, e para acompanhá-la no palco do HPP. Não é uma crític, só uma constatação de risco. Mais? Ela tem voz infantil, e jeito de menina, quase moleca. Ao escolher o repertório, mira em uma Adriana Partimpim, via rimas compostas e pronunciadas à la Arnaldo Antunes, com sotaque de Belo Horizinte. Mais uma cara à tapa.


      Ao ouvir o disco, a impressão que dá é que Érika ouviu muito artistas/projetos como CocoRosie, Birdy Nam Nam, Anthony & the Johnsons e até Cibelle. Pensei muito em Gol de Quem, do Pato Fu, só que com algo dos primeiros discos do Titãs no lugar da referência Mutantes. Ao vivo, os barulhinhos eletrônicos diminuem muito, e o violão ganha destaque. A opção (se consciente ou circunstancial, vá saber) torna o trabalho mais distante dos sonhos e da ingenuidade que tornam o disco tão interessante, e o aproxima de um clima "canta junto" que não chega a se assumir assim totalmente. O tal do caminho tênue que facilita as escorregadas. As pontes com os artistas/projetos da primeira linha ali do parágrafo somem, e o doce noise baixinho vira um clima de roda de violão. Tem bons momentos, como as palhetadas cheias de pedal de John.


      O carisma de Érika ainda segura boa parte da apresentação, a timidez parece estilo mineirinho, e ela sai ganhando. Conversando com o Bruno sobremusica, que acabou perdendo o show por motivos outros, fiquei sabendo que nas primeiras apresentações da também artista plástica, o cenário era o próprio quarto dela. Não uma réplica, ou uma simulação, mas a cama onde ela dormia, as estantes, o computador, as pantufas: tudo dentro da van até o palco. Pensando um pouco, foi isso que eu esperava e que eu não achei. Um pouco de lar doce lar ali no palco, fosse com barulhinhos de fantasias e ilusão (minha opção preferida), ou até, vá lá, em uma roda de violão com clima de Serra do Cipó.
      Ainda assim, com pouco público e um preço que afasta o "vou ver qual é", foi uma noite agradável no Sérgio Porto.

18.1.07

Podcasts :: Entrevista com Maestro Billy

O tão alardeado formato de podcast ainda não vingou da forma como se previa quando ele apareceu. Especialmente no Brasil, podemos colocar a lerdeza e a dificuldade em se criar legislações que protejam a inovação tecnológica, ou que se interessem em, ao menos, dialogar com ela, como uma das responsáveis pelo delay.

Na virada entre o ano, no qual os last.fms, myspaces, pandoras e mogs da vida cresceram e se legitimaram como a (até agora) 'melhor forma customizável de ouvir música na internet', e o ano que começa com essa história toda, conversei via e-mail com Maestro Billy. Ele, além de DJ do programa "Caldeirão do Huck", é reconhecidamente um dos caras mais ligados ao podcast no país e à tentativa de se moldar um modelo economicamente viável para o formato.

(por Bruno Maia)

sm:: Primeiramente, pra situar quem vai ler isso e por ventura não sabe, queria que você falasse do espaço que os podcasts ocupam na sua vida profissional e da sua relação/história com esse formato.

MB: O Podcast surgiu na minha vida profissional em Abril de 2005. Um cliente que estrava prospectando prá fazer Spots de Rádio me ligou perguntando o que era Podcast... Ele acabara de sair de uma reunião para mudar o site da empresa e o webdesigner falou sobre Podcast. Ele não fazia a menor idéia do que era, então me ligou pra saber. Eu também não sabia o que era e fui pesquisar. Descobri o que é Podcast e tentei começar a fazer. No começo dei várias cabeçadas, tentando descobrir como funcionava, etc. Até que falei pra Rosana Hermann, do Querido Leitor. Ela criou um post sobre o assunto, pedindo que, quem soubesse alguma coisa sobre isto, me ajudasse no meu blog. Apareceu o Fábio Sales, que entende tudo de XML e afins. Me ensinou passo-a-passo como fazer pra postar, etc. Aí sim a coisa começou. Se você for no meu blog, lá no começo, verá que tem todo tipo de teste (que deu errado)... Hoje em dia cerca de 50% dos produtos que saem da minha produtora são Podcast. De abril de 2005 até hoje, tive um aumento expressivo de ouvintes dos meus programas particulares (ADD e AAA), e alguns clientes me procuram pra fazer Podcasts Corporativos. Hoje temos Heineken, Volkswagen, Editora Abril, Rexona, MASP e Affair entre nossos clientes de Podcast.

sm:: Os podcasts surgiram como uma grande possibilidade de se mudar o eixo da difusão de música. Isso começou como teoria em 2000, como ação em 2001 e como a tentativa de uma ação massificadora em 2003. O que se vê é que, pelo menos até agora, essa consolidação do formato não aconteceu, pelo menos do tamanho que se imaginava que fosse chegar a ter. Os podcasts ainda parecem muito mais uma ‘ferramenta a mais’ do que a salvação da lavoura. Por que disso?

MB: O Podcast tem que ser visto como mais uma mídia, não como uma simples forma de divulgação de música e afins. E não só de música vive um Podcast. O Podcast é uma grande chance de passar conhecimento e informação a um grande e específico publico sem gastar muito.

Uma empresa que vende adubo pra arbustos de pequeno porte. Não é adubo pra árvore, nem pra grama, é pra arbusto de pequeno porte. Tem um monte de gente que pode comprar este adubo, mas o universo é bem menor do que os compradores de adubo normal. Vale investir um monte de dinheiro em propagandas em rádio e TV? Pra atingir um universo gigantesco, mas que não é o universo dos compradores de adubo para arbustos de pequeno porte ??? Acho que não.

O Podcast entra aí. Você faz um programete legal, com informações, dicas técnicas, explicações e até música. E divulga pra quem compra este tipo de adubo. Faz divulgação em lojas de adubo, divulga em mala direta, email mkt, sei lá. Então, o custo do Podcast é infinitamente menor do que a propaganda de Radio ou TV e vai chegar exatamente no seu universo de "compradores de adubo pra arbustes de pequeno porte.

O mesmo acontece com música. Qual a chance de uma "banda de heavy metal finlandês com traços de Grunge Rock da Birmânia" tocar em uma rádio? Agora qual a chance desta banda chegar ao publico alvo dela? Por radio e TV é muito dificil. Agora pelo Podcast é fácil. Cria o Podcast, mostra o som, faz entrevista com a banda, e divulga nas listas de discussão sobre "banda de heavy metal finlandês com traços de Grunge Rock da Birmânia". É a mega-especialização da mídia. Chegar exatamente no seu consumidor, otimizando verba e facilitando o trânsito de informação. Não chega a ser a salvação da lavoura ainda, mas com o tempo a coisa pode tomar uma proporção enorme e quem já faz Podcast será ouvido.

É a chance de artistas e produtos chegarem no ouvido de quem interessa. Por exemplo (hipotético total): se o meu programa, que está "no ar" desde Abril de 2005 torna-se uma referência de lançamentos de bandas novas... muita gente (artistas) virá me procurar para lançar seus produtos. E muita gente interessada em sons novos ouvirá meu programa... aos poucos, com o barateamento dos computadores e das conexões em banda larga, a coisa vai aumentando.

sm:: O surgimento de serviços como o Last.fm e o Pandora atrapalharam o 'caminhar' dos podcasts ou ajudam?

MB: Muito pelo contrário, até ajudam. As pessoas passam a pensar no áudio na internet como uma boa opção à compra de CDs ou a pirataria. Quanto mais gente colocar áudio e conteúdo na internet, maior a chance das pessoas se interessarem em acessar, seja a LastFM ou o Pandora, ou um Podcast, o MySpace, etc, etc, etc. A Internet tem que ser uma alternativa à mesmice das TVs e rádios. Quem tem interesse em novidades, vê na internet sua salvação auditiva.

sm:: Especialmente no Brasil, a luta pela regulamentação dos setores envolvidos com a difusão de música digital e com a difusão digital da música, parece ser ainda mais inglória. Você poderia nos dar um breve histórico do que o que já foi feito e o que está sendo feito nessa direção por aqui?

MB: Tenho contato permanente com o ECAD (que ainda não sabe se vai cobrar alguma coisa sobre músicas de podcasts) e com as editoras e gravadoras. Estas sim querem cobrar. Mas o preço inviabiliza o negócio. Elas querem algo similar ao que cobram de Ring Tones. R$ 500 por música para armazenamento, mais R$ 0,30 por download de cada música. Só que entre o Podcast e o Ring Tone existem diferenças enormes. Só uma já inviabiliza este modelo de negócio: O Ring Tone é cobrado do cliente, o Podcast não. As gravadoras aos poucos percebem que os Podcasts e o proprio áudio disponível na internet é uma excelente forma de divulgação. Ao lançar um CD, alguns artistas (e suas gravadoras) já disponibilizam músicas para download gratuito em sites especializados. Isto é bom. Você puxa a música e não está fazendo nada de ilegal... se gostar do que ouviu, vai comprar o CD ou comprar o download do resto do disco.

Tento ainda mostrar às gravadoras, via ABPod (Associação Brasileira de Podcasters) que realmente o Podcast é uma ferramenta muito boa para divulgação. Como a música está em um contexto (com locução, trilha, vinheta, etc) e a qualidade de MP3 é baixa pra se pensar em queimar um CD, não existe teoricamente nenhum problema em tocar músicas em Podcasts. Só que a visão das gravadoras é outra, que remonta do tempo da invenção da prensa do Gutenberg. Aliás, nossa lei de direitos autorais remonta esta época onde poucos detinham a produção e a distribuição. Hoje em dia a coisa mudou completamente. O que vai acontecer num futuro próximo? As pessoas não vão querer mais tocar músicas de gravadoras, pra evitar problemas, e também porque acharam coisa mais interessante perdida na internet.

sm:: Como é a relação do ECAD com os podcasters?

MB: Por enquanto nenhuma. Só algumas reuniões virtuais, onde eles deixaram claro que o ECAD ainda não sabe se cobrará alguma coisa sobre Podcasts. Por ser um conteúdo pra ser ouvido em MP3 players ou em seu computador, não é passível de cobrança pelo ECAD, que cuida da execução pública. Se por um acaso, alguma casa noturna resolver tocar um Podcast pra quem está lá, o ECAD deve cobrar da casa noturna, não do Podcaster que criou o produto. Eles ainda não chegaram num consenso interno, mas acham que não devem cobrar, por não ser execução publica, mas sim troca de arquivo e armazenamento em mídia eletrônica.

sm: Gostaria que você falasse um pouco mais sobre a ABPOD.

MB:A Associação Brasileira de Podcasters foi criada em 13 de Maio de 2006 com o intuito de fortalecer o Podcast no Brasil, bem como de representar os Podcasters brasileiros. Nossa idéia é agir no sentido de melhorar e facilitar a vida dos Podcasters perante, por exemplo, sites de hospedagem, editoras musicais, gravadoras, etc. Já temos a ata de criação assinada e devidamente registrada em cartório, mas ainda não temos, por exemplo, um Código de Ética acertado, nem sabemos ainda quanto vamos cobrar do associado. Como a coisa é muito virtual, fica dificil tomar alguma atitude que todos concordem ou que todos os participantes conversem e resolvam...

Uma ação em andamento é com o Ibope, no intuito de termos medição oficial da audiência de Podcasts. Isto será ótimo para empresas que queiram fazer Podcasts mas não sabem como medir.

Outra ação já tomada, e que ainda se enrola muito, é a tentativa de acordo entre a ABPod e as Editoras/gravadoras. Muito dificil e enrolado, já que temos que falar separadamente com a ABEM, a ABPD, a ABMI, etc, etc, etc. Aos poucos acredito que consigamos fechar alguns acordos interessantes com estas Associações. E também estou conversando com o ECAD. Mas ainda não tenho nada acertado pra te passar.

Outra idéia da ABPod é divulgar ao maximo os Podcasts. Para isto, ainda dependemos dos associados, para fazermos campanhas online e outras coisas. Mas alguns associados já fazem e se disponibilizaram a ministrar pela ABPod cursos e palestras em faculdades, etc, etc, etc....


sm:: O advento do Creative Commons é uma saída para quem quer fazer podcasts "dentro da lei"?

MB: Sim. Eu mesmo, quando faço Podcasts corporativos, só uso CCommons. Ou algum artista/gravadora/editora que libere explicitamente seu produto pra aquela finalidade. A empresa que me contrata não pode nunca correr o risco de tomar um processo na cabeça por usar música não liberada. E a cada dia que passa, a qualidade dos artistas em CCommons melhora muito. É só procurar que você acha músicas sensacionais.

sm:: Quando você faz um podcast patrocinado, como são as negociações de pagamento de direitos autorais aos artistas que disponibilizaram as músicas em CC?

MB: Todos os artistas que toco nos Podcasts corporativos liberaram a execução e divulgação das músicas, contanto que não tenha nenhum lucro envolvido. Não vendemos nenhum Podcast e nem colocamos a música sozinha, sem nada junto (vinheta, por exemplo), que dê para um ouvinte "roubar" a música e posteriormente vendê-la. Tento também sempre entrar em contato com o artista, explicar a situação e pedir mais um OK por garantia. 100% dão este OK. Inclusive alguns artistas de grandes gravadoras conseguem liberação de uma ou outra música pra esta finalidade. Foi o caso do Mombojó, do Babado Novo, do Sampa Crew, dos artistas da PontoComRecords de Porto Alegre e mais um monte de gente que, às vezes até, pede pra tocar...

sm:: Queria que você explicasse melhor como é esse lance de fazer ("vender") um podcast pra Heineken, pra Volkswagen, etc, e não pagar os artistas.

MB: No caso da Volks, a Trama cedeu gentilmente o fonograma para os Podcast. Dai entraram o Mombojo, o Cansei de Ser Sexy e mais um que não lembro o nome. É um "acordo de cavalheiros" entre a Volks e a Trama. Além destes fonogramas da Trama, também rolaram fonogramas da PontoCom Records, que me mandou um contrato liberando TODAS as musicas deles para usar onde eu bem quisesse e entendesse, contanto que toda vez que eu tocasse uma delas, eu citasse o nome do artista e da gravadora. Só que no caso da Volks, alem do Podcast, o áudio virou CD. Portanto a PontoCom vendeu a musica pra Volks prensar o CD do programa. Contrato normal de venda para prensar o CD.No caso do Pretinho Basico, da Revista Claudia, além das musicas da PontoCom, eu também toquei artistas gringos que, assim como a PontoCom, gentilmente cederam seus fonogramas pra mim. Exclusivamente pra mim, pra eu usar onde eu quiser (no caso no Podcast da Revista Claudia). Toda vez que vou tocar uma musica que eu pesquiso na internet, alem de checar se ela eh CCommons (e qual a categoria de CC dela) eu ainda mando um e-mail para o artista, explicando o que pretendo fazer com a música, avisando que é um programa patrocinado pela empresa X, que é somente Podcasts, que não terá venda atrelada ao produto, etc, etc, etc.

(clique em cima da figura para visualizá-la em boa qualidade)


O mesmo acontece com o Podcast da Heineken. Tudo lá é CC, eu faço a pesquisa, procuro, acho, vejo se é CCommons, entro em contato e aí sim eu toco a música.Sempre que mando e-mail, falo que é um Podcast "sponsored by Heineken Beer", etc, etc, etc. Nenhum artista até o momento teve alguma objeção sobre isto. Muito pelo contrario. Alguns ainda mandam outros links para outras musicas. Entendem que este formato é divulgação para o produto deles.Uma vez, para uma outra empresa, eu quis fazer um CD com as músicas que toquei nos Podcasts produzidos. Entrei em contato, disse que pretendia fazer um CD com as músicas e perguntei quanto cobrariam por isto. Alguns não tiveram interesse, outros liberaram sem custo e outros queriam um valor X (pelo que me lembro, em dólares, variava entre US$ 300 a US$ 500). Só que pra fazer as transferências monetárias necessárias, pegar assinaturas cedendo a obra pra aquele projeto, e outros entraves, a coisa acabou não saindo do papel...A coisa tá meio assim. Além do CCommons, ainda tenho que explicar o que faço e perguntar se as pessoas liberam. Trabalhinho tranqüilo... hehehe.

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Só lembrando que meus textos sobre a segunda semana do Humaitá Pra Peixe estão no site do festival, que aliás, está de altíssimo nível. Parabéns especiais ao Gabriel Lupi e ao Léo Fróes.

16.1.07

SOBREMUSICA no Multishow

Rapidinho, pra não tirar sua atenção da excelente matéria do Bernardo aqui embaixo.

A equipe do sobremusica foi convidada pelo Multishow para participar de uma reportagem especial para o programa Revista Bastidores, sobre o comportamento musical jovem contemporâneo, seja lá o que isso signifique exatamente. Este que vos escreve, chegou junto. A matéria foi gravada no Humaitá Pra Peixe. Quem quiser ver, vai ao ar hoje, às 23h15, depois da transmissão do Big Brother Brasil. Reprisa amanhã, às 8h30 e 13h30.

Vamos ver no que vai dar... hehe... E ainda essa semana, novidades importantes no sobremusica, hein. Atenção!

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Se você ainda não leu, confere a ótima a matéria do Bernardo sobre a compra do Napster aqui embaixo. Check it out!

Internet: Napster + AOL = ?

Napster Pode Voltar a Ser Sinônimo de Música de Graça?




      O Napster está à venda desde setembro, e ninguém quer comprar. Até agora. E o serviço de músicas online não está parado na vitrine. Na sexta-feira da semana passada, foi anunciada a compra do serviço da AOL, Music Now, por US$ 15 milhões. O comprador é a ferramenta que já foi de Shawn Fanning, a quem eu deveria chamar de moleque, não fosse ele da minha idade. O Napster, com ações na bolsa desde que foi adquirido pela empresa de softwares então chamada Roxio, tem 570 mil assinantes, e é avaliado em US$ 186 milhões.
      Ao se transformar no serviço de música online exclusivo de um dos maiores portais e provedores de acesso da Internet americana, o Napster se torna um produto mais atrativo na prateleira da loja? A líder no mercado de música online, ITunes, tem motivos para se preocupar em manter a faixa de 80% das transações comerciais do setor?
      A professora de Mestrado da ESPM-SP, Gisela Castro, acha que o ITunes, por enquanto, não está no foco dos olhos do ETzinho do Napster. “O grande competidor dele é o Rhapsody, atual segundo colocado. O lançamento do Zune da Microsoft também pode ser perigoso nessa disputa”.
      O diretor e professor do Instituto Infnet, Eduardo Ramos, usa o termo do mercado financeiro “natural owner” para analisar a notícia. Ou seja, um grande portal de Internet seria um dos compradores mais naturais para qualquer serviço online, assim como a Coca-Cola ou a Pepsi seriam os “natural owners” de qualquer marca menor de refrigerante que fosse posta à venda. Nas palavras dele: “Possivelmente a AOL acredita que conseguirá uma maior fidelidade dos seus assinantes agregando de alguma maneira o serviço do Napster aos seus. O jogo, entretanto, é difícil, com o iPod dominando tanto o mercado e sendo [o Napster] incompatível com o iPod”.

      Ou seja, tem muita coisa na roda, ao se entrar no assunto. Primeiro, é que quando se diz que o ITunes tem 80% do mercado de venda online de música, duas formas diferentes de comércio estão postas juntas, sem distinção. O serviço da Apple vende música por unidade. Escolheu a que quer, dá o número do cartão, está autorizado o download. Funciona assim com o Zune da Microsoft também. O Napster, a Music Now e o Rhapsody funcionam de outro jeito: por assinaturas. Por algo em torno de dez dólares mensais, o cadastrado baixa o que e quanto quer dos arquivos de música digital de cada serviço. Se deixar de pagar um mês, as músicas deixam de tocar no computador.
      Embora pareça mais vantajoso para quem ouve muita música, o que em tempos de mp3 é quase todo mundo abaixo daquela faixa que as pesquisas de mercado escolheram ser de 35 anos, o sistema de pagamentos mensais dá menos certo por um simples motivo chamado Ipod. Gisela Castro: “Uma das coisas é que o Ipod só fala com o Itunes, é um padrão exclusivo da Apple. É uma das grandes sacadas: funciona como a Barbie, tem que ter acessório. E os acessórios são exclusivos da Apple”. Eduardo Ramos completa: “Na área de Tecnologia de Informação, o dono do padrão mais usado tem vantagens. E além do mais, o Ipod é chique, é cool”. Intrigante, né? A gente volta a falar desse assunto mais à frente.

      A compra do Music Now pelo Napster é interessante para o AOL, e isso explica em parte o preço não ter sido lá tão alto. O New York Times fez uma conta simples, dividindo o número estimado de assinantes de cada serviço pelo valor avaliado de mercado. O preço da Music Now é de US$ 43 por assinante. O Napster está à venda por US$ 328 o assinante.
      Além de ser interessante para a AOL, a aquisição volta a colocar o Napster em uma linha de frente da Internet. Gisela Castro explica: “O primeiro Napster [antes do processo movido pelas gravadoras] foi o primeiro a ser usado pelo cara comum, não só pelos nerds e pelos geeks. Tinha uma base de músicas muito grande, mostrou-se que havia demanda”. É o que pensa também Eduardo Ramos: “O Napster tinha um atrativo [também antes do processo de direitos autorais ] que era a base de usuários. Ao ser trucidado, ele perdeu isso”.
      A questão que os dois levantam é a mesma: depois de se tornar o boi de piranha das trocas de arquivo do tipo mp3, consideradas ilegais no julgamento da ação movida pela RIAA (Associação Americana da Indústria Fonográfica) em 2001, a idéia genial de Shawn Fanning ficou para trás. Gisela resume bem: “O Napster comercial nunca foi um sucesso, e tem uma história [de perdas na Justiça] por trás”.
      Para quem tem ações na bolsa e está à venda, não é o melhor dos perfis. Eduardo endossa o pensamento: “Nessa questão da comercialização de música pela Internet, o Napster pode ter ficado como um patinho feio da história”.
      Há menos de seis meses da compra do YouTube pela Google por US$ 1,65 bilhão – processos legais incluídos no pacote – não é fácil se lembrar de outra ferramenta virtual conhecida por qualquer um ficar tanto tempo encalhada. Só que também não é fácil arriscar previsões no chão que se pisa da Internet.
      A famosa derrota do Napster na Justiça fez muitos preverem que as gravadoras tinham ganhado a guerra contra o tal mp3. Assim como no Vietnã da década de 70, a resposta foi de guerrilha. Surgiram várias novas ferramentas de troca de arquivos: Kazaa, Soulseek, eMule, é só escolher o seu predileto. Passou-se um tempo, e surgiu o Bit Torrent, que pode ser considerado uma segunda geração de peer-to-peer, bem mais rápido. E o You Tube. Qualquer um posta qualquer coisa, todos os ideais prometidos de tv digital estão entregues ali. Você pode ver qualquer programa de tv, ou filme de cinema, na tela do computador, na hora em que quiser. Basta um search e um play. Serve para o clipe novo do artista da moda, para a apresentação ao vivo do artista esquecido e fora de moda, para o seriado que só estreou lá fora, para o erro da apresentadora de telejornal na hora de chamar a próxima atração, para o curta-metragem dos estudantes de cinema, para a informação vazada, é só escolher. Ou inventar. Os celulares, câmeras digitais e links para crackear criptografias estão por aí.

      Mas isso você já sabia. O que teve a mesma importância e aconteceu ao mesmo tempo foi um movimento do ITunes, uma jogada pioneira, sem o mesmo alarde. Se eles não vão poder te vencer sempre, faça-os juntar-se a você. É Gisela quem explica: “A partir do sucesso do Napster [pré-processo] as gravadoras começaram a buscar formas – cada uma a sua – para desenvolver um formato de distribuição próprio, onde o mp3 não fosse usado, porque sobre ele não dava para ter controle”. Nada de importante surgiu, a não ser aqueles cds dor-de-cabeça (principalmente da EMI, no Brasil) que não tocam no cd player do carro, que demoram a carregar no computador, etc. “O ITunes foi o primeiro a organizar um esquema de venda on-line que funcionasse, barato, noventa e nove centavos, e com a participação das gravadoras”.
      A explicação de Gisela continua. “Foi o ITunes que forçou uma associação das gravadoras com um raio de distribuição alheio. Mas isso só depois que o bloco tava na rua. Foi correndo atrás do prejuízo. Aliás, foi parecido com o disco, quando houve um tempo de disputa por qual seria o melhor formato. Até que se decidisse pelo long play ter 45 rotações e os compactos 33 1/3, demorou”.
      A tecnologia finalmente era enquadrada em um esquema de comercialização aceito como legal pelas grandes corporações. Disso para a venda do YouTube, acordos com quatro majors incluídos, e já estamos em um novo momento da Internet.
      Voltemos ao Eduardo. “O YouTube é tão forte que as gravadoras e estúdios de cinema preferem não brigar. Preferem a associação. No fundo, os estúdios querem é ganhar dinheiro. O olhar deixa de ser o de ‘cuidado, pirataria’ para ser o de procurar uma forma estratégica. Quanto à música, a menos que se criem formas de criptografia não-crackeáveis, o que eu não acredito, é muito difícil que se volte atrás desse momento de livre troca de arquivos. O estrago já está feito”.
      E à Gisela. “Quando chegou o YouTube, meu palpite é que as gravadoras quiseram evitar o fora que tinham dado com o Napster. Perderam popularidade, os artistas que eram contra ficaram mal com o público. Há uma nova mentalidade de que o troca-troca é lícito, não é pirataria. Você dá de graça, como forma de divulgação”.
      “Você dá de graça como forma de divulgação”. Gostei disso, me lembrei de uma ou outra coisa(s) que já escrevi aqui. Pergunto sobre o Gnarls Barkley e a música Crazy, o primeiro caso de uma música lançada só na Internet a entrar em listas de mais vendidos no hypeado mercado britânico. O início de uma história de muitas capas de revista e turnês com casas lotadas.
      A dupla Cee-Lo e Danger Mouse até gravou o disco independente, mas já foi lançada com um esquema ligado à gravadora grande. Um esquema que incluía MySpace, YouTube, e tudo o mais do tal marketing viral. “O Gnarls Barkley é o caso do aproveitamento da forma como estratégia. Não tem mais cabimento gritar contra, dizer que é pirataria. As gravadoras já trabalham de outra forma”, diz Gisela.
      A equação do ‘você dá de graça’ ainda tem que andar muito, é verdade, e o lançamento do IPhone (junto com o deslumbramento de todos nós) é um dado que entra de alguma forma nessa matemática de infinitas variáveis. Na mesma reportagem do New York Times que eu citei lá em cima, afirma-se que a AOL optou por investir nos serviços gratuitos, pagos por publicidade. É um caminho oposto ao da Apple. Hoje, ainda tem muita gente achando difícil, mas a chegada de um novo momento da Internet – afinal já foram tantos – pode estar logo ali. É ou não é, Gisela? “O ITunes lidera o mercado de música à la carte, que por hora tem muito mais adeptos do que os serviços de assinaturas, mas tudo isso pode mudar. Acho interessante comentar a AOL se desfazer do seu serviço de venda de música e se concentrar só nos downloads gratuitos. Isso pra mim é bastante relevante indicando que serviços de downloads gratuitos de música podem ser lucrativos também; corroborando um comportamento do consumidor que parece que veio pra ficar”.
      Você já deve estar cansado de saber, mas eu posso voltar a dizer. Que Apple, Microsoft, AOL, Google, Sequoia Capital, BitTorrent, Rupert Murdoch, que nada. No fim das contas, depende mesmo é de você. Tem noção?

15.1.07

Zé de Riba no Humaitá Pra Peixe

Leão do Norte
      Zé de Riba é acima de tudo um cara sério. Quando é folclórico, quando é apocalíptico como Conselheiro, quando é árido ou quando é só um embolador de tudo, a abordagem do Nordeste desse Zé é profundamente respeitosa e honesta. Até quando ri de si mesmo, ele é assim. E o show é forte, miscigenado, cheio de pontes com o mundo. Ao lado de uma banda muito competente, o maranhense migra por linguagens afinal de contas parecidas sem deixar de ser ele mesmo, acima de tudo coerente. Um trabalho de muita força.


       O mais legal é que se fosse para rotular, não daria para encaixá-lo no mesmo world music de Lenine, por exemplo, a quem não deixa de lembrar. Mas o que o pernambucano tem de world, esse maranhense tem de si próprio. O mesmo dá para dizer de outra referência de Zé, André Abujamra, esse citado nominalmente durante a interpretação de Alma Não Tem Cor, do Karnak. Explicando: se Lenine e Abujamra, cada um por um caminho, exploram gêneros olhando para fora, o maranhense tem as mesmas curiosidades com um olhar para dentro. Cada gesto teatral, cada estrutura de arranjo com a entrada da flauta transversa ou o solo de guitarra, remete a anos do que se vive repetidamente nos sertões, misturando cordel, Armorial, Canudos, teatro mambembe, trovas, alucinações, mitologias readaptadas, tropicalismo e fome. E é isso que Zé apresenta no picadeiro ao respeitável público. Sem leões banguelas, macacos tabagistas ou elefantes esquálidos.




      A referência Karnak aparece de novo, por acaso (para quem acredita) no título de uma Juvenal que não é aquela, e mais explicitamente no maestro da banda, Mano Bap, o baixista da banda de Abujamra. Daí vir o humor e o conhecimento de causa ao passar por tudo o que passa a banda, de três percussionistas, um sopro, baixo e guitarra.
      Aliás, um dos percussionistas se destaca pelo uso de uma bateria eletrônica Roland HPD-15, de dezesseis pads programáveis, com um som de surdo-midi tão cheio de peso e harmônicos que pouca gente percebe de cara não ser o surdo mesmo.


      O engraçado é perceber que justamente no ponto mais fraco da apresentação, Reprocesso, tocada em duas versões, e nome do disco de Zé de Riba, é que o artista aposta. Em uma letra com algo entre B Negão e Gabriel O Pensador, o artista abre mão de todo um peso de excelência que carrega nas costas para tentar ser palatável e falar uma língua que não se encosta na dele. Entre tantas línguas tão ao alcance e tão bem incorporadas, a que foi escolhida para representar o artista é o tiro na culatra. Que ninguém se deixe levar por ela.

13.1.07

duSouto no Humaitá Pra Peixe

Os Souvenirs de Natal


       O duSouto foi uma das atrações que mais gerou curiosidade na escalação do HPP. Uns poucos tinham visto a passagem deles pelo Rio, no ano passado, e outros poucos conheciam mais do que o site do festival mostrava. Os boatos indicavam coisa boa. Mais, o Brasov – que tocava antes deles – garantiria a presença de público no dia. Quer dizer, não tinha risco de perder o passeio, porque o bom e velho som cigano-brega-fanfarrão é um dos shows mais legais do Rio. Talvez devesse até ter fechado a noite.
       E foi bem assim. Direto de Natal, a onda do duSouto é misturar praias. O som do grupo tem dj, que dispara bases de música tradicional e batidas pré-gravadas, puxando as texturas para algo entre o vídeo-game e o Asian Dub Foundation. Tem guitarra e muito uso de pedal. Tem vj sublinhando a estética game/Internet. Tem um baixo que podia ser mais pesado. E uma bateria na medida, esperta mas sem brilhos a mais.


       Há algo de ressaca do mangue bit, há algo de nordestizar o Rappa do Lado B Lado A, há híbridos que lembram em intenção o Tranqüilo de Marcelinho da Lua, mas nada com o mesmo amadurecimento. O som quer ser mulato, mas não tem os tons graves bem marcados, nem a ginga de quem passeia pelo mundo, no mínimo em referências.


       É bem verdade que o repertório que os potiguares decidiram mostrar ao Rio é cheio de músicas ainda a serem gravadas, o que pode ter esfriado a apresentação. Entre o guitarrista e o baixista, os dois que dividem os vocais, um vazio no palco indicava que há de se caminhar mais, saber preencher espaços, dar cara ao monte de coisas legais que passam pelas cabeças dos cinco. Falta aproximar – e isso é não é só uma figura de linguagem – o que a dupla de frente faz com o trabalho do dj, e enriquecer a dobradinha da picape com as baquetas. O vj também pode fazer o trabalho dele ser mais do que um pano de fundo, apenas, para a música.


       No mais, a impressão é que fica é a de uma loja de lembrancinhas. Ninguém tem dúvida de que cada pedacinho do que está na vitrine do duSouto fala de Natal, Ponta Negra, e o dia-a-dia dos cinco na cidade. Mas muitos dos souvenirs têm uma etiqueta de made in China, ou daqueles chaveirinhos de praia com um espaço em branco para se preencher com Búzios, Fernando de Noronha, Camboriú, Maresias, ou Praia da Pipa. No caso, Natal.

Show :: Barão Vermelho

Era 13 de janeiro de 2001, quando o Barão Vermelho fez um show antológico de 'despedida' no Rock in Rio 3, antes de Foo Fighters e Beck. Na ocasião, muita gente que não tinha ido lá pra ver o Barão saiu dizendo que foi o melhor show da noite. A 'despedida' da ocasião era em função da parada que o grupo anunciava, para que cada integrante - sobretudo Roberto Frejat - pudesse cuidar de projetos individuais. Muita gente apostava que aquele papo era um eufemismo pra esconder a verdade: a banda ia acabar, mas não queria fazer isso às claras, para não criar especulações.

Vieram os discos do Frejat e o sucesso os acompanhou. Aumentaram as especulações. No fim de 2004, o grupo entrou em estúdio, preparou um novo álbum, homônimo, e no dia 3 de dezembro daquele ano, lotou o Canecão de fãs saudosos, para uma apresentação também nervosa. Quem viu, se acalmou e sentiu que mesmo depois de tanto tempo sem tocarem juntos, em cima do palco o Barão continuava sendo a maior banda rocknroller do Brasil.

Pouco mais de dois anos após a 'volta' e depois de dois discos, sendo um deles um MTV ao Vivo, ontem foi a vez da segunda 'despedida' do Barão. A justificativa é a mesma da primeira, mas pelo menos parece que dessa vez o público não duvida tanto da volta. Será também uma parada mais fértil, já que todos os integrantes estão, de fato, com projetos individuais engatilhados.

Um dia antes de completar seis anos da primeira 'despedida'. Diferenças? Sim. Dessa vez, a apresentação, se não foi tão ensadecida quanto aquela do Rock in Rio, foi mais generosa com a vontade dos fãs. A seqüência "O tempo não pára"/"Nosso Mundo"/ "Meus bons amigos"/"Quando o sol bater na janela do teu quarto"/ "Declare Guerra"/ "Malandragem dá um tempo" foi desconcertante. Nenhuma banda do Brasil tem um repertório tão vasto e completo de rock'n roll, e que funcione tão bem nos shows, quanto o Barão.

Ainda teve mais da tal generosidade com os fãs. O grupo buscou, nas comunidades de Orkut dedicadas a eles, o repertório que a galera queria escutar. Além das que já vinham rolando tradicionalmente na turnê MTV Ao Vivo, o Barão preparou um set com as músicas pedidas por lá... E daí, no bis, apareceram coisas muito boas como "O que você faz a noite" (Dé Palmeira/Humberto Gessinger), do disco Carnaval (1988) e "Carne de pescoço" (Cazuza/Frejat), do segundo disco do grupo, com os versos stonianos "pra ser livrar de mim,/ vai fogo,/ vai ser fogo!!". "Amor, meu grande amor" recebeu um descompromissado arranjo semi-acústico, que incluia violões e bandolim (conduzido por Maurício Barros). "Billy Negão" foi dedicada ao padrinho, sempre presente, Ezequiel Neves.

O show terminou, como tradição, com "Pro dia nascer feliz". Dia 19, eles fazem o último show em São Paulo. Em fevereiro, Rodrigo Santos lança o seu disco, Frejat faz o mesmo um pouco depois, o Guto vai cuidando da biografia da banda... Daqui um tempo, já beirando os cinqüenta anos, eles voltam.


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ficha técnica
Barão Vermelho
encerramento da turnê MTV ao Vivo
Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 2007
Vivo Rio

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Faltou foto. Foi mal.

11.1.07

Re-revolução (remix) '07

2007 começou a toda mesmo. Além da nova estratégia de vendas do YouTube e do iPhone, a SonyBMG anunciou que vai licenciar uma série de músicas para distribuição ilimitada por podcast. O acordo foi feito com a Ford, Chrysler e com a Rock River Communications, que pagarão um valor não divulgado pela liberação de uso.

O sorriso, que pode tomar conta de quem vê nessa notícia a perspectiva de um futuro bom na indústria, deve ser relativizado. Há mais questões que estão ficando à margem dessa discussão, como a distribuição dos direitos autorais, por exemplo. A arrecadação do valor a ser distribuído ao autor é feito por sociedades especializadas, não pelas gravadoras. Até agora, é só a gravadora cuidando do seu e dando uma banana para os artistas, jogando por terra todo aquela conversa de que o download prejudica os músicos e produtores. No Brasil, por exemplo, o ECAD não cobra por execução em podcast, pois não se trata de execução pública e a legislação só prevê cobrança sobre este tipo de veiculação.

O modelo é interessante e se baseia na forma de marketing que pode salvar a indústria: a associação de empresas às experiências musicais, que podem ir desde um podcast até o financiamento de mega festivais coom o Tim Festival. No caso da licença vendida pela gravadora para o uso dos fonogramas, há que ser criado um novo tipo de controle e um tipo de contrato entre as partes sócias do fonograma, que preveja mais claramente a forma de distribuição e arrecadação por parte dos artistas. E isso é só uma das questões.

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E o nome "iPhone", hein... Parece que não pertence a Apple. O bicho tá pegando na justiça porque uma empresa de TI, chamada Cisco, já detém a marca e inclusive já lançou o produto. No caso deles, o iPhone é um telefone que funciona pela internet. O presidente da Cisco afirma que a empresa possui essa marca desde 1996 e que a Apple tentou comprá-la, mas sem êxito. O imbróglio na justiça está apenas começando... Lembrando que não é o primeiro problema desse tipo que a empresa de computadores tem. Ano passado rolou aquele lance com a Apple dos Beatles... Pois é... Aguardemos.

10.1.07

Tipo mulher de malandro...

Enquanto o meu iPod pára de funcionar, me deixando na mão na hora de começar uma entrevista, tem gente querendo me convencer a entrar nessa nova onda...


E o pior é que é capaz de eu entrar...

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Detalhe: as ações da Apple já subiram 5% por causa disso. Tá cheio de mulher de malandro por aí...

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Resenhas minhas sobre a primeira semana do Humaitá Pra Peixe estão disponíveis no site do festival.

8.1.07

Mudanças

E então começaram algumas das muitas novidades que vão rolar por aqui esse ano. Entre outras coisas, estamos preparando um novo layout, uma nova organização, além de novas atividades. Quem costuma cair por aqui, já está notando alguma coisa diferente, né.

As mudanças serão gradativas. Pode ser que fique tudo um pouco esquisito nesse início, pois é uma fase de testes. Em breve, a cara nova do SOBREMUSICA vai estar pronta. Por favor, não estranhem se, nos próximos dias/semanas, eventualmente vocês entrarem aqui e encontrarem algo que não está no seu lugar. O conteúdo vai continuar sendo atualizado com a mesma freqüência. Isso não muda.

Vamo que vamo!

Rockz no Humaitá Pra Peixe

Escola de Rock
       A apresentação do Rockz foi um baque de efeito rápido. Formado por figuras manjadas do underground carioca, a banda traz da década de 70 um stoner rock que é contemporâneo na medida em que dialoga com Strokes, Jet, the Fratellis... Para um público de colégio, ali por causa da outra banda da noite, o Scracho, foi um pouco como uma demonstração do que é a história do rock, em um capítulo essencial.


      A camiseta de Diogo, o vocalista, indicava só um pedaço do que viria adiante. A pomba sentada no braço da guitarra, o símbolo do Woodstock. Paz podia até ser a mensagem, mas o som era forte, violento. Os ataques na guitarra, tanto a de Nobru (ex-Cabeça) quanto a de Muzak (ex-Funk Fuckers e atual Seletores de Frequencia, fora um bom disco solo), são marciais, robóticos, duros. Para balancear, a bateria punk-funk de outro ex-Cabeça, e ex-Planet também, Pedro.


      Mas a lição principal dos professores, para além dos bem estudados arpejos, e para além da pegada punk com suingue da cozinha, é a das danças e olhares vidrados de Diogo. Em danças que misturam Mick Jagger e Pete Townshend com Johnny Rotten, ele se sobrepõe aos acordes esganiçados da dupla de guitarras e ao clima meio sombrio das letras com algo de Velvet Underground para ensinar como se deve sentir aquele som. Histórias de desencontros no amor, sexo e tédio são o motor que só funciona porque a faísca de Diogo ativa cada uma das outras seções da banda. Anotaram meninos?


       Uma pergunta que não sai da cabeça é porque esses caras de tanta estrada no mundo alternativo resolveram deixar de lado os caminhos do punk experimental, do dub com hardcore e do funk pesado para um projeto alinhado com a produção contemporânea de rock no mundo, a que mais aparece nas revistas e sites especializados. Vem dando certo, ótimo, mas o que mudou nessas cabeças? Seja o que for, para a garotada, muitos acompanhados pelos pais, foi uma demonstração do que é o roquenrou.


      Um porém foi que o show pareceu esfriar na metade. Começou muito bem, piorou e melhorou para terminar bem, apenas bem. Mas, para fazer uma comparação, é mais atual do que o rock glam/Legião do Cabaret, por exemplo. Aguardemos os próximos passos. E que fique claro, no fim das contas, ainda assim, é bem divertido.

7.1.07

Ordinário Groove Combo no HPP

Esfumaçando definições


      O jazz CEP 20 mil do Binário se encontrou com o rap Lapa do Inumanos e de Iky, e o resultado deixou um Sérgio Porto (não à toa, a casa do CEP) primeiro compenetrado até que a contenção virou recompensa. Aplausos e pedidos de ‘mais um’ foram um prêmio justo para um projeto essencialmente de experimentação e encontro. Rap com jazz, e o que mais a maresia das praias ensolaradas empurrar para dentro. Bonito...
      O Jazzmatazz do rapper Guru é a referência mais emblemática para as fusões entre os dois gêneros. Embora desde as primeiras experiências de hip hop, no Bronx dos fins da década de 70, o jazz estivesse presente nas colagens de bases – ao lado do funk de James Brown -, foi com as sessões de Guru, que começaram em 93, que o diálogo entre duas das mais importantes formas de expressão negra dos Estados Unidos se consolidou. Foi então que o acid jazz de fins da década de 80 e álbuns como Future Shock, de Herbie Hancock, e Doo Bop, de Miles Davis, deram o impulso para algo mais.
      Guru reuniu músicos de jazz de diferentes gerações com rappers alternativos, entre eles um ascendente MC Solaar francês, para experimentar melodias, improvisos, bases harmônicas e mixagens em live p.a. Queriam descobrir o que de novo poderia surgir dali. Solos de sax conversaram com scratches, e um mc quase sempre comandava o discurso. O rap das ruas entrava nos pequenos clubes de jazz de ruas estreitas.



      Pois o dia 6 de janeiro de 2007 marcou algo do gênero com a apresentação do Ordinário Groove Combo no Humaitá. Não que fosse a primeira vez, mas o peso simbólico do festival e a indumentária dos presentes no palco deu um caráter solene à reunião. Iky e Aori comandavam a sessão explicando um pouco o que era o projeto, e enfileirando composições mais cool, serenas, confiantes. O baixo cada vez mais classudo de Bruno envolve os ouvidos com Coltrane, Tortoise, e até um Jamil Joanes mais tropical, via Black Rio. Uma linha evolutiva quebrada como um walking bass, sem sair dos compassos não menos quebrados de Bernardo Palmeira, na bateria ora drum’n’bass ora acid. Sem perder um calor de praia que pode ser funk e pode ser, de novo, um Tortoise mais nervoso.
      Na guitarra, a elegância zona sul das bossas e cool jazzes de Fabinho. E o piano de Lucas, que pouco pôde-se ouvir, é um colorido harmônico que preenche respirações e silêncios no som.


      Com quatro integrantes do Binário fazendo ali na hora, contentes e inabaláveis, Iky acabou dominando a cena mais do que Aori. Indo para a frente do palco, ele rimava e contava histórias buscando a resposta do público. Aori, parecendo mais tímido, ficava mais em segundo plano, com um olhar sem foco certo, coadjuvante. Ainda assim, juntos, completando um as narrativas do outro, fizeram da apresentação algo a se prestar atenção em próximas oportunidades. Quem gostar de experimentar que se apresente. A resposta pode ser a boa e velha diversão que a gente já conhece.

6.1.07

Show :: Cidade Negra

foto: Bruno Maia

O Cidade Negra é uma banda esquisita. Conforme o tempo passa, mais ela tem dificuldade em renovar o próprio repertório. Conforme o tempo passa, mais pessoas tratam com desdém a obra do grupo como se não representassem nada significativo na música brasileira. Quanto mais o tempo passa, menos pessoas se interessam. Quanto mais o tempo passa, mais irregulares ficam os discos da banda. E quanto mais o tempo passa, mais interessante ficam os shows da banda.

Quem leu por aqui a “saga” de Nélson Meirelles, talvez já tenha redimensionado um pouco da importância que o grupo teve e que, mais, a ascensão do grupo ao mainstream teve para a cultura musical-pop brasileira. Depois do encontro, Nélson me passou muito material sobre o início da carreira da banda. Apresentações no "Xou da Xuxa" – com o Sérgio Mallandro apresentando, durante as férias dela, e pedindo para o (Rás) Bernardo dar ‘um beijinho na trombinha do elefante’ que ele ostentava no chapéu –, artigos de jornal e até a primeira gravação que ele fez com a banda, lá pelos idos de 1987. Na própria conversa com o Nélson, eu disse que a sonoridade do primeiro disco do grupo sempre me pareceu muito amadora, crua. E o Nélson rebateu: “... o que pancou foi ver os caras, o visual, os shows, porque ali, até por inexperiência minha, era difícil transpor toda a força do reggae pra um disco”. Ok. Ver, eu continuei sem poder ver. Mas ouvir, o Nélson me permitiu. O som cru era realmente tosco, mas já trazia qualquer coisa de novo ar ali, sim. Sobretudo pelo baixo melódico e pesado de Bino, o mais novo e mais interessante musicalmente.

O primeiro show que me recordo de ter visto do Cidade Negra já foi em 2004, na turnê “Perto de Deus”. Tinha gostado da banda quando eles lançaram “A sombra da maldade” e eu estava começando a comprar CDs, do alto dos meus 12, 13 anos. Este show de 2004 foi surpreendentemente positivo. Já não curtia tanto os álbuns, mas saí de lá surpreso de ver como a banda funcionava muito bem ao vivo, já num grau bem a frente do que traziam no disco da época. Ainda não ouvi “Direto”, mas admito que a música de trabalho “O paraíso tem um tempo bom” e o conceito de um ao vivo, misturado com umas coisinhas novas, me deu muita preguiça. O repertório de uma banda pop, como eles, depende de hits. E esse primeiro single me fez sentir que o repertório continuava precisando de uma renovada à altura do que o grupo já fez.

Apesar dessa impressão, ao ver o show que ontem passou pelo “Oi Noites Cariocas”, mais uma vez pensei: “Mas que banda estranha!”. Ajudados por um som de ótima qualidade, com pressão, o grupo deitou e rolou. O baixo de Bino continua avacalhando a tudo e a todos. O show do Cidade Negra mostra uma banda muito mais renovada do que os discos do grupo. Em 1999, eles chegaram a lançar o disco “Dubs”, mas é de fato agora que eles estão achando um bom formato nessa área. As timbragens mudaram muito ao longo do tempo, se atualizando. A banda encontrou uma forma de fazer uns dubs-pops, que duram entre 3 e 5 minutos e funcionam de uma maneira particular. Eles não deixam de ser pops, fáceis de ouvir, mas também conseguem jogar informação fresca ali.

A apresentação começa com “A flecha e o vulcão”, música do disco “Enquanto o mundo gira” (2000). A diferença da timbragem nas guitarras e das bases já marcam presença de cara. No show, o som do CN é muito mais ‘líquido’ do que nos discos. Mas muuuito mais. E não é questão de pressão amplificadora não. A segunda é “Já foi”, do álbum “Quanto mais curtido, melhor” (1998), seguida por “Negro Rei”, música do disco novo e cuja letra remete ao primeiro álbum do grupo.

Depois da seção ‘Lulu Santos’, o grupo esquenta a platéia com uma versão pesadíssima de “Pensamento”. Bino ataca o baixo de um jeito impressionante. Com intervalo menor entre as notas, ele parece martelar a base. Genial, nervoso mesmo. Em “Doutor”, Bino ‘abandona’ o baixo e vai tocar um tecladinho, que de longe parecia ser um teclado midi. De lá, ele toca os baixos da música sem perder tanta pressão quanto se poderia supor pela ausência das cordas. O artifício ainda é usado em “Hoje” e “A estrada”.

É fato que o Cidade Negra ainda comete uns deslizes no show, como por exemplo a música “B Boys”. A temática era tão forçada que antes de tocá-la, Toni queria dedicar a música aos skatistas que estavam ali. Quase ninguém respondeu. Tentando consertar, ele dedicou aos grafiteiros. Também quase ninguém. Silêncio. Tentando fazer o remendo ele emendou dedicatórias a quem tinha cabelo black-power (?), dreadlocks... E quase ninguém respondeu de novo. A coisa só funcionou quando ele mencionou os surfistas... Durante a música, dois B Boys entram no palco pra se apresentar, mas o que sobra de generosidade, ao se abrir o espaço para eles, falta em pertinência. O número fica esquisito, torto, o palco é pequeno, quando a perna do menino gira, quase acerta o teclado-midi de Bino...

Mas logo eles consertam isso mandando “Sombra da Maldade” e “Downtown”. Especialmente “Downtown” ganha uma versão muito interessante. Dub fortíssimo, cheio de climas, emendando num medley, nem tão interessante, com “Liberdade pra dentro da cabeça”, do Natiruts e “Go Back”, dos Titãs. Em seguida, um outro ótimo dub, pena que tenha sido desperdiçado ao ser posto para vestir “O tempo não pára”. Nada contra a pérola da obra de Cazuza, mas é só que, nela, a letra é muito ligada ao andamento reto e ligeiramente pra frente que a versão original apresenta. Os retardos e climas da versão do Cidade Negra atravessam isso. No refrão, a música vira um rock, que funciona melhor, ainda que seja estranho ouvir o Cidade Negra roqueiro.

Outros pequenos equívocos foram as participações de uma artista plástica mineira e da cantora Alegria. A primeira estava vestida de elefante hindu representando coisas boas, segundo a explicação de Toni. Bom saber, porque pra mim tinha parecido um boneco Clóvis tosco, com uma tromba, e que não fazia muito sentido. A segunda não justificou o espaço que lhe foi oferecido. Muita generosidade por pouco.

Na reta final, o show caminha por sucessos como “Girassol”, “O Erê”, “Aonde você mora”, “Firmamento” e termina na consagradíssima e carioquíssima e verãozíssima, “Solteiro no Rio de Janeiro”. Apesar de ter sido gravada originalmente só por Toni Garrido, ela já foi totalmente incorporada ao repertório do Cidade Negra.

Foram duas horas e meia de um show muito interessante, pra frente, cheio de pressão de uma boa banda de reggae, mais moderna do que muitas vezes parece.

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Vale a pena citar o guitarrista Sérgio Yasbek. É ele quem comanda de fato as guitarras do grupo. Da Gama fica marcando as bases enquanto os solos e floreios vêm das mãos de Yasbek. No final, pela primeira vez a generosidade da banda funciona, quando Toni oferece o microfone para ele cantar “Stir it up”.

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ficha técnica
Cidade Negra
Turnê "Direto"
Rio de Janeiro, 5 de janeiro de 2007
Oi Noites Cariocas - Pão de Açucar


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