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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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30.5.07

Entrevista: CEO's do Last.FM (Martin Stiksel e Felix Miller) * parte 1

Foi anunciado mais uma grande compra nesse segundo boom da internet. A bola da vez é a Last.FM, comprada pela CBS. Depois das negociações da Google na compra do YouTube por US$1,7 bi, a bagatela de US$280 milhões parece até uma ninharia. Mas certamente não é, ainda mais se diferenciarmos que o Last.FM já tem um modelo de negócio mais encaminhado, que respeita direitos autorais e tal..., ao contrário do YT.

No meio de abril, entrevistei por e-mail os CEO's do Last.FM, Martin Stiksel e Felix Miller. Além de comandarem a empresa, que funciona humildemente com uma equipe de 20 e poucas pessoas num prédio comercial em Londres, eles são os criadores da coisa toda, junto com Richard Jones, o terceiro sócio. Quer dizer, ex-sócio, porque agora pertence tudo à CBS. A promessa é de que a lógica do negócio, a equipe e a identidade visual serão mantidas. Na época, eu não estava convicto de que fosse momento para publicá-la. Ficou engavetada aqui, mas diante das notícias de hoje, dei uma arrumada na casa e trouxe o papo pra cá.

Apesar das respostas curtas, foram muitas perguntas. Por isso, vou colocar em duas partes. A segunda não deve tardar. Ainda essa semana pinta aqui.

(por Bruno Maia)

:: Você costumava tocar em bandas punks, que nunca tiveram um grande sucesso popular. Viver de música era um sonho que você sempre teve? E comandar a Last.Fm hoje em dia preenche esse sonho ou você é mesmo um músico frustrado?

Martin Stiksel: Nós, primeiramente e mais do que tudo, somos fãs de música. Então é incrível poder dar algo de volta aos artistas e aos selos/gravadoras com os quais trabalhamos e poder ajudar outros fãs de música a encontrarem algo excitante.

:: Pra você, qual é o principal ponto do negócio Last.FM?

MS: Mudar a forma como as pessoas encontram e consomem música pra sempre.

:: A parceria de vocês com o Pandora para a criação do Pandora.FM é a evidência de uma visão diferente de mercado, que vê os outros atores como aliados, mais do que como concorrentes que devam ser eliminados. É por aí mesmo? Por que uma parceria com o Pandora?

MS: O Pandora é apenas uma rádio de recomendações. Nós fazemos muitas outras coisas. Somos uma rede de relacionamentos sociais, um catálogo de músicas, recomendadores de shows, então, não estamos numa competição com eles.

:: Richard Jones, o outro sócio, não era propriamente um amigo de vocês quando desenvolveu o plug-in AudioScrobbler, ainda na universidade. Como vocês chegaram até ele? Você estavam procurando ou simplesmente aconteceu por acaso?

Felix Miller: Nós lemos sobre ele no jornal e percebemos que estávamos em busca das mesmas coisas…

:: Vocês ainda procuram novas idéias nas universidades ou isso não é mais necessário?

MS: Richard é uma excessão. ;) Um em um milhão.

:: Como o serviço de vocês mudou desde a primeira versão até o dia de hoje?

MS: O Last.FM mudou radicalmente. Cresceu muito, tanto em objetivos como em visão, por mais de quarto anos...

:: Quantos usuários estão inscritos no service atualmente?

MS: Atualmente nós temos mais de 20 milhões de visitas únicas por mês

:: Não é muito comum encontrarmos um grande negócio mundial na Internet que não esteja baseado no Vale do Silício. Como é trabalhar em um negócio on-line na Inglaterra? O mercado tecnológico é suficientemente forte?

FM: Londres é o melhor lugar pra se fazer qualquer coisa com música. É a milhas e milhas dos Estados Unidos! E a cena “tech” é bem saudável por aqui também...

:: Como funciona o sistema de mapeamento das preferências de cada usuário? Quais são as principais informações usadas pelo sistema de recomendação de vocês?

MS: O sistema é dirigido pelo usuário. São mais de 500 milhões de vezes por mês que os nossos usuários nos dizem que música eles estão escutando e nós baseamos toda a recomendação num dispositivo que contabiliza essas informações.: pessoas que escutaram esse artista e também aquele outro...

:: Como a maioria dos negócios na internet, no começo vocês precisaram de injeção de capital de fundo de investimentos. Já se trata de um negócio lucrative ou ainda não?

MS: Nós começamos sem dinheiro absolutamente nenhum e conseguimos 1 milhão de usuários. Só aí é que tivemos aporte desse capital para aumentar a escala do negócio. Sobre lucros, não irei comentar.

:: Como é a relação de vocês com as grandes gravadoras?

MS: Nós acabamos de fechar uma parceria com a EMI e a Warner Music. Todas as músicas delas estão disponíveis para audição no Last.FM.

:: Sobre o Tuneglue. Você pode explicar essa parceria com a EMI e Amazon? É um projeto pioneiro com essas características, não é? Como ele funciona.

MS: Tuneglue é um exemplo do poder dos dados de recomendação do Last.fm. Você pode explorar informações dos artistas, começando de um que você conheça e o Tuneglue te apresenta outros similares... E assim as descobertas se seguem…

[n.e: Explicando um pouco mais, o Tuneglue é um projeto da EMI que utiliza as informações do banco de dados do Last.FM para que o usuário navegue por informações dos mais diversos artistas, inclusive os não-EMI. A diferença é que para os seus músicos, as informações são mais completas e direcionadas para o consumo de produtos via Amazon]

29.5.07

A importância do coletivo

Uma questão que há muito tempo aflige o rock carioca é a falta de uma cena. Ok, bandas temos aos montes, lugares para shows se inventam, a criatividade da rapaziada é grande, mas já faz algum tempo que as bandas não constroem uma identidade local forte o suficiente para que a cidade as abrace como suas representantes. Mais do que se falar em diversidade, a questão principal no Rio ainda parece ser a eterna consciência de que, sim, é possível ser the next big thing.

A Globo está aqui, grandes jornais estão aqui, as curiosidades do país se voltam para cá, os grandes hitmakers passaram por aqui, as sedes das gravadoras majors estão aqui. Sempre há a possibilidade de alguém te descobrir a qualquer momento e isso torna as bandas mais pretensiosas, com toda razão. Não há mal nenhum em querer fazer sucesso, acontecer, ser descoberto e amplificar o potencial de alcance da sua obra. Mas enquanto o resto do Brasil vai se conscientizando da importância do mercado médio, de transitar num espectro que não é dos milhões, os cariocas parecem ainda não lidar tão tranqüilamente com isso.

Não se percebe uma cena de bandas articulada na cidade. Sim, há muita gente boa fazendo seu caminho. Mas é cada um na sua e salve-se quem puder. A última vez que se criou uma "cena" de grupos foi com a “Geração Sarau”, capitaneada por ForFun e Dibob. Mais do que valorizar a (pouca) qualidade artística das bandas em questão, fato é que elas conseguiram aglutinar pessoas e lugares em torno umas das outras. O público do grupo "x" tinha a chance de conhecer o grupo "y"e, assim, passava a gostar das duas. Isso se estendeu a algumas outras bandas e todo mundo se deu bem com a história. Até que o Dibob assinou, o ForFun assinou, ambas tentaram ganhar o país e todo mundo ficou no meio do caminho. Ademais, as grandes bandas da cidade não criam uma identificação entre si. Moptop, Canastra, Nervoso, Rockz, Reverse, Los Hermanos, Autoramas, Cabaret, Lasciva Lula, Rio Maracatu, Inumanos,... Gente não falta. Mas parece que cada um segue no seu caminho, remando sozinho, rumo ao limbo. O combo Binário/Ordinário ainda se salva por nadar em praias mais diversas e livres. O samba também parece contrariar essa "lógica" – Casuarina, Galocantô, Anjos da Lua, Orquestra Republicana, etc, formam uma cena de mais trocas, mais generosidade, e o resultado é perceptível nas casas sempre cheias.

Essa falta de troca da "galera do rock" é pontuada por alguns parcos momentos, como a recente temporada realizada no Cinemathèque, que permitiu a algumas bandas fazerem participações nas apresentações das outras. Mas ainda parece ser pouco. Tá todo mundo junto, mas falta misturar.

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Recife é o oposto disso. Lá, tudo se mistura intensamente e as possibilidades artísticas acabam soando sempre mais ricas. Cada músico tem 50 bandas, projetos, necessidades e funções. Um bom representante da gréia pernambucana é Marcelo Campello, do Mombojó. O rapaz se apresenta amanhã, na Casa da Gávea, com um trabalho totalmente diferente do que constrói com sua banda. Dá pra sacar qual é no MySpace.

Ele falou, por e-mail, sobre isso.

sm :: Qual é a onda do seu trabalho solo?
Marcelo Campello: São minhas composições para violão de sete cordas entre 2002 e 2006, três séries de pequenas peças (35 ao todo) chamadas “Sonhos”, “Soturnos” e “Projeções”.

:: Você é um estudioso, um acadêmico da música, e também tem uma banda que usa muito da linguagem pop. Esse trabalho solo é um "escape" para as idéias mais "complexas" que não se resolvem dentro do Mombojó?

MC: Estudioso, sim, acadêmico nunca me considerei. Gosto de manter a música num plano sentimental, quando a academia praticamente exuma crianças em praça pública. Tem qualquer coisa na poesia que não pode ser apropriada assim... Quanto à outra questão, eu não pensaria em termos de complexidade, mas de função - a grosso modo, Mombojó é pra agitar e “Projeções” é pra acalmar.

30.05.07
Casa da Gávea
Pça Santos Dumont, 166
21hs - R$10

28.5.07

Beastie Boys: Mais Música Nova

Na Expectativa



      Enquanto o disco não é lançado ou vaza, ficamos com as atualizações no youtube feitas pelo perfil beastieplaza. Agora, foi a vez de uma música não creditada na lista já divulgada do disco The Mix-Up. E, bem, ela é cantada. Qualquer pista, tamos aí. Pode ser que seja um cover para virar lado b de ssingle, ou qualquer outra coisa. O que tá rolando também é uma entrevista com Mike D, em inglês, onde ele sugere formas de aproveitar o disco e cita Public Image Ltd., Gang of Four, the Slits e Killing Joke como referências.

01 B for My Name
02 14th St. Break
03 Suco de Tangerina
04 The Gala Event
05 Electric Worm
06 Freaky Hijiki
07 Off the Grid
08 The Rat Cage
09 The Melee
10 Dramastically Different
11 The Cousin of Death
12 The Kangaroo Rat

      E essa daqui, a faixa 8, eu já tinha incluído no comentário do post ali de baixo.



      E tem essa musiquinha aqui, Now Get Busy, toda licenciada em creative commons, com samples de outras obras em cc. Acho que foi bônus do To The 5 Boroughs, mas fez parte de uma coletânea da Wired em que também constavam músicas de Gilberto Gil, dj Dolores, Rapture e Davis Byrne.

25.5.07

Acontecerá :: PHUNK DELUXE


Seguindo na idéia de conversar com as pessoas que preparam coisas bacanas na cidade, a bola quica para Emílio Domingos (DJ Saens Peña) e Fred Coelho (DJ Artur Miró). Além de muitas outras funções, os caras estão no time que comanda a festa PHUNK. Nesse sábado, a Fundição Progresso vai receber mais uma edição especial (Deluxe, como eles batizam), com a presença do paulistanos do Mamelo Sound System. Então, abrimos o canal com os caras (separadamente e via e-mail) e pedimos pra que eles mesmo expliquem um pouco da onda em que surfam.

(por Bruno Maia e Bernardo Mortimer)


sm: Pensando-se na idéia de construção de cena, no Rio de Janeiro, a festa tem um papel importante que não é exatamente o de servir de palco para artistas. Como você vê a Phunk para as movimentações do hip hop rio e do charm, por exemplo? É ponto de encontro, é lugar de troca de referências musicais, é o que...?

fotos: Joca Vidal

Saens Peña: Vejo a Phunk como lugar de encontro para as pessoas que gostam de música. Nunca estivemos muito preocupados com as classificações. Acho esse tipo de espaço importante. A cidade já vive muito cercada de classificações/divisões. Acredito que numa pista de dança a pessoa perde todas essas referências. Acho o público da festa bem diversificado. E o som também. Temos uma preocupação em deixar as pessoas dançando. Nosso compromisso é com o groove, esteja ele num samba do Ismael Silva ou num beat do LCD soundsystem. Acho que o fato da festa ter esse nome faz com que as pessoas associem diretamente à black music mas, na minha opinião, atingimos outras fronteiras. O caso é que não gostamos de estar presos à rótulos. Conseguir atingir o jovem urbano que gosta de música é o nosso objetivo.



Artur Miró: A Phunk é feita por uma galera que, antes de fazer ou tocar em festas, teve bandas juntos e viveu - ou vive até hoje, caso do Vj SImpla, que tem a banda Filme - o mundo da música carioca. Ao iniciarmos a festa, sempre tivemos a idéia de ter um MC, alguém que comandasse a pista de dança, no estilo old school. E coincidentemente, a Phunk é contemporânea de um período de crescimento do Rap carioca, logo após o fim da saudosa Zoeira, produzida pela Elza Cohen. A partir da residência da festa no Cine-Buraco, em 2004, começamos a convidar djs e atrações para a festa, geralmente ligadas ao hip-hop. Don Negrone era nosso MC e com a entrada do Pedrão Selector no trompete (outro velho amigo de bandas nos anos 90), o formato de festa com performace ao vivo fechou. Chamamos algumas pessoas nessa época, fizemos batalhas de Mcs, os B-Boys e a rapaziada do grafite começaram a marcar ponto e aí a festa foi ganhando um clima de encontro da galera ligada ao Hip Hop carioca. O Emílio (Dj Saens Peña) também é um cara ligado ao Hip Hop do Rio, conhece todos, já dirigiu um documentário sobre o tema e está realizando outro... Passando para o Bola Preta em 2005, ganhamos um palco, um espaço, que dava para convidar as pessoas, criar um esquema melhor de apresentação, e foi o que aconteceu. Assim, já passaram pela festa Aori, Babão, Marechal, Biguli, B Negão, Max B.O., Black Alien, MC Funnk, Apavoramento Sound System, Marcelinho da Lua, Dj Castro, Urcasônica, Digital Dubs, Nepal e muitos outros.

Acho que a contribuição da Phunk para a cena musical carioca é ter se tornado um espaço não só de apresentação de Mcs, Djs e equipes, como um ponto de encontro dos que fazem música. E aí acho que é o clima de encontro e o som que rola na festa que reúne a todos. O rap, o ragga, o funk, o samba-rock, o soul, as misturas sonoras de Fela Kuti a Timbaland... Todos acabam se identificando com algumas das músicas que rolam lá. Há uma galera do meio musical carioca que vai lá trocar idéia, ouvir um som, dar uma canja, um confere... É uma festa também que toca o som da rapaziada de agora, tendo uma relação direta com as bandas e produtores locais. Tocamos as músicas do Digital Dubs, de B Negão e Seletores, do Turbo Trio, dos Inumanos, Black Alien... A festa é parte dessa cena.

sm: Ao mesmo tempo, essa parceria com os artistas sempre existiu. No próximosábado será a vez do Mamelo Sound System (SP). Como se dá a escolha desses convidados e de que forma essas apresentações entram no conceito da festa?

Saens Peña: Existe muita música boa sendo feita na cidade e no país. Acho que a festa tem um papel de difundir isso, de ser um canal pra isso. Sempre convidamos pessoas com quem temos afinidades e que estão desenvolvendo um trabalho que admiramos. É o caso do BNegão, Black Alien, Marcelinho da Lua, Marechal, Digital Dubs, Grand Master Raphael, Aori, Max BO, etc... Essas pessoas não costumam ter o seu trabalho tocado no rádio. Admiramos o trabalho do Mamelo. Acho o "Velha Guarda 22" (novo Cd do Mamelo) um dos 5 melhores cds produzidos aqui no ano passado. É motivo de orgulho servir de palco para essa galera.

Artur Miró: Como dito acima, após irmos para o Bola Preta, as apresentações volta e meia rolam na festa. Na Phunk Deluxe, que acontece de dois em dois meses na Fundição Progresso, temos justamente o conceito de fortalecer essas apresentações, agora com uma estrutura certa para um show de maior porte, e não apenas uma participação na festa, como acontece volta e meia no Bola Preta. A escolha dos convidados se dá pelo gosto em comum dos organizadores, que quase sempre converge, e pelo perfil da festa e dos freqüentadores, claro. Mas a idéia é sempre convidarmos o que está rolando "agora" na música brasileira. Como o conceito sonoro da festa, sempre olhando para frente, tocando o groove de todos os tempos, e incorporando as novidades e batidas que estão inventando a todo momento na música mundial.

sm: Na Fundição, vocês mudam o nome da festa para PHUNK DELUXE. Essaalteração é só pelo tamanho que a coisa toma ou de fato é um evento diferente?

Saens Peña: A festa na Fundição é a mesma. Somos 3 Djs (Eu, Artur Miró e Coisa Fina) com estilos diferentes e que se complementam, além dos 3 VJS (Simpla, Milena Sá e Timba). A diferença crucial é a possibilidade de levar um grupo para se apresentar. A estrutura de som e luz da Fundição é excelente pra isso. Então, além do som da festa temos também um show de qualidade. O espaço também é maior. Na primeira reunimos 1800 pessoas com direito à show do Black Alien, BNegão e Marcelinho da Lua. Temos muitos planos e idéias para o futuro, isso é só o começo.

Artur Miró: Bem o nome Deluxe é, principalmente, para diferenciar da festa no Bola e mostrar que é uma festa maior. Além do tamanho do evento (que, ao ocorrer na Fundição Progresso, aumenta em mil pesoas a capacidade de freqüentadores), há uma idéia de que a Deluxe seja um espaço em que a Phunk possa trazer bandas maiores e shows mais longos, como a apresentação de Gérson King Combo e Supergroove na primeira versão (ainda no Circo Voador), Black Alien e Da Lua na segunda versão e agora o Mamelo Sound System lançando seu disco novo, que todos da festa são fãs. Assim, na Deluxe, podemos expandir a festa, trazendo convidados de outros estados, etc. Aí, voltamos para a primeira pergunta, porque trazendo essa galera, estamos ampliando os laços musicais das cenas.

23.5.07

Acontecerá :: Calzone


:: Filosoficamente, o que é Calzone?

Pedro Seiler: Calzone é uma oportunidade de amigos e amigos de amigos se encontrarem, de uma forma descontraída, bem humorada para se divertir e causar. E como num Calzone, você nunca sabe o que vai encontrar...

:: São cinco DJs e dois VJs. Há alguma ligação estética entre vocês ou a coisa é mesmo uma panela de amigos querendo cozinhar?

PS: - Já fomos nomeados de " A nova Tropicália" e de " O futuro" . Mas apenas queremos diversão e ver as pessoas causando. A nossa relação é de amizade e de causação. E é uma honra fazer parte do Team Calzone Equipe Crew Sistema de Som junto com esses outros Calzones.

:: Essa é a segunda edição da festa. O que aconteceu de bom na primeira que estimulou vocês a fazerem de novo?

PS: - Na verdade sua pergunta deveria ser "O que não aconteceu na primeira..." Quem foi foi, quem não foi...

:: João Brasil é o primeiro artista a se apresentar na Calzone. Ele é o ícone do movimento?

PS: - Ah, João Brasil... O homem, o mito, a lenda... Além de ser um dos calzones fundadores desse que talvez seja um movimento de libertação do tédio noturno, ele incorpora o espírito calzone em suas letras e perfomances. Aguardamos mais um show épico dele na quinta feira.

:: Quais são as "dicas úteis" para quem pretende a ir ao Calzone Palace?

PS: - Deixar o espírito calzone baixar sem medo, causar muito, não chegar muito tarde, passar protetor solar, tomar vitamina c, e se quiser jantar teremos serviços de primeira, incluindo picanha.

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24 de maio (quinta), 22hs
Calzone Palace (Rua Sorocaba, 585 - Botafogo)
R$ 10 (mandando e-mail para cheguecalzone@gmail.com ou imprimindo a filipeta), R$ 20 (inteira)

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E mais uma dica útil é sair de casa antes 22hs pra dar tempo de tirar dinheiro no banco. A Calzone Palace não aceita nenhum tipo de cartão (nem crédito, nem débito). Ou então, finja que esqueceu e dá calote.

21.5.07

CD Zero

Uma boa iniciativa da SonyBMG. Mas por que demorou tanto tempo pra se enxergar coisa tão evidente?

Beastie Boys: Música Nova

Só Instrumentos



       A data de lançamento é o 26 de junho, mas já dá pra ver que a bateria vai ter muito reverb e pratos pesados. Os grooves serão apoiados em loops, tecladinhos vintage de Money Mark. A guitarra dedilhada que me fez lembrar de um Stanley Jordan sossegado se reveza com uma um pouco mais hard rock anos 90, meio Sabotage. A, e várias percussões com sabores globais (ui). Tudo instrumental, nada programado, o sétimo disco dos proclamados "filhos preferidos de NYC" é o primeiro de material inédito sem uma única palavra pronunciada, e vem três anos depois do último do Beastie Boys, To the 5 Boroughs. A curiosidade está no ar.

16.5.07

Show :: Casuarina e Mart'nália

Se fosse em outros tempos, um artista novo chegar a fazer uma apresentação no histórico palco do Canecão seria visto como um marco na carreira, um divisor de águas. O que dizer então se as filas na bilheteria fossem imensas, se a casa lotasse... Consagração. Manchetes. Nesses outros tempos, só de o Caetano cantar uma música do Barão Vermelho em uma noite no Canecão, no dia seguinte todos queriam saber quem era Cazuza. Em outros tempos, Elymar Santos surgiu para o mercado depois de alugar a casa com o próprio dinheiro e fazer uma apresentação de sucesso. Outros tempos.

Na noite de terça-feira, Casuarina e Mart'nália repetiram o feito de estrear bonito. Muitos apostavam em uma casa meia-bomba, afinal o Casuarina toca toda hora pela cidade e a Mart’nália não seria um headline de grande expressão pra bancar um Canecão. Ainda mais numa terça-feira. Burros n’água. E nada desse papo de que era só convidado vip. Do lado de fora, a fila que saía pela bilheteria já anunciava o que se veria lá dentro. Dessa vez, dá até pra (tentar) perdoar o atraso de 2h05 (!!!) entre o horário previsto e o início do primeiro show, já que o tamanho do público pode ter surpreendido até aos produtores.

O Casuarina abriu os trabalhos às 21h05, numa situação bem diferente do que se viu em dezembro na Baronneti. Com um palco profissa, luz bacana e som bom, eles mostraram que não há mais razões para se tratar a cena de samba carioca como algo “alternativo”. A incorporação de um trabalho autoral – que promete nortear o próximo CD – reforça a idéia de que o grupo pode ser mais do que apenas um resgate cultural, mas também uma renovação criativa que muito bem fará ao gênero. Os músicos começam a se sentir mais a vontade pra ousar, tanto que nesse show já se permitiram, alternadamente, se levantar das cadeiras e chegar mais perto do público. João Cavalcanti está a cada dia mais seguro na função de cantor. Mais do que uma voz privilegiada, ele é um dedicado cantor, com todos os méritos que esse adjetivo traz. João não se arrisca com a voz em lugares que ele não tenha convicção de que possa chegar, mas é notório que a cada show ele avança uma casa, atinge novas possibilidades e se torna melhor.

A banda nunca optou por nenhuma vertente específica. Eles vão desde os sambas-canção até o sambas-enredo com naturalidade. Mas por alguma razão são os que trazem arranjos mais “pra frente” que caem melhor na interpretação deles. Veja que não estou falando de “sambas alegres”ou “sambas tristes”, até porque não há como dizer que a versão de “Pranto de poeta” – que definitivamente não é “alegre” – não seja linda. Ou ainda, o mesmo pode ser dito sobre “Canto de Ossanha”.
Paula Abreu

Mesmo a pequena parte do público que não conhecia o Casuarina (especialmente os mais velhos) abraçou a banda. Nesse sentido, o resgate de clássicos ajuda a estreitar a relação dos artistas com a platéia e torna a presença do repertório inédito mais palatável. Do que eles estão guardando para o próximo disco, “Inconstante” já se destaca.

Mart’nália entrou em cena acompanhada de sua excelente banda. Destaque especial para o jovem quarteto de percussionistas, todos criados na quadra da Vila Isabel. No início da carreira solo, havia muita desconfiança em cima dela. Além de ser filha de Martinho da Vila, todo mundo era “padrinho” dela. O que inicialmente parecia um “nepotismo” vem se mostrando um acerto da mpbzada. A apresentação é calcada no mesmo repertório que se pode conferir no DVD e CD “Ao vivo em Berlim”. Naquela ocasião, ela abriu um show de Chico Buarque e foi o próprio Chico quem escolheu tocar com ela. A linda seqüência "Pra Mart'nália" / "Nas águas de Amaralina" abre o show, como uma espécie de mantra, de oração, de pedido de benção que sempre é atendido. O repertório vai correndo por Caetano Veloso, Arlindo Cruz, Djavan, Vinícius de Moraes, Adoniran, Luiz Melodia... Coisa fina.

"Cabide", a “música de trabalho”, é, por incrível que pareça, de Ana Carolina. O “por incrível que pareça” fica por conta da música ser ótima. Um samba lésbico que reina num universo historicamente machista, que tem uma divisão rítmica contagiante e que pega qualquer um pelo pé. Do ouvido ou do samba. Naturalmente foi a música mais cantada pela platéia, ainda que a grande maioria do repertório tenha sido fortemente acompanhada. Sem querer estabelecer comparações, mas nessa canção, por vezes, o timbre da voz de Mart’nália lembra o de Elza Soares.

No meio da apresentação, a cantora teve a participação especial do angolano Paulo Flores, que está no Rio produzindo um disco no estúdio de Chico Neves, com a produção de Jacques Morelembaum. Juntos cantaram duas músicas, entre elas “Zumbi”, de Jorge Ben, numa versão muito curiosa. A cadência mais lenta apoiada no baixo poderia ter virado um dub se jogassem uns efeitos por cima.

"Sem Compromisso", de Geraldo Pereira (e Nélson Trigueiro), é um samba que se perpetuou, desde os anos 40, pelas freqüentes interpretações de João Gilberto. De três anos pra cá, ela foi redescoberta por toda uma geração. Desde os desconhecidos do grupo Carnevalle, com sua pretensiosa versão ska, até a Orquestra Imperial, passando por muitos outros. Nesse meio tempo, Chico Buarque também resolveu cantá-la em seus shows. Foi justamente no bis da tal apresentação em Berlim, a primeira dessa nova turnê buarquiana, que ele convidou Mart’nália para dividir os vocais. Como foi o show dela que virou DVD – o dele está gravado, arquivado e pode ir pro mercado em algum momento –, o diretor Roberto Oliveira optou por usar o crédito ao contrário: “Mart’nália com a participação especial de Chico Buarque”. Daí, a música entrou também no repertório da carioca e ficou bem colocada, já na reta final da apresentação.

Paula Abreu
No fim, a cantora chamou os casuarinas pra voltarem ao palco e encerrarem a noite juntos. Mart’nália e sua banda se sentem especialmente à vontade quando o roteiro cai e a jam session vira lei. Coisa de quem veio das rodas de samba. “Na intimidade, meu preto”, o samba malandro de Nei Lopes (já gravado pelo Casuarina) abriu a bagunça, que seguiu pela homenagem à Vila Isabel, bairro e escola. “Valeu Zumbi (Quizomba – Festa da Raça)”, que embalou a vitória da G.R.E.S em 1988 acelera, atravessa, e dá a deixa pra pesada batucada final ser comandada por Cacique Cassiano, filho de Mug, mestre de bateria da Vila O ritual de saída do palco demora tanto que a galera, cansada, nem se arrisca a pedir bis. Saem todos ovacionados, mas já passa de meia-noite e a rapaziada tem que bater ponto cedo.

Uma noite de estréia no Canecão como poucos artistas conseguem ter, ainda mais nos dias de hoje, ainda mais numa terça-feira. Palmas pras duas bandas, palmas para os produtores, palmas para o que resta de esperança na renovação da cena carioca. A cumplicidade com que o público se aproximou dos artistas mostra que a cidade está viva e a história não parou. Talvez só nos demos conta de algumas coisas quando o tempo trouxer o distanciamento. Afinal, a nostalgia é amiga do “gosto popular” e é mais fácil lembrar com carinho dos “velhos tempos” do que olhar pra frente.

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Como a imprensa é um retrato fiel da sociedade em que ela está inserida, a nossa vai na mesma trilha. Não consegui perceber a presença de nenhum dos “grandes” cadernos de cultura da cidade. Enquanto isso, o Paulo Coelho anuncia que está apaixonado pela internet. O Stallone confessa que importou hormônios. O musical de “O senhor dos Anéis”chega ao West End. Atores posam pra fotos de divulgação e são expostos nas bancas como traficantes. E por aí as linhas da cultura seguem. Há ainda as que correm pelo Prêmio Tim, um dos poucos que tenta realmente fazer jus à real produção cultural do país, à margem das chamadas impressas ou digitadas.

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E assim, a noite de ontem passa ao largo, em branco, pra quem não esteve lá. Mas algo aconteceu e é bom que se saiba.

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Ainda não recebi todas as fotos do show. Assim que as novas chegarem, eu subo.

15.5.07

Entrevista: Lucas Santtana

É Preciso Dizer Que a Luta Ainda É Árdua




      A gente costuma discutir muito essa coisa de dar agenda aqui no sobremusica. Rolam dúvidas sobre essa atualização, a gente acha que nas nossas atribuladas e nada moles vidas não dá para garantir um serviço que abranja o que rola de legal mesmo, e tal. Apesar de ir seguindo, a dúvida fica: fazer incompleto e na medida do que dá, ou manter um critério de não anunciar nada com antecedência, a não ser que renda um texto, algo além do servicinho data/preço/o quê. Além do mais, a idéia aqui não é ser o lugar de ponto de encontro da galera, centralizar as atenções, transmitir tudo. O sobremusica é mais um "entre e fique à vontade" para quem tiver a fim de acompanhar pensamentos e experiências particulares com música, nesse início de milênio tão cheio de estradas abertas.
      Mas direto ao ponto: recebemos os dois um email na semana passada que começava assim "Ae rapaziada, nao vou fazer filipetas fisicas para o show". Era uma decisão curta, não necessariamente a primeira do tipo, mas uma mudança de percurso que indicava uma cabeça maquinando coisas e posturas. Taí. A cabeça de Lucas Santtana, um cara que já rondou por aqui mas nunca teve o devido espaço a ele dedicado. Portanto, de olho na idéia de ser um site tranx, aberto ao que há de bom, rolou a troca de emails rápida, fechando idéias Lucas-sobremusica que já vinham rolando em encontros pela cidade. Taí o que saiu da nossa correspondência breinstorme coletiva. E quinta à noite tem o som à vera.

sm: Blog, codinome, portal, selo... Que tipo de "frankstein" é o Diginóis e o que norteia cada passo desse ser?
LS: Acho que o diginois é isso tudo. Sintetizando, é onde concentro minhas atividades, não só meus discos mas tudo em que estou envolvido ou envolto. O que norteia é o que vai acontecendo tanto em relação aos trabalhos como em relação às novidades encontradas nesse novo hábito diário de se informar através da web 2.0. Como era antigamente ler um jornal impresso todo dia ou assistir o jornal das oito.

sm: Você é um artista muito envolvido na questão da eletrônica, da internet. Isso desde participações como instrumentista em discos como o Quanta, do Gilberto Gil, e o Afrociberdelia, do Chico e Nação, mas também no teu trabalho solo, como na música eu@.com.você ou ao se aproximar do funk carioca e do dub jamaicano, estilos essencialmente ligados à tecnologia. Como você vê o momento atual para a música, incluindo na resposta a questão da conectividade do brasileiro?
LS: O momento que estamos vivendo é tão importante que nem mesmo a gente se dá conta. Eu mesmo vivo reclamando que as coisas não avançam, mas é só pensar na internet 5 anos atrás que a gente percebe que ela está voando. Estamos vivendo uma revolução, sem exageros. Música e tecnologia na verdade sempre andaram juntas. É que a gente só associa tecnologia a máquinas modernas. Quando Bach fez o “ O Cravo bem temperado”, ele estava usando um novo sistema tecnológico para instaurar um novo sistema de temperamento. Logo depois veio o piano. Me sinto muito bem em estar sintonizado com as ferramentas disponíveis no meu tempo. Claro que ainda acho que muito pouca gente no Brasil está conectada, mas recentemente fui ao meu Candomblé lá na Bahia, do qual faço parte há 13 anos, e pela primeira vez se falou em internet, orkut, etc. Eles estão se conectando via lan houses. Então vamos torcer para que esse processo de inclusão digital se dê também de forma acelerada.

sm: E na tua carreira em específico? Você usa o selo do creative commons no teu site, abre músicas para remix, permite o download de faixas, e agora resolveu concentrar a divulgação em filipetas virtuais, na rede de contatos dos teus amigos e de amigos de amigos (pra usar termos internéticos). A internet já é um caminho efetivo para o artista ou ainda falta chão?
LS: Vamos ver quinta feira. hahahaha... Brincadeira. Já é um caminho efetivo sem dúvida. É que como disse o [artista plástico e chappa] Raul Mourão outro dia, “passar do vinil pro cd foi fácil. Passar do cd para o disco rígido ou ipodes é que é mais demorado”. Mas claro que daqui a pouco todo mundo vai ter computador e ipod como já tem dvd e cd player hoje. É uma mudança muito radical que vai precisar de um tempo para se consolidar. Tive uma experiência positiva com o diginois. O cd físico esgotou em 7 meses. Só tenho 60 cds em casa para usar com portifólio. Então o fato de disponibilizar de graça foi bom para vender o físico. Mas foram apenas 2 mil cópias. Os downloads de faixas do cd e abertas juntas já ultrapassou 10 mil. Não tem comparação. Então acho que é só pensar numa escala de tempo e conectividade para isso virar algo bem maior e mais viável para todo mundo. Mas também é preciso dizer que a luta ainda é árdua. Por isso a importância da construção dessa nova rede de amigos e amigos dos amigos.

sm: Ainda no teu site, tem lá o selo da Petrobras. O disco 3 sessions in a greenhouse foi gravado com dinheiro captado em edital cultural, e teve tiragem limitada já esgotada. Você acha que essa saída, de financiamento (público ou privado) feito por empresas que não são gravadoras pode ficar mais comum?
LS: Escrevi um texto que está no diginois e no overmundo sobre isso. Acho que já que a cultura tem sido subsidiada em todas as suas áreas, ela tem que ser paga na sua cadeia produtiva e depois circular gratuitamente. É dinheiro público. Se a lei fosse modificada e fosse obrigado a diversas empresas a abrirem seus editais, teríamos uma quantidade e variedade de curadorias maior, além de uma também maior descentralização de estados contemplados e isso geraria mais mercados independentes do eixo Rio-São Paulo.

sm: Na sua opinião, considerando os processos de flexibilizaçao dos direitos autorais, em cuja discussão você é figura ativa, o que a "seleção natural" (a que te acompanha ou a de Darwin) guarda para os compositores daqui pra frente? O cara que vive de renda por direito autoral já era?
LS: Meu caso é um exemplo enriquecedor. Sou filiado como compositor à BMG Publishing, uma major. Fui à sala do Presidente e conversando com ele mostrei que nós não ganhávamos nada com arrecadação via download pago. Mostrei também que com o creative commns poderiamos continuar garantido meus direitos autorais com execução em rádio, tv, cinema, etc e poderíamos ao mesmo tempo liberar na web. Claro que ele concordou. É simples. Se o SBT tocar quero ganhar, se um garoto em Boa Vista quiser baixar de uma lan house quero liberar. É justo e eu decido isso. Esse é o up-grade do creative commons. O que acontece é que as pessoas não sentam para conversar e ficam esses trogloditas de gravadoras querendo prender garoto que baixa música em casa. São uns idiotas completos e dessa maneira vão perder a batalha. Aliás já perderam.

sm: O que esperar de quinta à noite, no Cinemathèque?
LS: Uma noite de celebração desses novos tempos perguntados e respondidos aqui. Às vezes me lembro das pessoas que viveram os anos oitenta e que falam da efervescência da cena, que eles se sentiam participando de um momento único. Senti a mesma coisa no show do Fino Coletivo, na festa do Urbe, acho que está rolando isso de novo, só que agora rolam muitos estilos, o que unifica é o fato de ninguém mais estar fazendo filipetas físicas. Hahahahaha....Para mim vai ser um show siginificativo pois o Giló( baterista) está indo morar em Nova York e é o último show dele na Seleção Natural. Tocamos juntos há seis anos e é um cara que eu gosto e respeito muito!

14.5.07

Show :: João Brasil (Festa URBe 4 anos)

fotos: Joca Vidal
O mito surgiu de roupão. Na última quinta-feira, João Brasil fez sua estréia nos palcos. Vá lá que a Pista 3 não tinha exatamente um “palco”. Um canto espremido na pista de baixo escondia o teclado e o laptop. Nesse início de carreira, João foi acolhido pelo programa Mucho Macho, da MTV, e como retribuição resolveu adotar o figurino que Marcos Mion escolheu para esse novo momento televisivo.

A apresentação arrastou muita gente para a festa do URBe. Não há como negar que ele era o grande destaque da noite e isso foi comprovado pela pista abarrotada como não se viu em nenhuma das outras (boas) atrações. O buxixo em torno do rapaz veio crescendo desde o ano passado, quando “Baranga” chegou ao MySpace e ao playlist de muita gente. A principal questão que envolve João Brasil é quanto tempo a piada pode durar. Agüentar um show era um bom principio de resposta.

Levá-lo a sério não é um bom caminho pra quem for ouvi-lo. João se destaca pelo escracho bem pensado. Em uma recente entrevista (que em breve será publicada por aqui), ele afirmava encarar suas músicas com um olhar “publicitário”, como quem desenvolve um produto, um jingle, algo que tenha que comunicar idéias especificas. É assim que João acha o caminho nas suas letras. Algumas ficam mais na intenção, mas na maioria o “produto” sai valorizado.


A apresentação começou com a participação do elenco trash de Marcos Mion. João agradou ao “padrinho”. Corre risco de virar um novo Supla, no pior sentido do termo. Mas até aqui ele está se garantindo justamente porque não se leva a sério. Após tocar “Baranga” logo na abertura, ele contou a já folclórica história do “Pau molão”, seu apelido que já é visto como possível codinome. Depois ele enfileirou todas as faixas que o seu público já conhece pelo MySpace e ainda incluiu a inédita “Cobrinha Fanfarrona”, a parceria com De Leve “O que que nêgo quer” e o mais recente hit do YouTube, “Vai tomar no cu” (segundo uma pesquisa na web, esta música é originalmente parte da peça "Se piorar, estraga", da atriz Cris Nicolotti), que encantou João.

[[Sim, essa música é muito boa e poderia ter sido feita por ele. Isso deve servir de estímulo ao rapaz, tal qual o “Rubber soul” serviu a Brian Wilson para a criação de “Pet Sounds”. Ou seja, se prepare para a resposta de Mr. Brasil. ]]


Voltando ao show. As bases disparadas no computador funcionaram relativamente bem na maioria das músicas, mas não em todas. Sobretudo em “Mônica”, a harmonia ficou escondidinha, deixando a melodia “desprotegida”. Eu sei que esse é o tipo de observação que soa imbecil ao se escrever sobre um show de João Brasil, mas a idéia é ressaltar que tudo tende a melhorar. O próprio João demorou a se sentir seguro. Quando uma das bases demorou um pouquinho de nada a disparar, ele começou a “falar com a máquina”, tentando disfarçar a situação, que estava plenamente dentro do aceitável aos olhos do público. Serviu pra mostrar essa tal "insegurança".

Nada disso, porém, fez a apresentação ser menor. Antes do show, poderia se pensar que a galera escutaria “Baranga” e se daria por satisfeita. Mas João segurou bonito, mesmo tendo topado o risco de abrir a noite com seu grande hit. Mérito dele. A participação do rapper De Leve, que serviria para dar um gás ao show, nem teria sido necessária tal era a sintonia do crooner com a platéia. O próximo espetáculo não deve tardar. A previsão é de que seja no dia 24, na Festa Calzone, em algum lugar a se confirmar. Vale a pena acompanhar a trajetória do legítimo novo fenômeno pop do Brasil.


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Por fim, parabéns ao camarada Bruno Natal e ao URBe por esses 4 anos. Aniversário de amigos, gente super descontraída, resultado óbvio: golaço. Que venham muitos outros!

10.5.07

Entrevista: Pedrão Selector (2)

Pegar a Parada e Botar o Teu Processo Ali



      Dando prosseguimento à entrevista de Pedrão Selector, o trompetista fala um pouco de uma questão que supera música e internet. O tal custo-Brasil. O meio de divulgação do próprio trabalho está ao alcance no myspace, há um circuito de festas que ajuda a fechar as contas no fim do mês com a experiência de tocar com djs em live pa, e até excursão pela Europa ele coloca no currículo, pelo Seletores de Freqüência.
      Mas é justamente a comparação com a vida de lá, da Espanha mais precisamente, que põe as chamadas caraminholas na cabeça. Será que do outro lado do oceano, onde tem contatos abertos e mantidos, fica o caminho para uma vida de música mais tranqüila? Essa pergunta, ele é que faz. Para ser respondida sabe-se lá quando... Enquanto isso, tem a primeira parte da entrevista aqui, e umas historinhas de composição, criação artística, brasileirismos e estrangeirismos. Se diverte aí.

sm: Nas tuas duas páginas do myspace, você cai para outras ondas, outras experiências musicais. Conta aí.
PS: Há coisa de dois anos, eu finalmente montei um computador onde eu pudesse gravar minhas músicas em casa. Porque nesse tempo, na verdade, foi assim: eu tocava guitarra, compunha alguma coisa, tinha começado a tocar trompete, comecei a tocar música dos outros, e a parte de ser compositor, de ter alguma coisa minha, começou a ficar em segundo plano. Isso durante muitos anos. Aí, finalmente, saiu uma graninha e eu montei, botei os programas, papapá. E eu comecei a fazer as músicas minhas mesmo, voltar a fazer. Tocar guitarra... Mais agora em 2006 é que eu comecei a fechar as idéias. E aproveitando essa porra de myspace, eu falei: vou botar lá pra ver qual é. Mas enfim, ainda sem pretensão. Tá engatinhando, botei a poucos meses no ar. [sm: e é uma onda mais guitarra, né?] Mais rock, isso. Por enquanto, né? Rarrarrá.
E tem outro projeto, de dub, que também tá no myspace. É o monkeyz. É bom por causa disso, você pode fazer e botar no ar.

sm: E esse projeto, que é teu com um camarada, é o que?
PS: Cara, é uma viagem. Já rolou até show. A gente pega umas músicas conhecidas, já rolou de Mutantes, de Beatles, e transformamos em dub. E enlouquecemos, fazemos uma esquizofrenia, mas tamos querendo pegar sempre umas referências variadas, até porque muita gente ouve dub e não sabe direito o que é, bararã bararã. Todo mundo que faz dub no Brasil, faz muito à maneira jamaicana, sabe? Quer ser jamaicanista. A gente, não. Não é jamaicano, nunca vai ser, [sm: Mas como assim?] Cara, nêgo produz a parada da mesma forma que se produz na Jamaica, sabe qual é? Quer produzir da mesma forma. E eu não vejo assim.

sm: Mas me explica melhor.
PS: Cara, para mim é não pegar referências para que um cara que chegue e ouça não ache que aquilo pode muito bem não ter sido feito no Brasil. A não ser pela letra em português, se for o caso. Ou seja, é como se fosse pegar um rock e imitar Franz Ferdinand, sacou? Eu acho maneiro você pegar a parada e botar o teu processo ali, então a gente decidiu pegar uma parada que a gente pudesse aproximar essa linguagem psicodélica do dub às pessoas, ao público em geral. Aí pegamos umas músicas mais conhecidas e...

sm: [interrompendo] Na última entrevista que a gente fez para o sobremusica, eu [Bruno] falei com o Nelson Meirelles. E o Nelson falava muito da evolução do reggae a partir do ponto de vista jamaicano. E o dub entra como prova de que o reggae não é hippie de cachoeira, [PS: Com certeza,] mas ele falava muito do processo de fazer olhando para a Jamaica. Ao mesmo tempo, ele falava do discurso de...
PS: [interrompendo] É, mas esse pessoal que você tá falando tem essa coisa jamaicana total. Eles seguem a tradição de fazer do jeito da Jamaica. Eu acho bom pra caralho, mas não é uma coisa que quando eu fui fazer a minha parada, falei: não quero fazer dessa forma. Quero fazer completamente diferente. Subverter e fazer... A gente pega, por exemplo, Ando Meio Desligado, e faz uma versão em dub. Toca um Ando Meio Desligado loucão, sacou? Então quem nunca ouviu dub vai pegar e dizer: ah, essa música é do Mutantes, tá diferentona. É mais nessa onda que a gente tá pensando. A gente não tá pensando em iniciados. É pra galera que acha que dub é Bob Marley. A gente faz para essa galera. Rarrarrá. A gente não quer tocar numa festinha sei lá onde para cem cabeças, a gente quer ser o mais palpável possível. Lógico, sem perder qualidade, a gente não vai para um lado pop e tosco.

sm: Beleza, e eu queria falar de live pa também, que eu acho que é o que você mais faz, né?
PS: É. É verdade. Rarrarrá. O live pa começou... A primeira vez que eu fiz um live pa na minha vida, o Dodô, que era o baterista da Pelvs, e hoje em dia é dj, ele tinha uma festa num espaço em Botafogo, chamada Playground. Era sempre no domingo. Isso, em 97, 98. Aí ele chamou: vamos começar a fazer umas paradas ao vivo, não sei que, e foi assim que começou. De brincadeira mesmo. Ele soltava as músicas, sem nenhuma perspectiva de que poderia se tornar uma coisa... [sm: viável?] Viável, assim, de estar em uma festa, uma coisa mais pensada, conceitual.

sm: Mas você assistia live pa?
PS: Não, não, nem sabia que tinha esse nome: live pa? O que? Depois é que eu fui descobrindo ser maneiro pra caralho. Então, eu fiz essa epocazinha ali com ele, e beleza... Tempos depois, ele mesmo me chamou, porque ele fazia outra festa na [antigo puteiro que virou casa de forró, e depois de festas em geral, na zona Sul do Rio] Casa Rosa. Aí, era eu, ele e um percussionista. Aí eu já tinha visto vários live pa, já tava mais ligado na parada. Mesmo assim, era uma coisa bem mambembe, sabe? E eu comecei a ficar mais próximo disso. Esse mesmo dj que faz o monkeyz comigo, o Robhinson, tinha um projeto lá, e a gente chegou a fazer uns live juntos. Aí, começou, né? É um dj camarada, vou fazer. E foi isso, até chegar na [festa] Phunk... E lá fora [Europa], eu fiz uns também.

sm: Mas foi indo sempre nesse esquema: convidou eu vou?
PS: É convidou... Não! Na Phunk, eu me convidei. Rarrarrá.

sm: Mas conta aí, até porque a Phunk é uma festa que começou de galera, pequena, eu me lembro de rolar na Cobal, pra umas cem pessoas, sei lá... Depois foi Cine-Buraco...
PS: A Phunk sempre foi... Assim, eu tocava na Casa Rosa, mas já tava com uns problemas lá de... enfim, de relacionamento, envolvia os donos da casa, não sei o que. Eu tava meio pra sair, tava só fazendo umas, com os dias contados. Aí eu pego um jornal, e vejo na parte lá... vejo a festa Phunk no Cine Buraco. Com a foto dos caras: Emílio, Fred, conhecidos meus. A gente teve uma banda juntos, na faculdade. Antes dos Elétricos, a minha banda se chamava Os Urucubacas. Faculdade de Filosofia [IFICS, da UFRJ], porque eu fazia umas duas matérias lá. Aí eu pensei: são os caras, fui lá ver a festa. E. porra, o som que eles tocavam era infinitamente melhor do que o som que eu tocava na Casa Rosa, entendeu? Aí, eu falei: caralho, velho. E cheguei pra eles: pô, vamos fazer, eu trago meu trompete, a gente vê como é que fica, e tal. Na semana seguinte, fui de instrumento, fiz, nego se amarrou, curtiu, e eu to até hoje. Eu me ofereci... Só que sem compromisso, rarrarrarrarrá. Uma amostra grátis. E acabou que a festa que eu mais me dei bem, foi a Phunk, que tem tudo a ver, sabe? Eu gosto do que eu toco. Muitas vezes, nas outras festas, eu tava ali por causa da grana e das mulherezinhas, enfim Rarrá. Essa não. Eu acho maneira, tem um diferencial maneiro.

sm: E tem a ver com o funk lá do 021, do Funk Fuckers. Foi uma onda que tu já seguia por um outro...
PS: Exatamente, agora que eu fui para Barcelona, eu já conhecia um dj argentino de lá, e ele me encaixou num esquema lá, que rola mais electro, reggae beat, umas coisas mais eletrônicas, assim. E foi do caralho também, casou bonito. E lá a diferença de resposta de público... [sm: Já tinha tocado com ele?] Nunca tinha tocado com ele. Conheci do primeiro show do BNegão lá em Barcelona, e a gente ficou amigo. E eu já fiz [live pa] com o Xerxes, dj Xerxes, que foi uma onda também. Duas vezes. E a diferença de resposta de público. Aqui no Rio de Janeiro, às vezes nêgo nem entende o que tá acontecendo, o que é som do trompete, que não sai tudo junto. Lá, saindo do palco todo mundo vai falar contigo, durante a parada te aplaude, enfim. Tem mais visão da interação músico x dj. [o garçom pergunta se traz mais uma, e a resposta é sim] Isso é que é mais maneiro. Lá rola um público mais atento, mesmo.

sm: Mas o que você acha que é a diferença?
PS: Cultura mesmo, cara. Lá, eu acho que rola mais interesse, na verdade. Nêgo é mais interessado em sair e buscar as paradas, sabe? Mesmo falando de Seletores. Por exemplo, a gente foi fazer show na Europa, e nêgo lá não tem o nosso disco, nunca ouviu a nossa música, só sabe que a gente é brasileiro e só. E todos os shows na Europa foram infinitamente melhores do que todos os shows que a gente fez no Brasil, sabe qual é? Isso eu falo em resposta de público. A gente fez show em casa cheia lá, e todo mundo ligado na apresentação, [arregala o olho] arrrrrrrrr. Não é como aqui, todo mundo de braço cruzado, te olhando. Nêgo se entrega mais.

sm: Será que não tem uma diferença de aqui, no Rio, nêgo já ter visto o show do Seletores?
PS: Acho que não, cara. É todo show, sabe? A última vez que a gente foi para Barcelona, a gente teve que dar dois ou três bis. A gente saía, arrrr, voltava. Tipo, era uma coisa impressionante. Mas acho que as pessoas já saem de casa com interesse. Aqui tem a coisa de querer ouvir o que já conhecem. Tanto que a dificuldade das bandas novas, por aqui, é justamente essa, né? Lá, vão te ver e se gostarem vão ser teus melhores amigos para sempre. Rarrarrá.

sm: Mas e você? Como você avalia o teu momento de vida pessoal, agora?
PS: Cara, eu to vivendo uma dicotomia sinistra. Eu tava até um mês atrás [portanto, em novembro do ano passado] em Barcelona, fiquei meio que morando lá, porque depois dos dois shows a banda [Seletores] voltou e eu fiquei, e fui fazendo contato com o músicos de lá. E tem uma cena de música. Ao mesmo tempo em que tem mais gente tocando, tem mais espaço também. Tem mais concorrência, e mais possibilidade. E ao voltar para essa realidade aqui, você vê esse mundinho que tem, de picuinhas e a falta de oportunidade mesmo, que existe, de espaço para tocar. E eu to nessa de.. porque eu não chutei o balde e fiquei lá? E eu penso, no ano que vem [2007], em aproveitar a próxima turnê, e me esticar lá. Sabe qual é?

sm: Mas era o plano, né? Eu lembro de a gente ter se falado antes da viagem, e a idéia era ficar até o fim do ano [2006]...
PS: Pois é, acabei voltando. Acabou a grana.... Várias questões, né? [silêncio] Tanto que tem umas músicas dessas, minhas, que eu quero fazer versão para espanhol... Rarrarrá. Vou aproveitar o gancho... Mas sério, lá não é a oitava maravilha do mundo. Tem vários problemas. Não é: ó, caralho... Mas acho que lá é viável você viver de música. E, tipo, aqui é foda. Desde que eu cheguei, a gente vai ter... tem poucos shows rolando, poucas festas acontecendo. Tudo bem, nunca toquei nada que eu não quisesse tocar... mas mesmo assim. Aqui é mais difícil ainda. Aí, eu penso... devia ter ficado lá.... [se lamentando] Mas por outro lado, eu penso: tem o disco do Seletores novo, que a gente tá fazendo as músicas. E eu quero participar, tarará. E eu quero ir mais planejado, dessa vez, fui muito no oba-oba, sabe? Foi bom porque fiz uma porrada de contato, vários esquemas de trabalho lá, mas é aquilo.

sm: Aqui, você faz alguma coisa além de ser músico?
PS: Não. Teria que fazer, se não fosse tão preguiçoso. Hoje, para vir ensaiar [antes da entrevista], eu tive que catar as moedas lá de casa, quase sem dinheiro nenhum, sabe? Até falei com o B: me adianta um dinheiro desses cachês aí? Mas aí é uma situação crítica, porque a gente tomou um calote de um... uma história de um cachê que a gente defendeu lá na gringa, mas que é outra história. Era uma grana com que eu tava contando, e cheguei aqui e [sm: quer dizer que lá fora também rola problema de cachê...] Não mas era brasileiro, o produtor. O calote foi brasileiro, o cara era daqui. Voltei mais cedo em função disso: gastei uma grana lá pensando que tinha o dinheiro depositado aqui, e... Tomei no cu. Uns quinhentos euros que rodaram. Aí: caralho... To penteando macaco para chegar no fim do mês. Mas isso é uma coisa que acontece, também, né?

sm [um para o outro]: E aí? Beleza, né? / Acho que foi, né? / Vou deixar gravando... Como é que foi lá no Roskilde?
PS: Roskilde foi bom pra caralho, né? [Bruno comenta que foi esse ano, 2006] A, você foi esse ano? Então você viu como é o esquema, né? [Bruno: a pergunta é porque eu não vou todo ano pra lá, rarrá] Pois é, porque eu não moro lá. Se bem que não, porque na Dinamarca o frio deve ser uma merda, né? Mas lá foi maravilhoso. A gente tocou na tenda de world music, de noite. Ùltimo show da noite. Bombado. E a nossa sorte foi que na mesma hora tava tocando Duran Duran no palco principal [sm: putz], então geral vazou e encheu... a gente começou a tocar tava meio cheio, aí na segunda, terceira música, a parada ficou lotaaaaada. E esse show, eu fiquei bolado, cara. Foi assim: a galera que tava em volta do palco ficava batendo no palco. Mermão, parecia que nego queria te pegar. Eu nunca vi uma coisa dessa. Ficar batendo mãozinha? Surreal. Aí, também, a gente deu uns dois bis. Não foi o nosso melhor show, mas tá entre os dois ou três da gente, eu acho.

sm: E essa lista aí é só de show lá fora?
PS: Tudo lá fora. O último de Barcelona... o primeiro de Barcelona e o último de Barcelona, e o do Roskilde. Até porque a gente tava naquele esquema lá, né? Um puta festival, ficando de patrão, vendo só show foda... Vi Rahzel, Mike Patton, the Faint, Femi Kuti, Audioslave, muita coisa legal. Mulher bonita, chique.. Muita estrutura. A gente ficou em um hotel-fazenda perto lá de Roskilde. E nem tinha artista, nada. Só a gente. Foi a produção que arrumou isso lá para a gente. Um lugar alucinante, só com umas casinhas lindas. Foi uma semana que mais perfeito, impossível. Quase uma semana, né? A gente chegou na quinta de noite, e pegamos sexta, sábado e domingo. Pô, vi Brian Wilson, cara. A gente tocou no sábado. Vi Bloc Party, nem conhecia a banda. Vi de novo o George Clinton... [Bruno: pô, nem me fala disso que esse show eu perdi. Foi no dia em que o Brasil perdeu da França, na Copa. Eu tava no festival, até com o Ronaldo (Lemos) do Creative Commons. Eu de imprensa e eles por outros festivais, curadoria do Tim Festival, sei lá. Vimos o jogo numa tv em uma parte fechada, e já tava combinado de comemorar onde? No show do George Clinton. Aí perdeu, como é que a gente ia pro show?] Pô, eu ia amarradão. Foda-se Brasil e França, maluco. [Bruno: A gente até tentou, mas depois de três músicas, puto da vida, a gente falou que ia embora.] Pô, agora na minha ida a Barcelona, eu descobri que ele tocou duas semanas antes de eu chegar, muita raiva. Fui tocar num lugar lá, vi o cartaz, quando vai ser, ã, já foi há dez dias... Rarrarrá Até porque lá não tem essa porra de New Order tocar a duzentos reais, né? É preço de gente, tá ligado?

8.5.07

A tal da convergência de mídias

O papo é longo e achar o melhor jeito de começá-lo é difícil. Passei uma semana pensando nisso e ainda não estou certo. Afinal, as idéias estão todas hiperlinkadas, como você verá. Mas o fato que motiva esse texto é o seguinte: o Skank ganhou o primeiro celular de ouro do Brasil. Então vamos por aqui.

Pois bem, essa informação tem um quê de vanguarda e de anacronismo ao mesmo tempo. O tal certificado foi dado pela ABPD, a mesma que concede (concedia?) discos de ouro, platina, diamante, não-sei-o-quê. O gesto revela que o formato preponderante na indústria ainda é o do estímulo aos hit-makers. Enquanto o mercado independente se consolida por achar um caminho do meio, o investimento em catálogos, no retorno a longo prazo, as majors ainda julgam que o melhor é sempre ter um vendendo muito pra bancar as apostas que dão com os burros n’água.

Por outro lado, o celular de ouro também indica a preocupação em se achar novas perspectivas, já que depender da mídia CD é uma canoa irremediavelmente furada. É importante salientar que a premiação em questão não é “Ringtone de ouro”, nem “Download de ouro” (nessas duas modalidades, muita gente – Pitty, Dogão, Motirô, Detonautas, CPM 22, entre outros – já foi premiada). O “celular de ouro” do Skank foi dado depois do grupo ter superado a marca de 50 mil aparelhos móveis vendidos. Sendo mais claro, é o seguinte: foram comercializados 53 mil celulares que traziam uma ação de marketing diretamente veiculada ao trabalho “Carrossel”, lançado pelos mineiros em 2006. Quem comprasse o Sony W300 levava todas as faixas do disco(?) disponibilizadas em MP3 e ainda todos arquivos com as artes gráficas.

Isso indica que voltamos àquela velha perspectiva que, desde sempre, liga a indústria fonográfica aos agentes que fabricam aparelhos de reprodução de áudio. Sempre foi assim. O que causou esse rebuliço todo recentemente na indústria foi que um novo agente, a Apple, entrou nessa jogada criando um player mais interessante do que todos os outros. Resultado: bombou de vender iPod e faixas no iTunes.

No Música Chappa Quente muito se falou sobre a migração dos rendimentos das gravadoras para mídias de celular. Algumas delas estão criando departamentos específicos para cuidar desse setor. Nessa corrida, a Sony provou que saiu na frente, até mesmo porque é a única que tem um braço diretamente ligado à essa tecnologia. Afinal, ela, Sony, também fabrica aparelhos celulares. A tática é essa. Quem prestar atenção aos intervalos de alguns canais da tv paga, já pode assistir a Ivete Sangalo (Universal) lançando um aparelho (o Sony W200) que vem com dez faixas do disco “Ivete ao Vivo no Maracanã”. Mesma onda do Skank e ninguém duvida de que ela também vá levar um aparelhinho dourado em breve. No caso, a promoção de lançamento é feita em parceria com a Vivo, visando as compras do Dia das Mães. Você entendeu, né? No caso da Ivete, a Universal fez uma parceria com a Sony Equipamentos. Então...

Apesar da perspectiva otimista que números desse tipo despertam, o fato é que o mercado de música por telefonia móvel continua sendo uma grande incógnita,. É o que mostra uma recente matéria da Teletime, que também me estimulou a esta reflexão. Ao mesmo tempo em que o "mobilemusic" representa um enorme nicho - estima-se que no Brasil foram feito 60 milhões de downloads apenas de ringtones em 2006 -, os números estão na descendente. A marca atingida em 2006 representa uma queda de 20% em relação a 2005, quando 75 milhões foram baixados. Há um lado da indústria que atribui essa queda a uma migração de formatos. No ano passado cresceram o número de downloads de truetones e fulltracks, até mesmo em função de uma nova geração de aparelhos ter sido disponibilizada. Além disso, já existem empresas trabalhando para a criação de serviços de assinatura de conteúdo via celular. É o setor chamado de SVA (Serviços de Valor Agregado). O sujeito paga uma taxa por mês e tem direito a baixar "x" músicas, wallpapers, jogos, etc. Ao mesmo tempo, o que já se observa é que a música não é o conteudo mais buscado nos SVAs. E com isso começamos a olhar pro outro lado da questão.

Neste "outro lado", encara-se esse mercado como uma espécie de grande bolha, que vai estourar assim que se popularizarem os aparelhos para telefonia móvel com HDs mais parrudos. Isso permitirá uma transmissão facilitada de dados via conexões USB. Por enquanto poucos aparelhos saem de fábrica se comunicando via USB. Porém, o crescimento da venda de fulltracks (que pode vir em MP3 ou AAC - que, além de ser o formato lido pelo iPod, é ainda mais compacto que o MP3), já indica a demanda por esse tipo de arquivo, que pode ser facilmente copiado e replicado. Nessa confusão, é preciso esperar o fim de 2007 para ter mais certezas.

Independentemente de querer prever o apocalipse 2, é evidente que as grandes gravadoras estão jogando a maior parte das fichas nos celulares, apostando que eles serão a salvação de uma lavoura que está em estiagem faz tempo. O problema dessa visão é que, mais uma vez estão se esquecendo de pensar adiante, numa recuperação que (ainda) pode vir a médio prazo. Desmerecer a internet justificando-se pelo argumento da “realidade brasileira” é balela. O crescimento desse setor é tremendo, principalmente no Brasil. Além dos programas de incentivo ao acesso da população à computadores baratos financiados pelo governo federal, o próximo passo está em dinamizar o acesso à rede. Na última segunda-feira foi firmado um acordo - entre o Ministério das Comunicações e algumas operadoras de telefonia fixa - que promete um pacote popular nacional de acesso à internet discada. 10 horas por mês a R$ 7,50. Por um lado isso é um calamitoso retrato do nosso atraso, já que esse mesmo modelo era praticado no primeiro mundo em 1995, 1996. Mas enfim, o fato é de que chegou. Com dez anos de atraso, mas chegou. Quem continuar mirando só no agora, vai dançar também lá na frente. Nesse mesmo momento, a Deckdisc - uma das maiores gravadoras ditas "independentes" do país, ao lado da Biscoito Fino - está lançando o álbum do Cachorro Grande apenas para compras on-line nos 20 primeiros dias. Além disso, a campanha de marketing é via MSN, tal qual eles já tinham feito à época do lançamento do segundo disco da Pitty. Tudo isso é pouco, sim, mas também já é simbólico de quem está pensando pra outra direção.

Mas vamos voltar ao celular e à nossa trama da convergência de mídias. Quem tem acesso ao jornal O Globo pôde ver no suplemento de cultura Rio Show da última sexta-feira, um anúncio de página inteira da Oi falando do novo produto da empresa: o Oi Paggo. A nova brincadeira dos caras (que, sim, querem dominar as comunicações no mundo!) simplesmente é tipo o Napster das empresas de cartões de crédito. Através do novo sistema é possível fazer compras de maneira muito prática e só pagar no mês seguinte na fatura da conta do aparelho celular. Sem anuidade. Se esse negócio der certo, não vai ter mais esse papo de "pra comprar pela internet só pagando no cartão de crédito e que as pessoas não tem esse hábito por aqui e bla bla bla". Acesso a celular já é uma realidade tão grande no Brasil que até o mercado de música pra celular já é significativo. Mas disso a gente já falou.

Na mesma semana em que tudo isso aconteceu, o Peter Gabriel anuncia o We7, um mega-portal de downloads legalizados e gratuitos que são pagos pelos anunciantes. Essa idéia já foi praticada em escala menor por alguns desses mesmos anunciantes. O mais famoso caso é o da Coca-Cola, que já ofereceu download de músicas no iTunes através das tampinhas dos refrigerantes. É o tal do “marketing de experiência” chegando ao mundo on-line e tentando viabilizar negócios por aqui. É verdade que já tinha rolado algo assim em alguns sites, como o Revver - suposto concorrente do YouTube. Mas no We7 o buraco é mais embaixo e mais complexo. Além de se colar anúncios temporários nas músicas baixadas (dizem que depois de 4 semanas o anúncio cai), o novo sistema permite o download do arquivo, coisa que o Revver não faz. E ainda por cima a faixa vem sem DRM!!! Se vai dar certo é uma incógnita. Tudo leva a crer que sim, mas é uma experiência nova. E o fato de, eventualmente, não dar certo agora também não deve ser lido como uma sentença definitiva de condenação. Talvez ainda não estejamos preparados para isso e num futuro breve o cenário necessário se componha.

Tá tudo aí, batendo na cara de quem quiser ver só um pouquinho. Não duvide de que essa indústria possa dar a volta por cima. É questão de saber olhar pra frente.

7.5.07

Envio de material

Só um rápido esclarecimento para todos que mandam e-mails querendo saber como enviar material para o SOBREMUSICA.

Estamos com uma caixa postal para recebê-lo, mas é fundamental que esteja escrito SOBREMUSICA no alto do envelope. Senão, não há como chegar às nossas mãos.

Se possível, pedimos também que direcionem para qual dos dois editores (sim, há quem ainda reparou, mas são duas pessoas que escrevem aqui: Bruno Maia e Bernardo Mortimer), o material se destina. Isso facilita a nossa vida 100%.

Envio de material
SITE SOBREMUSICA (A/C Nome do Editor)
Caixa Postal 14.551
CEP:22410-971
Rio de Janeiro/RJ

É isso, muito obrigado. Té logo.

6.5.07

João Brasil in URBe '07

A família de um homem só, URBe, vai comemorar 4 anos em grande estilo. Na festinha da próxima quinta-feira, no Pista 3, em Botafogo, o mundo assistirá a estréia do mito João Brasil. A partir desta semana, o Brasil verá um novo João evoluir o formato de seu homônimo Gilberto e ir além do banquinho-e-violão. Em sintonia com a modernidade, ele acrescenta um laptop à sua perfomance, tornando-a contemporânea, esquizofrênica e facilitando os trocadilhos infâmes de quem escreve por trocadilhos. Agora, além do corpo dourado da Garota de Ipanema, a cintura de ovo da Baranga de Qualquer Lugar também terá sua vez. É, de fato, uma nova visão de mundo e do que seja MPB.

É quinta. E ainda tem Babão, MauVal, fotos do Joca e mais um monte de coisa bacana. Vê se não perde.

4.5.07

Maratona com o Moptop (parte 3)

Quem não viu o Moptop mais cedo, no camarim do Citibank Hall, até poderia achar que o clima no backstage da Fundição era de cansaço. Ok, de fato era, mas não culpe a estafa por aqueles slêncios, nem pelas conversas em voz baixa. O ambiente low-profile, meio pé-no-chão é a onda dos caras. Sem fissuras, nem deslumbramentos. Além de pequeno, o lugar é quente. Ainda assim, Gabriel pede pra desligar o ar-condicionado por causa da voz. O charme dos espelhos rodeados por lâmpadas que se viu no camarim do Citibank Hall definitivamente não se repete na Fundição, uma construção andrógena que não sabe se é um prédio de escritórios, uma escola de circo ou uma casa de show. De algum jeito, ela é os três.

A volta para o centro da cidade foi bem rápida. O grupo terá quase uma hora de espera até subir no palco, já que o som foi passado de tarde e não há muito o que fazer. Além da própria equipe, poucas pessoas vêm ao camarim. Os músicos ficam ali, discutindo problemas cotidianos, como por exemplo quem deles é o mais “social”, quais são eventos chatos, mas que são importantes de ir, como ser cordial com as pessoas de uma indústria regida pela vaidade, enfim... Abril foi um mês cheio e as lembranças começam a vir. Eles estiveram pelo Nordeste, tocaram no Abril Pro Rock, fizeram a (recém-encerrada) turnê com o Keane. Tudo isso reaparece nas falas.

Rapidamente eles se dispersam, cada um vai para um lado. Mais do que nunca, Mário se isola. Num dos cantos, ele fecha os olhos e se concentra no som que vem do seu CD-Player. Rock n roll puro. No carro, ele dissera que o disco novo do Bloc Party é muito bom. O baterista é o único que demonstra algum tipo de preocupação com o tal do “entrar no clima pro show”. Gabriel se atira em um sofá na ante-sala. Dormir seria um luxo, mas estar ali já ajuda a relaxar. O mais ilustre entre os poucos visitantes é o produtor e empresário Liminha. Os músicos já o conhecem e o saúdam com certa intimidade. Como o sofá de resguardo era na tal ante-sala, Gabriel é o primeiro a vê-lo. A conversa começa e rapidamente os demais percebem a presença e vão se chegando. Mário é o único que continua se concentrando. Ainda alheio à presença de Liminha, a essa altura ele está deitado no chão do camarim, de olho fechado.

A conversa corre em torno de assuntos de gravadora. Isabel (empresária) chega e também participa. Liminha empresaria os conterrâneos do For Fun, com quem o Moptop gravou recentemente um especial para a MTV que deverá estar no ar em breve. Surge o pedido para que não se filme a conversa. Câmera desligada e o repórter também se afasta. Se o assunto é interno também não cabe ficar ali. Além do que, quando um jornalista está exercendo sua função, às vezes é melhor nem ouvir o que é “em off”.

Mário continua deitado no chão. Algum tempo depois, ele se levanta para dar uma esticada. É nesse momento que ele vê Liminha e também se junta ao grupo. O assunto já se esvaiu e aquele núcleo também se dissipa. Deste instante até a decisão de descer para o show são poucos minutos.

É na penumbra ao lado do palco que os moptops encontram os jotaquests. Enquanto os cariocas já estão vestidos (com o figurino praticamente idêntico ao do show de duas horas antes), os mineiros ainda estão chegando à Fundição. Há algum tempo os integrantes do Jota Quest já demonstram empolgação com o som do Moptop, tanto que essa não é a primeira vez que eles os convidam para abrir um show. Essa coisa de apadrinhar parecia andar meio esquecida no pop-rock brasileiro. A geração do Jota foi a última que soube aproveitar esse tipo de ajuda. No caso deles foi o Skank que, no auge da turnê “O Samba Poconé”, ofereceu espaço.

A espera ao lado do palco é maior do que no show do Citibank Hall. Não fica claro se a demora é em função de algum ajuste técnico ou se os caras desceram do camarim antes da hora. Não mais que de repente um locutor entra no palco e promete maravilhas pra noite que “está só começando”. “E começando em grande estilo”. É nesse clima que o Moptop percebe que deve se encaminhar ao picadeiro.

A recepção não é tão fria como poderia se imaginar, mas também fica longe de empolgar. Gabriel, mais uma vez, demonstra que sabe o que fazer. Elogia a presença da galera, diz que é um prazer está ali, rende honras aos donos da festa, e pronto. Simpatia ganha. ”Moonrock” começa com problemas no som. Todo mundo se olha, mas o show não pode parar. O desconforto é nítido. O som vai se resolvendo aos poucos até ficar redondinho. É nessa hora que a banda cresce.
fotos: Renan Yudi


O setlist já é maior do que no show anterior. Os mineiros não são tão ingleses. A equipe da Fundição não cria problemas com o jogo de luz e o Moptop pode fazer um show de gente grande. Fumaças, cores, climas. Mateus Araújo, que já dirigiu o clipe de “O rock acabou” captura imagens das costas do baixista Daniel para utilizar no novo vídeo da banda. Nas primeiras filas, alguns fãs estão presentes e ajudam cantando. Não há muito o que se acrescentar sobre a performance da banda além do que já foi dito sobre o primeiro show.


O que se vê de diferente é o calor da platéia que visivelmente se rende ao quarteto. Quando Gabriel anuncia a saidera, o coro de “ahhhhhhhh” é alto o suficiente para causar surpresa geral. Está provado que ainda é possível fazer do bom rock uma música pop no Brasil e de comunicação fácil. O distanciamento que as rádios daqui impuseram às guitarras altas é uma equação mal resolvida entre a chamada “falta de investimento” das gravadoras e a falta de bandas com qualidade suficiente para renovar um interesse que foi criado no início dos anos 80. Ainda é pouco pra prever se o Moptop pode fazer o jogo virar, mas aquela reação da platéia é pra deixar uma esperança no ar.


O show termina e os trabalhos também. Cumprimentos dispersos. Alguns vão ficar pra noitada que se apresenta. Depois do show do Jota Quest a promessa é uma festinha só pra convidados, numa área reservada da Fundição, sem hora pra acabar. Outros estão esgotados e vão embora. A câmera é guardada. Depois da maratona, é pódio de chegada e beijo de namorada. O que nos resta é beber alguma coisa e aproveitar o que se mostrar aproveitável.


****************************
Peço desculpas pela falta de fotos no camarim. Elas sumiram depois de um problema no meu HD nessa semana. Vou tentar recuperá-las com o back-up que está com um amigo até segunda-feira. Atualizarei assim que possível. Contece...

2.5.07

Jornalistas e Artistas

Do You Believe the Hype?



      A confusão é sempre boa, então vamos a ela. Na semana passada, o editor do caderno de cultura Ilustrada, da Folha de São Paulo, Sérgio Ricardo, decretou: “Céu chegou lá”. Em cima da entrada dela na lista de novatos da Billboard, logo depois de ter o disco lançado pelo selo de world music da loja de café Starbucks, o jornalista chamou a atenção para o que chamou de nova princesa da MPB, a quem incumbiu a função de renovar a figura de mulher moderna brasileira, e fazer frente à festa de Ivete Sangalo lá fora. O raciocínio desenhava uma linha evolutiva de Gal Costa a Maria Bethânia a Marina Lima a Marisa Monte ao século XXI.
       Sem querer entrar no mérito do valor de Céu, de quem eu gosto e ainda acho uma das sobremusas aqui da gente, o que me interessa é esse papel do jornalista na hora de determinar de quem chegou a hora. A Folha exagerou? No mês passado, em uma das mesas do Música Chappa Quente, eu vi o Gabriel Thomaz do Autoramas provocar que não tinha nada contra jornalismo musical, a não ser quando vira análise de mercado: esse aqui tem tudo para estourar, aquele precisa soar menos difícil, e abstrações do tipo. Não pude evitar de concordar na hora, mas acho que o assunto merece ir além.
       A Folha de São Paulo é um jornal com pelo menos mais duas histórias recentes de jornalistas que bancaram uma banda e foram parte importante da consolidação daqueles nomes no mercado de shows pelo Brasil, e até fora. Na década de noventa, a cobertura do mangue bit, Chico Science e Nação Zumbi e mundo livre s/a, puxada por Xico Sá era algo que a tal perspectiva histórica só faz chamar ainda mais a atenção. Até em matéria prosaica sobre sushi, a dupla Fred e Chico apareceu depois da mudança para São Paulo, sob um título que brincava com o peixe cru e o caranguejo. E ignorava o fato de que Recife, ora essa, também tem restaurante japonês. Bem, o mangue bit está acima de qualquer suspeita, portanto foi sim um fato jornalístico. Sim, mas o quanto disso partiu de um jornalista torcedor? Difícil dizer. O quanto disso afasta Xico Sá, no caso, da missão dele de informar o público do que é interesse geral? Qual era o peso justo da notícia mangue bit? Eu desconfio da resposta, mas ainda quero fazer outras perguntas.
       Pouco mais de dez anos depois, o Cansei de Ser Sexy surge entre eventos menores de públicos gls, indie, da avant-moda. A afetação é parte da linguagem, do deboche, e o nome da banda só deixa isso mais escancarado. A piada inclui referências pop, uso intenso da Internet, um veterano da noite alternativa paulista, conexões com o mundo fashion. E os públicos da banda vão crescendo e se diversificando, se entrecruzando, se confundindo. Em pouco tempo, Lúcio Ribeiro, então colunista do jornal paulista, adota o pré-fenômeno. Tinha algo novo ali, que incomodava e divertia em doses iguais e excludentes. Pode chamar de música pop, mas na cabeça de um jornalista o nome mais apropriado é assunto. O Cansei de Ser Sexy não demorou para dar capa, e para ser escalado para um palco importante do Tim Festival ainda antes de estar pronto para tanto. A dupla Lúcio-Canseide seguiu firme, e não sei dizer com quanto de espontaneidade. Hoje, o CSS tem nome para gringo pronunciar e está escalado nos grandes festivais da Europa e Estados Unidos. E foi Lúcio quem bancou primeiro. Não dá mais pra dizer que errou ou que pesou a mão.
       Para mostrar que o caso não é exclusivamente da Folha, voltei a década de 80. Quando li Noites Tropicais, a biografia saber-viver do Nelson Motta, guardei na cabeça a capa que o Alfredo Ribeiro (Tutty Vasques, editor do nominimo) deu para Marisa Monte no Caderno B do Jornal do Brasil, na época ainda relevante. Nasce uma Estrela. Marisa tinha lá seus vinte anos, e era apresentada aos cariocas no pequeno palco da extinta Jazzmania. Sem dúvida, mais do que a legitimidade que uma artista precisava de um grande veículo (e acho que ainda precise, embora menos), era a porta de entrada para novas matérias com o primeiro veículo a lhe dar espaço, e mais um monte de coisas.
       As três experiências contadas aqui em cima têm todas particularidades, como a pernambucanice de Xico e Chico, o gosto por discussões acaloradas entre leitores de Lúcio ou a preocupação do Caderno B em manter, na época ainda tinha isso, a cara de vanguarda na cultura do Rio. Casos diferentes de épocas diferentes, mas que indicam uma discussão entre torcida e notícia. A história se tratou de demonstrar que os três repórteres foram certo em experiências que vingaram, mas só é difícil pensar exemplos que foram parar na capa de um suplemento desses e desapareceram porque eles realmente acabaram tendo muito pouco importância. E pode ter sido por falta de consistência artística, de competência na administração da carreira, ou de sorte, pura e simplesmente. Mas tenha certeza que eles existem, jornalista é um povo que erra.
       Quando um leitor que gosta muito de música desconfia do jornalista, ele está mais do que certo. Senso crítico é parte essencial no hábito de consumir reportagens, que dirá ensaios. Mas o jornalista não está errado ao abrir mão de uma frieza do distanciamento da imparcialidade para investir em uma história sobre aquele artista novo tão interessante, e diferente. É o caso de Céu hoje, na opinião de Sérgio Ricardo. E era o da recém-chegada estudante de canto lírico da Itália, Marisa Monte, dos caranguejos da década de 90, e das meninas do Cansei de Ser Sexy.
       O jornal, com os conhecidos filtros de espaço e de editores-chefe desconfiados, é parte do processo dos hábitos de consumo de música. Portanto, nada mais natural do que fazer parte do desenvolvimento de um artista ou banda, ainda mais se rende pauta. Eu, como leitor inclusive, estou curioso pelo percurso de alguém do público de poucos amigos para poucos “especialistas”, para poucos amigos de “especialistas”, até o momento em que de repente toca para uma casa legal cheia, um programa de tv, uma lista de dez mais. E acho que o público em geral também gosta de torcer junto, de achar estranho junto, enfim, de participar.
       Com a Internet e os blogs e sites independentes – outra discussão, eu sei – isso só tende a ficar mais fácil, mais sem controle, mas ainda assim tão importante para a formação de novidades. E o que não dá é para confundir um serviço de jornalismo sério, mesmo que com algum grau de simpatia pessoal ou amizade, com conflitos de interesse – só para citar um caso assim, o da MTV na construção da carreira do Hateen. Banda com um empresário em cargo de decisão, na emissora.
       Mas então a conclusão é a de que o hype pode ser verdadeiro? Pode parecer resposta de tempos 2.0, mas acho que já era assim e você sabe disso. Por mais que um jornalista queira e goste, ele não tem o poder de um jabá em rádio. O artista que ele escolhe para dizer que vai acontecer, baseado no faro de repórter para o que é (será) relevante, só vai dar certo se você for ouvir, e concordar que vale a pena. Sucesso de crítica sempre vai ser uma coisa alheia a sucesso de público, e é impossível dizer qual o melhor. Dizem que os bons mesmo conseguem conciliar os dois. Boa sorte a Céu, pois então.



Correção

      Foi o Bruno que veio em meu favor: "cara, no cpm 22 nao tinha nenhum empresario na mtv.. o que tinha era o fabricio, que era diretor de pgms e era guitarrista do hateen. o japinha do cpm era baterista tb do hateen. depois que o cpm bombou, veio o hateen... mas, ACHO EU, nao tinha empresario nao.." Errei, peço desculpas ao CPM e a você, leitor. Já tá corrigido.



Nada a ver

      Muito legal a cobertura do Coachella feito pelo Urbe. O g1 até começou bem, mas como tem sido, infelizmente, foi perdendo o fôlego na tentativa de fazer blog em portalzão jornalístico. E o citado Lúcio foi melhor do que no ano passado, eu achei.

Publicidade 2.0

Sei que não é tão novo, mas lembrei disso hoje.
(Não, o objeto desse post não é o clipe do Ok GO. Tem que ver o vídeo pra entender do que eu estou falando, combinado?)




Agora, vem, me diz:
É isso mesmo?


Enfim, a casa própria
Perda :: Dorival Caymmi
Dorival Caymmi :: Compilação de vídeos
Show: Momo, no Cinemathèque
Site:: OEsquema
Agenda :: Momo, Hoje!
Aviso: Última Digital Dubs na Matriz
Entrevista: Fabrício Ofuji, produtor do Móveis Col...
Vídeo: Reckoner, de Gnarls Barkley
Vídeo: L'Espoir des Favelas, de Rim'K

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