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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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27.3.08

Aleatório News!

Tá criado o Myspace do Aleatório!

Pra começar, uma versão exclusiva e acústica de João Brasil, cantando o hit do GNT, "Mônica", ao vivo e acústico. Incrível!

Em breve também vou tentar subir alguns programas anteriores por lá, mas não sei se o Myspace vai aceitar o tamanho dos arquivos. A conferir.

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Aproveitando, aí vai o set-list dessa semana. Começando com uma homenagem ao aniversário do Damon Albarn e indo até....Blur...

Aleatório #39 (Clique aqui para ouvir)

Blur
- Coffee and TV
Gorillaz - Feel Good Inc
Stereophonics & Noel Gallagher - I'm only sleeping
Capitain Melao - Tu querer
Chulius & The Filarmonicos - Tarzan
Los Amigos Invisibles - Playa Azul
Sonorama - Vamo a bailar
Naif - Radar
Shakira - Pies descalzos
Aterciopelados - Cancion Protesta
Andrea Echeverri - A Eme O
Los Fabulosos Caddilacs & Fishbone - What's the new pussycat
Mexican Institute of Sound - Mirando a las muchachas
Blur - Song 2



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Domingo que vem, programa especial, com a participação especial de Melvin (Carbona e Tremendões), ajudando a comandar' a viagem do Aleatório.

26.3.08

Show: Smack, no Festival Evidente

Um Lado B da Década de 80


      A noite era de expectativa e curiosidade, não era todo mundo que conhecia o tal selecionado do underground paulistano de mais de vinte anos atrás, Smack. Também muitos eram os que queriam ver, ao vivo e no projeto próprio Shellac, Steve Albini, produtor de discos clássicos de Nirvana, Pixies, Stooges, etc.
      Quando, finalmente, Edgar Scandurra entrou no palco acompanhado de Pamps (que tocou nos 80 na Isca de Polícia, banda de apoio de Itamar Assumpção), Sandra e Pitchu (baixista e baterista da Mercenárias), um Odisséia ansioso e com um público bem razoável para a terça chuvosa que fazia lá fora se aproximou do palco.
      De cara, deu para perceber que o Smack é uma banda de duas camadas. Em uma delas, o "famoso" mostra que é um dos guitarristas mais importantes e estudiosos no país e comanda a execução dos arranjos com olhares e jogos de ombro ou guitarra. Scandurra atrai as atenções sem exibicionismos posados de guitar hero, afinal isso ficou fácil de se fazer até em casa em frente ao monitor. Não que não dance, não brinque com a guitarra de um lado pro outro, ou materialize o som na postura, nos olhos fechados e no suor que pinga do rosto. Ele vai de distorções, ruídos e ataques que materializa(va)m um sentimento de "agora chegou nossa vez", bem no espírito da década do nascimento da banda. (As aspas de Legião Urbana se justificariam da metade para o fim do show, com a subida ao palco de um Dado Villa-Lobos que até então batucava cada música de olhos vibrantes sobre uma das caixas de som ao lado do palco).
      A segunda camada é a dos três outros músicos, que estão longe de serem uma banda de apoio. Estão mais para uma banda simultânea e coordenada. Duas palavras, aliás, que resumem bem a idéia. A bateria estraçalhada pelas mãos pesadas de Pitchu muitas vezes dobra os ataques da guitarra base, igualmente pesada mas também climática, de Pamps. E o mesmo com o baixo rápido e dedilhado de Sandra. Quando entram as vozes, é comum um refrão em tom de convocação, imperativo, onde a resposta dos backing vocals vem em uníssono. Canto e resposta, nada mais negro em um rock essencialmente branco, daí uma das boas contradições de Smack. Clima de uma só voz, sabe?
      É bem verdade que a sincronia nas convenções é suja, e precisaria de mais ensaios para cumprir a intenção, pra imprimir o ritmo planejado. Mas dentro do clima de fazer mais e reivindicar espaço que o underground dos anos 80 tinha, isso foi só um toque para não dizer que passou despercebido. Missão cumprida, belo retorno.




      Quando o show ia começar, o organizador do festival e amigo aqui do sobremusica, Rodrigo Lariú, subiu ao palco para apresentar a banda e anunciar "a quem interessar possa, quem ganhou o BBB foi o Rafinha". Todos riram. Em seguida, explicou o longo atraso do show com outra brincadeira. Os amigos de vocês chegaram atrasados, por isso o início não foi mais cedo. Aos que chegaram na hora, parabéns, e desculpas.
      Não é novidade o hábito carioca de chegar tarde às noites, nem rende mais muito assunto. Todo mundo concorda com o erro, mas acaba aderindo à inércia. Sem neurose. Agora, quando começou o show do Shellac, banda de Steve Albini, única atração internacional do festival, o público já não era tanto, e foi diminuindo depois das primeiras músicas. Eu mesmo, com um início de febre e sem me impressionar com a precisão dos ataques na bateria do gringo, muito mais nos tons e surdos graves do que na caixa aguda, me dirigi pra fila pra pagar. Fora, claro, o adiantado da hora.
      O que me faz pensar na pergunta. Será que é o público, e pronto, a justificar um atraso desses? Será que não teve gente a fim de ver só a segunda atração? Gente que não se importava em chegar mais tarde e perder o Smack, e que ao chegar tarde no Odisséia se frustrou porque ainda teria que esperar um tempão para ver o que pagou para ver? Será que numa noite de duas atrações, a primeira tem mesmo que começar só quando "chegou todo mundo"?
      Sei que as respostas são várias e complexas, mas achei que valia aqui abrir as dúvidas para vocês.



Nada a ver

      Dá uma ouvida, vê se não é bonzão, e aparece hoje à noite na Matriz para ver o cara com o Digitaldubs. De São Francisco, Califórnia, Stepwise, selector e produtor de reggae e dancehall, especialista em mixtapes com boas vibrações. (sexta, dia 28: agora já foi, mas fica a dica do myspace linkada)

25.3.08

SobreRoNca

Muito nos honra o convite de Maurício Valladares para participar pela primeira vez do RoNcaRoNca de hoje! Já disse outras vezes aqui que sou/somos ouvintes antigos do programa. Esta noite vou representar o SOBREMUSICA e o CHAPPA numa mesa de debates ao vivo sobre o atual momento da indústria da música. Uma espécie de Música Chappa Quente no dial...

A partir das 22hs, na Oi Fm. Dá pra ouvir pela web. Quem perder, o programa vai ficar disponível em podcast nos próximos dias.

Big brother hoje é coisa de emo! :-]

24.3.08

iBand: A Banda moderninha



iBand... Life is greater than the internet é o "single" do grupo que se denomina "the first iPhone band". No canal deles do YouTube tem alguns outros vídeos que mostram um pouco da evolução da coisa desde as "jam sessions" iniciais. Eles ainda copiam toda a assinatura visual da Apple e as estilizações gráficas. Na homepage dos caras (o domínio esperto é http://www.iband.at/), eles explicam a história toda. Um blog narra os passos do grupo. O primeiro post data de 18 de fevereiro e diz "Hello everybody.The iBand was born some days ago so we thought it might be a good idea to have a little website going". Em um outro, eles admitem que ainda estão aprendendo a tocar. O processo do surgimento deles está todo sendo registrado e acompanhado em tempo real. Vender músicas? Eles não estão preocupados exatamente com isso, mas não ignoram ser remunerados. Como um bom artista deste século, eles disponibilizam o link para download do single ao lado de um outro onde se lê "Donate - PayPal / Visa / Mastercard". Se você achar que vale um trocado, você faz a sua doação. Esquema Radiohead para iniciantes.

Não descobri nada que revele a origem deles (a terminação .at do site sugere a Áustria), mas este é o tipo de informação que beira o desnecessário sendo que a internet é a mídia deles. Se for tramado pela Apple pra ser um viral, é muito bom. Se não é, é no minímo criativo, divertido e sintomático. Foda!

20.3.08

Show :: Festival Evidente (18 de março de 2008)

Nesses tempos em que ser indie é algo quase tão demodé quanto usar ombreiras, Rodrigo Lariú, que não é bobo nem indie, lançou sua nova empreitada, o festival Evidente. Vá lá que terça-feira à noite não é o melhor horário pra carregar ninguém pra ver show de artistas novos, especialmente se a concorrência na tv é o penúltimo paredão do Big Brother. Mas cá entre nós, se o problema fosse isso, nós não teríamos o currículo recente que temos... Como um bom anfitrião, Lariú abriu os trabalhos dizendo que os demodés, digo, os indies, haviam chiado pela escalação de João Brasil, chamando o sr. Midsummer Madness de vendido, inclusive. Pobres indies...

fotos: Mate Lelo /
Bloco

Em clima de descontração e fazendo piada com esse "males" chamados "comunicação viral" e "hype" - que nestes tempos andam casados - alguns blogs e sites do Rio, inclusive este, vêm chamando atenção para o non-sense musical do João, desde o hit "Baranga". A piada vinha passando do ponto, é verdade, e já estava na hora de João transcender o espectro dos amigos e dos fãs do personagem que ele forjou em suas aparições na tv - sobretudo no programa de Marcos Mion - e mostrar nos palcos toda a vitalidade artística que tem. No último Humaitá Pra Peixe isso já tinha acontecido um pouco, mas no Evidente se concretizou como fato. João chutou o balde dos hits fáceis que já criou e reconstruiu quase todos ali, ao vivo, a bordo de seu laptop e seu teclado. Cantou com força e carisma, ocupou o palco e fora dele, e fez versões que beiravam o psicodelismo, como nos oito minutos de "Cobrinha fanfarrona" e "Pau Molão". "Baranga" foi tocada em outro arranjo, com a participação da banda Leme, que abriu a noite e deu um refresco à cabeça de quem já saturou de ouvir o hit-mór. Resultado excelente.

Mais solto, João Brasil deixou PCatran comandando as bases, ignorou os comentários da backin Letícia - que também se monstrava surpresa com as mudanças não combinadas que João ia promovendo ao seu bel prazer, e deu nova dinâmica (e vida) às suas próprias músicas. Chegou até a tirar algumas delas do setlist. O público sentiu falta de "Supercool", mas também rodaram "Don't go to Australia", "Quero fazer amor" e "Elisa" A entrada de duas músicas do Ménage a Trois ("Fuck music" e "Belly Button") funcionou bem. O único problema do show é ter sido quando foi. Em função do baixo público, houve aquela demora pra se começar o primeiro show, na expectativa de que a galera vai chegar e tal. Com isso, as longas viagens, apesar de muito bem conduzidas, por vezes se tornavam angustiantes para quem estava com hora pra sair. De qualquer forma, o resultado foi muito positivo e surpreendente. Mais do que um "hype-passageiro" (com o perdão da redundância), João começa a confirmar que ainda vai muito além.

Antes dele, a banda Leme revelou bases bastante interessantes, que davam cama para (o rapper(?), mc(?), cronner(?)...) De Leve deitar suas rimas. De Leve é muito talentoso e bem-humorado, embora seu estilo de dividir as rimas se repita em muitas músicas. Ele é foi um dos fundadores (junto com Marechal e DJ Castro) do coletivo Quinto Andar. O bom começo daquele projeto ainda faz com que eles ainda carreguem o "sobrenome" ex-quinto andar, quando são apresentados. Porém, a originalidade da Leme, com as guitarras de Flu e Luciano Frias e as programações (também de Frias), deve dar conta disso rapidamente.

Ademais, o festival começou bonito, esforçado, com toda a estrutura limitada, mas correta. A galera estava filmando tudo e deve pintar na tv ou na web em breve. O único senão foi o atraso pra começar os shows e a conclusão de que até os indies, sim, assistem Big Brother. Semana que vem a disputa de atenção vai ser ainda mais grave, com a final do programa acontecendo ao mesmo tempo que os shows no Odisséia.


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Feliz páscoa e bom feriado a todos!

Internet: iTunes x Nokia

O Pagamento Pela Música De Graça

      O que ganha a Apple com essas negociações que anda tendo com as grandes gravadoras para liberar o catálogo do iTunes? O Steve Jobs nunca foi disso...
      O papo todo é que o criador do Mac tá estudando repetir no iPhone o que a Nokia negocia com a Universal (lembra da newsletter do CHAPPA de dezembro?): embutir no preço da assinatura de plano uma graninha para pagar pelo livre acesso a música. Uma alternativa para o iPod seria aumentar o preço de venda dele, para que também viesse com o livre acesso ao iTunes. Grande idéia, ao que parece, embora seja bom lembrar que a Apple não é uma vendedora de música, é uma vendedora de hardware. Portanto, o preço do produto dela não está em negociação, está sim o preço da música (produto de artistas e de gravadoras). E, como diria você, fã do Radiohead, qual é o preço da música?
      Como funciona hoje para o iTunes, cada fonograma vale US$ 0,99. Há quem reclame, mas é um preço transparente, simples, e que cada vez mais consumidores aceitam pagar. Mas é aquele negócio: não existe mais uma empresa só de computadores, não existe mais uma empresa só de celulares, e talvez não deveria existir mais uma empresa só de música. A concorrência é uma só, gigantesca, e a convergência é para que 'música', 'vídeo', 'tecnologia' e 'comunicação' fique tudo enfileirado em uma mesma estante. Comportamento. Estilo. Identidade Pessoal. É só escolher o nome. Investir na própria marca.
      Se a Nokia vai oferecer música assinada, a Apple tem mais é que abrir o olho. Simples, não é. E a disputa só começou agora.
      Um papo para outro dia fica o modelo que o governo de Zapatero, na Espanha, propõe para o pagamento de direitos autorais em tempos de livre troca de arquivos. Tem a ver com esse papo todo aí de cima.

      A propósito, lembra aquela história de a Pepsi dar musica de graça (também na newsletter de dezembro)? A Wal Mart e a Target, nos EUA, não gostaram e estão pensando em retaliações.



Nada a ver

       E o Trent Reznor que deu pra se achar não igual, mas melhor que o Radiohead?



Nada a ver



       Hoje é dia de Phunk, Phunk Deluxe na Fundição. E, ao lado do residente Saens Peña, e dos convidados Marcelinho Dalua e Speed Freaks, figura o nome da dupla Davi Moraes e Donatinho, Na Pista. Só os dois no palco, carregando o peso de anos de tradição suingueira brasileira nos ombros, com os músculos de guitarra, teclado e blips e blops na sustentação. Troquei uma idéia com o Donatinho em um telefone sem fio que envolveu o produtor da festa, Joca Vidal, e a assessora dele, Carolina Rheinheimer. Vê se saiu tudo certo e me avisa. Sorria...

sm: O que é essa parceria de vocês? Como se conheceram, como surgiu a idéia, qual foi o caminho da idéia até a primeira apresentação?
D: No meu primeiro show solo, o primeiríssimo mesmo da minha carreira, chamei o Davi pra uma participação especial. Sempre fui fã e grande admirador do seu trabalho, não nos conhecíamos muito e foi um prazer tê-lo lá comigo. De cara rolou uma empatia, uma sintonia, e combinamos de fazer um dia algo juntos. Esse projeto nasceu meio por acaso, demorou ainda um tempo pra acontecer por incompatibilidade de agendas, ficávamos sempre na promessa até que conseguimos coordenar tudo e deu certo!

sm: Uma das características da dupla é que os dois são filhos de figuras importantíssimas de uma geração que modernizou a música brasileira. Em um show recente de vocês, no Humaitá Pra Peixe, Moraes Moreira e João Donato estavam sentados na mesma mesa e, há testemunhas, exclamaram um para o outro: caralho, são só os dois no palco, tamos fodidos! O que vocês pensam desse cenário todo da música hoje em dia, com programações, samples, sequenciadores, e muita pesquisa sobre o passado?
D: Acho ótimo! Hoje em dia é inevitável, usar o eletrônico é um caminho sem volta. Fico feliz em perceber que as pessoas têm se dado conta de que a música brasileira de raiz tem muita coisa boa ainda para ser mostrada, e não há quem não goste. O eletrônico veio pra agregar, se usado com bom gosto, sabendo manter a autenticidade do passado.

sm: Então, o que esperar da quinta à noite, quando eu imagino que vocês estarão em frente ao maior público da vida do projeto?
D: Vários sucessos, música dançante pra não deixar ninguém parado, e quanto mais gente, mais fácil de tocar!! (risos).

19.3.08

Entrevista: Bacalhau, do Autoramas (3)

Um Bom Balanço

foto: Marcelo Fróes


      Tava pra botar a última parte da entrevista com o Bacalhau aqui desde a semana passada (as primeiras aqui e aqui), quando fiquei sabendo da troca de baixista do Autoramas. Não tinha como soltar agora as respostas sem tocar no assunto, ainda mais porque o tema desse encerramento da minha conversa com o Bacalhau foi justamente o Autoramas e o último disco deles, o Teletransporte. Pra mim, o melhor deles. Pro Bacalhau também.
      Mandei um email perguntando o que tinha provocado a segunda mudança de baixista na história da banda, e o Bacalhau me respondeu lá no fim do papo. Portanto, boa leitura.

sm: O que eu queria perguntar é um lance que eu tava conversando com o Gabriel [Thomaz, do Autoramas], que vocês tavam gravando em uma rádio a A 300 km/h e como era começo de turnê, ele ficou muito concentrado ali pra execução, e tal. Começou a tocar, foi entrando no clima, na interpretação, aí no meio da virada de bateria ele ouve um: wuuuul! Aí, eu lembro que eu achei maneiro, ele comentando assim: Bacalhau é isso, pura emoção. Disse que se arrepiou, não sei que. Então, vou fazer a pergunta difícil. Como você se define como baterista?
Bc: Cara, sei lá. Primeiro, eu me divirto pra caramba tocando batera. E, sei lá. Tem muito baterista em que eu me amarro. E eu tento fazer um mix deles no Autoramas. Pra mim, o melhor de todos é o Ringo. Eu pego o Ringo, pego o Bill Ward [Black Sabbath], Ian Paice [Deep Purple], quem mais? É... Charlie Watts [Rolling Stones], Al Jackson Jr [da Stax]. É uma mistura meio rock, rhythm and blues e soul, que é um universo que eu me amarro muito, e tento fazer isso dançante, jogar pra sonoridade do Autoramas. Pra frente, às vezes um pouco esporrenta.
      No Teletransporte, eu tentei gravar o disco todo com metrônomo. E consegui. Aí tu vai perguntar: mas não saía [do tempo]? Cara, saí. Mas tinha o seguinte, quando eu saía, os caras desligavam o metrônomo e eu ia até o final. Fiz isso e fiz até cinco takes, sabe? De repente um já dava, mas...

sm: Mas você falou do Teletransporte: em outras vezes você não usou o clique?
Bc: Pô, não. Foi o primeiro que eu me forcei a fazer porque o Berna e o Kassin me falaram: não, vamos fazer, e eu falei claro, vamos fazer. E uma coisa é você pegar uma batida, tirar, treinar, para fazer um estudo. Isso todo mundo faz. Eu sou auto-didata, eu fui ter aula muito depois. E me ajudou muito, em várias coisas, até pra quebrar preconceito com várias coisas. Mas eu tenho uma veia rock que é muito mais pulsante, até porque é o meu lance, entendeu? Sabe tocar samba? Olha, eu sei, mas tem caras melhores do que eu tocando samba, tocando jazz. Eu to aqui é pra tocar meu rock, fazer minha parada, esse surf-new age, robótica, japonesa, que até vejo umas relações Gang 90, com Devo, com Ultraje, com Paralamas. Não é nem de ser parecido, mas de gostar de coisas parecidas. Eu gosto de Titãs, de Ira... Afinidade, era essa a palavra que eu tava procurando, é afinidade que a gente tem com o Paralamas, Ultraje, Gang 90.

sm: O Teletransporte é o disco em que vocês deram mais atenção à produção?
Bc: É.
sm: É o disco que você mais gosta também?
Bc: É, com certeza. As músicas ficaram demais. Ficou com um bom balanço. Isso tudo que eu te falei das nossas influências de Jovem Guarda, de tudo que falam da gente, que eu acho que dá pra definir como rock pra dançar, eu acho essa a melhor definição, o melhor termo...
      Por exemplo, os timbres de guitarra são bons pra caramba. É um disco mais trabalhado, feito com mais cuidado. Na guitarra, na bateria, no baixo, nas vozes, em tudo. Eu gostei pra caramba do que eu gravei, gostei de poder ir até lá e acompanhar os compressores que foram usados com o Daniel [Carvalho]. Pô, não posso botar muito aqui, porque vai ficar com pressão demais. Pô, mas eu quero uma batera quase de Led Zeppelin, entendeu? É a que tem em Surtei, entendeu? Ali eu demonstro que, sabe?, é um Led Zeppelin meio pra trás com uma doideira de compressão, com umas viradas, então... Eu me esforcei ali pra fazer um negócio baterístico. Eu nem sou muito de virar, apesar de gostar pra caramba do John Bonham, do Buddy Ritchie [baterista de jazz], e tal. Mas eu não tenho isso de pra-tundum, pra-tundundum. É legal, tem gente que faz super bem, mas pra o que eu faço não tem... Se eu fosse fazer um workshop, por exemplo, ou alguma coisa nesse nível, eu teria que estudar pra mostrar.
      Eu sou um batera mais voltado pra música, como o Ringo, o Charlie Watts, o Bill Ward, e o próprio John Bonham, que botava um funk num rock, um reggae num rock. Tem que ouvir esses caras, e eu ouvi muito esses discos do Black Sabbath, do Led Zeppelin. É como se eu ouvisse os discos e ouvisse só a bateria. Aí, só depois, vou ouvir só a guitarra, só o baixo.

sm: Nesse disco do Autoramas, teve uma liberdade de brincar no estúdio, de errar e acertar?
Bc: Cara, eu fiquei tranqüilo porque a parte de batera, lá com o Daniel... Fiquei bem contente, montei uma bateria frankensteinzinho, com bumbo de 22’, tom de 12’ e um surdo de 18’, e prato de 22’, de 14’ e de 18’. A caixa era 14’ por 6,5’. Os microfones foram uns RCA, que nem os do Elvis. Era muito usado pra gravar voz, e a gente pegou pra ter uma sonoridade meio vintage...

sm: Mas fala do dia-a-dia de gravação, o trabalho com o Berna, com o Daniel, ele é como? É muito conversado, é como?
Bc: Cara, a gente é muito rápido, assim. É muito rápido. A gente já vai pro estúdio com o disco todo ensaiado, todo pronto. Chegou com todos os arranjos prontos. O Kassin foi no estúdio, ouviu, e falou: cara, eu não sei porque vocês me chamaram pra ver o ensaio porque tá tudo pronto! Rerrerrê. Os arranjos estavam em cimasso. Você só, lá na hora, quando grava, muda ou acrescenta uma ou outra coisa. No nosso caso, foi mais acrescentar mesmo. Foram os teclados, e coisas. As partes eletrônicas...
Porque o arranjo é que é o problema, né cara? O arranjo é que é foda.

sm: E esse é o primeiro disco sem a Simone, né?
Bc: É... Porque o Nada Pode Parar... é um disco que durou três anos. Foi bom pra caramba, é até um recorde um disco durar tanto tempo. Mas pra uma banda como a gente, é um intervalo que eu acho até bom. Hoje em dia é normal o disco durar mais pra pegar. As pessoas tão sem tempo...
      Mas muitas das músicas que estão no Teletransporte, a gente já tava ensaiando com a Simone. Então a gente passou pra Selma e tem três anos que já tá assim. Ela tinha uma banda chamada Jerks, de São José dos Campos, e a gente tinha tocado com eles várias vezes. E lembrou dela, e convidou.
      A gente ficou pouco tempo sem baixista. Até porque teve que ser rápido, porque tinha que fazer uma turnê no Chile. E a gente deu sorte porque ela topou na hora.
      A Simone tinha filho, e tinha feito outros trabalhos paralelos, tinha se formado, feito Jornalismo. E a gente conversava, ela dizia que queria voltar a estudar, e eu sempre dei muita força. Olha, eu te dou apoio, adoro você aqui, mas se quiser sair, sai. Só avisa, pra gente se preparar. E ela foi lá fazer um mestrado.
      Mas já tinha tido, antes, uma turnê pro nordeste que eu e Gabriel fizemos sem a Simone. Foram oito shows que a gente teve que fazer só eu e ele. Já tava tudo pronto, né? O avô do filho dela, o ex-sogro dela tava mal, entre a vida e a morte, e ela quis ficar com o menino. Normal, acontece. Mas aí a gente teve que resolver. Foi o Gabriel tocando nos shows, só. Sem baixo. A gente ligou a guitarra no amp de baixo, fez uma doideira, e rolou.
      Depois, a gente fez o clipe de Você Sabe, e ela ligou dizendo que não tava a fim de fazer a turnê, tava a fim de sair da banda, seguir com os estudos, fazer o mestrado. Na verdade, ela falou com o Gabriel, né? Aí, ele veio pra mim: ela saiu da banda. E eu: puts... E agora? E agora? Vamos ter que catar alguém, né? Vou desligar, então... Não desliga, não. Vai pensando em alguém e a gente vai falando. Então, tá. Então, tá. Pensei, pensei, e falei: Gabriel... Ã... Que tal, se lembra do Jerks? Jerks...? É, aquela banda de São José dos Campos... Sei, sei, sei. Lembra da baixista? A, sim, um baixo assim, assado. Aaaa. Então, consegue lá o telefone? Aí foi assim, ligamos pro Toninho, que era do Hocus Pocus, o lugar em que a gente tocava lá, e ele tinha o telefone. Foi o Gabriel que convidou a Selma, nesse mesmo dia. Acho que a Simone falou em um dia, e no outro, à noite, a Selma tava com a gente.
      As duas têm gostos parecidos, ouvem coisas semelhantes, mas cada uma tem um jeito de tocar. A Selma toca muito bem, e a Simone também é uma ótima baixista. As duas cantam bem, são legais, isso que é importante. E a gente deu sorte de a Selma ser fã da banda, já conhecia as músicas. É uma outra voz feminina, que deu certo.*

Bate a fita... Vamos para a segunda.
Bc: Tem uma coisa que eu acho ótima que é a gente sempre ter músicas instrumentais. Tem a Guitarrada, e tem a Pan Air do Brasil. Então, quer dizer, a gente agora tá de um jeito que já dá pra lançar até um disco só de instrumental. Já dá pra ter. E tem que eu queria um dia fazer um disco só de cover, também. A gente já fez dois, né? Let Me Sing [Raul Seixas] e Renato Russo [gravaram Tédio para o dvd Renato Russo, Uma Celebração], que já tão gravadas. E agora também a gente participou de um festival... de um festival, não. De um projeto no Sesc Pompéia [em São Paulo] chamado A Era Iluminada, em alusão à era dos festivais. E a gente tocou quatro músicas. Uma, a gente já tinha tocado, que é Let Me Sing. [interrompe para atender telefone...]

s: Você tava falando da Era Iluminada dos festivais.
Bc: Isso, a gente tocou Let Me Sing, Perdidos na Selva, Alegria Alegria e Divino Maravilhoso.
s: E gravou isso?
Bc: Gravamos. Tá gravado, deve até passar no Sesc TV.

s: E o Lafayette, vamos falar de Lafayette.
Bc: O Lafa, o Lafa é demais cara. Eu que botei pilha no Gabriel. Por mais de cinco anos, botei pilha para chamar o Lafa para gravar, gravar, gravar.

s: Mas eu digo os shows mesmo, do Lafayette com os Tremendões... É uma volta à Jovem Guarda lá do colégio, né?
Bc: Exatamente, nunca tinha pensado assim. Pô, mas agora é legitimado pelo cara, né? A gente tem um cara que é importante pro Erasmo, pro Roberto, pra Renato e seus Blue Caps, Leno e Lílian, tudo... O Lafa a gente conheceu, foi eu, o Gabriel e a Érika, em São Gonçalo. Eu e o Gabriel levamos discos para o Lafa autografar, pegamos o telefone e ligamos marcando um ensaio. Aí a banda já tinha ensaiado para ele chegar e... causar uma boa impressão, né? E o mais engraçado é que hoje em dia tem uma galera que convida o Lafayette pra tocar e ele... não vai, cara. Só toca com o Tremendões. E tem a parada dele, Lafayette e seu Conjunto. Mas quando tem essa coisa de participação assim, ele só toca com o Tremendões. Tem o compacto, que saiu, e ele tá gravando um disco. Tá quase pronto.


       A nova baixista, Flávia Couri, já tocou com China, Sugarstar, Elepê, Doidivanas e Lingerie Underground e até estreou no Autoramas. Sobre o assunto, O Bacalhau falou o seguinte:

       *Selma não está mais tocando conosco, foi uma decisão dela que foi acatada por nós. Aqui está o que ela disse:
"Realmente não foi fácil tomar essa decisão, mas a iniciativa de sair da banda foi minha. Não foi uma decisão deliberada com o objetivo de prejudicar a banda e vcs fãs. Ao longo desses três anos tive experiências maravilhosas, mas foram anos em que tive que abdicar de meus projetos pessoais. Acredito que estar num projeto em que uma parte de vc não está feliz é ser desonesto com a banda e com os fãs..."
       Como tinhamos que gravar uma música para um tributo aos Beatles,lembramos da Flávia e chamamos ela para gravar. A gravação ficou muito boa, só falta mixar. Nada pode parar os Autoramas.
       Quando a Selma falou que iria sair da banda e conseqüentemente não poderia fazer a gravação, o Gabriel lembrou-se da Flávia que toca baixo e canta, já tocou com várias bandas e artistas e achamos uma boa escolha para se juntar ao Autoramas. E agora, é continuar trabalhando por aqui e pelo mundo.

      É continuar trabalhando por aqui e pelo mundo. Boa sorte.

18.3.08

Festival Evidente



Um novo festival aparece com gás no Rio de Janeiro. Capitaneado por mr. Rodrigo Lariú, o Evidente é a nova encarnação do antigo "Algumas pessoas tentam te fuder", só que mais cheiroso e vitaminado. A primeira edição está sendo feita na raça, sem patrocínios, mas caprichada. Serão três noites (18, 25 e 28 de março) e vale a pena ver qual é, até porque começa hoje com a lenda João Brasil. Depois que começou a se falar que uma certa jornalista apareceria para dividir o palco com ele em uma das músicas que, segundo dizem, é em homenagem a ela, os ingressos começaram a vender mais rápido. Verdade ou viral, não importa quando o assunto é o show da lenda.

O festival também vai ser responsável pelo primeiro show do hype Mallu Magalhães fora de São Paulo. Aliás, esses ingressos estão esgotando (é sério!) e quem quiser, vale a pena comprar logo hoje.

A programação completa é a seguinte:

18/ março 2008 - terça feira
João Brasil
Banda Leme
local: Cinematheque (r. voluntários da pátria, 53 - botafogo / RJ)
ingressos: R$30 / R$20 com flyer até 23h / R$15 (lista amiga)

25/março 2008 - terça feira
Shellac (EUA)
Smack
local: Teatro Odisséia (av mem de sá, 66 - lapa / RJ)
ingressos: R$40 / R$30 com flyer até 23h / R$20 (lista amiga)

28/março 2008 - sexta feira
Luisa mandou um beijo
Mallu Magalhães
local: Cinematheque (r. voluntários da pátria, 53 - botafogo / RJ)
ingressos: R$30 / R$20 com flyer até 23h / R$15 (lista amiga)


Poesia :: Manoel de Barros na TV


Manoel de Barros é não só o maior poeta brasileiro vivo, como também é um sujeito completamente avesso a aparições públicas. Por sorte nossa recentemente ele topou gravar duas séries de programas para TV. Em 2005, para a Globonews. Agora, 2008, Claudio Savaget conseguiu uma nova e mais extensa série para o canal Futura. São cinco episódios, às terças-feiras, 23h30, com reprise na sexta às 16h30. Faça um bem a você mesmo e dê um jeito de assitir a todos.

15.3.08


Fevereiro/2008 :: Nostalgia e expectativas

Em fevereiro, chegou às lojas "Thriller 25", uma edição comemorativa em referência ao quarto de século completado em dezembro pelo disco mais vendido em todos os tempos. Junto com o lançamento, algumas reflexões vêm a reboque para quem se interessa pelo negócio da música.

Em um período de seis anos, a indústria fonográfica viu os números de venda de álbuns caírem cerca de 20%. Não, não estamos falando da era digital, advinda pós-Napster, como de costume, mas sim do período entre 1979 e 1985. A percepão da crise atual, se não pode ser desprezada por esta lembrança, pelo menos pode ser acalentada pela certeza de que a história se faz em ciclos.

O álbum que começou a reverter aquela curva chegou ao mundo no fim de 1982. E literalmente "chegou ao mundo" mesmo, já que "Thriller" vendeu mais de 100 milhões de cópias ao redor de todo o planeta e se tornou o trabalho fonográfico mais vendido em todos os tempos. Os números que o mercado vivia naquela época eram muito semelhantes aos apresentados pela Nielsen SoundScan para o período 2000-2006.

Michael Jackson era o queridinho do 'music business', iniciando a consolidação da sua carreira solo, que ali aconteceria. Se "Thriller" não foi o primeiro álbum visual, foi o primeiro a indicar que não havia mais como a música seguir sem se associar à linguagem que a "subversiva" MTV propunha naquele momento. Tal revolução era muito radical, afinal se obrigava os grandes investidores – no caso, as majors – a redimensionar a importância das rádios e incluir as TV e seus videoclipes como parte fundamental da sua estratégia de marketing. O modelo precisava de novos ares e ele veio. Com a nostalgia despertada pelo lançamento "Thriller 25" vem também a perspectiva de renovação para os dias de hoje. O modelo precisa de novos ares.

Em 2008, um dos queridinhos da vez é Timbaland, que tenta consolidar sua carreira enquanto artista, ainda ofuscado pelo brilho (e vendas) do que fez como produtor. Em fevereiro, ele anunciou o primeiro álbum a ser lançado integralmente por celular. O próprio conceito de álbum é revisto. A proposta de Timbaland, de lançar cada faixa de uma vez, vai de encontro a uma das teorias mais incensadas recentemente: a de que o modelo que obrigava o consumidor a comprar 14 faixas - para ter as poucas que ele realmente queria - estaria superado. Com a força de marketing que Timbaland tem atualmente, sobretudo nos Estados Unidos, a discussão de novos modelos se amarra com o barulho que o Radiohead fez, sobretudo na Europa, com o lançamento de "In Rainbows" sem intermediários entre artista e consumidor. O recheio desse bolo vai vir quando algum nome deste porte oferecer um trabalho integralmente gratuito ao consumidor, pago pela publicidade de um anunciante qualquer. Diante dos últimos acontecimentos, alguém acha que isso vai demorar a acontecer? Difícil.

Outro episódio marcante do mês foi a apresentação de Ann Marie Calhoun junto ao Foo Figthers, na premiação do Grammy. Calhoun foi escolhida em meio a milhares de usuários do YouTube, que enviaram seus videos tocando "The Pretender" (música do último álbum do grupo de Dave Grohl) e concorreram ao prêmio. Menos de três anos após os primeiros processos das grandes indústrias do entretenimento contra o YouTube, aquela que é considerada a principal premiação da música, abraça a ferramenta que ainda é alvo de grandes controvérsias. Controvérsias estas que surgem justamente pelo fato de o site já fazer uso da publicidade como fonte de renda – decisão consolidada após ser vendido para a Google Inc –, mas ainda não ter chegado a um modelo de divisão de receita que agrade a todos os produtores do conteúdo ali veiculados.

O livre consumo da música associada à geração de receitas via publicidade é uma vertente desta nova organização da indústria que ainda precisa ser mais elaborada. No início de fevereiro, a utilização da música "No cars go", do Arcade Fire, em um anúncio da Fox, no intervalo da transmissão do Superbowl (considerdo o espaço publicitário mais caro da TV mundial), supostamente sem autorização da banda, causou muita discussão. Em linhas e links infindáveis, especialistas e fãs debateram o ocorrido. De um lado, os que acusavam a Fox de comportamento irregular, de outro os que defendiam que a canção foi utilizada de uma forma que contextualizaria o que juridicamente se chama de "uso efêmero". Já nos últimos dias do mês, foi a vez do Foo Fighters processar, aí sim oficialmente, a Marvel Comics por utilização irregular de suas canções em peças publicitárias. O crescimento da percepção da música como algo gratuito gera distorções e limites que parecem não estar suficientemente claros. A associação entre produtores de conteúdos, licenciadores, broadcasters e anunciantes ainda não aparenta grandes sinais de estar sendo equacionada. Mas ainda estamos em fevereiro e diante de tudo que já aconteceu até aqui, o ritmo das mudanças parece que não vai desacelerar em 2008. Ótimo sinal.

Nova música, novas oportunidades.

14.3.08

Aleatório #37 (09/03/08)


Sempre fico enrolando de começar a pôr no ar os setlists do Aleatório FM. Para quem não sabe, este é o programa que comando na Multishow FM, todo domingo às 22hs (se bem que às vezes entra no ar às 21h30... hahah!)

A última edição foi na semana de Dylan e esse é o gancho inicial. Para os mesmos que não conhecem o programa, a idéia é: a partir de um nome, fato, data, sugestão, pedido, aleatoriamente escolhido, começamos uma busca na web por assuntos e músicas relacionadas a ele. Por aí a viagem segue e o caminho final é impossível prever. Esta edição foi um pouco mais contida, focada no 'especial Dylan na web', com uma citação final ao show do Interpol. Foi assim:

Bob Dylan - You will go (Ronson remix)
Bob Dylan - Mr. Tambourine man
Bob Dylan - Like a rolling stone
Johnny Cash - God's gonna cut you down
George Harrison - If not for you
Skank - Tanto
Bob Dylan - I want you
Bob Dylan & Johnny Cash - Girl from north country
Interpol - No I in the threesome
Interpol - Mammoth
Strokes - Automatic Stop
Vampire Weekend - A-Punk
The Decemberist - (O Valencia)
The Rapture - Pieces of people we love


Para ouvir esta edição, clique aqui.

Fica o convite. Todo domingo, às 22hs, na Multishow FM.

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Não comentei aqui, mas o show do cara foi Fodão. Ja o do Interpol é aquela coisa, né... Os comentários no dia seguinte (hoje!) são mais em torno do alagamento (que novidade!) da Lapa, que fez pensar em por que não surgiu um camelô vendendo galochas...

13.3.08

A música dos videogames

O Gabriel mandou esse link e daí despertou um assunto antigo que tinha ficado na minha cabeça...



Grande parte da geração que cresceu nos anos 80 sob influência do ATARI, da SEGA (eu!) e da Nintendo, não trocou de hábitos na vida adulta. Vídeo Game está longe de ser uma indústria para crianças. O sucesso que o VideoGamesLive faz pelo mundo afora mostra o quanto as as trilhas dos jogos se tornaram marcantes. A partir dos primeiros 8bits dos anos 70, a coisa tomou corpo e as poucos se tornou reconhecia influência para as trilhas do cinema blockbuster.

Martin Leung tem apenas 20 anos, é simpático até dizer chega, e viaja o mundo se apresentando no VídeoGamesLive. Pianista super premiado, entre outras coisas, ele faz isso...




Por aqui, mesmo com a baixa vendagem de aparelhos de videogames e de jogos no Brasil, a pirataria mantém o país como um dos maiores usuários. E não à toa surgiu o Lucas.



Na edição do Vídeo Games Live do ano passado, fiz uma série de entrevistas com o público e, mesmo entre os mais novos, cerca de 80% disseram que seu gênero musical preferido era música clássica e de orquestra. E eles não tinham nenhuma dificuldade em discorrer sobre os compositores preferidos, com extrema naturalidade. Se o cinema foi a variação popular da música clássica no século XX, o videogame de certa forma também o foi nas últimas três décadas.

Não duvide, há vida além do hype.

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Nada a ver, eu sei, mas é que falamos disso no ano passado, e não queria perder o hábito. Faltam apenas 313 dias.

12.3.08

Trailer de livros

Isso mesmo... Por mais estranho que possa parecer à primeira vista, este vem se tornando um expediente muito utilizado pelas editoras brasileiras, em busca do poder da comunicação viral. A maioria são pequenas pílulas, semelhantes a uma chamada de TV ou de cinema, mas já existem algumas produções que se assemelham a curta-metragens, como o recém-lançado "De cabeça baixa", de Flávio Izhaki, dirigido por Débora Pessanha. E vale a pena prestar atenção também nas trilhas destas peças. Quase todas são meio épicas, buscando a sensação clichê de uma 'saga', que o livro supostamente traz...

Trailer do livro "De cabeça baixa"


A viagem é à vera...

Totalmente genial o vídeo "Coisas que o homem faz" postado pelo Matias no Trabalho Sujo esta semana.



O próprio Matias levantou a lebre: "Se for viral, é gênio". As tais "viagens mais rápidas para o além" são tão bizarras, que só podiam ser um viral. Mas não é.

As teorias do grupo STOP são assustadoramente trash-cômicas e neuróticas. Com uma série de recomendações para evitar coisas que podem "te levar mais rápido para o além", eles chegam a dizer que "90% do que se faz é pra partir mais rápido deste mundo". O sr. Noberto Keppe é um respeitado "psicanalista, filósofo e cientista social", formado em Viena, autor de 31(!) livros e que já deu aulas, como professor-convidado, na USP e na PUC-SP. Medo. Muito medo.

Por mais bizarro e assustador que essas informações possam transformar o vídeo, ainda assim já está entre os mais engraçados do ano. Inacreditável do início ao fim.

Nicolas Fake

Um ator (beeem canastrão) tira uma onda com o presidente do Real Madrid, em pleno Santiago Bernabeu. Vai ser trouxa assim lá em Madrid...

11.3.08

Trilha Sonora: Sangue Negro

O Sangue e O Som


       Petróleo, período pré-crise do capitalismo, violência e fanatismo religioso nos Estados Unidos: Sangue Negro é daqueles filmes que olham a história para falar do hoje (e há quem diga que, mesmo sem perceber, todos os filmes são assim, até os ruins). Necessariamente nessa ordem, é um filme de Daniel Day-Lewis, de Paul Thomas Anderson, e de Jonny Greenwood. Sem entrar no assunto da atuação e da direção, a música do filme é um dos pontos centrais da narrativa, mesmo que sem chamar tanta atenção.
       Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead e compositor de música de câmara contemporânea, conseguiu uma integração dos sons com o universo obstinado da trama, que dá a impressão de que os temas são o inconsciente alucinado de Daniel Plainview – o protagonista, personagem de Daniel Day-Lewis. A trilha é muitas vezes claustrofóbica quando trata do duelo ganancioso homem x natureza, é acelerada quando quer mostrar o sucesso e o progresso (nisso ajuda a figura da locomotiva), mais rápida perto de vitórias pessoais, mais densa em momentos de busca solitária e até esperançosa quando o sentimento cabe. Dialoga com os cenários naturais áridos e opressivos, criando uma terceira ponta no triângulo violência (sangue) – petróleo (sangue da terra) – ambição doentia (o subconsciente musicado).
       As cordas dos arranjos de Greenwood dão outra dimensão às dissonâncias e distorções que são características da guitarra dele no Radiohead. Em tempos de arranjos de cordas para Acústicos MTV que mudam o lugar da melodia para torná-la grandiloqüente, ele vira as costas para o padrão e busca ambientar sons ‘errados’ (a palavra é dele) para criar os ruídos que vão conversar com a fotografia escura, com os olhares e feições de um fanatismo por óleo ou Deus. Fanatismo esse que se manifesta por dois personagens antagonistas que, ao fim das contas, vão se descobrir de uma só natureza (ou sonho de mobilidade), a da formação de determinado país de ética protestante e valorização do trabalho, da livre e intensa competição, e do mérito individual a todo custo. Tensão e triunfo, portanto, são objetivos principais da trilha, pontuadas com algo de delírio, de solidão do poder (da grana).
       Para explicar melhor, a música mistura partes dedilhadas ao(s) violino(s) com sons pesados e percussivos, que remetem às máquinas. É o sonho e a esperança de um homem sem história contra a força de uma natureza hostil ou de uma tecnologia pesada ainda não domada. É um pouco como o trabalho do Radiohead de OK Computer em diante, que questiona a humanidade dos tempos digitais. Melancolia e espaço sideral introspectivos na banda de Thom Yorke, sonho americano e deserto sem lei expansivos no filme de PT Anderson. No fundo, uma mesma estrada percorrida com música em sentidos opostos e não-contemporâneos, mas uma mesma estrada percorrida com música.
       A “anatomia” da trilha de Sangue Negro tem um tanto de OK Computer até pela influência do compositor polonês Krzysztof Penderecki, uma espécie de ídolo de Greenwood não só pelo lado do trabalho solo como pelo roqueiro. Daí o nome do polonês estar por trás do arranjo de "Climbing Up The Walls" no disco do Radiohead, por exemplo.
       Outra parte da “autópsia” da trilha é – claro – do diretor do filme. Seguidor atento de Robert Altman, Anderson já mostrou a especial atenção que dá à música para contar uma história. Magnólia, afinal, foi todo inspirado em um disco de Aimee Mann. Mais especificamente na música Deathly, dos versos “Now that I’ve met you/ Would you object to/ Never seeing/ Each other again?”. Em Embriagados de Amor, boa parte da desenturmada solidão e da louca angústia do casal protagonista vem dos agudos de He Needs Me, uma música pescada da versão para os cinemas de Popeye, de Altman (filme que, reza a lenda, foi todo filmado sob o efeito de ácido – a música, no caso, é a preocupação cantada de Olívia Palito enquanto o marujo do espinafre não está em casa). Em Sangue Negro, Greenwood aceitou o convite para a trilha e foi se dedicar a glissandos e staccatos por um longo período (o que teria ajudado a empurrar Yorke para o trabalho-solo e o In Rainbows para o fim de 2007) até que, junto com o diretor, somou o melhor que tinha de inédito com músicas já lançadas no álbum Popcorn Superhet Receiver para definir o repertório. Que está todo no youtube.
      Mas tenta ver no cinema, tenta. Ainda dá



       Confesso que estou para fazer esse texto desde o dia seguinte à noite do Oscar, que foi quando eu vi o filme e fiquei chapado. Nesse meio-tempo, saíram textos que tratam da trilha aqui e ali, se interessar vale a leitura dos dois. E desculpa a demora.



Nada a ver

      A MTV vetou mesmo a veiculação de Run, do Gnarls Barkley, com medo de ataques epiléticos.

10.3.08

O Build.last.fm e os dois lados dos conteúdos colaborativos

Build.Last.FM. Trata-se de uma página que apresenta aplicativos e widgets construídos por usuários do Last.FM sob a plataforma aberta do portal e com a chancela e endosso da matriz. Nessa de que a moeda do futuro é o "free", você colabora para fazer crescer a marca dos outros. Generosidade? Abertura do conhecimento? Disseminar o livre acesso às novas tecnologias? Também, mas no fundo o papo não é só esse.

É a mesma questão que me inquieta diante dos negócios armados em torno das licenças Creative Commons - coisa que o Last.Fm nem é. Uma coisa é essa "boa intenção" - livre circulação da informação, etc e afins - que deve ser louvável e é uma conquista dos nossos tempos. Outra é criar marcas que se sustentam pelo trabalho coletivo, sendo que essas sim geram dividendos, receitas, status, parcerias, etc, etc, etc... É uma discussão longa, mas é outro sinal dos tempos onde free é o conteúdo. Quem acredita que a era em que os detentores das mídias e suportes davam as cartas está esgotada, cabe repensar. Talvez eles não dêem as cartas, mas continuam sendo o crupiê. Não seria exatamente esse "o" segredo???

Enfim, de qualquer forma, a quem interessar possa, o tal Build.Last.FM é muito divertido! Vale a pena se aproveitar do trabalho coletivo e 'tirar o máximo' do seu Last.Fm.

7.3.08

Gente Bonita no Rio (Entrevista: Alexandre Matias)

O camarada Alexandre Matias já demonstrou que não manja nada de batizar sites, mas de festa ele tirou onda. Gente Bonita, Clima de Paquera é o melhor nome de festa que já ouvi e te deixa com vontade de ir logo de cara. Segundo Matias, o nome é tirado de uma frase que corria no dia-a-dia dos recifenses (povo que faz festa muito bem, aliás).

Mashups sempre foram a grande (aparente) bandeira da festa e o hype em torno do gênero impulsiona o hype em torno da festa. Depois de muitas tentativas, finalmente a festa chega ao Rio. Demorou não por falta de vontade, mas por uma não-confluência dos astros. Dessa vez, Bob Dylan resolveu vir pessoalmente resolver a parada e, dizem, só bateu o martelo de vir aqui quando soube da bagunça astrológica que atrapalhava a vinda dos GBs.

Como o jabá no SOBREMUSICA é pago com entrevista - e a gente queria fazer o jabá por que estamos bem curiosos pela festa há um tempão -, cá está o moço que, dessa vez, acertou no batismo.

Lá vai...



Bruno Maia: GB pra galera do BG. Isso vai prestar?

Alexandre Matias: Claro que vai. Gatas em abundância, como dar errado?

BM: Pra quem acha mashup chato, por que vale a pena ir na festa?

AM: Porque a festa não toca só mashup. O mashup é só uma desculpa pra gente tocar o que a gente quiser. Por isso, espere não só o mashup de Michael Jackson com Britney Spears ou de Justice com David Bowie, mas também versões "puras" dos mesmos.

BM: E esse papo de revival do heterossexualismo? Como é que é?

AM: Mashup de gêneros. Essa coisa de ficar numa tribo só é muito século 20...

BM: Nos dias de hoje, ser DJ complementa seu trabalho de jornalista?

AM: Não me considero DJ, só aperto play, o pause e mexo no grave pra entrar a próxima música. A gente é discotecário, escolhe as músicas e cria uma seqüência. Nesse sentido, é muito parecido com o meu trabalho de jornalista...

BM: DJ jornalista não é muito chato?

AM: Acho jornalista mais chato.

BM: E DJ jornalista de SP, não é muito muito chato?

AM: Não sei, somos de Brasília.

BM: Por outro lado, foi dos auditórios paulistanos que veio o bordão "ritmo... é ritmo de festa". Esse é o segredo?

AM: Exato. Sílvio sabe das coisas. Se bem que o segredo é O Segredo...

BM: E se o Dylan fizer um show todo intimista e deprê? Dá pra segurar depois (com trocadilhos, por favor)?

AM: Claro! Eu tou indo pro show pra me decepcionar. Só fã de última hora vai esperando que o cara toque as mesmas músicas do mesmo jeito. Tou indo pra ver a figura histórica em movimento, pra pedir a benção - nem que seja erguendo um copo de uísque em direção ao palco. Aí depois de tranqüilo e satisfeito, o lance vai ser se acabar com as melhores músicas do mundo. Bora lá?

Bora, né...

4.3.08

Entrevista: Bacalhau, do Autoramas (2)

Rrrrrrrrrock

Bacalhau e El Gonzalez, dupla de djs da Discoteca Ieieiê, em foto de Zé Maria Palmieri



      Bacalhau é um cara do rock, e conduz a vida nesse ritmo. Das amizades da adolescência que o acompanham até hoje, como visto na primeira parte da entrevista, até as escolhas que o levaram a ser um terço do Autoramas, hoje, há sempre o rastro de uma distorção de guitarra, uma baqueta lascada no meio e um estilo de vida insatisfeito com o rumo do mundo. Ao falar de Planet, o olhar se abaixa, mas o tom do papo é o de conciliação, de deixar para trás o que atrás está. Bem nessa hora, a fita bate. Na tentativa de recuperação, algumas coisas se perdem, outras ficam mais claras, e é o resultado apenas do que foi gravado que vai aqui para o texto. Fiel ao magnetismo da mini cassete, mesmo quando ela deixa o entrevistador na mão.

s: Aí, você vivia essa rotina de underground, Garage, e o Planet foi convidado para uma gravadora.
Bc: É, a gente foi convidado pela Sony pra gravar e a banda inteira assinou contrato, cada um. Como banda, e depois individualmente. Mas as coisas demoraram. O Planet não foi uma banda fácil. Foi rolar mesmo com Mantenha o Respeito e Dig Dig [segundo e terceiro clipes a entrar na MTV]. Depois de Legalize Já... Teve também Fazendo Sua Cabeça, foram as três que funcionaram mais.
Engraçado estar falando agora, eu me encontrei com o Bruno Levinson agora, e ele me perguntou: “pô, o Humaitá Pra Peixe faz quinze anos ano que vem, dá pra pensar em uma volta do Planet?” Cara, respondi que problema nenhum. [silêncio] Acho legal pra caralho, independente do que possa ter rolado... com o Marcelo. Da minha parte rolaria, falo sem problema nenhum. Mas pra fazer volta tem que fazer direito. É a volta do the Police, os três malucos. Não é... [sm: O The Doors sem Jim Morrison] Isso. Nada contra, mas pra mim se fosse pra fazer, era pra fazer direito. Pra ficar uma coisa bonita, de verdade, honesta. Seria pela felicidade de estar ali, os malucos independente das diferenças, fazerem uma coisa legal.

///bate a fita, só percebemos depois

sm: Então, vamos lá, repetindo: o que você acha do primeiro disco do Planet?
Bc: A, cara, sensacional. Escola... Foi ali que eu aprendi a fazer minhas paradas todas, tocar, gravar, afinar. Eu gosto, tem várias idéias legais, rock cru, tem funk, soul, ragga rock. É difícil falar muito porque eu toquei, mas eu gosto de umas dez músicas dali. Era aquilo que a gente falava: raprocknrollpsicodeliahardcoreragga, né? A gente conseguiu botar bem isso no primeiro disco.

sm: Aí tem o segundo disco que é produzido pelo Caldato...
Bc: É, ficou mais Beastie Boys. A sonoridade é melhor, legal, mas a gente com mais eletrônico, com samba, menos rock. Não sei se vendeu mais que o primeiro ou não, mas eu ainda considero o primeiro melhor. Eu acho que tem mais coisa eletrônica e menos banda. É isso. É menos rock mesmo, sabe? Menos rock.

sm: Aí, antes do terceiro disco veio a prisão, que acho que mudou a forma como cada um encarava a banda...
Bc: É, pois é. Tudo mudou, né? Chamaram o Marcelo pra fazer carreira-solo, a banda começou a ser impedida de fazer as coisas, e tal. Até certo ponto, fez com que eu saísse da banda. E a gravadora cagou, nem é boa essa palavra, mas a gravadora tava preocupada se a gente vendia disco. Se a gente ia ser preso, bicho... Só espero que tenha pagado a conta do advogado, e não venha cobrar de mim.

sm: Tá. E aí veio o terceiro disco... [já sem Bacalhau]
Bc: Não gosto, não. Já ouvi e não acho tão relevante. Eu gosto até mais do Ao Vivo MTV. Nessa época eu já tava com Autoramas, tocando, fazendo show. De 98 pra 99 a gente foi pegando e fazendo música e gravou em 2000 o primeiro disco. Bem rápido. E o show já tinha um cachezinho, não era muito, menos do que hoje, mas não era de graça. Dependia da situação. Mas, eu digo assim, a minha fonte de renda era só o Autoramas.

sm: Mas e a tua vida, mudou?
Bc: Não é que meu padrão de vida diminuiu, mas algumas coisas você tem que segurar mais, né? Alguns custos você sempre vai ter, né? Como músico... Tem um custo que é o de se informar, de comprar disco, revista, livro, computador novo, baqueta, pele, prato... Essas coisas são custos que não são baratos. Mas, é só beber menos e não sair todo dia que dá pra fazer as coisas...

sm: Cara, acho que foi mais ou menos nessa época que eu te conheci, você trabalhava em um estúdio em Botafogo [na zona sul]...
Bc: A, que eu trabalhei lá. Ali foi uma diversão pra mim. Porque o Autoramas sempre fazia show na quinta, na sexta... Então ficava de segunda a quarta em um horário tranqüilo, podia tocar bateria todo dia, ligava o ar, e pá, atendia o telefone, era um trabalhinho... Eu era tipo contratado, e ensaiava de graça. Nem ganhava uma grana boa, assim, mas dava pra contribuir pra banda com o ensaio, que é muito caro, né? É outro custo que músico tem sempre, se não tem o próprio estúdio. E banda tem que ensaiar sempre, né? Se tá preparando um arranjo, são três horas lá dentro e às vezes não sai, cara. Tu sabe disso. Acontece muito, fica ali, não sai, não sai... Vai pra casa, acha que vai dar, volta pro estúdio, não resolve... E eu tinha equipamento lá também, era um lugar pra deixar as coisas. Fiquei lá um ano e pouco, um ano. E, cara, estúdio é até fácil, difícil é ter o equipamento. Um computador maneiro com Pro Tools é [o preço de] um carro popular. E mesmo com essa história de ter estúdio em casa, ficou muuuito mais barato, mas não é barato, né? E tem que se atualizar, acompanhar as coisas novas, o que vai funcionar pra você, as coisas que não fabricam mais. Tem uns compressores que eu acho maneiros pra caralho, uns DPX, que é o melhor que tem de uma certa época. Resolve uns problemas que, pô..., pra bumbo eu me amarro. Se eu tivesse quatro desses, eu tava satisfeito. Aí comprimia as vozes, também. Mas é isso que eu to falando, são mais de dez paus. E você não vai conseguir seguro disso, e vai precisar despachar por avião, essas coisas. Os caras cobrem muito pouco. Prato, por exemplo, é uma coisa que eu, às vezes, deixo quebrado mesmo. Quebra no avião, ninguém tem cuidado. São os sofrimentos de músico.

sm: O Autoramas é a banda em que você está a mais tempo?
Bc: Pô, é... Dez anos, vai fazer já...

sm: Como músico, o que você acha que rolou de mudança?
Bc: A, eu diminuí as coisas, acho que to tocando melhor. To fazendo umas coisas mais simples, to pegando mais a onda dançante. O Planet até tinha, mas to usando mais. Eu sempre gostei de rock, de Jovem Guarda, mas acho que a galera não se amarrava muito em Roberto Carlos, não.

sm: O Planet chegou a gravar Negro Gato, não?
Bc: Não. Foi só o Marcelo. Assinou como Planet, mas era ele e o Zé [Gonzalez, dj].

Continua...

1.3.08

Internet: RCRD LBL e Gnarls Barkley

A Publicidade E A Música De Graça


       Já ouviu falar de Kevin Michaels? Pois se lesse o sobremusica desde 2006, no mínimo, teria. Na época, ele era a aposta do selo Downtown Records, de Josh Deutsch. O tal Michaels era a promessa de repetição do barulho que a dupla Gnarls Barkley fez naquele ano, um milhão e trezentas mil cópias de St. Elsewhere, Crazy como primeira música lançada só na Internet a atingir o topo da parada britânica.
       Obviamente, ninguém nunca mais ouviu falar de Kevin Michaels, ao que consta ele vendeu dez mil cópias do disco dele, mas ainda assim a Downtown cresceu. Da experiência com o Gnarls Barkley, se consolidou usando bem a Internet. Não custa lembrar, o Gnarls é formado pelo cantor Cee-Lo e pelo dj Danger Mouse, conhecido por experiências fundamentais na história da música digital recente, como o Grey Álbum que misturava Beatles e Jay Z sem pedir licença. Depois, emendou esse trabalho com a produção de Demon Dayz, do Gorillas, trabalho da mesma EMI que brigou legalmente pelos direitos desrespeitados no álbum cinza. Com essa matéria-prima, a Downtown não hesitou, há dois anos, e lançou boa parte do disco antes no myspace (que na época ainda nem era da NewsCorp). Hoje nem tanto, mas na época era bem novidade. Estava dado o primeiro pontapé de grandes proporções em uma nova forma de marketing, de vendas, onde o gratuito estava incorporado.
       Pois bem, hoje a Downtown tem no currículo a dupla francesa Justice (a do D.A.N.C.E), o Spank Rock (que abriu para o Girl Talk no Rio, ano passado) e arrebanhou o rapper Mos Def. Tal crescimento em tempos de crise veio justamente da busca por conciliar o trabalho com o artista ao uso das ferramentas digitais disponíveis. Mas este texto não é pra fazer um perfil da Downtown, até porque o próprio Deutsch já admite que usar o myspace, o youtube e etc não é mais o suficiente. Em dois anos, a coisa mudou muito de figura.

       Sendo assim, vem a segunda pergunta do dia: já ouviu falar em RCRD LBL? Lê-se Record Label. Quem recebe a newsletter do CHAPPA certamente teve essa oportunidade em novembro passado (inscreva-se nos comentários), mas dá pra explicar de novo, sim. Trata-se do resultado de uma observação atenta dos novos hábitos de consumo ligado à experiência de Deutsch, que atuou em selos importantes no século passado, como Virgin e Elektra, e ao conhecimento da blogosfera de Peter Rojas (fundador e editor-chefe dos blogs comunitários/sites de relacionamento de tecnologia, Engadget e Gizmodo).
       O RCRD é um site de mp3 como tantos outros, com uma diferença fundamental: remunera com dinheiro de publicidade os selos conveniados, e portanto os artistas. O consumidor baixa música de graça, e o artista ganha pelo resultado do trabalho. É parecido com o expediente do Tramavirtual, por aqui, com a diferença de não ignorar a importância da estrutura de um selo/mini-gravadora, e de privilegiar material inédito.
       O projeto começou com duzentos e setenta e cinco artistas de quinze selos independentes, conquistou patrocinadores/anunciantes como a Puma, a Nokia, a BMW, a Nikon e a Virgin América, e hoje já tem ações comerciais com artistas como Moby – da EMI – além de um catálogo com quase todo mundo que se ouve de novidade no rock e música eletrônica, fora uns veteranos como Gang of Four e Dinosaur Jr.
       Depois de quatro meses, o crescimento do catálogo é mesmo o único parâmetro possível para medir o sucesso da empreitada. Nenhum dos sócios dá números de downloads, muito menos de grana (seja custo ou lucro). Portanto, assim como a virada do Radiohead, há de se ter muita atenção ao acompanhar os resultados da experiência. Dá também para ver o negócio todo sob duas perspectivas bem distintas: a eterna cooptação do capitalismo ao que surge do underground ou um golpe irônico do indie nos bolsos das multinacionais. De um jeito ou de outro, a conclusão que me parece saltar aos olhos e ouvidos é a de que música já é de graça, e pronto. Mas ainda é possível achar meios inteligentes de sustentar a criação e os artistas (fora turnê, merchandising, licenciamentos...).

       Sobre o Gnarls Barkley, o clipe lá de cima é o primeiro do segundo disco, The Odd Couple, ainda não lançado. A música é Run, e tem algo de Motown (como de costume), algo do groove acelerado de Hey Ya (Outkast). E, como não poderia deixar de ser, uma divulgação internética que de boba não tem nada. Blogs americanos têm recebido a foto de um documento que indica que o clipe tem sucessão de imagens que podem causar mal a quem sofre de epilepsia. Estilo Pokemon. Quer acreditar, fica à vontade.
       E para aproveitar o assunto, aqui vai uma listinha que eu catei no Brooklin Vegan, com as fantasias que a dupla já andou vestindo por aí. Afinal, já faz um tempo que não aparece uma listinha aqui:

Austin Powers
Back to the Future
The Big Lebowski
Cheech and Chong
A Clockwork Orange
Donnie Darko
Fear and Loathing in Las Vegas
Fight Club
Finding Nemo
Freddy vs. Jason
Hair
Kung Fu Hustle
The Matrix
Men in Black
Napoleon Dynamite
Night of the Living Dead
Pulp Fiction
School of Rock
Soul Train (Jazz TV Show in B/W)
Star Wars
Superman
Wayne's World
The Wizard of Oz
Yellow Submarine
Zelig


Enfim, a casa própria
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Dorival Caymmi :: Compilação de vídeos
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Agenda :: Momo, Hoje!
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Entrevista: Fabrício Ofuji, produtor do Móveis Col...
Vídeo: Reckoner, de Gnarls Barkley
Vídeo: L'Espoir des Favelas, de Rim'K

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