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28.5.05

Festa Ploc no Circo Voador - 27 de maio de 2005 (por João Alfredo de Castro)

Fui, enfim, a tal Festa Ploc Anos 80. Já saí de casa com a opinião formada. Acho aquilo tudo uma grande palhaçada!! {{Apesar de não acreditar na idéia de que na cultura pop, o tempo é hoje, sempre. Not always, careca, not always.}}

Chegando ao Circo Voador, impressões se confirmaram, outras mudaram e é pra discorrer sobre isso que estou apertando teclas.

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Pequena explicação: A Festa Ploc começou como um encontro de pessoas cool, alternativas, que se julgam capazes de fazer coisas não-convencionais e de gostar de coisas não-convencionais simplesmente para se mostrarem não-convencionais e capazes de ir além de um suposto senso comum. São os pseudocults. Não suporto isso. O camarada passa a gostar da idéia de ser diferente e paga o preço que for por isso!!!, para, simplesmente ser diferente. A palhaçada começou a juntar gente no Catete (bairro carioca), o que fazia um certo sentido, já que as pessoas se encontravam, bebiam, se mostravam diferentes umas pras outras (regozijando seus egos) e ainda riam daquilo tudo. Ingredientes para uma boa noite de diversão em qualquer lugar do mundo. Como pano de fundo tocavam músicas do He-Man, da She-ra, dos Smurfs, e dos Smiths... Bacana enquanto piada. Devo admitir que até me interessei por aquela piada. O problema é que neguinho passou a acreditar demais na tal da piada e, pior, acreditar que aquilo tudo era super bacana, um tesouro perdido nos armários velhos e redescoberto por eles, os pseudos-cults. A coisa foi crescendo, e além de Smurfs e dos Smiths, começaram a voltar à tona Sidney Magal, Gretchen, Dominó, Rosana, Balão Mágico, Herva Doce, Metrô, Magazine, Léo Jaime, Ritchie, e outras cositas mais...

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Bem... continuando: O rebuliço em torno disso tudo foi aumentando, a festa passou a botar 3000 pessoas todo mês no Circo Voador e ontem eu estava lá, meio a contragosto. Ao contrário do que possa parecer, eu gosto de muita coisa dos anos 80, principalmente de Chaves e das músicas da época. O problema daquela festa é que as músicas "carro-chefe" são as que simbolizam o lado negro da força, o lado negro da década. Até um ano, um ano e meio atrás, 90% das pessoas que estavam lotando as filas de compra antecipada de ingresso concordariam comigo. Aquilo é tudo é muito ruim e se não resistiu ao crivo inequívoco do tempo é porque é ruim! Quem é bom, sobrevive, não precisa de resgate. Ponto.

Sob o pretexto de estar na moda, porcarias acabam sendo legitimadas, como se as pessoas passassem a ter um salvo-conduto para gostar do que é ruim. Isso, quando levado a grandes proporções, acaba virando um circo dos horrores como os programas de televisão tão detonados pela crítica e, conseqüentemente, também pelos pseudocults. Imagina se um pseudocult admite que gosta de João Kleber, Ratinho, Galisteu, Gilberto Barros, etc, etc... É ruim, hein! Rosana é ruim, Gretchen é péssimo. É mais do que isso. É triste. No sentido mais intenso da palavra. A prova de que o circo dos horrores estava armado foi a correria que a entrada dela, Gretchen, no palco do Circo Voador causou. Era gente se estapeando, se empurrando, se pisando, para gritar "Gostosa" (?!) para Gretchen (e sua barriga Pitanguy) e para cantar "Konga, konga, kôônga", "freak lê boom boom". Será que neguinho não vê que Gretchen estava ali atrás da mesma coisa que ela busca quando expõe seus fracassos amorosos ou que apanha do marido nos programa vespertinos? Ela quer atenção, precisa ganhar um trocado qualquer para sobreviver. Será que nego não vê isso? Ou será que vê e gosta da idéia?! Não sei. Neguinho ri daquilo tudo, e depois diz que João Kleber é baixo nível... Se fuder!!! João Kleber é baixo nível e aquilo também é! A cena era triste. Uma mulher exposta ao ridículo, fazendo play-back na frente de 3000 playboys cariocas rindo daquilo tudo, (quase) todos pseudos-cults. Há tragédia por trás da cena. Gretchen fez questão de confessar ter 46 anos, só pra me deixar mais constrangido de imaginar que aquela senhora poderia ser minha mãe (e me obrigar a imaginar minha mãe cantando "Konga la konga"). Muito triste. Tanto é que, depois de três músicas, a piada (de mau gosto) perdeu a graça e neguinho voltou pra comprar mais uma cerveja. Tudo parecia confirmar a opinião que tinha antes de sair de casa.

Voltei a ficar chocado depois do show, quando reconheci o DJ. O cara era um baterista que tinha tocado uma vez comigo, e que, na época, se amarrava em grunge (movimento do início dos anos 90, que era negação total da música dos anos 80. Que coincidência!). Esse camarada foi a confirmação e a negação de tudo o que eu pensava sobre o "Movimento Ploc" e é a partir daqui que este texto vai ficar bom!!! Hahahaha!

Gretchen saiu do palco e o baterista-DJ começou a tocar o set. A pista voltou a encher. De repente, às 3h20 da madruga, o camarada mandou quatro petardos, na ordem: Superfantástico (Balão Mágico), O carimbador maluco (vulgo Pluct-Plact-Zum, com Raul Seixas), Ilariê (Xuxa) e Uni duni duni tê (Trem da Alegria). Caralho, o que foi aquilo?!?... Neguinho surtou demais!!! Lose the line total !!! Epifania, religião, catarse...

Olhei ao meu redor e comecei a me dar conta de que 80% da platéia deveria ter no máximo 25 anos. Essa galera nasceu nos anos 80, foi criança nessa época. O tal set resgatava o lado infantil, era a verdadeira memória afetiva daquela galera. Era a época em que as relações com música estavam diretamente ligadas ao lúdico. Aparecia, enfim, um sentimento coletivo verdadeiro.

Sonho encantado, onde está você?, perguntava o Trem da Alegria e aquela era a pergunta mais verdadeira e genuína que a geração que tem 25 anos hoje pode se fazer. A Festa Ploc legitimava enfim, algo bom. Legitimava os sonhos, aquilo tudo que, para pessoas de 25 anos, fica ocultado no dia-a-dia. Fica escondido pela necessidade de se mostrar forte e adulto num mundo que ainda está se abrindo e que exige isso. A nossa geração, e eu (22 anos) me incluo nela, ainda não saiu da casa dos pais. Há uma desilusão com a expectativa sobre as quais fomos forjados, de que aos 18 anos seríamos maiores de idade, e conseqüentemente donos de nossos narizes. Não o somos. Essa era uma idéia vendida aos nossos pais e que eles, na melhor das intenções, passaram adiante sem saber que rumo o mundo estava tomando. Nosso nariz é bem mais comprido e 18 anos não significa independência. Quantas pessoas de 25 anos que você conhece e que ainda moram com os pais? O mundo contemporâneo adia cada vez mais a tal independência. Hoje em dia, ter 22 anos é estar mais perto da infância do que do "¿universo adulto?", como era outrora. A música da dupla-mais-anos-oitenta-possível, Sullivan e Massadas, e que ficou eternizada pelo Trem da Alegria, foi uma fugaz e verdadeira válvula de escape de uma geração representada por aquelas quase 3000 pessoas. Um elixir. Eu quis saber da minha estrela-guia, onde andaria o meu sonho encantado. Sonho encantado, onde está você? A gente ia crescer, não ia?! Isso é o que há de verdadeiro, e por isso mesmo é o que me interessa na Festa Ploc. O resto é balela, é babaquice.

A Gretchen coitada, tinha 22 anos nos anos 80. Eu tenho 22/23 anos em 2005. A Festa Ploc foi uma experiência antropológica. Pude entender mais claro quem eu sou e quem é a geração na qual estou inserido. O que será que meus filhos vão cantar na Festa Trident em 2025? Festa no apê? O Latino é a próxima Gretchen. E quem será o Trem da Alegria? Tomara que venha logo.


João Alfredo é um pseudônimo que só minha mãe (que não é a Gretchen) vai entender. J.Alfredo nasceu em 1982 e discorda de quem diz que se deve evitar a repetição de palavras em um texto. Quando se repete uma palavra é com a intenção de demonstrar quão chave ela é naquele momento. J. Alfredo até gosta da Casa da Matriz mas odeia pseudocults.

3 Opine:

At 02:17, Blogger Léo Muniz said...

Fenomenal a comparação!!! Festa Trident em 2025 tocando Festa no Apê com Latino! A crítica é muito válida, mas acho que a alegria das pessoas que estão ali é válida também! Alguns dizem por aí que o tosco, de tão tosco, pode ser bom... eu diria que pode ser divertido! Tem gente fazendo arte, tem gente fazendo merda e achando que é arte! Da merda, a gente ri! Enquanto a arte fala por sí só! Não fosse assim Lulu Santos estaria naquele palco ao lado da Gretchen! Acho que a festa Ploc é um bom sinal!

 
At 13:31, Anonymous Anônimo said...

seria mais valido fazer um festa brock pra falar do inicio do circo e o verdadeiro rock pos ditadura sem ainda a influencia da internet e da mtv os moldes do rock nacional chamando picassos falso kid abelha de falla gang 90 replicantes isso sim desperta curiosidade e chamar pra cantar com essas bandas de agora agora sair de casa para escutar gretchen dançar música da xuxa e menudo isso sim é coisa de gente reprimida e sem infancia tenho 22 anos mas teve muita coisa boa aqui na nossa terra isso eu sei.

 
At 13:37, Anonymous Anônimo said...

esse evento é uma babaquise pdiam fazer um evento mais sério sobre o rock nacional e sua história Metrô e Magazine tambem fazem parte da historia do national rock

 

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