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29.4.08

Trilhas Sonoras: Apenas Uma Vez e Natureza Selvagem

Songs of Freedom



      Há algo de comum entre os filmes de Sean Penn e John Carney. Os dois buscam mostrar a liberdade em um mergulho solo, acompanhado de um violão. No caso de Once, a busca é por rumo depois de um romance adulto desfeito, onde a música é a parceira para um objetivo indefinido, perdido, até medroso. Em Into the Wild (e os títulos em inglês tem a ver com o fato de que música não se traduz, e os dois filmes são de música, em primeira ou última instância), a busca é mais do que definida, é pela exploração de uma natureza intocada, pronta a despertar a verdade que existe dentro de Cristopher - auto-rebatizado Alexander Supertramp. Nova vida, nova identidade. Essa, em construção do zero.
      Engraçado é notar que o personagem de Emile Hirsch, o andarilho Supertramp, não leva um violão ao lado, só livros. A música é trilha, um recurso de montagem, mas é fundamental para contar a realização doída que vai se tornando o rumo do personagem até o destino final Alasca. E até lá, e lá inclusive, o que mais surgem são contradições. Essas mesmas que nos acompanham na vida, daí a identificação.
      Trata-se de um filme que o tempo todo mostra amargura, arrependimentos, questionamentos sobre o que não se fez. Mas o tom não é de choro, é de descoberta, de inconseqüente coragem. Junto com o personagem principal, o diretor Sean Penn, o autor da livro-reportagem Jon Krakauer e o cantor Eddie Vedder também se rebelam quietos contra a carreira, o dinheiro, a família, o lar.
      O violão empunhado pelo Pearl Jam Vedder, solo, é o comentário à estrada, às afirmações contra tudo que dá segurança (afirmação contra, olha o paradoxo), ao não-olhar para trás, ao diálogo apesar da idéia fixa, à amizade apesar da jornada individual. Importante notar, onde se lê individual não se lê só. Assim como uma canção levada ao violão é completa, é cheia de possibilidades, é convidativa, mas nunca solitária, a jornada de Alex Supertramp é também assim: não se trata de solidão.
      É, sim, um individualismo romântico, cheio de códigos de ética e de integridade, onde não há espaço para negociação. As marcas que deixa são todas em espaços de transição: a parede do trem, a safra da primavera, a alfândega, o rio, e finalmente um simbólico ônibus parado onde não deveria haver ônibus. Daí, um pouco, as canções serem folk – um estilo de evoluções de acorde, de apoio na melodia da voz, essencialmente de busca de liberdade, embora ligado à terra.
      Apesar de mais velho, o personagem do músico Glen Hansard é igualmente um cara abrindo mão das promessas de um começo de vida por um sonho de liberdade. Para ele, que não ganha nome no filme, tocar o violão na rua, enquanto os outros passam, é a vida. É onde está a sensação de liberdade, de realização. Mais uma vez, mas por outros caminhos, o violão tocando a completude e as possibilidades abertas, sem hesitações e sem definições a não ser a própria certeza de seguir.
      No entanto, aqui vai uma diferença: o protagonista de Once não é solitário enquanto toca. Na loja de consertos de aspiradores de pó onde trabalha com o pai, ou no quarto da casa também do pai, ele é um homem recolhido depois da separação. Não é o recolhimento que predomina, mas ele está registrado e é o caminho que vai ser percorrido até se chegar ao destino.
      De qualquer forma, no toque do violão, em um filme onde o dinheiro não existe para home studios, ipods ou mp3, as amarguras e decepções que marcaram somem para um som entre transeuntes, entre passantes e pedestres, e uma em especial – imigrante, uma pianista sem piano, uma espelho também sem companhia (com a diferença de uma filha).
      Once não é um road movie, mas também não pode ser chamado de um musical. No máximo, um musical sem dança. E fica para o leitor medir o quanto de ironia e bravata há na definição.


      Os dois filmes tratam igualmente de arrependimentos, embora sejam de celebração. Nos dois casos, um namoro com o fim trágico: não ser amado, não ser bem sucedido, não sobreviver. E, romântico ou heróico, o violão está lá para explicar porque as coisas são assim. Quem nunca sentou em uma roda do instrumento nunca há de entender as escolhas de um e outro.


E um bônus:

1 Opine:

At 11:44, Blogger Travolta Discos said...

Opa, o Rodrigo Lariu recomendou teu blog. Somos um selo de São Paulo que promove alguns shows, nosso principal evento é o KOOL METAL FEST, festival que rola desde 2003, e que atualmente, registramos e lançamos em DVD. O primeiro foi lançado no início desse ano

A gravação do segundo volue do DVD rola dia 15 de junho, cola lá no nosso blog para maiores informações.

Abraço

Cleiton

 

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