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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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19.4.08

Abril Pro Rock (parte 2)

Não há como negar que a interminável noite de punk-hardcore da véspera trouxe uma preguiça ao sábado de quem acompanharia o segundo dia do Abril Pro Rock 2008. Atrasei uma hora para chegar, mas o festival atrasou uma hora e pouco pra começar, sendo assim, pude assistir aos primeiros shows. Alguns deles eram de artistas que, na véspera, tinha ido assistir à palestra que Paulo Terron e eu demos sobre mídia independente – e da qual eu gostei bastante. No fim do bate-papo algumas daquelas bandas nos ofereceram seus cd's e nos convidaram a assisti-los ao vivo. Estava lá a chance.

Das quatro primeiras - Madalena Moog (PB), Erro de Transmissão (PE), Sweet Fanny Adams (PE) e Barbiekill – apenas as duas últimas demonstraram algum domínio maior sobre o que estão fazendo, botando alguma assinatura em cima das próprias referências. O Sweet Fanny Adams na linha do 'novo rock', da linha Strokes, Franz Ferdinand, que de 'novo' já não tem mais nada – e o Vampire Weekend está aí para mostrar isso – e o Barbiekill como a "única banda de new rave do nordeste". Entenda-se: mistura a farra da performance do CSS com o caos e as letras bizarras do Bonde do Rolê, sob um sotaque carregado. O vocalista é atacadinho como o métier do gênero pede, o grupo se diverte no palco e se encontrassem o Adriano do CSS pediriam a benção. Mas você que já nos lê, sabe que eu não me animo muito naquela onda ali, néammm?

Em seguida aos quarto novatos nordestinos, começou a miscellanea bacana de shows que pode caracterizar um festival independente no Brasil dos anos 2000. Autoramas no palco principal mostrou porque é uma das maiores bandas desta cena no país. Com a nova baixista, o grupo manteve a pegada normal e tocou para um enorme Chevrolet Hall com meia-casa – ou seja, o maior público do festival. Sucedendo os cariocas-candangos, o Violins se encarregou de ser a maior decepção desta edição. Depois de ouvir com interesse seus primeiros discos, era, certamente, a banda que mais tinha expectativas em ver. Com uma performance tímida, pouco vibrante – e até amadora, se observado os quase dez minutos que o grupo ficou sem tocar arrumando seus equipamentos num acesso de preciosismo que não combinava com os poucos 25, 30 minutos a que tinham direito ali – eles voltaram para Goiânia sem serem notados.

Em seguida, Wander Wildner seguiu com seu espírito punk-sem-dente, cantando deliciosas demências, flertando com o brega, uma vela pra Sid Vicious e outra para Waldick Soriano. Especialmente no Recife, ele é muito querido e a galera voltou a se juntar na frente do palco principal para acompanhá-lo. Ao que soube, Wildner tem incluído músicos locais nas suas mais recentes apresentações e feito algumas músicas com espaço para a marca local. Desta vez, um naipe quentíssimo de metais fez "Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro" virar um carnaval, que chegava a lembrar o primeiro disco do Los Hermanos. Wildner saiu de cena muito aplaudido e com o show mais divertido desta edição na mochila.

Com a platéia quente, o jogo ficou ainda mais difícil para Vitor Araújo, o pianista foda que quem lê o SOBREMUSICA já conhece há algum tempo… A dúvida era se o palco de um festival caberia bem no requinte que o seu eruditismo faz supor. A microfonação não deu conta de fazer jus ao peso que a mão de Vítor impõe às teclas, mas mesmo assim, já na primeira música Vítor botou o Abril no bolso. Muito aplaudido desde o início, ele arrancava exclamações de dois senhores da primeira fila que, aparentemente, nunca o tinham visto em ação. O curioso ficou por conta da música mais aplaudida ter sido exatamente a única autoral de Vitor, "Valsa pra lua", o que surpreendeu o próprio pianista. Num festival que já serviu de plataforma para muita gente, como é o caso do Abril Pro Rock, sempre se espera ver algo novo, descobrir quem é que vai entrar no universo dos artistas que fazem a nossa cabeça por anos e anos. Não houve dúvidas de que o nome desta vez, se houve, foi Vitor. Mas por enquanto, não vou me estender sobre o rapaz porque se não vai começar a parecer jabá – ainda mais quando vocês começarem a ver o que vai rolar por aqui em breve, hehehe...

Por conta disso – que eu disse que vai rolar em breve – acabei perdendo grande parte do show da Céu, que eu tanto queria ver. Esbarrei com ela atrás do palco, ainda mais linda grávida. A metade final foi cheia de referências de afro-beat e citações ao papa Fela Kuti. Perdi os hits, mas ainda assim deu pra curtir bastante. Céu desce doce – foi a frase que ficou na minha cabeça depois do show e acho que explica bem…

Ainda vieram Rockassetes (SE), Jupiter Maçã (RS), Superguidis (RS) e The Datsuns (Nova Zelândia). O Rockassetes e o Superguidis entram naquela coisa que falei no primeiro parágrafo da parte 1: bandas legais, boas, mas que não trazem nada de tão interessante assim. Certamente as letras são peças importantes na compreensão daquela onda, mas no Abril, definitivamente, não era o melhor lugar para saboreá-las. Júpiter Maçã, codinome artístico da lenda do rock gaucho Flávio basso, ele é da mesma geração de Wildner. Os elogios a seu recente disco – que ainda não ouvi – aprofundaram ainda mais a decepção. Basso fez um show totalmente apático, pequeno para o palco 1, e esvaziado pelo tufão que fora o fim da apresentação do conterrâneo. Não há espaço para ele depois (e tão próximo) de Wander Wildner. The Datsuns corta, tá…

Boa parte do público já tinha ido embora quando os últimos gauchos foram anunciados. O trio instrumental Pata de Elefante foi aguardado sobretudo pelos jornalistas presentes. Por mais que eu estivesse na leva dos que queria vê-los, admito que só resisti por conta da força de colegas. Ainda mais pelas péssimas condições de alimentação que se viu nesta edição do festival, com apenas duas barraquinhas, iguais (dispostas uma de cada lado da casa), onde as opções se restrigiam a espetinhos de carne, frango e queijo. Até por isso, apesar de os ouvidos terem sido recompostos pelo som do Pata, o cansaço logo levou todo mundo embora. Lobão deve ter tocado para ninguém.


Internet: M79, Vampire Weekend (Pitchfork.tv)
Internet: Portishead na Last.fm
Disco: Maré, Adriana Calcanhotto
Internet: The Filter, de Peter Gabriel
Exposição: David LaChapelle
Abril Pro Rock 2008 (parte 1)
Abril Pro Rock 2008
Show: Orquestra de MPCs no Oi Futuro
Agenda :: Festa URBe 5 anos
Aleatório #41 (part. Bernardo Mortimer)

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