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17.4.08

Internet: The Filter, de Peter Gabriel

Criador x Curador


       Peter Gabriel é foda. De uns tempos para cá, se cansou de ser só o cara da música pop para ser também um empresário. A escolha óbvia seria ter o próprio selo, como já fez o talkinghead David Byrne, mas ele fundou a OD2, fornecedora digital de música que chegou a ser forte na Europa, com clientes como Nokia e MSN. Foi vendida. Ao adotar as palavras-de-ordem “tecnologia é o novo roquenrou”, se enroscou nos caminhos da Internet e planeja um novo passo.
       Há pouco mais de um ano, o the Filter é um plug-in do iTunes que pode ser baixado de graça. Serve como um sistema de recomendações que compara gostos e atua no shuffle do teu computador. Desde o surgimento da Amazon, no entanto, os sistemas de recomendação agem todos de forma muito parecida. Só muda mesmo o algoritmo. O the Filter seria diferente por estar baseado não em notas e avaliações de outros usuários. A fórmula seria uma análise profunda e ágil dos hábitos do usuário na Internet.
       O sócio geek de Gabriel, Martin Hopkins, explica que a estratégia é privilegiar cliques em links, compras na rede, e streams ouvidos/assistidos. Outra coisa é não guardar gigantescos bancos de dados: o link de três anos atrás está velho, você virou outra pessoa e não precisa ser lembrado do passado, mesmo que ele não condene.

       Depois de ser testado em listas de mp3s, o the Filter agora quer passar a ser o dj da tua vida. A ferramenta que faz as escolhas por você. Em um raciocínio meio piada de salão, Gabriel fala que a primeira revolução da Internet foi a de ser livre para escolher. Mas, não mais que de repente, os links foram acasalando e se reproduzindo e chegou a hora da segunda revolução, a de ser livre de escolher (freedom of choice e freedom from choice). A idéia é que a ferramenta seja um guia não só de música, mas de comportamento. O algoritmo olha o que você ouve, e te recomenda uma roupa pra sair na sexta à noite (mesmo que seja em, sei lá, Tóquio), ou o filme pra levar o teu sobrinho sem dormir no saco de pipoca.
       Tudo isso ainda são planos, mas a era de só plug-in fica pra trás no mês que vem, quando o the Filter vira site aberto ao público. Além de música: vídeos, livros, programação de tv e o que mais for entretenimento e digital. Pra dominar o mundo, há de se ir devagar com o andor.
       Falando assim, parece sensacional. Um referencial a mais, embasado, e que pode ser simplesmente ignorado se for o caso. Quando acertar, é um tempo poupado. Afinal, o google te entrega tudo, mas às vezes o que você queria mesmo só chega lá pra página três dos resultados. É a tal história que Gabriel conta com uma citação a Brian Eno: o curador começa a ser tão ou mais importante do que os criadores. O dj é um só, e escolhe as melhores músicas de todos os tempos e cantos do mundo para aquele momento, além da melhor forma de apresentá-las aos ouvidos e quadris da turba enfurecida por diversão. Vai, ele diria “entretenimento”.
      Pois a ambição do the Filter é ser este life jockey: não pilotar discos, mas opções de vida. Pelo menos as cotidianas, que dão o gostinho do sorriso antes de deitar a cabeça no travesseiro.
       Pra começar o negócio, foram investidos oito milhões e meio de dólares. O acesso ao site será livre, portanto gratuito. A aposta para se pagar, portanto, é publicidade. E licenciamento a outros jogadores do meio digital. A MSN e a Nokia, clientes lá da antiga OD2, já assinaram parceria. Fora a Apple, via iTunes. Assim, o banco de dados do the Filter já entra no ar com 50 milhões de transações internéticas feitas por europeus.

      Como a música pop, a internet precisa de hits. E, às vezes, os hits não são as melhores músicas, mais bem compostas, tocadas, arranjadas. Por enquanto, a nova aposta de Peter Gabriel parece ser só hype. Ou nem isso, candidata a hype. O problema é que a distância entre o hype e o candidato a hype é gigantesca. E é preciso fôlego para percorrê-la. Peter Gabriel não é bobo, mas está arriscando lá em cima ao ficar jogando idéias ao vento assim, em tempos de tanta informação e produtores de informação no ar. Ou já tem mais caminho andado do que mostra, ou pode acabar vendendo o filtro antes de chegar a ficar satisfeito com ele.
      Também não seria mau negócio...


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