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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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15.4.08

Exposição: David LaChapelle

Entre no Mundo Real






      A partir da segunda metade dos anos Clinton, nos EUA, o prazer tomou de vez o lugar da consiência política e do banditismo com cara de mau (talvez a morte de Tupac e Notorious seja a marca da transição) no rap mainstream. Foi nessa época que o r'n'b, ou que passou a se chamar assim, de cantoras cheias de trejeitos vocais de coro de high school e coreografias de cheer leader, começou a namorar o rap com a bênção não mais de djs, mas de super produtores.
      E o fotógrafo desse movimento que ainda hoje tem influência até na propaganda de grandes marcas é David LaChapelle. E uma oportunidade de ver o que ele tem a mostrar está no Rio, exposto no Oi Futuro, no Flamengo.
      O que mais me chamou a atenção não foram as fotos, exatamente, mas a tv com os videoclipes. Não me lembro a última vez, tv e youtube incluídos, em que assisti a quatro desses sem mudar de canal, conferir email ou trocar uma mensagem no meio. Apesar de a tela de plasma distorcer as imagens de uma forma inaceitável para a mostra de um trabalho visual que já usa a distorção como opção estética, dá bem para ler cada uma das obras que gira em loop (sem sincronia) com a música de cada clipe.
      Se nas fotos, LaChapelle busca um conceito de editorial de moda onde cabem distorções e cores surrealistas de um Dalí junto com cinismo e imediatismo publicitários de um Warhol, nos vídeos isso se mostra mais incorporado ao produto final. As fotos querem te dizer que são artísticas, o que são tão quanto uma mercadoria exposta para o primeiro comprador. Os clipes te dizem que são uma mercadoria para compradores, o que são tanto quanto uma obra de arte. A ordem altera o produto o tempo todo, não se engane.
      O que essas obras de arte têm a dizer é o mesmo que a música pop que representam. É a busca do sucesso bling fetichista que vai alimentar corpos bonitos e mimados para que gerem mais singles em sucessão (trocadilho involuntário) em uma competição de batidas, reapropriações e cópias, delírios ególatras de capa de revista e sexo não-mais-reprimido. A substância não é nada além da própria repetição, seja na forma que for.
      O cenário é sempre o subúrbio dos Estados Unidos, ou o imaginário correspondente, observado a partir dos olhos deslocados de um menino gay filho de mãe imigrante do leste europeu. Também achei a história bem parecida com a de Andy Warhol, daí a confirmação da repetição como a mensagem.
      De qualquer forma, esse tal cenário localiza o confronto não declarado entre uma religiosidade kitsch e uma sensualidade manipulada digitalmente (outro trocadilho involuntário, vou parar). As cores são todas afetadas por um olhar de extrema intervenção no que há de natural. A naturalidade não é o fim, nem o meio, e pode até ser o pecado: portanto que se assuma o photoshop. O que há de escapista nos vídeos, há também de comentários sobre o circo das coisas. O vazio das celebridades celebrado nos sets de LaChapelle permite warholianamente uma auto-ironia aqui, uma piada interna ali, um jogo de vítima assumir de bom grado o papel de narrador, sem nunca deixar de ser assunto em uma pose de extrema realização pessoal. Triunfante.
      Mesmo que o fast food, a fragilidade imobiliária e as relações estejam sendo denunciadas no fundo, elas não passam disso: de batidas quebradas e figurantes para fazer dançar segundo a coreografia.
      Mas e os clipes são ruins? Vazios? Não. Só porta-vozes explícitos de tempos marrentos e difíceis. LaChapelle é um picareta inteligente, da nobre linhagem de gente como Malcolm MacLaren, Raul Seixas, Sílvio Santos, Diego Maradona, George Soros, Shaun Ryder, Lenny Kravitz e do próprio Andy Warhol. Entendeu um lugar para se expressar com glamour e sem vergonha, para não ter que pensar muito, apesar de intenso planejamento, e para sempre sair bem na foto, apesar da pose descontraída.
      Ou seja, uma importante faceta da arte contemporânea na exploração do que já nem é um paradoxo. Em Matrix, seria um "bem-vindo ao mundo real". Em Trainspotting seria um "escolha a vida".

Pra ver os vídeos com uma qualidade apropriada, o que eu recomendo fortemente, chega aqui.


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