Documentário :: Wilson Simonal – Ninguém sabe o duro que dei
Até que demorou a alguém se aventurar numa das histórias mais controversas e mal contadas da história da música brasileira. A memória de Wilson Simonal se tornou, aos poucos, um velho pedaço de papel no fundo de um livro qualquer da estante. Para quem nem sabe, nem ouviu falar em Simonal, o filme é uma descoberta deslumbrante. Para quem já ouviu falar e sabe que ele teve uma treta que envolvia a ditadura, que era acusado de traidor, mas não vai além disso - imagino esses sejam a maioria –, é um esclarecimento, um texto quase definitivo. Para quem já sabia de tudo que realmente rolou, é um tapa na cara, que revela a omissão e o desinteresse por recuperar anos que ficaram e uma vida destruída, em nome de uma certa vaidade e empáfia 'revolucionária'.
A suspeita prévia de que se trataria de um documentário com cara de produção de TV se confirma. Produção da TVZero, especializada em tornar viável projetos de documentários no Brasil - o que muitas vezes aponta o pensamento para viabilidade televisiva do produto -, o filme usa bastante "talking-heads", aquelas entrevistas em close-up, que são o guia da história. É através de depoimentos de nomes como Nélson Motta, Miele, Chico Anisio, Max de Castro, Simoninha, Ziraldo, Jaguar, Toni Tornado, Boni, Pelé, entre outros, que o enredo é composto. Para completar, muitas vinhetas, spot-shadows em jornais antigos, clipes musicais e imagens de arquivo. Alguns momentos brilhantes são recuperados como o dueto de Simona com Sarah Vaughan em "The shadow of your smile".
Durante a primeira metade do filme, a sensação é a de que se trata de um filme chapa-branca, imbuído na tarefa de limpar a honra do cantor. Mas o corte brusco que é feito quando os produtores – com a ajuda de um detetive – encontram o ex-contador de Simonal, personagem chave no processo que degringola o ostracismo do cantor, muda tudo. Dali em diante, fica claro que não existem mocinhos, nem vítimas nessa história. Um outro bom momento é a reflexão de Boni, ex-diretor da Rede Globo durante mais de 20 anos, admitindo que se Simonal fosse, de fato, colaborador da ditadura, ele teria monopolizado a programação do canal naqueles anos devido à influência que o regime exercia, sim, sobre a grade.
A narrativa segue refletindo sobre o que levou aquilo tudo, até o final da vida de Simonal. O cantor passou o resto dos seus anos tentando recuperar alguma honra ou pelo menos deixar de ser "uma página em branco na história da música brasileira", como sua segunda esposa admite que ele se sentia. O começo da carreira musical dos filhos se confunde com a reta final de sua vida. A participação em programas trashes de tv, apresentações em palcos melancólicos, a voz que é só lembrança daquela dos anos de chumbo, mostram como a história se fecha.
Os diretores Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal conseguem utilizar toda a duração do filme para, de fato, contar uma história. Nada é gratuito, desde a construção do mito da primeira parte do filme, até os depoimentos constrangedores de Ziraldo e Jaguar no final, quando ambos tratam com uma leveza que não lhes cabe, o fato de terem conduzido em grande parte a campanha de destruição de Simonal e nunca terem se retratado. Como se tudo fosse apenas um grande e infeliz mal-entendido, a vida seguiu. Simoninha e Max de Castro, ao contrário, se demonstram generosos por encarar a mesma situação com essa leveza, apesar de terem sofrido na pele o que para Ziraldo e Jaguar era uma navalha sorridente com a qual com a qual construíram seus papéis na esquerda brasileira.
Por fim, Simonal é só um personagem riquíssimo cheio de contradições, apresentado sem maniqueísmos. Ele cavou sua própria cova e os outros fizeram questão de jogar terra e mais terra e mais terra por cima. Mais do que isso, o filme ressalta que Simonal foi um puta artista pop que merece mais ouvidos do que olhos, mãos e dedos.
A suspeita prévia de que se trataria de um documentário com cara de produção de TV se confirma. Produção da TVZero, especializada em tornar viável projetos de documentários no Brasil - o que muitas vezes aponta o pensamento para viabilidade televisiva do produto -, o filme usa bastante "talking-heads", aquelas entrevistas em close-up, que são o guia da história. É através de depoimentos de nomes como Nélson Motta, Miele, Chico Anisio, Max de Castro, Simoninha, Ziraldo, Jaguar, Toni Tornado, Boni, Pelé, entre outros, que o enredo é composto. Para completar, muitas vinhetas, spot-shadows em jornais antigos, clipes musicais e imagens de arquivo. Alguns momentos brilhantes são recuperados como o dueto de Simona com Sarah Vaughan em "The shadow of your smile".
Durante a primeira metade do filme, a sensação é a de que se trata de um filme chapa-branca, imbuído na tarefa de limpar a honra do cantor. Mas o corte brusco que é feito quando os produtores – com a ajuda de um detetive – encontram o ex-contador de Simonal, personagem chave no processo que degringola o ostracismo do cantor, muda tudo. Dali em diante, fica claro que não existem mocinhos, nem vítimas nessa história. Um outro bom momento é a reflexão de Boni, ex-diretor da Rede Globo durante mais de 20 anos, admitindo que se Simonal fosse, de fato, colaborador da ditadura, ele teria monopolizado a programação do canal naqueles anos devido à influência que o regime exercia, sim, sobre a grade.
A narrativa segue refletindo sobre o que levou aquilo tudo, até o final da vida de Simonal. O cantor passou o resto dos seus anos tentando recuperar alguma honra ou pelo menos deixar de ser "uma página em branco na história da música brasileira", como sua segunda esposa admite que ele se sentia. O começo da carreira musical dos filhos se confunde com a reta final de sua vida. A participação em programas trashes de tv, apresentações em palcos melancólicos, a voz que é só lembrança daquela dos anos de chumbo, mostram como a história se fecha.
Os diretores Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal conseguem utilizar toda a duração do filme para, de fato, contar uma história. Nada é gratuito, desde a construção do mito da primeira parte do filme, até os depoimentos constrangedores de Ziraldo e Jaguar no final, quando ambos tratam com uma leveza que não lhes cabe, o fato de terem conduzido em grande parte a campanha de destruição de Simonal e nunca terem se retratado. Como se tudo fosse apenas um grande e infeliz mal-entendido, a vida seguiu. Simoninha e Max de Castro, ao contrário, se demonstram generosos por encarar a mesma situação com essa leveza, apesar de terem sofrido na pele o que para Ziraldo e Jaguar era uma navalha sorridente com a qual com a qual construíram seus papéis na esquerda brasileira.
Por fim, Simonal é só um personagem riquíssimo cheio de contradições, apresentado sem maniqueísmos. Ele cavou sua própria cova e os outros fizeram questão de jogar terra e mais terra e mais terra por cima. Mais do que isso, o filme ressalta que Simonal foi um puta artista pop que merece mais ouvidos do que olhos, mãos e dedos.
4 Opine:
E você leu que justamente o Ziraldo e o Jaguar acabaram de receber indenizações milionárias pela perseguição que sofreram da ditadura? Curioso.
...ontem eu fui no Memorial da América Latina, muito bom o documentário, pode ser a oportunidade para a mídia reparar o "erro" que cometeu, mas esse "erro" foi "justificado" pelo fato do próprio Wilson ter inventado a história que era um direitista a serviço da ditadura. Tenho 27 anos e não conhecia muito a história, mas vale a pena divulgar o material em faculdades e ONG's, um povo que carece tanto de heróis precisa conhecer sua própria história.
Eu gostava do Simonal, tenho 58anos. Como gosto de Ziraldo e Jaguar e como gostava do Pasquim. Ele era um puta intérprete.Mas fica dificil julgar as atitudes de cada um inclusive porque eram tempos dificeis.Hoje com certeza existem milhões de dedos-duros bem-sucedidos.O sistema aceita. A mídia é tolerante.Simonal hoje é fichinha.Como diz aquela música já vencida do Gilberto Gil: "Antes mundo era pequeno porque Terra era grande,hoje mundo é muito grande porque terra é pequena..."
se eu vir o Ziraldo na rua eu vou xingar muito, muito, especialmente porque ele se mostrou um racista nesse documentário.
Se eu vir o jaguar, eu vou fazer questão de jogar cerveja na roupa dele e fazer um discurso contra indenizações milionárias pagas por contribuintes que muitas vezes nem eram nascidos na época da ditadura.
Putz, só para comparar, uma vez eu entrei com uma reparação de danos contra o DF representando um lixeiro que teve a perna amassada por dois caminhões. O valor pleiteado era, em valores atuais, de cerca de 100 mil reais. Estou com uma ação de erro médico de diagóstico errado de câncer. Valor da causa: 600 mil reais.
Agora, um milhão para cada um desses cartunistas é um pouco demais. Como contribuinte que nem era nascida nos anos de chumbro, eu me sinto super mal de ter que pagar uma conta que nem foram meus pais que deixaram, afinal meu pai fui chutado da UNB na ditadura. AH, e eu não pedi indenização da UNB, não.
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