On The Other Side, the Strokes
O Tédio de CasablancasFilho de um pai milionário e playboy, chefão de uma agência de modelos que é grife de beleza, Julian Casablancas não precisava gostar de rock. Nascido e cercado por oportunidades, escolheu ser vocalista em Nova Iorque, e assim sem querer lidera desde o início do século the Strokes, a banda que é considerada a primeira do novo rock. (Para ser exato, o nome Strokes é de 99). Internet, bebida, guitarra, retrô, uma amizade que nasceu do colégio, clubes pequenos que foram crescendo junto com a fama, em vários elementos reconhece-se uma clássica história do século XXI, esse que mal começou.
Pois bem, Casablancas não é exatamente uma figura de muitos boatos, de namoros de paparazzi, de envolvimentos expostos em manchetes de tablóides, nada disso. A não ser por uma ou outra acusação ligada ao álcool, a parar de beber, a mandar nos colegas, nada bombástico ou perto de ser levado a sério. E é um pouco disso que trata On The Other Side, do ‘First Impressions of Earth’.
Com um currículo inevitável de festas e coquetéis familiares com elencos milionários, a música começa com uma variação de baixo algo monótona, econômica, repetitiva, marcial, grave. Daí para ataques nas cordas mais agudas da guitarra, que ressoam, sem alterar muito a levada. E Casablancas reclama, sem muita vontade: “I’m tired of everyone I know/ Of everyone I see on the streets and on tv”. Cansaço do ambiente que o cerca, essa é a receita, que no caso dele não chega a ser a descoberta de um mundo novo de terceiro disco. Como se disse, a alta classe artística provavelmente o pegou no colo quando ainda de fraldas.
Do cansaço que irá se repetir em choros entediados ao longo da música, vem a conclusão algo mórbida, em tom de depressão. “On the other side/ Nobody’s waiting for me/ On the other side”. O abandono da voz da canção é mais inevitável do que desesperador, há aceitação ali. No encarte do disco, vem junto à letra uma citação ao poeta persa Rumi, doze séculos antes de Cristo: “ninguém é adulto a não ser os que não têm desejo”. Onde está o Strokes portanto? Adulto e sem vida?
A música segue e uma cena escura do cotidiano busca a identificação imediata. “I hate them all/ I hate myself for hating them,/ So I drink some more./ I love them all/ I’ll drink even more/ I’ll hate them even more, then I did before.” Os instrumentos param a base marchada já com a guitarra somada ao baixo de poucas notas. Volta o refrão: ninguém o espera do outro lado, a solidão o isola.
Entra um pedaço de flash back, a guitarra é espaçada, surge um interlocutor, “you”, sem rosto. O que se sabe é que “you” o ensinou a cantar, há um tempo que parece distante. A fama surge como assunto, o que só tinha se ensaiado até então. O raciocínio para o cansaço, em uma linha melódica já diferente, mais alta e algo mais sóbria, mas ainda de fins de frase prolongados leva a uma conclusão. “I’m tired of being so judgemental of everyone” e “I will train my eyes to see” são a resposta, já na base dos refrãos, marchada de guitarra e baixos repetindo uma subida e descida simples. Os verbos “sing” e “see” podem ou não ser levados ao pé da letra, já que se trata de um vocalista líder de banda e de um jovem atormentado pelo tédio da vida dos artistas de capas de revistas. Sing seria da alegria, e see da verdade, ambos distantes.
O fim se aproxima, e a conclusão não exagera no otimismo. The Strokes não é emo nem ressuscita ídolos ingleses da década de 80, como o Killers faria, por exemplo. “On the other, I know what’s waiting for me./ On the other side.” “On the other side,/ I know you’re waiting for me./ On the other side”. Sombrio sim, e só com o além como solução, Casablancas e a guitarra de Nick Valensi encerram juntos, secos, o lamento de meninos atormentados pelo tédio.
No século XXI, uma história de amor sem redenção em vida ainda pode tocar os ouvidos de fãs do rock’n’roll. Strokes: adultos e com vida, nova vida, o desafio é compreendê-la.
1 Opine:
Muito bom falou tudo!
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