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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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2.9.06

Ouvindo Tudo Junto

Tapa na Pantera

      Apreender o que se passa ao redor é um exercício de perseguição à utopia, ao ideal, de acreditar no perfeito (e na falta de defeito, pra rimar). Chegar a uma conclusão precisa não dá, mas o percurso satisfaz mais do que a chegada, e é por isso que a gente tenta e faz bem ao tentar. A saúde agradece qualquer horizonte, e assim se alimentam grandes questões para preencher os intervalos entre um gole e outro da bebida preferida em lugares escuros e mal-iluminados. Viver, quem é da noite entende.
      Pois o que é a música do ano 2006? È o rock retrô de seja lá que década, injetado de ansiedade trôpega, sim. É o dub já de sotaque aleatório e referências jazz sobre loops daqui ao transe, também. É a busca de uma raiz plantada na hora abaixo da terra, atrás de um chão para não sair voando em fumaças rápidas, se for o caso.
      Mas é o fim das tribos e o início da facilidade de sobreposição de comunidades e ritmos nos orkuts e Ipods que formam as referências da vida que se leva. São cinco páginas de Internet abertas uma em cima da outra na tela, são vídeos do Youtube assistidos ao mesmo em que se ouve um podcast em streaming (salve o pause!), festivais com três palcos imperdíveis simultaneamente, e verbos conjugados lado a lado como estudar e conversar, trabalhar e celular a noite de logo mais, consumir e viver. Ninguém nem pensa em chupar cana e assobiar, a não ser que seja para uma piada visual a ser mandada para a lista toda do gmail.
      Tudo isso sempre personalizado, como uma página do myspace. A idéia pode até ser sempre mais ou menos a mesma, mas um perfil não aparece como o outro, e quem domina as ferramentas tira mais onda.
      É no meio disso tudo que surgem cada vez mais as covers inusitadas e os mash-ups. Duas possibilidades de uma mesma idéia. Os djs misturam bases com riffs e letras cantadas de três músicas diferentes para criar o que tem que mexer junto em cabeça e quadris (e coração, sempre) ao mesmo tempo em que a banda de rock manda ao vivo, no mesmo dia e em palcos vizinhos o hit dos negões do hip-soul-hop duo que todo mundo tá ouvindo. É mais do que o fim das fronteiras, é a soma de camadas que a seleção natural tornou mais transparentes e que agora coexistem enquanto competem em creative commons – tudo liberado, mas não roubado.
      O mash-up e as homenagens ocupam espaços alternativos: mp3s divulgados de graça e apresentações. As duas pontas da história da música, os dois espaços que chamar de alternativos só não é um pecado porque a doideira é justamente que o alternativo virou o espaço do convencional hoje, e você sabe disso. Porque fora do alternativo/convencional, o que há é crise e espaço vazio. E baixar música de graça é mole, nem parece que é proibido.
      Quando um cara percebe que um clássico pode encaixar com um hit e com uma batida irresistível e meio desconhecida (ou qualquer outra combinação parecida), ele está andando na tradição de misturar para criar o novo, ele permite um encontro de diferentes que joga o híbrido para a natureza. E se for bom, sobrevive. Às vezes até demora, mas sobrevive.
      E o mesmo é com a banda de country punk que toca Hey Ya, com Jack White do Raconteurs gritando Crazy em festivais do verão do ocidente, com a Orquestra Imperial naipeando Iron Man, o Áudio Bullies indo de Bang Bang... My Baby Shot Me Down, o Móveis Coloniais de Acaju atacando Take Me Out, Radiohead chorando Nobody Does It Better, qualquer coisa do Easy Star All-Star ou com o Cake tornando a versão de I Will Survive um clássico indie. Os exemplos nunca vão parar. Aliás, estão cada vez mais aí.
      Aliás, dá uma passeada na nossa MTV e vê se não é por aí.




2 Opine:

At 12:44, Anonymous Anônimo said...

É! Tem de tudo, de todos para todos.
O YouTube reflete a era do hibridismo, é sensacional!! Um puta canal de comunicação, onde o emissor e o receptor vivem uma efervescente inverção de fluxo...
Ah, já ouviu as versões do Bad Plus para "Every Breath You Take" e "Smells Like Teen Spirit"? Espero q role no Tim...

 
At 15:58, Blogger Alexandre Matias said...

Eh tudo, no fundo, a mesma coisa :P

 

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