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11.8.08

Entrevista: Fabrício Ofuji, produtor do Móveis Coloniais de Acaju

A Concepção de Grupo



      O grande momento de uma banda, hoje, pode muito bem passar pelas mesmas realizações de outros tempos, sem o fator grande gravadora. Mas só isso, repetir grandes momentos sem apoio, não satisfaz um apetite de um time de futebol com reservas e comissão técnica em cima do palco. Há de se ter idéias, e botá-las para funcioanr.
       E o Móveis acabou de fechar o nono Móveis Convida, uma evento de história com poucos precedentes no Brasil. Vão para a Europa, agora na sequência. E ainda tem um Álbum Virtual pronto para disparar no sistema de dowload pago pelo patrocinador. Fora isso, comemoram dez anos de trajetória com uma estrutura cada vez maior, com mais nomes, e que só aumenta por causa de planejamento, perseverança, e organização. Pequenas empresas, grandes negócios? Até parece, mas no palco quem já viu que passa por bagunça, improviso e principalmente muito entrosamento.
      Daí o papel de Fabrício Ofuji, o produtor do Móveis, amigo, e praticamente embaixador da banda. Sem ele, a história seria diferente.

sm: Me lembro de conversar com o Esdras [saxofonista da banda] há uns dois anos e ele já dizia que o próximo plano do Móveis era fazer turnê pela Europa. Acho que na época ia rolar, ou tinha rolado, a primeira viagem de vocês pro nordeste: quer dizer, viajar pelo Brasil já era uma realidade, e uma rotina. Como foi esse planejamento pra estruturar um vôo tão alto sendo uma banda praticamente autônoma? Qual o papel do financiamento público pra isso?
      FO: Trabalhamos para a realização de várias metas e sonhos... e o exterior era um deles. Mas, para dar esse passo, era preciso algum convite importante de lá - mais ou menos como no Brasil, quando tenta-se uma entrada em grande festival em outra cidade, esperávamos uma oportunidade em um grande evento internacional.
       O convite surgiu por parte do Pukkelpop. Dois de seus organizadores estiveram no Brasil ano passado - um durante o Abril Pro Rock e outro no Goiânia Noise Festival, onde nos conheceram.
       A partir do convite, começamos a caçar outras oportunidades... contamos com ajuda de parceiros, conhecidos e o a dedicação de uma produtora na Espanha, a Mariana Soares.
       Para viabilizar financeiramente essa primeira etapa na Europa, conseguimos apoio do Ministério da Cultura, por meio do edital de intercâmbio cultural. Assim como no Brasil, os produtores europeus se assustam com a idéia de uma banda com tantos integrantes... mas, como tentamos provar que isso é viável e interessante, faremos o mesmo por lá!

sm: Falar de banda brasileira independente fora do Brasil é necessariamente tocar no assunto Cansei de Ser Sexy. Como eles, vocês não são o que um gringo espera de um som brasileiro, mas ao contrário deles, vocês não cantam em inglês, e não fazem um som que se relacione tão diretamente com "modas" européias como o electro e a mistura de eletrônico com rock. O que tá passando pela cabeça de vocês enquanto vocês não entram no avião?
      FO: Temos uma boa experiência com público estrangeiro no Brasil... por exemplo, mantemos contato com uma alemã que conheceu a banda no RecBeat. Tornou-se fã e acompanhará nossos shows na Alemanha. Talvez o som não seja necessariamente de acordo com aquela expectativa de som brasileiro, mas dialogamos com vários desses elementos. Além da festividade no palco, podemos citar sabores de samba, além de sons dos bálcãs - ritmo em alta (vide Balcan BeatBox, Gogol Bordello...).
       Vamos levar essa energia dos shows daqui - todo mundo está muito animado e concentrado para essa viagem - e garantir diversão para todo mundo.

sm: Sobre o caminho que o CSS abriu lá fora e o fato do Móveis ter diferenças e semelhanças com a banda, eu queria saber mais sobre as negociações pra vocês viajarem. O que rolou de papo, de expectativa, de resposta dos contratantes, etc.? Você percebe uma receptividade diferente, hoje, para bandas brasileiras?
      FO: A aceitação de estrangeiros que assistiram à banda no Brasil tem sido boa. Seja por público ou produtores... enquanto apresentação, espetáculo, os contratantes têm gostado bastante. Temos utilizado um vídeo de divulgação, com legendas em inglês. O problema, como no Brasil, é a resistência a uma banda com tantos integrantes. Um dos desafios, nessa viagem, é demonstrar aos agentes europeus que a banda é viável e vale a pena!
       Além do Pukkelpop, que teve organizadores que viram a banda ao vivo, teremos outros eventos cuja temática facilita nossa entrada. Caso do Sommerwerft Theater Festival, uma espécie de Rio Cena Contemporânea em Frankfurt... celebração de teatro e música! Para o Flutlicht Festival, o tema é o futebol! Nada mais interessante para eles que contarem com uma banda brasileira! Quem sabe a gente não jogue umas partidas por lá também... Em termos de contextualização, a vinda do Moptop ao Móveis Convida foi determinada numa pelada no interior de Goiás... eles viriam em caso de vitória, eu e o Esdras deixamos eles ganharem pra virem numa boa (risos!!).
       Mas, por outro lado, ainda não acredito que haja um olhar mais atento à música brasileira... mas estamos trabalhando pra que isso aconteça. Bandas, associações como a BM&A e Abrafin também estão nessa...

sm: E essa negociação com a Trama, como foi? O que vocês esperam da experiência de lançar o segundo disco pelo Álbum Virtual?
      FO: Sempre tivemos em contato com o pessoal de lá... João Marcello e, principalmente, os responsáveis pelo TramaVirtual. Sabemos que existem diversos desafios para se lançar um disco. Eles demonstraram interesse em lançar a banda, conversamos e chegamos a uma bela parceria.
       O album virtual é uma forma de garantir qualidade ao material lançado e ofertado na rede. Não há como fugir das músicas para download, seja por oferta nossa ou cópias por terceiros... e, o mais interessante, é que isso não exclui um bom material físico.

sm: O Móveis tem uma coisa muito legal que em um certo sentido tem a ver com as necessidades de mudança no cenário pós-Napster da música, com mais espaço pra bandas independentes e médias, menos força pras gravadoras e muito mais interesse por música. Essa coisa legal é você, essa figura do produtor que não está só nos bastidores, mas que é um integrante mesmo da banda, sempre viajando junto, saindo em fotos, no site, participando do blog/fotolog da banda, etc. Queria que você falasse um pouco disso, a partir do seu olhar de dentro do processo, pode ser?
      FO: Temos reforçado sempre a concepção de grupo... e, cada vez mais, a idéia é integrar cada um em todas as etapas da banda - da produção à composição, todos contribuem e trabalham para a banda. E, se há espaços onde eu possa contribuir e seja positivo para a banda, viabilizaremos isso. E o mesmo acontece para participação do Tom, Bola, Henrique, Marcelo, Frango, Luisa, Diego, Mel, Valmir, Samuca... e todos aqueles que dão suporte ao Móveis - inclusive (e principalmente) o público que apóia. Acho que essas pessoas estão tão incluídas no processo quanto nós, por parte da banda.

sm: Você falou em todos participarem da composição à produção: tem algum sinal aí de que você pode assumir um pedaço das letras do Móveis, ou foi impressão minha? E outra: quem são Tom, Bola, Henrique, Marcelo, Frango, Luisa, Diego, Mel, Valmir, Samuca...?
       Não digo que participarei, mas que há a abertura. Houve, em alguma música, a participação por palpites.
       Todas essas pessoas formam a equipe do Móveis! De engenheiros de som a motorista...

sm: Ainda nesse assunto, queria saber mais da estratégia do Móveis de entrar no circuito de festivais do Brasil, de se aproximar de bandas com afinidades pra trocar oportunidades de shows, e especificamente do crescimento do Móveis Convida (explicando o que é isso, se possível).
      FO: Somos um grupo interessado em divulgar nosso trabalho, sobretudo por meio de shows. E os festivais são espaços para isso... onde encontramos público interessado em bons shows, bandas com a mesma motivação e formadores de opinião idem.
       Sabemos da importância dos festivais, tanto que criamos o nosso próprio, o Móveis Convida. Como você bem sabe, Bernardo, surgimos de uma forma modesta e hoje estamos alcançando etapas maiores. Sempre com o objetivo de fortalecer a música em Brasília, promover o intercâmbio musical e trazer grupos interessantes para o público local, chegamos à nona edição com um formato inédito (três dias em um espaço cultural, com shows em teatro e palco externo a ele). E novos formatos podem surgir... temos uma flexibilidade para formatar o evento e tentar atender a todos os tipos de público. No teatro, podemos não alcançar aqueles mais interessados numa grande balada... mas permitimos maior qualidade musical, por exemplo.
       Este ano chegaremos à décima edição (que, inclusive celebrará 10 anos de Móveis). Do início até agora, reunimos bandas interessantes como Coiffeur (ARG) e Rádio de Outono (PE), o último show do Los Hermanos em Brasília (nov/2006), Pato Fu com participação dos sopros do Móveis, a primeira apresentação do Teatro Mágico em Brasília para um público superior a 20 mil pessoas! Várias bandas tiveram um crescimento a partir do evento, como o Lafusa e Gilbertos Come Bacon. Contribuímos para encorajar outros grupos na produção de eventos... surgiram, em Brasília, o Lesto Convoca (a banda Lesto, por exemplo, trouxe Dead Fish), Lafusicando (Lafusa já trouxe Manacá e Do Amor) e Etno Mistura (Etno lançou cd, com show da Nação Zumbi)...
       E a idéia é continuar aprendendo e aprimorando o evento. Já estamos de olho no Pukkelpop... a estrutura deles é muito interessante (afinal, como administrar atrações divididas e oito palcos? A organização precisa ser muito boa...). Queremos dar a maior visibilidade a nossos convidados, a melhor qualidade de som e o espaço mais agradável possível para que as pessoas possam prestigiar o Móveis e apreciar os convidados. Por isso, mantemos um número limitado de bandas por dia - sempre com a premissa de garantir passagens de som e a não exaustão do público.

sm: E a pergunta inevitável: o que vem por aí nesse segundo disco?
      FO: Móveis Coloniais de Acaju! De repente, essa pergunta seja melhor respondida coletivamente... com ajuda dos demais Móveis e do Miranda, que está trabalhando conosco neste disco. Mas o disco terá músicas que estão sendo aproveitadas nos novos shows e acumula a vivência desses anos mais juntos...

Ofuji é o que tem sede...

1 Opine:

At 09:20, Anonymous Anônimo said...

Os Móveis são fantásticos, vão arrebentar lá fora, tenho certeza!

Bacana a entrevista.

 

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