O Som dos Nós
Sábado à noite, depois de ver o belo 'Casa de Areia' com interessante trilha de João Barone, interessante mesmo, fui parar no Teatro João Caetano de boas lembranças minhas. Meu lugar marcado não era um primor, e deve inclusive ter contribuído para a impressão que tive do espetáculo de Deborah Colker.De Dança sei pouco, mas pelas poucas apresentações de minha vida, tenho a impressão que ver de perto faz parte da organicidade da relação olho-corpo. Sendo o corpo nunca meu, só o olho.
Ainda mais se o desejo é tema, com figurinos a favor. Enfim, o assunto é outro.
Do segundo piso, de um lugar quase lateral e quase não-muito-longe, vi Nós. E a impressão que ficou foi a de que mais do que de expressão corporal, ali o bacana é a trilha ilustrada. A música é o primeiro plano que a cena (cenário-figurino-dançarinos, vamos chamar assim) preenche. A culpa é de Kassin e Berna Ceppas, dupla do Monoaural e do Artificial que, aliás, tem um dedo em boa parte do que o Rio tem produzido de bom. De Acabou la Tequila a trilhas de curtas, de disco do Caetano a Berna experimental no Sesc Copabana, até a Orquestra Imperial, a Adriana Partimpim e o trio +2, que sempre vai com amigos para cima do palco.
O texto é disperso e não engrena, mas eu tento de novo.
Tudo começa com um estranho, muito estranho ruído eletronicamente musicado, sem um ritmo definido. A primeira parte das duas do espetáculo é mais climática do que rítmica ou melódica – quase uma experiência contemporânea, não fosse isso tão antigo e fora do caso aqui. Ouvidos mais atentos pensam haver um defeito no som, até entender um sentido musical naquilo. Enquanto isso, uns bonequinhos movimentam-se desalinhando o que se convencionou ser as possibilidades do corpo. Quase uma história em quadrinho bacana, mas surreal, e tal. Sem contorcionismos circenses, mulheres parecem babuínos de bunda empinada, algo igualmente estranho, muito estranho. Aos poucos, as cordas e os cabelos (um imenso emaranhado de cabelos naturais cai do teto à esquerda do palco) entram na composição daqueles corpos que o figurino já dá um jeito de bi-dimensionar, ou des-volumar. Uma corda segura a menina que planta bananeira a 45 graus do chão. Demora a entender, e a música tira ainda mais esses chãos de referência. Os sentidos do desejo disputam alguma coisa ali. Dançarinos se dividem em diferentes focos de ação coexistente. Como um quadro gótico de Bosch, só que sem diabinhos verdes e criaturas celestes – ao contrário, o figurino joga todos em cena a uma identidade quase uniforme.
Ruídos, alteração de volumes e tons inorgânicos tornam a consciência inquieta, mas não desconfortável. Vem a segunda metade, e de cara um cool jazz de Chet Baker mostra a transformação. A caixa/vitrine vermelha com vidros transparentes do cenário precisa de calor, mesmo que o jazz seja frio ele soa como a frase curta sussurrada ao ouvido, a temperatura não sobe exatamente ali perto da boca que te fala. Colker faz o solo de saia vermelha, aberta nas costas, e isso é tudo que este texto vai dizer. Menos dissonante, há ainda Moacir Santos, antes que o que vinha bem caia um pouco. Um espetáculo todo sugerido e com imagens a cargo de quem vê entrega uma metáfora vagabunda com o som de ‘Eu Preciso Aprender a Ser Só’ na voz de Elizeth Cardoso. Voz dela e base eltrônica da dupla. Em nenhum outro momento a voz tinha sido o instrumento em destaque, e em nenhum outro momento as palavras explicaram a graphic novel em movimento de Colker. Pra dizer que relacionamentos a dois têm a ver com nós, atados ou desatados? Infelizmente, o fim entrega pornograficamente o que cada um imaginou eroticamente ao longo de todo o espetáculo.
4 de junho de 2005
Festival
Tem sempre aquele papo de que festival lá fora dá inveja em brasileiro fominha, que se contente com vaibisone e pastéis sem recheio. Pois o ano do Brasil na França, isso, na França, reservou mais uma dose verde-e-amarela daquilo que é uma merda. Eurockeennes. Além de Tom Zé, Cake, Kraftwerk, Kasabian, Bloc Party, Amon Tobin, Interpol, Nine Inch Nails, Queens of the Stone Age, La Phaze, The Killers e Sonic Youth (entre os que eu conheço e me disporia a ir), existe na escalação a estréia internacional de Turbo Trio – que vem a ser o resultado de BNegão + Tejo + Alexandre Basa – na ordem de fatores que lhe convier. (info)
Mudando o mundo
Notinha do Carlos Albuquerque no Globo On cita as 5 músicas que mudaram o mundo. Sou ruim de títulos de música, mas dificilmente conheço alguma mesmo. Em primeiro, o ídolo GrandmasterFlash, fundamental para a divulgação e invenção do hip hop ("Adventures on the Wheels of Steel"). Depois, vieram Kraftwerk, que realmente mudou o mundo com ‘Trans Europe Express’, Goldie, Soul II Soul e Underworld. Sei lá, mas a minha seria bem diferente. O nome da revista é Mixmag.
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