O filme do Breno
"2 filhos de Francisco" é uma empreitada bem calculada da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano no cinema. O filme supre uma vaidade natural e compreensível da dupla de fazer sua história de vida chegar ao conhecimento do público em geral. Certamente, tendo um passado daqueles é de se imaginar que a rejeição que os dois sempre sofreram das classes médias e altas da sociedade brasileira batesse fundo no orgulho e na auto-estima dos músicos. Contudo, não se pode perder de vista que as dificuldades vividas por aquela família até alcançar o estrelato, não redime a qualidade ou não da música deles.
A dupla é calejada pelo tempo, Zezé di Camargo principalmente. Diante de tantas experiências constrangedoras de outros artistas no cinema e ciente do preconceito que o rodeava, Zezé conduziu um processo que se valeu de nomes supostamente intocáveis da produção artística nacional que referendassem aquela produção. Ao invés de, por exemplo, ir buscar um diretor amigo, lá dos tempos de Goiás, não. Pegou Breno Silveira e a "não-é-pouca-merda-não" Conspiração Filmes. Para fortalecer a corrente, se associaram a Globo Filmes e Columbia Tri-Star. É rapá... Népoucamerdanão...
Breno Silveira já tem no currículo "Carlota Joaquina", "Gêmeas", "Eu tu eles", "Homem do ano", "Bufo Spallanzani", etc... A trilha sonora é conduzida por ele, Zezé, e Caetano Veloso e conta com nomes como Maria Bethânia (que eleva "É o amor" a um nível em que faltam os adjetivos) e Ney Matogrosso. A produção da trilha foi entregue a uma nova geração de músicos também queridos pela opinião pública, inclusive por colunistas desse site. Berna Ceppas e Moreno Veloso estão a frente. Berna, que já tinha composto para dois curtas ("Capital Circulante" e "Um branco súbito"), agora é o produtor principal da trilha.
Ao contrário de muitos artistas que investem no formato, Zezé e Luciano praticamente não aparecem no filme. Para afastar ainda mais os olhos do preconceito, deslocam o foco e usam o pai, Francisco, como fio condutor do roteiro. O filme se chamaria "É o amor", só que mais uma vez, espertos, mudaram para algo que soaria mais artístico aos ouvidos de uma classe-média e de uma classe-de-críticos burros e preconceituosos. "2 filhos de Francisco" dá esse ar mais "cult", mais brasil, mais naturalista, mais próximo da estética forçada que o cinema nacional vive buscando como forma de se legitimar.0 Resumindo. Zezé e Breno souberam que precisavam driblar o preconceito cego e babaca e, malandramente, deram aos preconceituosos aquilo que eles queriam para reconfortar seus egos e se permitir gostar. Afinal, como o próprio Zezé disse no show que aconteceu após o lançamento do filme no Rio, Caetano é o "selo de qualidade". Não sei se tanto para ele, Zezé, mas certamente para uma classe blasé de formadores de opinião, certamente.
O filme em si é um barato. Um "Quase famosos" ao contrário. Ao invés de ser um molequinho com grana acompanhando de dentro do star-system a formação de uma cena do grande rock'nroll setentista nos Estados Unidos, é a busca de dois molequinhos do interior do Goiás atrás do sonho de ser dupla caipira. Para quem curte música e em algum momento da sua vida sonhou em ser um astro, é regozijador. A fotografia de André Horta ("Santo forte" e "O rap do pequeno princípe contra as almas sebosas) e Paulo Souza ("Eu tu eles" e "Estorvo) é um dos pontos altos da coisa. O roteiro romantizado de uma história baseada em fatos ressalta algumas tragédias e a perseverança de um pai que transita entre o sonhador e a loucura. Os personagens transitam entre o maniqueísmo barato da mulher que está sempre ao lado do sonho do marido (Zilu, interpretada por Paloma Duarte) e uma isenção difícil como a do empresário Miranda, que conduzia os irmãos Camargo e Camarguinho no início de suas carreiras, pela estrada do centro-oeste. Miranda é daqueles tipinhos que só quer saber de se dar bem a custa do talento dos meninos, mas que não é de todo mal-caráter. Você fica na dúvida entre condená-lo ou entendê-lo.
O grande erro da direção está nos últimos 5 minutos. A história acaba quando a dupla alcança o primeiro lugar das rádios com "É o amor", mas o filme não. Até ali, a única identificação de tempo que existe é 1962, quando tudo começa. Depois dali, nada mais. A história acaba e o filme faz um corte para 2005, para um show da dupla no Olympia em São Paulo. O corte é extremamente infeliz e bobo. Aquilo poderia ser o bonus do DVD, ou ainda rolar depois dos créditos do filme, mas terminar daquele jeito.... A dupla, que durante todo filme é representadaa pelos atores, aparece em carne e osso, hoje em dia, junto aos familiares, também de carne e osso, na casa em que viviam em Pirinópolis. É piegas, besta, desnecessário e faz derramar boa parte do caldo. Tanto acertos ficam comprometidos por um fim meio bobo. Mas ainda sim, "2 flhos de Francisco" é, provavelmente, o melhor filme sobre a vida de um artista feito no Brasil.
Esqueci de falara da interpretação dos ótimos Angelo Antonio e Dira Paes. Os dois vão muito bem, mais uma vez. A escolha dos dois também parece parte da tal estratégia de escolhas que passassem incólumes pela opinião da crítica. Outra coisa que eu esqueci de falar: a caracterização perfeita dos peresonagens. Márcio Kieling e Paloma Duartes ficam idênticos a Zezé e Zilu. Impressionante. Palmas para a maquiagem de Martín Macías Trujillo e para o figurino assinado por Cláudia Kupke. Parabéns.
A dupla é calejada pelo tempo, Zezé di Camargo principalmente. Diante de tantas experiências constrangedoras de outros artistas no cinema e ciente do preconceito que o rodeava, Zezé conduziu um processo que se valeu de nomes supostamente intocáveis da produção artística nacional que referendassem aquela produção. Ao invés de, por exemplo, ir buscar um diretor amigo, lá dos tempos de Goiás, não. Pegou Breno Silveira e a "não-é-pouca-merda-não" Conspiração Filmes. Para fortalecer a corrente, se associaram a Globo Filmes e Columbia Tri-Star. É rapá... Népoucamerdanão...
Breno Silveira já tem no currículo "Carlota Joaquina", "Gêmeas", "Eu tu eles", "Homem do ano", "Bufo Spallanzani", etc... A trilha sonora é conduzida por ele, Zezé, e Caetano Veloso e conta com nomes como Maria Bethânia (que eleva "É o amor" a um nível em que faltam os adjetivos) e Ney Matogrosso. A produção da trilha foi entregue a uma nova geração de músicos também queridos pela opinião pública, inclusive por colunistas desse site. Berna Ceppas e Moreno Veloso estão a frente. Berna, que já tinha composto para dois curtas ("Capital Circulante" e "Um branco súbito"), agora é o produtor principal da trilha.
Ao contrário de muitos artistas que investem no formato, Zezé e Luciano praticamente não aparecem no filme. Para afastar ainda mais os olhos do preconceito, deslocam o foco e usam o pai, Francisco, como fio condutor do roteiro. O filme se chamaria "É o amor", só que mais uma vez, espertos, mudaram para algo que soaria mais artístico aos ouvidos de uma classe-média e de uma classe-de-críticos burros e preconceituosos. "2 filhos de Francisco" dá esse ar mais "cult", mais brasil, mais naturalista, mais próximo da estética forçada que o cinema nacional vive buscando como forma de se legitimar.0 Resumindo. Zezé e Breno souberam que precisavam driblar o preconceito cego e babaca e, malandramente, deram aos preconceituosos aquilo que eles queriam para reconfortar seus egos e se permitir gostar. Afinal, como o próprio Zezé disse no show que aconteceu após o lançamento do filme no Rio, Caetano é o "selo de qualidade". Não sei se tanto para ele, Zezé, mas certamente para uma classe blasé de formadores de opinião, certamente.
O filme em si é um barato. Um "Quase famosos" ao contrário. Ao invés de ser um molequinho com grana acompanhando de dentro do star-system a formação de uma cena do grande rock'nroll setentista nos Estados Unidos, é a busca de dois molequinhos do interior do Goiás atrás do sonho de ser dupla caipira. Para quem curte música e em algum momento da sua vida sonhou em ser um astro, é regozijador. A fotografia de André Horta ("Santo forte" e "O rap do pequeno princípe contra as almas sebosas) e Paulo Souza ("Eu tu eles" e "Estorvo) é um dos pontos altos da coisa. O roteiro romantizado de uma história baseada em fatos ressalta algumas tragédias e a perseverança de um pai que transita entre o sonhador e a loucura. Os personagens transitam entre o maniqueísmo barato da mulher que está sempre ao lado do sonho do marido (Zilu, interpretada por Paloma Duarte) e uma isenção difícil como a do empresário Miranda, que conduzia os irmãos Camargo e Camarguinho no início de suas carreiras, pela estrada do centro-oeste. Miranda é daqueles tipinhos que só quer saber de se dar bem a custa do talento dos meninos, mas que não é de todo mal-caráter. Você fica na dúvida entre condená-lo ou entendê-lo.
O grande erro da direção está nos últimos 5 minutos. A história acaba quando a dupla alcança o primeiro lugar das rádios com "É o amor", mas o filme não. Até ali, a única identificação de tempo que existe é 1962, quando tudo começa. Depois dali, nada mais. A história acaba e o filme faz um corte para 2005, para um show da dupla no Olympia em São Paulo. O corte é extremamente infeliz e bobo. Aquilo poderia ser o bonus do DVD, ou ainda rolar depois dos créditos do filme, mas terminar daquele jeito.... A dupla, que durante todo filme é representadaa pelos atores, aparece em carne e osso, hoje em dia, junto aos familiares, também de carne e osso, na casa em que viviam em Pirinópolis. É piegas, besta, desnecessário e faz derramar boa parte do caldo. Tanto acertos ficam comprometidos por um fim meio bobo. Mas ainda sim, "2 flhos de Francisco" é, provavelmente, o melhor filme sobre a vida de um artista feito no Brasil.
Esqueci de falara da interpretação dos ótimos Angelo Antonio e Dira Paes. Os dois vão muito bem, mais uma vez. A escolha dos dois também parece parte da tal estratégia de escolhas que passassem incólumes pela opinião da crítica. Outra coisa que eu esqueci de falar: a caracterização perfeita dos peresonagens. Márcio Kieling e Paloma Duartes ficam idênticos a Zezé e Zilu. Impressionante. Palmas para a maquiagem de Martín Macías Trujillo e para o figurino assinado por Cláudia Kupke. Parabéns.
Vale a pena ver o filme.
1 Opine:
Só pra completar: n~]ao ficou claro, mas todos os filmes do currículo de Breno Silveira não o tem como diretor. Na direção, é a estréia dele.
E nos curtas do Mehedff, a trilha é do Monoaural no Capital Circulante - que vem sim a ser Berna Ceppas, só que mais Kassin. No Noite Aberta e no Becoming Nobody (esse eu não conhecia) ele fez supervisão de som, porque o que há não é exatamente uma trilha.
Daí, no Branco Súbito, sim, a trilha é de Berna. Grande nome tem esse cara.
Quanto ao filme, estou curioso pra ver. Mas não gosto de duplas sertanejas, e acho difícil que passe a gostar depois. Gosto de gente, espero que se trate disso.
Estou com o espírito aberto.
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