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16.8.08

Perda :: Dorival Caymmi

Saudade Matadeira

Conversava ontem com camarada Matias sobre o show de João Gilberto em São Paulo. Nessa semana em que, frustradamente, tentei comprar ingressos para ver um dos meus heróis tocar no Rio, dizia eu que João e Paul McCartney são os dois shows que mais me faltam no suposto ‘currículo’ musical que cada um cria para si. Como os heróis também ficam encantados algum dia, cada chance que se perde dá um receio egoísta de que talvez não haja uma nova. Caymmi nunca esteve na minha lista.

Isso simplesmente porque só pude compreender (ou mesmo conhecer da forma devida) sua obra já no meu último quinto de vida e ele já não se apresentava mais. Nunca alimentei essa ilusão, nem tampouco o incluí nessa lista. Se a paixão fulminante e rock’n roll adolescente por alguns heróis se cristaliza em nostalgia, como um refúgio de anos dourados na parede do quarto, o encontro com mestres como Caymmi se põe num lugar acima disso. Muito acima disso. Caymmi te acompanha no que se vive, te aponta para o que você viveu e te fez ser quem é e te deixa tranqüilo por saber que estará contigo pelo resto dos dias.

Para alguém que cresceu tendo Salvador como o refúgio das doces férias escolares, que nunca viu a Bahia como um paraíso de carnaval adolescente, mas sim como a terra onde se corria descalço, onde se subia na árvore para pegar goiaba, onde se catava manga no chão ainda antes do café-da-manhã, onde se comia serigüela e caranguejo, onde a baiana fritava bolinho de estudante ao lado do Iguatemi na volta da praia, onde a vó era a maior referência, o encantamento de Caymmi é profundamente incômodo. Entender Caymmi depois de adulto foi um encontro comigo mesmo, tão profundo como só a arte, quando toma real sentido, pode ter. Pesado, denso e leve. Tão intenso e fugaz que se torna eterno. Mesmo não tendo o conhecido, mesmo não sendo da família. Mesmo nunca tendo alimentado a esperança de conhecê-lo e reverenciá-lo. Para mim, Caymmi já nasceu lenda.

Nessa semana em que não consegui comprar os ingressos para ver João, a perda de Caymmi, como se não bastasse por si só, ainda incomoda mais. A ilusão de dividir o mesmo espaço e tempo com seus heróis são um doce ópio, que adornam nossa toada por aqui. A estranha saudade que a perda deles nos deixam só pode ser explicada pelo fato de que eles levam um pedaço nosso consigo. Levam nossas intimidades, inseguranças e delirios naquilo que cantaram e a nós resta seguir, sem a proteção inconsciente que a existência dos heróis nos dá.

Não há como não sentir o dia de hoje.

 


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