Show: Momo, no Cinemathèque
Nascer de Um Sol FrioMomo entra em cena e a camiseta verde que veste dá o tom do contraste com o Momo dos shows de figurino de A Estética do Rabisco, o primeiro disco do projeto folk de Marcelo Frota. Fora a diferença com a elegância sambeira do Fino Coletivo, onde também atua Marcelo. Como segundo disco que é, Buscador reafirma a personalidade de um artista exposto e em briga para achar-se correspondido. Mas também mostra que o caminho é caminhado e pra frente é que se vai.
Aqui, Momo é menos radical na busca de uma dor que ainda é o grande alimento da sua arte. Mas se no primeiro disco, ele estava atormentado e ia fundo na psicodelia das frases de caixinha de música no teclado casiotone, agora não. Se o primeiro era químico, este é natural. A tristeza não é mais um oponente assombroso, mas uma condição para a beleza.
O som tem a mesma identidade, ao vivo ou gravado. É conduzido pela craviola e pela bateria caixa-bumbo-caixa-bumbo simples e atenta para um contra-tempo solto aqui ou uma virada tom-e-surdo ali. A guitarra reforça, até mais agora, o aspecto etéreo lado a lado com o casiotone. A minha Andréa citou o Air como referência de timbre para a guitarra, e é por aí, sim.
Ao vivo, a guitarra ainda tem o papel de virar o ritmo da apresentação e subir o volume e o ruído, para logo depois voltar ao andamento sempre pra trás dos sonhos e rodeios. O teclado perdeu momentos solo para se integrar mais, saiu de um universo de infância para ser um elemento de banda.
Há também algo de Jovem Guarda, via o caminho torto de um deslocado jovem Fagner que tem rodado nos ouvidos de Marcelo, principalmente quando o show já vai pela segunda metade e as paisagens de timbres abrem espaço para as canções e os papapás. Momo/Marcelo deixa a voz se equilibrar e quase sair, quase cair, quase voltar, e voltar. Não é um som de certezas, a não ser pela marcha que a bateria imprime. Certeza não, insistência sim.
É quando o despertar do tal sol em manhã de vento da capa de Buscador contagia o público e extrapola o palco (e a cabeça) de Momo. É quando chega a hora do refrão ‘Como é lindo o nosso amor’ de Bonita – a música que certamente mais representa a carta de intenções dessa nova fase criativa.
Dor sim, tristeza também, mas tudo agora muito mais natural.
0 Opine:
Postar um comentário
<< Home