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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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16.8.05

As Pessoas São

Ou Porque Nasci, Nasci para Bailar.


As ceguinhas de Campina Grande usam a música para uma vida de interpretação da imagem, em um mundo de intensos fluxos e parâmetros visuais. Mas não se trata de um filme difícil, de intensa discussão, nem uma crítica a prevalência do sentido mais imediato e mais seguro – não requer tanta proximidade - e mais instrumentado – óculos, binóculo, telescópio, microscópio, etc.
Mais sutil e mais forte do que tudo isso, as ceguinhas de Campina Grande se desnudam como a evidência de que a música e a fragilidade podem ser técnicas de sobrevivência dignas em um mundo (e um país) tão, assim, complicado.
Encontradas em um Programa Legal, lá na virada das décadas de 80 e 90 (e do Projeto Som da Rua, da tv Zero, mais ou menos na mesma época), as irmãs Maroca, Poroca e Indaiá aguçaram a curiosidade de Roberto Berliner, herdeiro de um projeto chamado TV Iser (Instituto Social de Estudos Religiosos, pode ser?) de televisão popular, que virou a conhecida e simpática TV Zero, em Botafogo, no Rio de Janeiro. O interesse despertou algumas viagens e um curta-metragem bastante premiado com experimentações visuais para simular a visão prejudicada e entrevistas que indicavam o modo de ver o mundo daquelas três figuras tão diferentes. Três irmãs cegas, que viviam de esmolas recolhidas em shows de coco pelas ruas da Paraíba. Mulheres em estado de mendicância, que acreditavam de alguma forma na vida. “De alguma forma” sendo a música. Sem revolta punk ou conformação tibetana, com um bom humor meio puro e nada bobo. Apenas reinterpretando imagens corriqueiras com a particularidade da deficiência visual – abrindo as portas para a imaginação, o sonho, a inteligência.
Pois bem, com trilha de outro mago de vista prejudicada, Hermeto, as ceguinhas de Campina Grande vão se relacionando com as alteridades que se apresentam: a) uma filha criança que se torna adolescente sendo engolida pela fórmula de sucesso da tv em tempos de sexualidade precoce; b) uma vizinha que nasceu pra fazer o bem, desde que uma equipe do Sudeste esteja registrando isso; c) um superastro paternalista que enfileira saias-justas no palco; e principalmente d) uma equipe de documentaristas (intelectuais?) liderada por Berliner que negocia a invasão à intimidade das três personagens em uma relação que esbarra em confusões de sentimento e interesses. Quatro fortes imagens, se é que deu pra entender. Figuras que o mundo já nos apresentou em histórias reais ou de ficção à exaustão
A conclusão é aberta, mas é impressionante ver Maroca – a mais falante – revelar os planos de ficar famosa com o filme, porque ser famosa é melhor.
E, também impressionante é se assustar com uma nudez feiosa quando ao longo do filme as três já se despiram das poucas máscaras que as protegiam de alguma coisa – à medida em que ganhavam algum dinheiro e mudavam de casa, perdiam dinheiro e voltavam a pedir esmola, viam vizinhas se aproximar e se afastar, e concluíam que o feio é que trabalha pro bonito comer.
Um filme, como já se disse, com cara de governo Lula, falta só decidir se antes do trombone de Roberto Jefferson, ou não.

Falta só escutar o cd.

Nada a ver (1)


Kraftwerk Minimum-Maximum é um pouco como ouvir música para enxergar. A fria música eletrônica alemã cria, ao vivo, imagens muito claras enquanto o disquinho roda. Dá pra imaginar por instantes o quanto a visão é dispensável para a música.

Nada a ver (2)

Se andei sumido, foi por um bom motivo. O vídeo (sim, as imagens, o som é de Paula Leal, das Chicas) de A Confissão de Leontina foi feito por mim e Geraldo Pereira, e a peça estreou nesta sexta. Fica em cartaz até o dia 18 de setembro, um depois do meu aniversário. Às 19 horas, no teatro Glauce Rocha, sextas, sábados e domingos. Apareçam.


Nada a ver (3)

Kassin, produtor de "4": Grande entrevista, sobre o tempo de uma obra. Pode render até mais um post por aqui, será?

Nada a ver (4)

É o zum-zum-zum da capital:
Encontrei com o Pupillo na saída de Sin City, em Botafogo. As notícias são as seguintes: gravação terminada, fita mix nas mãos do produtor Scott Hard, que desta vez participou também do processo de gravação. No último, ele meio que tinha entrado só pra mixar mesmo. E foram menos participações: Catatau (Cidadão Instigado e participações em um monte de shows e discos já comentados por aqui) e Maurício Takara, do Hurtmold. Burro, não perguntei o nome, mas Pupillo estava empolgado com o disco, e ansioso pro lançamento em outubro. Nação Zumbi vem aí.

3 Opine:

At 16:11, Anonymous Anônimo said...

vai se chamar "futura".

abs,

bruno.

 
At 18:01, Blogger Bruno Maia said...

Rapaz, a entrevista com o Kassin foi muito boa mesmo. Vale a pena... Esqueci de colocá-la aqui.

A comunidade sobremusica fica feliz com o retorno do grande Bernardo Mortimer!

 
At 18:01, Blogger Bruno Maia said...

Rapaz, a entrevista com o Kassin foi muito boa mesmo. Vale a pena... Esqueci de colocá-la aqui.

A comunidade sobremusica fica feliz com o retorno do grande Bernardo Mortimer!

 

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