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9.8.05

A história da família

Incrível. É a palavra mais exata que encontrei para para descrevê-la.

Como já disse em outro post, o roteiro do filme desloca para o fio condutor para o pai, Francisco. Ele é o personagem principal e através dele a história é contada. Um pai zeloso e sonhador, ao mesmo tempo egoísta e obsessivo em querer transformar os filhos em algo que ele calculou. Certamente, o lado mais lúdico e poético é o que aparece realçado no filme, até porque o final é supostamente feliz. No show que ontem, no lançamento carioca do filme, o humorista Hélio de La Peña cravou: "Quem é pai e vê um filme desses, se sente um merda! Isso é que é pai, não é aquilo que eu tenho lá em casa não!". Bem...

Querer que os filhos cresçam na vida é natural da função do pai, mas o sucesso nacional que dois dos dez filhos alcaçam oculta a morte de um deles. A dupla inicial de Zezé era seu outro irmão, que morreu num acidente de carro enquanto viajava pelas estradas de Goiás carregado por um empresário canastrão, que promete o sucesso fácil para um pai iludido e sem instrução. A morte do garoto interrompeu a trajetória do irmão mais velho, que anos depois volta ao universo da músico para alegria da família que o vê se recuperar do trauma. Dali para frente, a caminhada é mais feliz e bem sucedida. O sucesso final é uma redenção para o esforço, sacrifício e dor daquele pai. Contudo, a questão do preço de um sonho, o preço da fama ficou na minha cabeça. Aquele final é feliz para a história de um pai? O saldo: Dois filhos milionários, sucesso nacional e um filho morto ainda na pré-adolescencia. E aí? Esse pai é um sonhador ou um obsessivo?

É claro que assistir a história da dupla faz com que se compreenda melhor a origem, os orgulhos e os recalques inerentes a trajetória deles. O olhar pode até passar a ser mais simpatizantes. A origem daquele tipo de música fica mais claro. O Brasil é incomprensível das capitais. O Brasil é muito mais interior do que litoral. O olhar pretensioso de queme está aqui, a beira do Atlântico, é engolido no filme. A vida seca das beiras das rodovias, pelas quais o país se constituiu e construiu sua malha comercial, nas quais caminhoneiros viajam dias e dias por situações trash e se afastam da família e vivem a solidão de uma maneira diferente daquela do menino de capital que perdeu a namorada e ficou sem televisão. Na estrada, o tempo pesa mais, a solidão tem um silêncio constrangedor, ensurdecedor e enlouquecedor. É de um ambiente um pouco pior do que esse que eu descrevi, sem conhecê-lo, que surge a música sertaneja, suas vontades, desejos, anseios e discurso. O sonho de dois moleques para os quais, a MTV era a rádio de Anápolis.

Sem dúvida é um história incrível. Ao contrário de muita gente, não consigo dizer que é uma "história linda", pois a morte de um dos moleques ainda está na minha cabeça como um peso absurdo. Mas sem dúvidas, é de se respeitar o esforço e a caminhada dessa família. Na minha opinião, este era o grande objetivo de Zezé di Camargo e Luciano. Fazer as pessoas que olhavam torto para sua música e para eles, passasem a respeitar um pouco mais a sua origem e sua história. Conseguiram.

De qualquer forma, entre Francisco e o pai "que eu tenho lá em casa", eu fico com o meu.


O filme do Breno
O filme do Breno, a história da família e a música...
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O que a água tem?
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