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9.6.06

Pinkpop Festival (parte 1)

A lenda sobre os festivais europeus correm a mente de quem tem na música uma ocupação muito grande de tempo. A chegada na remota Landgraaf , sul da Holanda, fronteira com a Alemanha, para a primeira experiência deste tipo se fazia cheia de expectativas. Ingresso caro e outros compromissos só permitiram a compra de tickets para o último (e melhor) dia do Pinkpop Festival 2006.

O Pinkpop é a principal coisa que pode acontecer em Landgraaf. O pequeno vilarejo não aparenta ter mais de dois mil habitantes, total contraste com os 65 mil que invadem o campo onde acontece o evento. Imagina assim: uma ‘pista’oval com um gramadão no meio. Pequenas montanhas de um lado, várias árvores do outro. Atrás das ‘pontas’ do oval nada que se destaque muito. Em cima, céu azul. O verão está chegando e a temperatura ‘ferve’em quase 20 graus. São três palcos: quando tem show no principal, os outros dois param. Quando acabam os shows nele, recomeçam simultaneamente nesses outros dois. Um é o 3FM Stage, palco patrocinado por uma rádio e aberto. O outro homenageia o radialista inglês John Peel e fica sob uma enorme tenda azul que, imagino, deva ser bem parecida com o que era o Circo Voador original. Cabiam umas 4 mil pessoas lá embaixo.

A maratona começa com a saída de Colônia, às 9h30, afinal o festival começa em uma hora e atraso não costuma ser coisa de europeu. Uma hora é também o tempo estimado de viagem entre as duas cidades. Depois de cruzada a fronteira, o engarrafamento lembra que festival de rock tem fatores comuns em todas as partes do mundo. Demora pra chegar e primeiros shows indo embora. Para alcançar o estacionamento, placas e mais placas que nunca chegam. Resultado, depois de parar, mais 35 minutos de caminhada até a entrada, com mais fila. É o tipo de coisa que se fosse no Brasil, iriam detonar. E não estariam errados por isso. Tem que detonar mesmo. Aí e aqui.

Quando, 12h30, enfim adentro o local, já está rolando o show da cantora e ex-hype Skin. Se você não sabe de quem se trata, é só lembrar do Skunk Anansie, que foi moda entre os hypes do fim dos anos 90, tendo inclusive tocado por aí. Com o fim das atividades da banda, em 2000, a menina seguiu sozinha. Em março deste ano lançou o seu segundo álbum solo chamado Fake Chemical State. O grande erro de Skin foi ter aceitado tocar tão cedo. Era a hora que eu estava chegando e fazendo reconhecimento da área. Boa parte da galera ainda não tinha entrado também. O show parecia morno, mas o resquício de Skunk Anansie ainda estava lá, na postura visceral dela e da banda.

Antes dela, já haviam passado pelos palcos menores Soulfly e Living Things. No principal, já tinha rolado Pete Murray..Depois do show da menina Skin, era hora de escolher entre ir ao palco 3FM e assistir David Gray, com seu pop-melancólico-folk e remissões a um Bob Dylan meio coldplayzado ou ir conhecer Jamie Lidell no palco John Peel. O nome deste segundo palco e o impulso ao novo, me levaram para Lidell. O rapaz vai muito bem e parece ser muito admirado por aqui. Sob uma tenda lotada, desfilou uma mistura de R&B setentista com eletrônica. A banda de Lidell é composta apenas por um piano e uma bateria. Ele faz as vezes de mestre de cerimônia e DJ, ao mesmo tempo. Com uma voz que lembra a do Adam Levine, do Maroon 5, que por sua vez lembra a do Jay K, do Jamiroquai, que por sua vez se inspirava em Stevie-Wonder-Pai-de-Todos, ele se saía muito bem. Carismático, agia com desenvoltura tanto com a voz, quanto com as programações. Assim como num bom show de jazz, o grupo apresentou um tema inicial na primeira das quatro músicas do show. Na verdade, foram quatro grandes jam sessions – com alguns momentos de pouca criatividade – , com cerca de dez minutos cada. No final da quarta, eles retomaram o tema da primeira dando uma amarrada geral na coisa, fazendo soar ainda forte as tais referências jazzísticas. Ficou apenas a dúvida de se o show de Lidell pode ser tão interessante sem a presença e participação tão forte da platéia, que jogou junto o tempo inteiro.

Encerrado e aclamado o show de Lidell, foi a vez do grupo holandês Blof. Ocorre que o nome do grupo não se escreve assim. Na grafia correta, o “o” vem com um corte no meio que eu não sei nem o que significa, quiçá como se pronuncia. Um show sonolento, um rock pop arrastado, com muitos violões, que – para um não-iniciado como eu – sugeriram que era melhor aproveitar o momento para ir almoçar. Depois deles, não se sabia mais quando seria possível parar e comer.

Não deu outra. Depois da porção gigante de batatas-fritas-gigantes com maionese, a boa foi correr para o show do Editors. A banda veio fraca, decepcionando. O burburinho criado em cima desses ingleses , que lançaram o disco Back room esse ano, mostra como é fácil para a imprensa daquela terra alardear coisas estéreis. Com um som que tenta apenas dar uma carinha de novo ao que já se cansou de fazer na onda gótica dos anos 80 por lá mesmo, eles não vão além de colocar ruidinhos e camadas no que já fizeram The Cure e Smiths, por exemplo.

O que que tem de bom então nesse festival? Por enquanto, só a batata frita, o lugar e o pessoal. De som e de organização externa estava meio caído mesmo. Mas tudo começou a mudar no meio da tarde e aí tudo começou a valer a pena.

O Keane subiu ao palco para tentar justificar sua presença ali e para mostrar que o White Stripes podia ter ido além e tirado, além do baixo, as guitarras.. Muita raça, mas pouca pressão. A sensação que dava era de que só um instrumento harmônico, no caso o teclado, não segurava a onda. Na tentativa de desculpar a banda, prestei mais atenção no tipo de amplificação utilizada e aí veio parte da explicação que, de certa forma, absolvia o Keane. Para quem está acostumado aos festivais brasileiros, hoje é quase regra uma amplificação chamada line-array, que prima por montar altas torres de caixas seqüenciadas nas partes laterais dos palcos, aumentando o alcance e distribuindo em mais direções o som. No Pinkpop, a pequena boca-de-palco – pequena, é claro, comparando com o tamanho do ambiente onde ela estava – fazia com que o direcionamento lateral fosse visto com mais atenção. Porém, não era isso o que se via. Apenas uma torre de caixas foi montada, colada no palco. Assim, não adiantava nem ficar na mesa de som – supostamente o melhor lugar para se ouvir o áudio em qualquer show do planeta – que você não ia ouvir pressão nenhuma. A situação seria ainda pior se você estivesse mais para as laterais, como era meu caso. O som, definitivamente, não dava conta de todo o parque. Apesar de estar muito bem passado, pois se ouvia com clareza todas as notas e acordes de cada instrumento durante os diversos shows, faltava a pressão, o calor. E isso só o equipamento podia trazer.

Absolvidos e com o apoio do platéia, o Keane cumpriu bem o seu papel mesclando os sucessos do primeiro disco, Hopes and fears, com as do mais recente trabalho, lançado a pouco mais de um mês, Under the iron sea. Ainda sem a confiança que só a experiência e o sucesso trazem, o vocalista Tom Chaplin se desculpava por ter que mostrar músicas novas e, ao final, dizia que ‘em retribuição’ à paciência e respeito do público, ia tocar uma que todos conheciam... E lá vinham “Somewhere only we know” e “Everybody is changing” da vida. Todo mundo cantava, ficava feliz e ele podia meter mais músicas novas. Dessas, destaque para “Is it any wonder”.

O show do Keane caminhava para o fim e eu já fui me deslocando para o John Peel Stage onde rolaria, na seqüência, o Flaming Lips. Vacinado, depois do show do ano passado no Claro Q É Rock, sabia que, no caso deles, o show começa antes do primeiro acorde. E novamente estava lá Mr. Wayne Coyne no palco, sozinho, arrumando algumas parafernálias, ajeitando a câmera colocada em seu microfone, conversando com a platéia, distribuindo sorrisos, apertando o cinto da calça, passando instruções aos bonecos que compõe o show.... Dessa vez, a temática não eram bichinhos, como na passagem do grupo pelo Brasil. Agora, de um lado do palco estão os super-heróis: mulher-maravilha, superman, capitãoamérica, lanterna verde, etc... Do outro, um grande ET e suas ETzetes. Ao fundo, repetindo o que se viu no Rio, um monte de Papais Noel. Era o início do grand finale do Pinkpop Festival 2006.


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(Ainda não foi possível carregar as fotos do sobremusica no provedor. Por enquanto, fica o link para algumas publicadas no portal holandês Planet.nl . As nossas fotos e a parte 2 estarão no ar nos próxinos dias, se o provedor deixar)

1 Opine:

At 22:59, Anonymous Anônimo said...

da zoropa!

 

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