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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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20.5.06

Conversa: Patrick Laplan (Parte 2)

Para ler a parte 1, clique aqui.
Esse post foi reatualizado dia 21/05/2006, porque um pedaço da conversa, por razões que só o blogspot conhece,
não tinha entrado no ar.

sobremusica: Normalmente, os olhares do público são mais são voltados para os compositores e vocalistas. Dizem que a voz é o mais importante, que se o vocalista for ruim não adianta o resto, etc... Mas quando eu soube que ia sair o trabalho do Eskimo, eu quis saber como é que ia ser o trabalho do baixista, daquele cara instrumentista virtuoso e tal... Com um trabalho seu, essa 'regra' pop se inverte um pouco. Isso pra você é um peso, um afago... como você lida com isso?
Patrick Laplan: Te confesso que, desde pequeno, quando eu comecei a estudar bateria, fiquei no meu quarto trancado, estudando que nem um desgraçado. Não sou um mega virtuoso, mas ... Acontece muito nos shows em São Paulo de irem uns moleques pra frente do palco pra ficar te analisando, te estudando, “deixa eu ver se esse cara toca mesmo...” Eu nunca fiquei intimidado, eu gostava. ‘Ah é? Ta me olhando? Então aqui’ e fazia uma porrada de coisa. Hoje eu consigo filtrar isso melhor. Mas acaba que no Eskimo tem uma expectativa mesmo quanto à parte instrumental. Todo mundo que me viu em show, sabe que eu gosto de botar muita nota, minhas influências de baixo são Living Colour – que a galera improvisa o tempo todo... – e ...
sm: A sensação que me dá é que você é um headliner às avessas, entende?
PL: Entendo. Bom, psicologicamente acontece, porque o Henrique não era de uma banda grande. Em segundo lugar, você deve ter lido no release, música instrumental está dentro do conceito. Eu escuto Hermeto (Pascoal), escuto Arrigo Barnabé, escuto chorinho...
sm: Ouve pra caralho?
PL: Não ouço pra caralho não, mas escuto. Escuto música clássica. Então eu dou muita importância à parte instrumental. Tanto quanto à trilha sonora. No disco, eu te adianto isso, vai ter música instrumental. Não sei se uma ou duas, nem se grande ou pequena. Mas vai ter.
sm: O Henrique participa nelas? Ele toca algum instrumento?
PL: O Henrique toca uma guitarra esperta, segura legal...
sm: Porque no EP, ele não gravou nenhum instrumento, certo?
PL: Não gravou e nem vai gravar... Eu quero deixar o cara solto e...
sm: Você quer... (risos)
PL: Não, não... Eu conheço ele ao vivo e, exemplo: Biquíni Cavadão. Uma época o Bruno entrou numa de tocar guitarra. Ele é um performer que ninguém pode negar. Ele chega no palco e engole. David Lee Roth, mesmo esquema, bizarro! O cara botou ma guitarra e ficou preso na porra do pedestal Eu sei o que o Henrique rende e não quero botar uma guitarra presa no pescoço dele.
sm: E o que ele acha disso?
PL: É impressionante, ele aposta muito no conceito da parada... Ele comprou a briga e é meu amigo de muito tempo, se ele falasse que queria isso ou aquilo, ele tem liberdade pra falar e ia me mandar tomar no cu rapidinho...

E outra certeza que ele tem - e que não teve em outras bandas: eu procuro, sempre – ainda não sei, como produtor, chegar a isso – botar ele cantando pra caralho! O produtor que eu sou... eu não trabalho pra gravadora. Eu não tenho limite de voz, ela vai estar junto com a banda. É pra imaginar o vocalista no mesmo quarto da galera. Não é uma banda acompanhando o crooner. Não é isso. Eu quero, claro, que se entenda o que ele ta dizendo, não sei se eu consigo isso no EP...
sm: Eu acho que nem sempre...
PL: Pois é, mas a gente teve um problema na gravação, porque quem ia cantar era outra pessoa, então as melodias ficaram baixas pra o Henrique. Ainda é super desconfortável pra ele cantar essas músicas... São músicas meio ‘chatas’, não é completamente empenado...
sm: Tons menores...
PL: Nem sei se é tom menor. Eu sento no piano e saio tocando....
sm: Você compõe no piano?
PL: Muito no baixo e no violão. Melodia eu faço no piano e no violão. Mas eu sei que não é a coisa mais fácil no mundo pra ele cantar.


sm: Você cita várias referencias no release que não necessariamente se ligam...
PL: Até antagônicas, às vezes....
sm: Até que ponto essas diferenças se encontram na música e se somam em vez de criar uma grande bagunça? Porque vou te dizer que eu vejo muito você no EP, uma assinatura clara de...
PL: Isso é o maior elogio que você pode me fazer e muita gente tem feito. Não é bom ou ruim, mas é a minha cara. Isso é a melhor coisa que eu posso ouvir, pois eu estou tentando me expressar.
sm: É, mas a sensação que me dá é que eu reconheço a maioria das influências que você cita quando eu ouço, mas pra mim, a relação entre elas não se faz de forma clara. Elas estão ali, mas não estão criando uma coisa juntas. Faz sentido? Isso é um incômodo pra você ou não?....
PL: Faz sentido, mas pra mim não é um incômodo porque eu escuto Fantômas, sabe? De cinco em cinco minutos é uma coisa diferente...
sm: Pô, cara, você curte Fantômas? Foi no show?
PL: Fui. Achei lindo! Todo mundo odiou, eu achei maravilhoso.
sm: Eu achei uma merda (risos)
PL: Achei lindo... mas então, eu tenho uma tolerância maior à mudanças de clima bruscas, ou a uma faixa não ter nada a ver com a outra... Mas eu entendo que as pessoas estranhem. Todo mundo, TODO MUNDO, que gravou no EP, antes do Henrique botar a voz, estava reclamando muito: “Caralho, uma música não tem nada a ver com a outra, parece que são quatro bandas diferentes...” Eles estavam desesperados. Quando entrou a voz, criou-se alguma unidade. Você entende que é a mesma banda, mas que poderiam ser músicas de discos diferentes...
sm: A sensação que me dá é que é quase colagem.
PL: Mas é a referência de trilha sonora, de desenho animado, de Fantômas, é colagem mesmo. A gente tenta corrigir isso um pouco com a melodia, mas as partes são colagens! Colagem mesmo!
sm: E isso é o que você busca?
PL: O meu lado na parada é o lado do mal, é o Fantômas, é o Tim Burton... Vai ter as estranhezas ali. E eu tento botar uma melodia bonita por cima, pra pessoa não ter tanto choque, sabe assim... passou.... “que barulho foi esse?”, passou... Não é pra qualquer um. Eu reconheço: Eskimo não é pra qualquer um. Mas não acho que seja tão anti-pop, acho que pode tocar no rádio.

sm: Então esse tipo de mudança de ritmo brusca, de clima, te agrada...
PL: Eu lembro perfeitamente a primeira vez que eu ouvi Mr. Bungle, cara. É sério, eu abri um sorriso de orelha a orelha. Eu já gostava de muita coisa, mas ali a música fez sentido pra mim. Eu ouvi o primeiro disco e mudava toda hora e entrava uma guitarra-james-bond e parecia trilha sonora, mas tinha uma música que você podia cantar ao mesmo tempo...
sm: O Los Hermanos tinha um pouco disso no primeiro disco, que você participou.
PL: Tinha. Música a ser citada: Outro Alguém. Começa com uma bateria seca, um baixo com slap, e um ska frenético... Mudança de tempo toda hora... Nessa música eu enfiei a mão pra caralho.
sm: E outra coisa que me lembrou Los Hermanos nesse seu EP é a guitarra de “Grande Crime”, que me lembrou muito as guitarras do último disco (“4”) dos caras... Uma coisa meio Fernando Catatau, que tá gravando com eles....
PL: Nem sei quem é Fernando Catatau.
sm: do Cidadão Instigado...
PL: Também não.
sm: Tudo bem, mas me lembra em alguns momentos... um solinho meio estaladinho...
PL: O que eu tinha medo de falarem é que a guitarra estava meio Santana e Black and White, do Michael Jackson...
sm: É, me lembra nesse momento, um solo meio mal tocado, meio picadinho...
PL: É, isso mesmo. É meio tosquinho mesmo. Essa música me lembra Beck, mas a melodia não tem nada a ver com Beck. Cara, isso eu posso te falar: eu não ouvi o “Ventura”, não ouvi o “4”.
sm: Mágoa?
PL: Não, não... Talvez seja trauma, mas talvez seja uma maneira de eu estar me defendendo de comparação. Eu não posso ter copiado a guitarra do “4”, porque eu não ouvi a guitarra do “4”.
sm: Mas lembra... (risos)
PL: Pode lembrar, eu acredito e acontece às vezes de ser igual. Mas eu não ouvi. Não sou muito fã não. Ouvi o “Bloco do Eu Sozinho” porque eu tinha acabado de sair, queria ouvir...
sm: E do Rodox, eu sinto...
PL: Do Rodox eu não trouxe nada...
sm: O que eu ia dizer é que no Rodox eu sentia mais você influenciando no som do que o que você conseguiu no Los Hermanos, dá pra sentir no som pesado e tal...
PL: Eu não acho. O tipo de metal que eu escuto, não era o tipo de metal do Rodox. Eu escuto Iron Maiden, Megadeth, Slayer.... Lá é Biohazard, Madball, Korn... eles gostavam dessas porras e eu detestava... esse dedo lá não é meu. As minhas coisas lá eram as minhas músicas, mais puxadas pro alternativo, mais 311... Mas como músico, eu fui limado. No segundo CD, nêgo pegou meus baixos e enterrou e sumiu. Não fiz muita coisa. Mas a grande importância do Rodox é que foi o primeiro cara que acreditou que eu podia fazer letra e música legais: o Rodolfo. Ele falava: isso é bom, aquilo é legal... Essas paradas que você falou são mais do batera, do outro guitarrista.... eu me preocupava com as paradas de melodia e tal. Provavelmente as minhas músicas as que são só do Rodolfo são mais a minha onda. Tinha um quêzinho de Weezer, por incrível que pareça...

sm: Pra terminar, esse nome Eskimo e essa capa do EP têm alguma razão? O Eskimo é uma das figuras mais distantes possíveis da cultura brasileira e ainda é escrito com “K”. E essa capa te diz alguma coisa, como é?
PL: Eu tenho uma coisa muito náutica na minha família. Sempre velejei, meu avô sempre teve barco, é cheio de campeões de vela na minha família. A capa é linda, uma técnica de ilustração que não se usa mais. É de um alemão super-antigo que eu tirei de um livro da minha mãe, que é desenhista também. Eu acho bonito pra caralho. E o nome Eskimo é só porque é bonitinho.
sm: Você já leu “O velho e o mar”, do Hemingway? Essa capa me lembra um pouco, só com a diferença é que lá é uma pessoa só no barco...
PL: É, dá pra pensar várias coisas... Me disseram que o Kassin também tem uma música chamada “Homem ao mar”... sei lá... não conhecia. Acho que essa capa tem a ver com lance da trilha sonora. Vão ter músicas no disco que vão ter muito a ver com isso aqui, uma coisa meio dramática, meio Muse, Deftones com Muse...
sm: Pra terminar, eu queria saber os próximos passos do Eskimo...
PL: Pois é, o lance do nome também tem a ver com... bem, a gente queria um nome que soasse universal, porque a idéia é também gravar o disco em inglês.
sm: Ah, é?
PL: É, isso é importante de frisar. Vão ser dois discos iguais, só que um com letras em português e outro com elas em inglês. E não necessariamente versões, porque pode ficar uma bosta. A idéia é essa, não sei se eu vou conseguir.
sm: E você que lançar lá fora, porque? De coração, se você pudesse você estaria lá?
PL: Se eu pudesse, eu não estaria aqui. É horrível falar isso... Hoje em dia eu aprendi a gostar de mais coisas daqui, aprendi a gostar de Hermeto, de Arrigo, de Pato Fu, que eu não gostava, mas eu sempre ouvi banda gringa. Eu quero “brigar”com banda gringa, não quero “brigar”com banda da... brigar não é o termo, mas disputar espaço com nêgo que eu acho tosco. Quero disputar com quem eu admiro, quero tocar com gente que eu admiro e me incomoda muito um moleque virar pra mim e falar: “cara, você é foda... Você e o...” - vou atirar, hein – “você e o F%$F*# são foda. Eu falo: 'pô, que... valeu, maneiro'. Isso acontece e eu não quero. Lá fora também pode acontecer, vai ter um moleque “caralho, você e o Hoobastank...” o Yellowcard...
sm: A comparação é tão tosca quanto...
PL: Mas já é melhor... Aqui eu vou ter 0,1% pra brigar, lá eu já vou ter 50%.
sm: Então pra que fazer em português? Por que se tornaria mais viável comercialmente ou é uma opção estética?
PL: Porque eu moro aqui. É uma opção estética também. Eu ainda não tenho a manha de escrever em inglês, aprendi a escrever em português, acho que você escreve de uma maneira muito diferente em português. Tem que ter muita moral pra falar “eu te amo” numa música e não soar um idiota, sabe? Eu acho muito difícil,mas eu gosto, acho bonito e eu gosto do que eu escrevo...
sm: Você tá mirando nas duas, mas não sabe muito bem onde quer acertar, é isso?
PL: Não, não... Eu quero acertar nas duas. Mas, tudo bem, SE DER CERTO EM INGLÊS, num futuro bem longe vai rolar uma preguiça de escrever em português... A idéia 1 é ir pra lá e ficar tocando... voltar pro Brasil pra ficar uns cinco meses a cada dois anos. Mas lá fora, a competição é monstro. Eu não vou querer comparar meus clipes com os do F%$F*#, que, na verdade, eu nem conheço. Eu vou comparar com o Portishead, do Radiohead... O próprio Los Hermanos, eu não gosto dos clipes não
sm: Porra, os clipes são uma merda...
PL: É, a Anna Júlia fez o de “Vencedor”, não é um na Fundição Progresso que parece o Maracanãzinho na década de 70...
sm: Ah é? Esse é um dos únicos que eu gosto...
PL: O Pato Fu tem uns clipes legais, o do Autoramas...
sm: E você não acha que tentar lá fora e aqui, pode gerar uma perdad erumo e você ficar sem nada?
PL: Não, cara. Independente de estar lá ou aqui, eu vou ser eu e eu sou isso... Esse EP sou eu. Falar o quê? Se alguém quiser ouvir, seja bem-vindo...
sm: Beleza, então....

3 Opine:

At 14:34, Anonymous Anônimo said...

Fale Bruno, blz? Aqui é o Paulozab que trocou algumas idéias contigo no Overmuno sobre Rock na Amazônia. Em um dos teus comentários me parecestes interessado em conhecer melhor a produção da galera do Norte. Não sei se já sabes, mas disponibilizei recentemente um MP3 da banda Stereovitrola daqui de Macapá e quero te convidar a escutar um pouco, ok? O endereço é http://www.overmundo.com.br/banco/produto.php?produto=389

Há raços!!!

 
At 18:30, Blogger Bruno Maia said...

Obrigado, Paulo.
Admito que agora está um pouco complicado de baixar, ouvir e criar uma opiniao própria.. meio tempo de internet está muito reduzido por várias razoes... mas assim que puder - e isso pode ser que demore um pouco - vou conferir sim...
volta aqui mais vezes se puder!

Forte abraço!
BM

 
At 23:05, Anonymous Anônimo said...

Muito bom... Só pra constar eu cheguei a falar numa das comunidades do orkut que O grande crime tinha pitadas de Santana huauhaHUaHUha.
E 311 é foda.

 

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