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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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25.5.06

A fumaça de Hamburgo

Mais ou menos 50 metros quadrados, 5 x10. Era esse o tamanho do muquifo, pardieiro, ou qualquer outro adjetivo que denote lugar pequeno e tosco. Um clube de reggae que fervia - literalmente - na fria Hamburgo, na noite de ontem. Pra sair da geladeira da rua e entrar na filial do inferno, custa dois euros. Ao entrar, sente-se claramente a queda do nível de oxigênio no ar, devido ao excesso de demanda - afinal eram umas 150 pessoas pra respirar ali. Aquela neblina famosa torna tudo ainda mais quente e o ar, além de raro, é mais seco. Numa umidade que devia beirar os 20%, ficava difícil respirar, ainda mais tendo vindo da rua, onde o vento úmido elevava essa taxa para, com certeza, mais de 85%.

A decoração era simples: duas estantes para garrafas de bebidas, duas geladeras-armários para guardar o que precisa de geladeira e um balcão pra servir. Um estrobo tosco no teto, uma - eu disse UMA - luz vermelha e as paredes brancas e velhas, com cara de que já viram muita 'coisa-errada'. Um muquifo pior que o Garage em seus piores dias. Ah!! Já sei.. Se você é do Rio, pode tentar imaginar o ambiente se lembrando do Casarão Amarelo em Copacabana. Lembra?, então... Aqui era pior. Na cabeça, minha vinham as discussões que rolavam no Rio antes de eu sair sobre a qualidade dos serviços noturnos. A julgar pela noite de ontem, não devemos nada aos alemães.

Isso tudo pra descrever o que eu não pude registrar em fotos. Lá dentro, pura babel. Rostos dos mais diversos. Tinha o skatista, cara de fã-de-Charlie-Brown-Jr, tinha o emo, com cara de fã-de-good-charlotte, tinha os negões-modernos, cara-de-integrante-do-black-eyed-peas, aqueles mais cara-de-fã-da-fase-exodus-do-bob-marley com boinas coloridas e estilosas na cabeça, mauricinhos, vagabundos, e toda a corja de gente. Até rostos de alemães você podia ver.

Foram 30 minutos lá dentro. 30 minutos sob um set fortíssimo,- dos melhores que eu já ouvi -, elaborados por um DJ cujo nome não consegui descobrir. Um mix de dancehall, ragga e outros estilos de reggae que não sei o nome, mas que primam pela velocidade da batida e da fala. Isso nem parece mais reggae. O couro come. Ninguém fica parado. A relação com o set é impressionante e cada vez que uma música agrada, uma horda de assovios toma conta. Parece até o Posto Nove em dia de apitaço, só que num espaço mínimo que amplifica tudo.

Ao que pude apurar, o raggamuffin ainda é um estilo vigoroso e forte por aqui. As pessoas curtem bastante. Nesse clube (se é que posso chamar assim), as pessoas dançavam muito e intensamente. Algo que não se vê no Rio há muito tempo... O último registro carioca que eu tenho de algo tão intenso foi no início da moda do forró universitário, excluindo os playboys que se aproximavam do genêro só pra fazer guerra... Se lembra daqueles aficcionados por forró, que se revelaram do dia pra noite assim como torcida do Botafogo quando chega em final? Todos fãs desde criancinha e ávidos para dançar aquele som? Pois é, foi a última coisa assim que eu vi por aí, se levarmos em conta o critério "gente-dançando-no-salão", mas digo "dançando" mesmo, quase beirando o ritual. Muita gente se espremendo e querendo curtir o som. Brindando com a luz da palha que não cessa. Tensão.

***************
Só pra constar
Não sei se deu pra perceber isso no texto, acho até que não, mas eu me gostei (muito) do lugar.

***************
Só pra constar (2)
Cheguei ontem à noite nesta cidade e ainda deu pra rolar nada que lembre Beatles. Mas vai rolar, TEM QUE ROLAR.

6 Opine:

At 14:47, Blogger Bernardo Mortimer said...

Bidu Cordeiro, aqui mesmo: "Não pra falar de Bob Marley, mas as bandas Barra do Sana que a gente vê aí, desculpa eu malhar, fazem a gente ficar com raiva até de Bob Marley. Fica aquela guitarra quén-quén, uón-uón,... "
Reggae é música urbana, pode ser rápida, e muitas vezes nem é rastafari.
Tem que acabar com essa história de que reggae é lento e contemplativo. Se for ver até o Bob Marley, só o Kaya é hippie. Entre os outros discos, tem até convocação para a guerra (Get Up, Stand Up). Peter Tosh chega a falar em "We don´t want no peace, we want equal rights".

"Isso nem parece mais reggae". Eu não entendo o que quer dizer essa frase.

Boa viagem,

 
At 18:40, Blogger Bruno Maia said...

Meu jovem, você está precisando de mais senso de humor.. O dia-a-dia está de cansando... era só uma piadinha, um gracejo...

fica bem,
abs

BM

 
At 21:11, Anonymous Anônimo said...

Ficou feio, hein seu bruno

 
At 06:27, Blogger Bruno Maia said...

Ok, desculpa se a brincadeira nao ficou clara. o texto todo fala meio que mal do lugar, pra, o fundo, tentar elogiar... mas tranquilo. devo ter errado o tom mesmo. Eu nao acho que reggae é música de cachoeira, nem que precise primar pela baixa velocidade.. mas e ai? ja foi.

abs,
BM

 
At 21:21, Anonymous Anônimo said...

Eu não achei que o texto falou mal do lugar. Pelo contrário! Eu pelo menos fiquei com muita vontade de conhecer, hehe

Agora, essa menção a torcida do Botafogo foi só por causa do 4x1 de quinta feira? hahahahahahah, fraquinho vc...

 
At 05:57, Blogger Bruno Maia said...

Caro Mauricio,
Não sei bem a intenção do seu comentário. De qualquer forma, venho ressaltar a data do texto: dia 25/05/2006, quinta-feira, às 06h55 da manhã. Logo, anterior ao jogo mencionado. Vale lembrar que na comparação entre os dois clubes, o C.R Vasco da Gama tem o dobro de vitórias sobre o seu e que nós somos finalistas da Copa do Brasil, forte candidatos à uma vaga na Libertadores - competição esta da qual o scratch cruz-maltino já foi campeão - enquanto o Botafogo F.R é mero candidato ao rebaixamento. Sugiro, pois, que você volta a se esconder junto com seus comuns e que aguarde alguma final para reaparecer.

Atenciosamente,

Bruno Maia

 

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