contato |@| sobremusica.com.br

Bernardo Mortimer
bernardo |@| sobremusica.com.br

Bruno Maia
bruno |@| sobremusica.com.br

25.4.07

Maratona com o Moptop (parte 1)

Rotina de shows é algo com que todas as bandas sonham, mas que quando se realiza também serve para estafar os músicos e começar os discursos de insatisfação [esse texto foi escrito antes do anúncio do 'recesso' do Los Hermanos]. Na carreira do Moptop, os shows foram sempre uma arma feroz, da qual eles nunca se esquivaram. Ainda que o mercado independente não permita a ninguém viver exclusivamente de um grupo de rock com os amigos – por melhor que este seja –, os cariocas chegaram a fazer mais de 60 apresentações em 2005, antes de assinar contrato com uma gravadora.

Vá lá que, hoje em dia, muitas vezes ter uma Universal dando suporte financeiro para a realização e divulgação de um disco não altera tão radicalmente o número de show de uma banda. No máximo, faz com que as condições das apresentações melhorem e que os palcos cresçam. Na última sexta-feira, o Moptop fez dois shows grandes num mesmo dia. A tarefa era abrir para os ingleses do Keane, no Citibank Hall (ex-Claro Hall, ATL Hall e Metropolitan) e depois para o Jota Quest, na Fundição Progresso.

fotos: Bruno Maia


Pra quem não conhece, a primeira casa fica na extrema-ponta da Barra, ali onde quase já é Jacarepaguá. A segunda fica no coração do centro do Rio. No chute, uns 40km devem separá-las. Literalmente a distância de uma maratona. Ou de duas, se considerarmos ida-e-volta. As duas têm capacidade parecida, cerca de 6 mil pessoas. O Citibank Hall é mais modernoso, chique, espaçoso. A Fundição seria – como foi dito no backstage – uma espécie de La Bombonera, com seu formato de arena.

A maratona começou com os telefonemas pela manhã para tentar se viabilizar a realização da matéria. Como nos dias anteriores o grupo estava em São Paulo, a produção foi em cima da hora. A idéia era filmar a epopéia e pra isso seria necessário além da presença do jornalista-câmera, a ajuda de um iluminador. Confirma daqui, autoriza dali, checa se tem lugar na van acolá, o relógio anda, já está na hora de passar o som na Fundição, agora não dá pra resolver, espera um pouquinho, ok mas só dá pra vir um, mas só um não dá pra fazer a luz, promessa do roadie ajudar com a luz, ok então dá, me espera na Fundição que eu preciso ir dentro da van para o Metropolitan, então vem correndo, sai rápido de casa, aluga a luz no Jardim Botânico, corta pelo Rio Comprido, mente dizendo que já está no centro, mente mais um pouco dizendo que já está em frente ao Democráticos, dá a sorte impossível de ter uma vaga perfeita para estacionar na porta da Fundição por R$2,00, sai correndo de qualquer jeito ainda sem conseguir ligar a câmera, vê o Gabriel batendo no punho como se indicasse a hora que já é atrasada, sem tempo para os cumprimentos protocolares, entra de qualquer jeito e senta.


Sim, alguém confirma que a passagem de som na Fundição foi bacana. No relógio já são 17hs. A idéia é cruzar a cidade para passar o som no Citibank Hall e depois ficar por lá direto até a hora do primeiro show. O trânsito de fim de tarde numa sexta é aquele negócio em qualquer grande metrópole. Atravessar uma cidade assim também... Enfim, o jeito é ter assunto. Como a rotina já os obriga a passar muito tempo juntos, temas para conversas não são muito originais. Coisas como quem já deixou ingresso pra qual amigo na casa de quem, qual o melhor itinerário, um recente episódio de South Park e não tem muito mais. Daniel (baixista) vai sentado no último banco, Gabriel (vocalista) no meio e Curi (guitarra) na primeira fileira. Mário curte ir à frente, na posição do carona. O repórter se ajeita onde dá.

Após a primeira brincadeira de Mário para a câmera, simulando estar apresentando um “boletim ao vivo do trânsito”, o motorista ri. É a deixa para Rafael, o técnico de som, zoar. “É o primeiro motorista que ri das merdas que o Mário fala. (risos). Aproveita aí e conta as suas piadas, Mário”. Senha dada e o processo é iniciado. Emendando uma na outra, o baterista vai contando seus gracejos sem parar. No repertório há as clássicas de português, de Joãozinho, de puta, de argentino, de sem-noção, de criança-chata,... Curi ajuda a lembrar outras, faz pedidos do repertório “Marioano” e, a cada intervalo, estimula o baterista a seguir non-stop. Pergunto se é sempre assim e se as piadas são sempre as mesmas. O guitarrista confirma com um gesto de cabeça e um riso no canto da boca. Ainda assim, eles curtem e estimulam. Rafael, que zoara o motorista, é o que mais ri. Qualquer coisa, por pior que seja, dispara uma gargalhada incompreensível nele, que ainda admite. “Quando eu chego na minha vila, tento lembrar das piadas do Mário pra contar como se fossem minhas, mas não consigo”.

Gabriel é o único que não põe pilha, mas tampouco corta um barato que também é dele. Braços cruzados, ele fica olhando pela janela com um certo ar de quem já viu aquilo tudo trocentas vezes. Mas ainda que pareça demonstrar não estar empolgado com todo o ritual, ele também não consegue se livrar do sorriso e da sentença de rir ao fim de cada piada. Seja pelo humor, seja pela cretinice de se contar algo tão infame. Daniel está debruçado sobre a cadeira da frente, olhando para Mário e rindo. Está curtindo a pantomima. O baterista, por sua vez, segue num ritual que atravessa a Radial Oeste, a 28 de setembro, sobe-e-desce a Grajaú-Jacarepaguá e chega na Barra. Isso tudo com um headphone preso à orelha. Diz ele que está ouvindo Misfits. Mário é dono de um humor cínico, daqueles que sempre pedem pro câmera apagar aquilo que está sendo filmado, antes de emendar em nova piada. Teatral e divertido, ele consegue fazer a hora-e-quinze de viagem parecer mais curta. A primeira etapa da maratona é vencida e ninguém está mal-humorado. Quando todos têm presença de espírito, as piadas cretinas, mais do que irritar, ajudam a tornar a rotina menos cansativa.

Anderson, o motorista, é dono de uma simpatia particular. Tímido e calado, ele ri de todas as bobagens que são contadas a seu lado. E isso ainda será muito importante ao longo da noite.

1 Opine:

At 15:29, Anonymous Anônimo said...

adoro moptop
estou curiosa com o resto da epopeia
o mario é muito engraçado mesmo
parabens pra banda e pro reporter
beijos

 

Postar um comentário

<< Home


Los Hermanos:: Adeus você
Entrevista: Pedrão Selector (1)
Roskilde '07:: Néon verde-amarelo
Maldade...
Show:: Lee Perry
Fino Coletivo no Cinemathèque
Completando os sentidos...
MAGIC NUMBERS NO BRASIL !!!!!!
DFA 1979, Panic! At the Disco, Gabriel Benni
Se você tem um videoclipe...

- Página Inicial

- SOBREMUSICA no Orkut



Envio de material


__________________________________

A reprodução não-comercial do conteúdo do SOBREMUSICA é permitida, desde que seja comunicada previamente.

. Site Meter ** Desde 12 de junho de 2005 **.