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4.1.08

Disco: Alive 2007, Daft Punk

A Mémória É Várias Ilhas de Edição
       A idéia de que a memória coletiva ganhou um aliado perfeito e não menos orientado pelo afeto com os google, youtube e flickr é o toque que faz brilhar o Alive 2007 do Daft Punk. A obra é aberta ao extremo: ouvir o disco é um pouco como levar o chaveirinho vendido na banca como recordação. Só que um disco pode ter deixado de ser um monte de coisa, hoje, mas não virou ainda um chaveirinho. Se quem viu a turnê da pirâmide, contemplada aqui, saiu entusiasmado com a experiência vivida ao longo de pouco mais de uma hora, ouvir o disco é parte sensível da retomada daquela emoção. Ou melhor, da memória daquela emoção.
       Pois, junto com as imagens que a memória reedita ao som das seqüências e mixagens, e um não vem sem o outro, a coisa toda é realimentada pelos searchs por arquivos na Internet. E o disco se vale disso. Vai contar quanto se reproduziu de informação feita não tradicionalmente sobre essa turnê, só nos sites lá da primeira frase, e me diz quanto tempo não demora. Daí a opção declarada em não lançar dvd: o efeito seria anacrônico. Mas e um disco, não?
       O Daft Punk acertou em vários sentidos, e em um tempo em que o álbum começa a deixar de ser o protagonista da música pop, fez de um disco ao vivo a provocação da memória coletiva de quem participou do show da pirâmide – uma das experiências que vão definir a primeira década do século quando der para olhar em perspectiva.
Em uma conversa entre eu, a Andréa, o Bruno e o Matias, em São Paulo, há uns meses, o homem do trabalho sujo bateu a mão na mesa e estabeleceu: “o Daft Punk é o artista do começo do século. Ele e a Britney”. Fez-se um silêncio e ele começou a explicar idéias soltas na cabeça: a criação da eletrônica como um gênero só, que a propósito engoliria o rock e o rap.
       O Daft emendou uma seqüência de títulos de disco que contam um pouco pra onde a música tá chegando em palcos/pistas do mundo: Homework, Discovery e Human After All. De um disco feito em casa por dois moleques, foram inventando e descobrindo que o limite entre rock e eletrônica (não electro, ou house ou o que você quiser ler na filipeta) tinha acabado. Aliás, vários limites, como também o de sintetizadores e guitarras, rave e show, videoclipe e cinema, artista e robô. Tudo já visto anteriormente, mas com muita cara de novo (um remix, que se consagra sobre os originais). Até que, corrigindo o rumo, reconhecem a humanidade, afinal de contas, mesmo que ainda sem mostrar as caras. E o que mudou com a constatação? No som, pouco. Ainda era funk, rock, kraftwerk, mas passou a ser um tanto quanto um momento para parar e refletir sobre a distância entre criadores com um dom e o Criador. Sem querer fazer trocadilho, o álbum entitulado com a concessão humilde escondia que a dupla francesa estava mascarada. Marra demais entre fotos cínicas dos dois lado a lado com uma guitarra, um amp e uma bateria (te lembra alguma outra banda?). Cinismo demais, afinal de contas.
       Mas veio a turnê da colméia, da pirâmide, das luzes azuis e das cabecinhas de metal atrás do maquinário disposto na mesa. De cara, pulavam referências geométricas, egípcias, floydianas, kraftianas, de ficção científica, etc. E o que o show apresentava era uma estrutura gigantesca que punha em perspectiva o tamanho do fator humano ali: até pequeno e engolido por uma roupa metálica, mas no centro das decisões, sim. O show misturava pedaços de três fases distintas e aplicava a lógica do mash up para mostrar que é tudo uma coisa só. Um bloco comprido de som, batidas, texturas e frases que evocam a memória coletiva – ou partes importantes da história da música sob uma só assinatura. Acertos meia-bomba de pouco mais de três anos foram redimidos pela porrada do hit das pistas de cinco anos antes, o funk de um videoclipe depois esquentava a robótica dali e maximalizava tudo. A distorção e o baixo entronados sobre a auto-biópsia feita na hora (autópsia tem a ver com morte, e não é o caso).

       Se a época é de retrospectivas, eu diria que esse Alive 2007 é, ao lado do In Rainbows do Radiohead, o disco mais representativo do que foi o ano que acabou na semana passada. Não o melhor, eu prefiro o Sound of Silver do LCD e o Teletransporte do Autoramas, só para citar dois. E quem não viu o show da pirâmide não vai poder se satisfazer agora, nem o faria com um dvd. Mas quando os historiadores e biógrafos começarem a corrigir os jornalistas e declararem que 2007 foi mesmo muita coisa, não vai ter como deixar de falar desse disco ao vivo pelo que ele manifesta, sem uma inédita, e sem uma ponta de comodismo para se reinventar sem mudar. A trilha que evoca a memória coletiva de um tempo: o registro do zeitgeist do início do século.



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