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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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28.10.06

Show: Daft Punk

Vocoders, Filtros e Efeitos Para a Realidade


       Tudo começou com aquelas notinhas de comunicação alienígena da ficção científica de Steven Spielberg. No centro da pirâmide, dois robôs também conhecidos como Thomas Bangalter e Guy Manuel de Homem-Christo, o Daft Punk. Um grave bate no peito e prenuncia o massacre. A Terra não é párea para a invasão. Citações internas, Da Funk, desconstrução de hits próprios, Robot Rock, mash-ups internos, Around the World, transe, One More Time, delírio, Technologic. Praticamente um bloco único de som.
       Sem pensar muito, mais pelos sentidos: baixo estrondante, pitchs de arregaçar, loops para o transe coletivo, mixagens para a histeria, mudanças de andamento. Os franceses sabem bem o que dizem quando, além disso tudo, ainda elencam um não-sei-o-que. É o je ne sais quoi. Postura roquenrou na pista, no palco uma nave de fic-ci. De frente, a hipnose do painel de leds - aquelas luzinhas que formam imagens incrivelmente bem definidas. Uma armação em rede triangular, de metal, reflete as luzes negras e estroboscópicas. As programações se sucedem não necessariamente no mesmo ritmo do som, o que faz com que duas viagens paralelas se confundam. E ainda uma terceira, a do telão, que espelhava a imagem e distorcia cores: um simulacro do que parecia real aos olhos nus da platéia. Tecnologia que filtra o sentido, filosofia visual, ilusão de ótica pelo reflexo. Palco e telões divergentes. Sem cabeçudisse, se é que você me entende.
       No meio de tudo isso, claro, a pirâmide. Pirâmide, geométrica, egípcia, extra-terrena. Não é o prisma psicodélico do Pink Floyd. É o portal para a dimensão do Daft Punk.
       A viagem lembra o pós-Kraftwerk, robôs mais abusados e cínicos. Pressões parecidas, alucinações familiares. O que há de frieza na experiência alemã vira sujeira na pós-francesa. E olha que eu só fui no Kraft em São Paulo, perdi o histórico daqui.

       No fim, a bem da verdade, foi curto. A dupla emenda o set quase inteiro, a não ser por duas curtas pausas para serem aplaudidos. Tanto que no fim, ninguém acreditou que eles não estavam voltando dali a pouquinho. Foi pouco. Os beijinhos dos robôs para o Rio não consolaram. O boato de que poderia durar três ou até quatro horas não foi muito levado a sério, mas uma hora e quinze foi pouco demais. Para quem pagou o preço inteiro, cento e cinquenta reais, ficou uma continha de dois reais por minuto. Quanto será que as outras operadoras estão cobrando?


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