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16.10.06

A Mariana Ximenes e o Cidadão Instigado

Instigado fiquei eu. O que a Mariana Ximenes estava fazendo dançando soltinha no show do Cidadão Instigado, na última noite do riocenacontemporanea? Total preconceito meu, eu sei. Qual é o problema?, há de perguntar alguém. Sei lá.

Poderia discorrer linhas e linhas sobre o show do grupo, que vi pela primeira vez e fiquei encantado. Poderia falar sobre as melodias improváveis e pops de Fernando Catatau. Ou ainda do seu jeito peculiar de tocar guitarra. Poderia falar do disco que eu fiz questão de comprar ao fim do show e gostei ainda mais. Ou ainda elaborar textos sobre o quanto fazer a quantidade de referências à música brega de AM é bacana e original, ou é cretino e ‘malandrito’. Talvez isso fosse fazer desse um texto mais interessante. Certamente faria. Mas a discussão que se alongou depois foi outra.

Discussão conjugal sobre um assunto velho. Gostar do ‘alternativo’ ou querer parecer ‘alternativo’. E qual é o valor que há em ser ‘alternativo’?

Não ser ‘alternativo’ pode ser algo que te condene na rodinha. Ou, pode ser que ser ‘alternativo’ seja a senha de condenação. Depende da rodinha que cada um freqüenta. Mas, a mim, a sensação que dá é que há uma legitimação da opinião de quem se diz ‘alternativo’, nariz torto ao ‘mainstream’, que não me interessa. Um nariz desses, pra mim, além de torto é chato e babaca. Parece com alguém que diz que não vai votar no Alckmin porque ele é de direita. O rótulo de ‘alternativos’ está cada vez mais banalizado, assim como as expressões ‘ser de esquerda’/'ser de direita', afinal essas duas ideologias políticas fizeram tanta questão de condenar ao máximo à sua oposição, que de tão antagônicas, distantes e extremas, estão quase se abraçando perigosamente no mundo de hoje. E, no mais, eu sou pop mesmo.

Tadinha da Mariana Ximenes. Nem a conheço e estou a usando de bode expiatório para uma discussão que, no fundo, não tem o menor cabimento. Estou sendo preconceituoso com o fato de ela ser a estrelinha bonitinha da novela das sete, para presumir que ela não pode se interessar sinceramente por eventos de ‘arte alternativa’. Mas, me desculpe a Mariana, vou fazê-lo mesmo assim. Mari, nada pessoal, ta? É só uma... uma.... uma metáfora. É, é isso, pronto, uma metáfora.

A injustiça que eu cometo é ainda maior, pois a galera que estava no show do Cidadão Instigado cantava a maioria das músicas, o que sinalizava que, ali, existia um interesse mais ‘verdadeiro’. (Vá lá que a Mari não estava cantando...)

Eu comecei a escrever esse texto meio que pra detonar essa postura de querer parecer alternativo, mas eu mesmo me perdi. Por vezes, uso as minhas linhas para disparar um processo de auto-análise. Não sei ao certo o que é o que. É estranho ver a mistura de certas ‘tribos’, ao mesmo tempo que é estimulante. Qual arte é alternativa? Qual arte não é alternativa? A arte é uma alternativa? Existe interesses menos ou mais verdadeiros? O que legitima um interesse? O que legitima a vontade? Os interesses se escamoteiam com disfarces? Isso tudo é papo de pós-modernista sem sono? O que é verdadeiro? O que é farsa? O que é ‘estilinho’? O que é ideologia? O que é ingenuidade? Resistência cultural ainda faz sentido? O que é resistência cultural?

E, no fim de tudo, eu, cruelmente, me pergunto: o que é que EU estava fazendo lá?

5 Opine:

At 11:53, Blogger O Anão Corcunda said...

Não é que também eu assisti ao tal show, e perto das tantas globais que por ali rebolavam?
Questão de gosto: sou mais a Camila Pitanga.
Mas, realmente, o fato delas estarem ali se divertindo muito pouco importa.
Falemos da banda, que eu até então não conhecia: na hora, pareceu-me uma mistura de Los Hermanos, Nirvana, Mutantes e... Odair José. Os caras não são ruins, fazem muito bem o que pretendem. Mas aí é que tá: eu acho que o que eles pretendem é que não é lá essas coisas...
Em termos musicais, percebi um trabalho de sonoridade e timbres bem feito, apesar de eu não ter achado muito bonito. E dava pra ver que os caras gostam do que fazem, o que me é sempre um ponto positivo. Agora, em termos harmônicos e rítmicos, aquela mesmice tenebrosa que assombra 99,99% do cenário pop rock que conheço (o qual cada vez mais não me interessa).
Quanto ao que você traz sobre o que é 'alternativo': na boa, se você pensa alternativo em termos de 'rótulo', 'tribo' e 'rodinha', já dançou. Eu, ao menos, penso esse negócio de alternativa sempre em relação a discursos/práticas hegemônicas. Esse negócio de se pretender 'alternativo', pra mim, é jogada de marketing para fazer parte do mainstream, ou seja, para ratificá-lo. A princípio, nada contra, mas é que essa postura sempre me soa meio hipócrita.
A construção de canais de expressão (em diversos níveis) efetivamente alternativos aos canais hegemônicos, ao meu ver, só tem validade importante quando está inserida na luta para conquistar mais espaço e disputar hegemonia, e não quando, na verdade, quer corroborá-la, a custo de pequenos favores. Partindo do princípio que a atual hegemonia artística, e musical no caso, tem nos conduzido a um lugar muito ruim.
O RioCenaContemporânea, há muito, não tem nada de alternativo, nos termos que você usa. Já faz parte do mainstream 'cult', vide o tamanho daquele evento. Reitero que isso, a princípio, nada tem de mal. Mas acho que é uma falsa questão ficarmos nos preocupando com isso, ao invés de analisarmos a qualidade estética do que nos está sendo oferecido. E você, de certa forma, percebe isso no seu texto, mas não consegue conciliar essa percepção com a própria proposta do teu site, que é oferecer um relato do cenário pop. Acho eu que não dá pra conciliar mesmo.
Quanto aos conceitos de direita e esquerda, faço a mesma observação quanto ao de alternativo. São conceitos ligados a práticas políticas, não a rótulos. Ao meu ver, cada vez mais válidos. Mas, se forem pensados pelo prisma do modismo, e não de uma análise da hegemonia (e da luta de classes, obviamente), aí realmente não fazem nenhum sentido...
Grande abraço, André Mendonça

 
At 17:57, Anonymous Anônimo said...

cara, Mariana Ximenes não é bonitinha, tu ta maluco? Ela é muito gata. Top 3 mundo. E não voto no Alckmin porque moral e ideologicamente eu sou contra o que ele fala, e,sim, sou contra isso tudo que ele defende que se assemelha - e muito - com o que se denominou direita. É só uma questão semiológica Bruno, podemos não falar de direita e esquerda, de arternativo ou pop (opa, caiu na própria armadilha em camarada, e se autodefiniu!) - eu acho o Alckmin uma merda porque eu não concordo com as posições dele. É isso! E Cidadão Instigado é uma maravilha. Espero o texto sobre a banda.

Thiagão

 
At 18:22, Anonymous Anônimo said...

Esse papo de "alternativismo" eh coisa jah de muito tempo...

Isso eh postura tipica dakeles pseudo-intelectuais da PUC, q se acham os fodas, pq gostam de ficar falando merda sobre merda depois de fumar o seu baseadinho, e ficam disputando pra ver quem conhece o artista mais desconhecido, o escritor mais obscuro, a banda mais underground, o livro mais ignorado, e depois juntam essa merda toda num papo q gostam de complicar ao maximo, pra não chegar a conclusão nenhuma.

Cuidado, Bruno, meu rapaz... não chegue a esse ponto...

 
At 14:06, Anonymous Anônimo said...

é claro que quem é de direita nunca se assume...aí, fica culpado, com vergonha, e passa a inventar essa tese absurda de que não existe diferença, tal..... o alckmin até mandou a opus dei desaparecer por um tempo, com medo de perder voto

 
At 14:52, Blogger Bruno Maia said...

acho esquisito também o cara ter uma posição politica e nao assumir. Mas aproveitando o ensejo, o anonimo aí poderia ser o primeiro a assumir a própria opinião e assinar o post, certo? Se esconder atrás do anonimato me pareceu um tanto contraditório com a sua opinião. Aproveitando, só pra constar, meu histórico eleitoral... heheh

1998 - Lula
2002 (1° turno) - Lula
(2° turno) - Lula
2006 (1° turno) - Alckmin

abs!

 

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