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Bruno Maia
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12.10.06

Crazy, Gnarls Barkley & Get Myself Into It, the Rapture

Niu Soul e Niu Rave












      Já deixou de ser segredo sob o estrobo. Os indies aprenderam a dançar, não tem mais essa de shoegazer. Ninguém mais mantém a franja para ficar de cabeça baixa na pista, disfarçando o olhar para o lado, para a frente, para onde for. Ver bem no chão de dança (rerrê) é tão importante quanto ter o itunes (ipod) atualizado, e os reflexos disso estão para além de discussões do que é retrô e do que é só chupação de vinte (trinta, quarenta) anos atrás. Vai, deixa de ser chato.
      Sendo assim, você já ouviu falar da niu rave, do Klaxons, do LCD Soundsystem, e do melhor de todos, the Rapture. E já ouviu do fenômeno Dangermouse, que deu uma mexida no hip hop, e ultimamente está vestido de niu soul. Ao lado de Cee Lo, é o Gnarls Barkley. ‘Get Myself Into It’ e ‘Crazy’, as duas músicas de que você não enjoa.
      De igual nas duas, o som limpo, claro, direto ao ponto. Detalhes tão pequenos das duas, não sei dizer, entram não para distrair ou só encher. É mais uma questão de fazer de tudo para que você, distraído, não saia achando que está diante de mais uma qualquer, ordinária, bonitinha. E, vai, dance.
      A do Raptures, ‘Get Myself...’, faz parte da metade maior do álbum Pieces of the People We Love, a que é produzida por Paul Epworth e Ewan Pearson, a dupla do Death From Above (aquele mesmo das roupas de cama do Cansei de Ser Sexy). Começa com uns ataques cheios de reverb de uma guitarra que – epa! – só pode ser o the Edge! Achtung baby. Assim que entra a voz – epa epa!, mais reverb!! – Bono Vox! U2 pré Joshua Tree. E tem quem fale em emulação de Robert Smith e the Cure... É preciso entrar o refrão para entender, e para descartar as primeiras impressões. Bom para caramba, personalidade meio ctrl+v, mas bom pra caramba.
      A do Barkley, ‘Crazy’, é um pouco da história da música negra dos ancestrais tambores de pele e osso até hoje, da angústia para a libertação do gueto pela libido. Uma bateria reta, um baixão que sobe e desce em um groove fácil, direto, pulsante, sem fuga. A palavra que resume é entrega. De quem ouve e de quem canta. A voz aguda soa quase religiosa, de um pregador em cima de um caixote de feira, na praça em frente à igreja, cercado não por trombetas enevoadas mas por violinos de Édem. Toque do produtor.
      A bateria quebrada de niu rave de the Raptures é marcante, para fazer levantar os braços e pular. Não é baile, é tenda de uma festa sem hora para acabar. Há ali pelo refrão um sax ao fundo por demais anos 80, mas não há motivo para espanto. Apesar de todas as setas apontarem para a mesma picaretagem, os quatro branquelos americanos tem algo de novidade. O entusiasmo que transborda em ataques de guitarra e batidas que quase entortam a marcação, com o baixo escondido ali por baixo, é o que importa e decide. Loucura a se aproveitar por mais de quatro minutos e meio.
      Na dupla de negões também americanos, os curtíssimos quase três minutos remetem à Motown. E a equação talvez seja essa mesmo: primeiros anos de Motown (antes de sucumbir à sina de pré-fabricação de Detroit) + falsetes lascivos de Prince em ‘Kiss’+ porrada maliciosa do Outkast em ‘Hey Ya’. Com o evidente selo de qualidade de Dangermouse, produtor do Greyalbum, de Gorillaz, de Dangerdoom, e de mais um monte de coisa boa, do rap underground ou não. E de Cee-lo, a voz explícita, com participações em trabalhos do Outkast, no Goodie Mob, dois discos-solo, e mais algumas coisas sem assinar que eu sei que li, mas não me lembro onde.
      Assim como a música, a letra de 'Get Myself...' trata de uma urgência para a diversão, que fala em alguma medida com a festa de Franz Ferdinand, com 'Friday I'm In Love' de the Cure, e com todo o espírito do disco-punk de duas décadas atrás - com a diferença da falta de politização de agora. Luke Jenner só pensa em dançar, dançar, dançar.
      Já 'Crazy' tem o blues dos escravos da beira do Mississipi derramado. O abandono do amor é a história, que quase enlouquece, mas se ela acha que é assim, está louca, e caminha-se dessa forma pela quase loucura que é a incompreensão da relação da vida - com a diferença de que tudo é muito bem contado.

      É, a niu soul e a niu rave estão aí, e se até o povo indie tá dançando, larga essa internet e corre atrás. Feriadão, vai.


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