Nas Lojas Americanas (2) / Fino Coletivo
- É, é, né... – concordou a moça do caixa, prestando atenção no som que saía do sistema de alto-falantes da loja.
- Você sabe de que banda o Leoni era? Sabe?
- É... peraí, peraí, deixa eu pensar... é...
- Sabe não? Banda famosa...
- É.... é... é Kid Abelha? É né?
- É! Todas as músicas do Kid Abelha são dele. Todas. Claro que essas aí do último disco, não. Mas as outras, de antes, são todas dele. “Amanhã é 23” é dele...
Nascia, pois, esse texto.
Esse papo aconteceu essa semana nas Lojas Americanas de Ipanema. O Leoni é um caso particular. Hitmaker dos anos 80, saiu do Kid Abelha, montou o Heróis da Resistência, desmontou, fez sucessos bissextos como compositor solo, mas desde o ano passado, voltou a ter olhares sobre si. A peça principal nesse quebra-cabeça foi o lançamento de um disco acústico, em 2005, no qual apostava nas forças de suas canções e num discurso de que queria mostrar ao público o seu lado compositor, muitas vezes ofuscado por uma carreira errante. Se não me engano, inicialmente o disco era independente e, só depois, a Som Livre o pegou para o seu catálogo. Surpreendentemente, deu certo. Disco de ouro, nesses tempos de carvão.
Surpresa não pelo talento do rapaz, mas sim pela tática desgastada. Outros já tinham tentado coisas parecidas antes, mas isso não se resolvia em sucessos radiofônicos, muito menos numa nova formatação do pensamento coletivo. Pensar, por exemplo, em “Exagerado” é pensar em Cazuza. Seria muito difícil conseguir um espaçozinho no consciente das pessoas. No início, me parecia que era mesmo só mais um disco, mais uma razão para conseguir um espaço em pequenos programas de televisão, divulgar uma agenda qualquer e aquelas vicissitudes inevitáveis.
Porém, o disco funcionou. A gravação de “Por que não eu?” teve a participação do líder dos Paralamas, Herbert Vianna, parceiro dele nessa canção, e foi parar em trilha de novela. O disco vendeu barbaridades, Leoni voltou a fazer show lotados em casas grandes, gravou mais um disco com formato parecido, com participação de uma tribo indígena acreana (os Ashaninka). Gravou até um DVD em Paris com a participação do pajé ashaninka, que está quase sendo lançado. Leoni passou a usar, como poucos artistas brasileiros, os veículos de relacionamento online, como fóruns, okuts, etc, para mapear o interesse real do seu público e oferecer serviços mais interessantes, inteligentes e rentáveis. Acabou de refazer seu site. Está saindo em turnê nova, com show no Canecão no próximo dia 13 e uma boa mídia espalhada pela cidade do Rio.
Definitivamente, a tática de Leoni deu certo. O compositor bissexto virou dono de TODAS as músicas do Kid Abelha. Vende tantos discos quanto os ex-companheiros. Grava álbuns com total independência e assume o risco disso. É um caso que merece ser mais estudado. Fato é que Leoni conseguiu tudo o que planejava nesses últimos dois anos. Pelo menos foi isso que pareceu naquele dia, nas Lojas Americanas.
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O Fino Coletivo deu uma passeada ontem na Casa Rosa. Ainda não conhecia o trabalho do grupo e fiquei muito bem impressionado. Formado por amigos alagoanos e cariocas, o mais famoso deles é Wado, o grupo faz uns sambas miudinhos convi- dativos, usando guitarras sem excessos, violão de naylon, baixo, batera, mais algumas bases eletrônicas, projeções de imagens, algum efeito e bastante simpatia. Achei que ao longo do show, algumas soluções começaram a soar repetitivas, mas não comprometeu essa primeira impressão. Se não estou enganado - e se a memória-das-três-da-manhã não me trai - numa conversa depois do show com Marcelo Frota, ele disse que terá um outro show na Casa da Gávea, no início de novembro. De qualquer forma, se rolar, eu aviso. Durante o show, eles disseram que estão para lançar um disco. Quero ouvir. Se quiser também, dá pra começar pelo myspace deles. Sugestão: “Partir partindo”.
1 Opine:
leoni não é dono de todas as músicas do kid abelha
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