Show :: Humaitá Pra Peixe (04,05 e 06 de janeiro)
Além da dificuldade natural de se fazer um festival independente que se consolide como referência, a produção do Humaitá Pra Peixe tem um outro grande desafio anual: construir a grade de atrações. Mais do que um clichê que questione a dificuldade de só escolher 20 e poucas atrações no meio de tanta coisa que surge toda hora, principalmente com a internet, a questão aqui é exatamente o contrário. Como conseguir achar 20 artistas que justifiquem estar nos palcos do HPP.
Isso porque Bruno Levinson mantém uma linha de curadoria mais sofisticada que a da maioria dos festivais pelo país afora. Na maioria das vezes, os artistas escolhidos já flertam de alguma forma com o grande público, ao mesmo tempo que já superam aquele mundinho underground. Ou não. Outras tantas vezes, grupos com menos de dez shows no currículo sobem ao palco do HPP – Do amor (2008), Cabeza de Panda (2008), Ordinário Groove Combo (2007), Jonas Sá (2006) –, mas a presença se justifica pelo currículo anterior dos integrantes. Mostrar a cena carioca é outra função que o festival sempre procurou ter. Em edições anteriores o hip-hop e o samba ganharam força graças ao crescimento de suas respectivas cenas na cidade. Outro ponto que dificulta o processo de escolha é o fato de pouco se repetir nomes. Levinson trabalha com o conceito de ser um misto de trampolim e vitrine. "São artistas que vêm dando o passo a passo para conquistar público e consolidar sua carreira. Artistas que eu acredito possam desenvolver carreiras a médio e longo prazo. Tento fazer no HPP uma vitrine do que rolou durante o ano."
Somado a isso tudo vêm o fato de vivermos uma entressafra de artistas que mostrem algum sabor novo em seus trabalhos, a pretensão (louvável) de se fazer um festival que ocupe a cidade durante um mês e a dificuldade financeira de bancar a vinda de um número maior de artistas de fora do Rio. Tudo isso torna ainda mais heróico o ato de se conseguir fazer o evento com uma escalação de respeito. E, mais uma vez, eles conseguiram. Dentro de todas essas questões que tornam a curadoria sofisticada, Levinson conseguiu montar uma grade honesta, de qualidade e, sobretudo, que gera expectativa. "Particularmente estou bem satisfeito com a programação deste ano que considero a melhor que o HPP já teve". Talvez seja mesmo. Não é pra acertar sempre, afinal o risco faz parte do investimento em nomes não consolidados e da graça de ir assistir um festival como este. Haverá sempre shows memoráveis e outros que servem de pretexto pra ir tomar uma cerveja e conversar com os amigos – já que o HPP também dá o prazer de juntar grande parte das pessoas que trabalham com música no Rio, em um ambiente informal e amistoso.
O primeiro fim-de-semana evidenciou esses limites tênues que permitem shows incríveis e outros descartáveis. A abertura ficou com o compositor Rafael Gemal, com uma apresentação que passou longe de qualquer empolgação. A noite era mesmo de Roberta Sá, possivelmente a maior atração desta edição 2008.
Isso porque Bruno Levinson mantém uma linha de curadoria mais sofisticada que a da maioria dos festivais pelo país afora. Na maioria das vezes, os artistas escolhidos já flertam de alguma forma com o grande público, ao mesmo tempo que já superam aquele mundinho underground. Ou não. Outras tantas vezes, grupos com menos de dez shows no currículo sobem ao palco do HPP – Do amor (2008), Cabeza de Panda (2008), Ordinário Groove Combo (2007), Jonas Sá (2006) –, mas a presença se justifica pelo currículo anterior dos integrantes. Mostrar a cena carioca é outra função que o festival sempre procurou ter. Em edições anteriores o hip-hop e o samba ganharam força graças ao crescimento de suas respectivas cenas na cidade. Outro ponto que dificulta o processo de escolha é o fato de pouco se repetir nomes. Levinson trabalha com o conceito de ser um misto de trampolim e vitrine. "São artistas que vêm dando o passo a passo para conquistar público e consolidar sua carreira. Artistas que eu acredito possam desenvolver carreiras a médio e longo prazo. Tento fazer no HPP uma vitrine do que rolou durante o ano."
Somado a isso tudo vêm o fato de vivermos uma entressafra de artistas que mostrem algum sabor novo em seus trabalhos, a pretensão (louvável) de se fazer um festival que ocupe a cidade durante um mês e a dificuldade financeira de bancar a vinda de um número maior de artistas de fora do Rio. Tudo isso torna ainda mais heróico o ato de se conseguir fazer o evento com uma escalação de respeito. E, mais uma vez, eles conseguiram. Dentro de todas essas questões que tornam a curadoria sofisticada, Levinson conseguiu montar uma grade honesta, de qualidade e, sobretudo, que gera expectativa. "Particularmente estou bem satisfeito com a programação deste ano que considero a melhor que o HPP já teve". Talvez seja mesmo. Não é pra acertar sempre, afinal o risco faz parte do investimento em nomes não consolidados e da graça de ir assistir um festival como este. Haverá sempre shows memoráveis e outros que servem de pretexto pra ir tomar uma cerveja e conversar com os amigos – já que o HPP também dá o prazer de juntar grande parte das pessoas que trabalham com música no Rio, em um ambiente informal e amistoso.
O primeiro fim-de-semana evidenciou esses limites tênues que permitem shows incríveis e outros descartáveis. A abertura ficou com o compositor Rafael Gemal, com uma apresentação que passou longe de qualquer empolgação. A noite era mesmo de Roberta Sá, possivelmente a maior atração desta edição 2008.
foto: Joca Vidal
Roberta parece ter vivido um certo dilema de transitar exatamente no limite que a separa do mainstream e dos palcos onde busca-se afirmação. Como Levinson disse na apresentação do show, talvez esta fosse a última oportunidade do HPP comportá-la em sua escalação devido ao crescimento que a carreira da moça vem tendo. A banda composta por Rodrigo Campelo, Antonia Adnet, Jovi Joviniano e Élcio Cáfaro dá a cama redondinha pra meiguice dela solar. Mais contida do que em apresentações anteriores, Roberta busca uma singeleza que lhe cabe bem. Talvez com um pouquinho mais de movimentação e de ocupação de palco achasse o tom. A apresentação acabou sendo mais morna do que poderia.Na platéia, muitos senhores de cabeças brancas enriqueciam o ambiente do festival, normalmente transbordante de hormônios. A Sala Baden-Powell ocupa um papel importante na selva que é Copacabana e abriga diversão e entretenimento para grande parte da população de terceira idade que mora no bairro. Acostumados à programação da casa, eles apareceram meio sem saber o que iam ver. No segundo dia, alguns ainda sobreviveram, no terceiro já eram menos.
fotos: Bernardo Mortimer
Do Amor e Vanguart fizeram os shows de sábado. O Do Amor é um dos casos de bandas com poucos shows no currículo, mas que garante presença no festival pelo currículo dos integrantes. Metade da banda é a banda do Caetano. Fora Los Hermanos, Carne de Segunda, Lucas Santtana, Canastra, etc... A estética da farra transborda. Os integrantes se conhecem e tocam juntos há muitos anos, o que dá uma leveza a tantas brincadeiras e exercícios de linguagem. Há um descompromisso, um clima de zoação com piadas bem elaboradas e um alto grau de sofisticação de arranjos, porém a falta de um vocalista que se salve incomoda. Não é esperar que haja sempre uma figura central, sob a qual os holofotes transbordem - o que destoaria da proposta estética do grupo -, mas sim querer não se sentir incomodado toda vez que alguém canta em grau discrepante de qualidade se comparado ao som que está se ouvindo. Aliás, o som é muito divertido e beeeem melhor que aquele que se ouviu no SMD lançado em 2006.O Vanguart chegou com algum status de estrela do cenário indie nacional e apresentou um belo show, sobretudo pela figura performática e competente do vocalista Helio Flanders. A banda está redonda, graças ao grande número de shows que vem fazendo. O repertório já encontra eco e coro nas vozes daqueles que conversam pelos dedos. Muito se ouviu sobre a necessidade deles largarem mão de cantar em espanhol e inglês já que o repertório em português é superior. Talvez eles pudessem crescer mercadologicamente se apostassem nisso, mas sobretudo o inglês funciona no formato folk do grupo e na voz de Flanders. A apresentação terminou com "Medo da chuva" de Raul Seixas. O vocalista soube reagir com humor às clássicas piadas do "Toca Raul" e mandou o cover que eles fizeram no Som Brasil em homenagem ao cantor.
No domingo, foi a vez de Cabeza de Panda e Maquinado, dois grupos sem currículo nenhum e ao mesmo tempo com currículo enorme. E aqui, mais do que nunca, os riscos deste formato mostraram as suas duas faces. Cabeza de Panda é um grupo formado por três excelentes músicos, acostumados a grandes turnês e que atualmente tocam juntos, na banda de apoio de Marcelo D2. Só tinham feito um show até ali, em São Paulo. O currículo não justificou a presença do grupo no festival. Há uma grande distância entre ter grandes músicos e ter uma boa banda. O som de boas melodias, é verdade, mas arrastado, sem muita graça e que, nas conversas de corredor no intervalo, não parecia ter agradado à maioria. Mas se o currículo e o som da banda não justificaram a presença ali, a contagiante presença de Thalma de Freitas na última música, uma versão de "Toxic", da Britney, fez tudo valer a pena. Graças a isso, o grupo saiu do palco deixando a rapaziada com a cabeça cheia...
O trabalho solo de Lucio Maia vem com parte da cozinha da Nação Zumbi à tira-colo. Dengue no baixo, Toca Ogam na percussão. DJ PG completa o time, nos scratches. O grupo fez pouquíssimos shows até aqui e o lançamento de "Fome de tudo", da Nação Zumbi, quase ao mesmo tempo, parece ter atravancado o andamento da turnê da banda. Até por isso, foram poucas músicas do excelente disco "Homem-binário", porém isso não enfraqueceu em nada o nível da apresentação. Disparado o melhor show do fim-de-semana e com um grau de excelência que dificilmente vai ser superado ao longo de janeiro. Entre os homenageados que receberam versões envenenadas e desconcertantes estavam Jorge Ben ("Zumbi"), Serge Gainsbourg ("Je t'aime moi non plus"), Kraftwerk ("Computer Love"), Nélson Cavaquinho ("Juízo final)" e a própria Nação Zumbi ("Samidarish"). Lucio é um dos músicos mais competentes do país atualmente e, fora as horas em que resolvia fazer discursos, botava a banca a que faz jus. A participação do Mamelo SoundSystem é que passou longe de se justificar. Rodrigo Brandão não convence no papel de MC. Duro, sem o tal do "flow" que os MCs tanto prezam, ele parece vir sempre com tudo muito decoradinho, o enredo já pré-setado. Ainda teve que agüentar o vácuo da galera quando gritou: "E aê, cariocas, vocês tão tirando um barato aê, mano?!". Poucas respostas. Ele então se corrigiu, citou a festa Phunk e mandou um "Vamos fazer barulho". Clichê, mas mais a ver, né... Sua companheira de banda, Lurdez Daluz se saiu melhor.
Ao fim da apresentação, Lucio disse que considerava aquele como sendo o show de lançamento de "Homem-Binário". É torcer para o show ganhar estrada e voltar ao Rio com mais músicas do repertório do disco. Será outro show, é verdade, mas está na cara que será fodão também.
Hoje o festival continua, com talk-shows. Amanhã debate. Depois workshops... A programação é longa e vale a pena visitar o site do festival para acompanhar tudo.
1 Opine:
Taí um festival que eu tenho curiosidade de ir. Parabéns pelo texto, muito bom!
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