Tortoise
Acadêmicos cdfs tatuados, convidados em disco de Nação Zumbi, referência de grife pra bandas pretensiosas (a qualidade, não o defeito), nerds cheios de piadas musicais internas, revezadores de instrumentos, você que não conhece o Tortoise já deve ter passado por ele sem perceber. Você que conhece, deve ter percebido na primeira passagem.Dá até para continuar na brincadeira: ratos de estúdio, adeptos de tempos de compasso esquisitos, banda de apoio para Tom Zé, coletivo do underground de Chicago, hobby de produtores cabeçudos, banda para críticos chatos.
A definição da mistura que eles apresentam talvez seja o mais enfadonho de se ouvir: dub de branco, krautrock de americano (ou Kraftwerk de chiclete), jazz sub Ornette Coleman (o do free jazz, sabe?), indie anos 90 sem letra de angústia/melancolia (sem letra nenhuma, na verdade). Nada disso ajuda muita coisa, porém.
Pós-rock? Se você ainda acredita que o rock morreu, e não que ele morre. Se você não entendeu o que gente como Marilyn Manson, Moptop ou Clarah Averbuck quis dizer. Se você viu alguém agonizando mas não morrendo, esperando um ano para recomeçar o carnaval. Só assim. Pós-rock também não.
Mais vale imaginar as experiências de intelectuais – é uma hipótese, não uma adjetivação – ao se passarem por robôs que tentam sofrer, amar, invejar, enraivecer, de alguma forma sentir. O orgânico é presente, mas dominado pela eletrônica mais melódica que rítmica, embora não-linear. Ou linear à maneira deles, lá. Isso antes de ‘OK Computer’, e depois de Isaac Asimov (Eu, Robô) e Douglas Adams (Mochileiro das Galáxias).
Às vezes soa como trilha de filme, não necessariamente de ficção científica. As imagens pulam na cabeça, num sentido inverso ao de trilhas que perdem a graça ao serem ouvidas sem os planos e cortes do diretor. Como inclusive uma certa síndrome MTV, que faz determinada música interessar no videoclipe e chatear no rádio.
Outras vezes soa como uma paisagem árida de pedras retorcidas pelo efeito do vento e do tempo, com areia e um céu de estática (tv fora do ar, não é isso?). O mar tem ondas frias batendo nas rochas e jogando espuma branca pra cima. Ou seja, um esquema noise relaxado, sem dente trincado. Barulhos da cidade ecoam na cabeça.
Vindos de Chicago, eles têm sido nos últimos dez ou quinze anos um dos maiores destaques da cidade que é um dos berços do jazz e do blues, mas que também deu ao mundo o funk de Curtis Mayfield, o punk criativo de Devo e Television ou o rock atormentado e barulhento dos Smashing Pumpkins. Ou seja, uma cidade com tradição na arte estudada, politizada e muitas vezes de vanguarda que os EUA apresentam ao mundo na arte. Da cidade, mais para os prédios de concreto do que para as casas de madeira ou os anúncios de néon, vem ao Tortoise um som urbano que busca, até em títulos de músicas, pontes com o virtual, com o sobre... e o natural, e com o mitológico. Pontes não sólidas, que a pós-modernidade não desmancha no ar.
No primeiro disco, a banda soa como Medeski, Martin & Wood, mas pior. Sem a mesma pegada, mais dura do que livre, poucos improvisos e os andamentos puxados para trás, sem variação ou surpresas. Cada faixa têm, em média, mais de cinco minutos. Ainda assim, não é um disco ruim.
Surge a péssima definição de “jazz mal-tocado”, que talvez seja tão inoportuna quanto space rock (afinal, como é o rock do espaço?, um vácuo negro sem propagação?).
É a partir do terceiro de cinco discos, ‘TNT’, que a vanguarda de John Cage e Stockhausen e a experimentação tornam-se um compromisso mais evidente – aliado às baterias meio drum ‘n’ bass que esquentam as texturas e colorações de guitarras e xilofones. O som também fica mais cheio, torna-se mais difícil ouvir um instrumento soar só, e a guitarra reverbera mais. Xilofones e sintetizadores ganham volume, e tudo é mais convincente ao se propor etéreo. As composições ganham partes que dialogam entre si, e algo muito perto de um refrão.
Em ‘Standards’, o quarto e mais irônico, há brincadeiras com gêneros, entre eles o synth pop oitentista de “Monica”, de novo permitindo a comparação com o trio nova-iorquino Martin, Medeski & Wood. Desta vez, sem hierarquia, só com o jabuti (tradução safada de tortoise) indo por um caminho mais atmosférico.
De cinco membros, três são – a princípio – ritmistas, um é guitarrista, em geral, e outro costuma ser baixista. Todos brincam as brincadeiras de estúdio, e todos tocam outros instrumentos, fora programações pré-gravadas. Um show deles, dizem, é uma troca incessante de instrumentos, mesmo durante músicas. A rigidez rítmica e os loops de melodias curtas e estranhas não cansam, e na medida em que o grupo incorpora mais o uso de sujeiras e distorções na guitarra, mais desmanchado fica o chão, mais presente é a sensação de flutuação.
Breve histórico
Chicago, 1988: John Herndon (bateria) e Doug McCombs (baixo) se juntam para fazer a trilha para um vídeo de skate. É o início do que se tornou mais tarde, em 91, o Mosquito, que no ano seguinte mudaria de nome para o atual Tortoise. Em 93, Dan Bitney passa a fazer parte da banda; o (ainda não) super-produtor John McEntire e o guitarrista Bundy Brown já estão no projeto. É lançado o primeiro disco, ‘Tortoise’. Os shows e convites para compilações (que viriam a ser mais de uma dúzia, entre as quais a de remixes do Tom Zé, ‘Postmodern Platos’, em 99) começam em 94, e Brown acaba saindo para atender a outros caminhos, depois de discordar do convite aceito pela banda de participar de um tributo ao Joy Division. “Muito comercial” para ele, substituído por David Pajo.
Em 95, viajam para um sítio onde é gestado o segundo álbum: ‘Millions Now Living Will Never Die’, lançado em janeiro do ano seguinte e definidor de um rumo. Turnês européias, no Japão e EUA, muitos shows com o Stereolab. O quieto guitarrista Jeff Parker, o membro que faltava para a formação atual (2005, não 96), entra na brincadeira. Já é 97, os shows ainda rolam, e está sendo gravado o terceiro e, para muitos, melhor disco deles. ‘TNT’ é todo gravado na casa/estúdio de McEntire, SOMA.
David Pajo anuncia que está fora, em 98, o Tortoise torna-se um quinteto, como é até hoje. Outra turnê, pela primeira vez passando pela Austrália, uma participação no grupo da punk holandesa The Ex, de quem abriram shows quando eram só um trio. No ano seguinte, vem o encontro com Tom Zé, com quem viajam na condição de banda de apoio – com Bitney temporariamente substituído por Dan Fliegel, baterista. Entre os trunfos dele, falar português e servir de intérprete entre as partes. É quando eles vêm ao Brasil e tocam com e sem o baiano.
‘Standards’ é gravado em 2000 sem pressa, com uma ou outra apresentação para testar composições e com intervalos para projetos pessoais. É lançado em 2001, ano de turnê mundial, ano em que fazem a curadoria do festival inglês ‘All Tomorrow’s Party’. Em 2002 vem o descanso, o intervalo, e o início das gravações do quinto cd, ‘It´s All Around You’. Festivais importantes, como o Coachella tornam-se rotina.
Só no ano passado é que o álbum foi posto à venda.
Nada a ver (1)
O que interessa uma briga de Felipe Dylon contra certo Marcos Maynard? O que? Se você acredita em roqueiro indignado compondo pra aparecer na capa jornal e fazer o pessoal cantar junto, lê aí. Postado no dia 17/08. E aproveita, e dá uma passeata pelo saite. Se você ainda assim preferir o Jabor (o do jornal, não o dos bons filmes), a gente pode finalmente brigar.
Nada a ver (2)
Ainda não vi nas bancas a Outracoisa com o cd do selo Instituto.
Nada a ver (3)
Weezer, será?
1 Opine:
Tem, com certeza, na Tracks. Mas é bem capaz de ser achado na Argumento,sim.
beijos
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