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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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25.9.05

Vai vai vai vai ver

"Coisa mais linda" (em cartaz) e "Vinícius" (no Festival do Rio). Quem curte a bossa nova, o gênero em si, vale a pena ver os dois. Mas se prepara. Um é um ótimo filme, o outro é péssimo.

Vamos começar pelo trágico. "Coisa mais linda", dirigido por Paulo Thiago, reafirma a fama de péssimo cineasta que esse senhor ostenta. Não vi "Policarpo Quaresma", mas os comentários dão um pouco da dimensão do "talento" (sic) dele. Este novo filme, uma tentativa de ode a bossa nova, é péssimo, horroroso, uma aula de como não se faz um filme. Preguiçoso, frouxo, raso, babaca. Babaca é a melhor palavra sobre o filme. Vamos poupar Carlos Lyra e Roberto Menescal, eleitos por Thiago, como âncoras. Os dois ótimos músicos sofrem por um roteiro tão mal amarrado e estúpido. Os diálogos fakes entre os dois são constragedores. Os cortes bobos, a camêra insensível que tenta se corrigir pela montagem deixando tudo ainda mais estúpido. Olha, é constragedor.

Quem já fez alguma aula em que teve de produzir um curta ou algum material audiovisual que fosse ser submetido a avaliação de alguém e, depois, assiste ao filme de Paulo Thiago tem a seguinte certeza: se eu faço um trabalho igual a este filme, não tirava mais do que 7,0. É sério. Isso não significa que o filme seja nota 7,0. Nããão!!! Isto significa que se fosse um trabalho universitário, comparado a outros trabalhos universitários, feito com as precariedades e inexperiência dos filmes universitários, e somente nesse contexo, o filme poderia tirar uma nota 7,0. Arte não se mensura por notas, eu sei, mas não resisto a atribuir nota 0,5 , levando-se em consideração que se trata de um filme profissional. Paulo Thiago, meu camarada, vai (volta) para faculdade de cinema, vai... Ou então, menos, vai assistir alguma coisa que preste em estado normal de consciência, para ver se aprende.

Já sei, Paulo Thiago. Vai assistir "Vinícius", de Miguel Faria Jr. O diretor carioca resolveu fazer um documentário sobre este grande nome que foi Vinícius de Moraes. E fez um documento. Um lindo filme, sensível, com uma bela e trabalhosa pesquisa. As imagens utilizadas por Faria Jr. em "Vinícius" mostra como a pesquisa de imagens de "Coisa mais linda" também foi pobre e preguiçosa. As imagens existiam, não precisava ter ficado mostrando fotos... Que recurso mais bobo, usar fotos no cinema, quando as imagens existem! Em "Vinícius", os depoimentos são consistentes, de nomes fortes e relevantes e não uma série de colagens sucessivas de pessoas rísiveis para a história que está sendo contado, exatamente por ter um roteiro ruim, mal preparado.

Mas óh só... Se você não é o Paulo Thiago, vai ver o filme sim. Há histórias sensacionais e não há como ser diferente. O prazer de ouvir a história e as estórias da bossa nova é infinitamente maior que a incompetência de um roteiro fraco. A bossa nova é um movimento autêntico do país, retrato de uma época em que a esperança era real e pertinente. Acreditar que o país seria um País era viável e real, não uma utopia.

O fime de Faria Jr. confirma a teoria de Bebeto Castilho. A bossa nova é uma coisa. Tom, Vinícius e João Gilberto são outra. E a bossa nova é menor do que Tom, Vínicius e João. Vinicius é um monstro da cultura nacional, tanto da poesia erudita quanto da popular. A alegria com que conduziu sua vida transpassa pelas duas horas de telona. A vida é a arte do encontro e Vinícius soube bem disso. Os encontros que o filme mostra são, em sua enorme maioria, muito emocionantes. Destaques para a cena em que Tom e ele contam, em meio a plantas, como suas mulheres se irritavam com a paixão que ambos sentiam por uísque. "Você sabe, que elas quebram as garrafas de uísque na pia, você sabe... mas a gente vai e compra outra!" conta Tom, revelando um de seus cacuetes (dizer "Você sabe" no início e fim das frases). O encontro com Baden Powell cantando "Canto de Ossanha" numa sala, rodeado de amigos. O único senão do filme fica por conta do roteiro conduzido por dramatizações comandadas pelos atores Ricardo Blat e Camila Morgado. Eles vão muito bem, mas aquilo era desnecessário.

E amigo, independente de os filmes serem bons ou não, as histórias são. Então vai, vai, vai, vai amar, vai vai vai vai sofrer, vai vai vai vai chorar, vai vai vai vai ver.

1 Opine:

At 14:19, Anonymous Anônimo said...

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