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27.2.06

Show: Que Merda É Essa!? e Empolga às Nove em Ipanema

Carnaval, desengano

      Os blocos de carnaval do Rio estouraram. Há uma semana da data propriamente, o Suvaco de Cristo previa hiperinflacionados 25 mil foliões para o pré-desfile pelo Jardim Botânico, e vieram 50 mil. Os banheiros químicos que quadriplicaram de preço com a obrigação legal de existirem (e há quem acredite só na oferta e procura) não dão vazão (olha o trocadilho!).
      Agremiações tradicionais como o Simpatia É Quase Amor, Carmelitas e Barbas ficam muito maiores do que o agradável. Carnaval é bagunça e chega mais, mas o problema entra em ordens de segurança e higiene públicas. E na onda, nascem os blocos menores, que viram alternativa aos famosos e bombados.
      Domingo foi dia de dois deles. O Que Merda É Essa!? já tem mais de dez anos, é verdade, mas tem o espírito de pegar aqueles que preferem não enfrentar o Simpatia e os roubos de celular. O percurso é menor, ao invés de rodar pela orla depois de fazer a curva da Teixeira de Melo – o trecho mais bonito do Quase Amor e dos blocos em geral – ele só desce a Garcia D’Ávila e cai na praia – em um trecho quase que igualmente belo, não fosse a falta do Arpoador logo ali.
      O Que Merda É Essa!? se concentra em frente ao restaurante Paz e Amor. Tem uma bateria que não faz feio frente à Simpática, com a mesma divisão de contratados de um morro amigo nos surdos e caixas e Ipanemenses no manejo de tamborins, chocalhos e outros instrumentos de bater mais leves. Segue com camisados dentro de um cordão meio mal organizado que separa a bateria dos foliões. Os mesmos organizadores do bloco, em alguns casos ganham dinheiro com os camelôs que vendem bebida pelo caminho, disputando com vantagem o espaço pouco da rua cheia de carros estacionados e gente apertada sambando feliz da vida. Carnaval, bagunça, chega mais, eu gosto. E tinha um samba engraçado, cínico, xingando Rosinha e César Maia, mas pedindo um mensalão também, numa apropriação de cobertura Vieira Souto do jeitinho que nasceu em boa parte naquelas praias.
      Do fim do Que Merda, foi uma caminhada e uma algo longa espera pelo Empolga às Nove, que pelo nome começaria às nove, mas é claro não. O jeitinho, a praia, a cerveja, o chega mais. A areia estava linda de noite, vários grupinhos sentados em paz, coisa sem lembrança recente a não ser em reveillons e shows gratuitos do posto 10. Agora, é o samba quem dita o comportamento. Tempos loucos estes do novo milênio, confusão, carnaval, praia, e o samba de rei.
      Quando, depois de vários encontros mediados por celular ou não (as operadoras fazem parte de qualquer evento atual, patrocinadora ou não), é esticada a cordinha que vai separar foliões da bateria. Hora de se empolgar. Várias camisas vermelhas com o número 9 vão se concentrando por ali, em frente ao quiosque da Joana Angélica, onde a banda vai tocar sem andar. No caso, ex-integrantes do Monobloco, que saíram por um motivo ou outro da triagem que quis profissionalizar o bloco vale-tudo de Pedro Luís. A idéia é a mesma, oficinas (via conglomerado Matriz) e apresentações e ensaios ao longo do ano para culminar no mês sempre lotado do carnaval. E o resultado é mesmo o de um filhote, parecido mas diferente. As batidas são as básicas do samba de bloco, com brincadeiras pelo funk, maracatu, coco e ritmos adjacentes. Nenhum primor de técnica, mas também sem a defasagem entre batuques graves e agudos dos grandes blocos: diversão na medida. Se eu fosse rabugento, diria que um caraoquê com bateria. E duas vocalistas com vozeirão de cantora de noite.
      No repertório, além de um samba-enredo próprio em louvação à boemia e ao ataque como modo de vida (esquema tático inovador/ só tem camisa 9/empolga amor ou mais uma cerveja/ é claro que eu aguento!/o empolga às 9 aboliu o impedimento...), sambas-enredo de Mangueira, Portela e Império Serrano, e passeios por clássicos de outros gêneros, como Olhos Coloridos, de Macau.
      Menos eclético do que o Monobloco, no bom sentido, é verdade. E é claro que é bom romper fronteiras para popularizar o gênero, é assim que um monte de gente aprende a freqüentar blocos, e a empreitada de Pedro Luís é em grande parte culpada, sim, pelo estouro lá da primeira linha do texto.
      Mas eu gosto mais de bloco que anda e só canta uma música, até virar transe e não existir mais tempo nem espaço passando. Só carnaval, jeitinho e chega mais.

      Um registro: que pena ter perdido o surgimento do mais novo bloco do Rio, o Boi Tolo. Foi o resultado da mudança de horário dos inventores de carnaval e defensores da patente do Cordão do Boitatá. Foliões fantasiados no domingo de manhã esperaram até descobrir que não ia ter desfile como nos últimos anos, e improvisaram o próprio rancho. Os chatos que fiquem com a nova tradição, o Boi Tolo é que sabe como o jeitinho deve ser criativo. Carnaval, desengano.



Nada a ver

Que disco sensacional o ‘No Direction Home’ do Bob Dylan.

1 Opine:

At 13:20, Anonymous Anônimo said...

Nem só de samba foi o se carnval... Pelo visto andou ouvindo meus cds enquanto eu viajava. "No direction home" é realmente fantástico

 

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