Elocubrações: previsões para o ano
A Vez do Underground?A Folha de São Paulo tem uma matéria que se repete ano a ano na capa da Ilustrada. Com uma consulta a produtores de diferentes gravadoras, o jornal traça um painel das promessas para o ano que se inicia. Junto com a escalação do Humaitá Pra Peixe, dá pra dizer que ali estão as novidades que não serão surpresa – fora uma série de batatadas.
No longínquo ano de 94, na edição do dia 26 de janeiro, o repórter Carlos Calado entrevistava grandes executivos de grandes gravadoras para começar o texto assim: “Baixadas as ondas do brega-sertanejo e da axé music, o samba e o forró prometem comandar o ritmo do mercado fonográfico em 94.” Warner (recém nova proprietária da Continental), Sony, EMI-Odeon, BMG, todas eram unânimes em apontar Benjor como o muso do verão; o axé como o novo sertanejo, ou seja, só sobreviveriam os mais fortes; e Pernambuco e Ceará os estados para se apostar. Também surgia o sambanejo paulista, onde a EMI, principalmente, jogava as fichas. Ou seja, há doze anos, a Folha aconselhava que se olhasse para Só Preto Sem Preconceito e Negritude Junior de um lado, e para Chico Science e Nação Zumbi, Keijo com Mel, Peru de Ouro e Piratas do Forró. Isso mesmo, assim, tudo junto. 2006, e a história é essa que vocês conhecem.
Portanto, torna-se divertidíssimo ler a matéria deste ano, e se esforçar a adivinhar o que será de Céu, Turbo Trio, Instituto, Z’África Brasil, Moptop, Forfun, e mais todos os outros que o jornal paulista cita como os próximos.... Cansei de Ser Sexy. Pois é, ou sou eu que estou surdo e não ouço todo o barulho que rola lá fora, ou os caras de lá tão forçando a barra. E olha que eu até já falei de CSS por aqui.
O que me chamou a atenção na lista, fora a onipresença da Céu em tudo que é lugar de “vai rolar em 2006”, foi que quando se elege o rap underground como a bola da vez, estejam lá uma banda do rodado B Negão (o Turbo Trio, ao lado dos produtores Basa e Tejo), um coletivo que já tem pelo menos dois – bons – discos e uma série de produções importantes no currículo, e o Z’Africa que também tá por aí há alguns anos. O que vai mudar, este ano, para que o rap underground deixe de ser underground? O Marcelo D2 vai ficar quieto? Nego vai se cansar de caô gangsta?
Outra coisa também legal de se perceber na matéria é que as majors, realmente, já eram. Enquanto no longínquo 94, só a opinião de siglas gringas e empresas que agiam no segmento cinema-tv-fonográfico importavam, hoje se dá que quem dá opinião são produtores artísticos independentes, autônomos, que no máximo prestam serviço vez ou outra, para as grandes. É...
Nem falei, mas é inevitável registrar que o Moptop taí, de novo, pra variar.
3 Opine:
Se as grandes gravadoras não mudarem a mentalidade...blau-blau!
Acredito que as bandas estão cada vez mais descartáveis. Muitas bandas novas boas estã aparecendo, mas o público brasileiro não está acostumado a tanta oferta assim... só vão ficar aquelas que souberem trabalhar sozinhas. Independente dos incentivos de uma grande gravadora.
abraço!
Já leu na Rockpress a resenhazinha do novo do Lasciva Lula?
"Desde já, Lasciva Lula figura entre as apostas Rock Press para grande destaque deste ano, se tudo der certo."
Seu texto me fez refletir sobre
a revolução digital em curso, q vem gerando novos focos e formas de produção na música contemporânea - dando subsídios ao underground.
Uma bela rasteira na Indústria Cultural - que agora tenta correr atrás do próprio rabo, como uma cachorra louca, e nos babacas de plantão.Já era! Eles não tem visão! A hora é essa!
As fórmulas prontas estão acabando...é a vez do novo!
Quem viver verá!
Parabéns pelo Blog, virei leitora de vcs.
Abraços!
Mariana
quintomundo@gmail.com
PS: O show do Coquetel no Odisséia, na abertura do Slackers, foi muy bueno! Quando terá outro?
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