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13.3.06

Entrevista: Bidu Cordeiro, do Paralamas (1)

O Mestre-de-Cerimônia Bidu

foto retirada do site dOs Paralamas


Bidu Cordeiro é aquele cara que toca trombone no Paralamas, lembra? Ah, ele toca na Orquestra Imperial também. E no Reggae B, e no Acústico do Kid Abelha, e em shows do Planet Hemp, do B Negão, do Frejat, sei lá. Se você nunca reparou, é muito distraído mesmo, ainda mais porque em cima de um palco, a atração também é ele. Engraçado, se divertindo, às vezes dando esporro nos companheiros, ou dançando com os braços dobrados pronto pra voltar botando pressão nas frases do naipe de metais em que ele está, no dia e na hora em que calha de você bater de frente com ele. Fora do palco, nos estúdios, a lista de trabalhos também vai longe. E, em casa, onde recebeu a equipe sobremusica depois de vários telefonemas, desmarcações e um fatal encontro no Teatro Odisséia, é só um cara bacana disposto a bem receber quem chegar. Ou seja, show toda hora.

sobremusica: Podemos gravar? Você ia começar a contar a sua história...
Bidu Cordeiro: Minha história é assim, eu comecei meus estudos com 13 anos, nasci em Rio Bonito, estado do Rio. Nasci em Rio Bonito e comecei a estudar música com o meu pai. Meu pai é trombonista, toca o mesmo instrumento, e depois lá pro segundo ano de estudo – um ano e meio – ele me trouxe pro Conservatório de música, aqui na Graça Aranha [rua do Centro do Rio, perto do Castelo], quando eu estudei com um grande professor: Prof. Oscar da Silveira Brum. Estudei com ele quatro anos e aí ele me levou pra fazer prova. É um cara renomado, um professor foda, assim. Estudei quatro anos e ele me levou pra fazer concurso pra OSB, Orquestra Sinfônica Brasileira, e fiz concurso numa época que tinha uma porrada de gente. Tinha nego de fora, americano, de outros estados... Aí eu fui aprovado na condição de estagiário, contrataram dois americanos e me aprovaram, eu e o Marco Antônio [Favera], que inclusive tá até hoje lá como primeiro trombonista da OSB. A gente na condição de estagiário, que teria que fazer prova de seis em seis meses até ser profissional. Eu me lembro que fiquei um ano e meio, quase dois anos, e fui logo contratado, e fiquei lá.

sm: E isso foi quando?
BC: Isso em 86, eu fui contratado em 86. Aí fiquei lá até 97. Eu lembro que começamos a montar uma banda de salsa aqui no Rio que era Rio Salsa, com uma galera, e foi uma das primeiras coisas populares que eu comecei a fazer, eu tocava só Sinfônica. O popular eu não aquela confiança em mim mesmo. Só que aí eu comecei a ver que o nível das orquestras... elas começaram a cair, os grandes músicos, não-sei-que, o interesse na cultura, eu falei: pô, tenho que partir pra um outro lado. Até que rolou a parada do convite dos Paralamas, foi muito engraçado.

sm: E foi quando o convite?
BC: Foi em maio de 97. Foi uma gravação de uma banda chamada Los Djangos. Ou Jammil e Uma Noites, uma coisa assim, ou Jammil ou Los Djangos. Foram as duas bandas que eu gravei. E o Monteiro [Júnior, saxofonista], que era o cara dos Paralamas, ele que era o cara que arregimentava pra gravação. Aí me indicaram, a gente se conheceu, gravou lá os arranjos dele...

sm: Isso era a turnê do Nove Luas?
BC: É, a turnê do Nove Luas tava rolando, aí o Monteiro me chamou e falou assim: o Mattos Nascimento, que era o trombonista, inclusive excelente, tava ficando com uma certa idade, um pouco doente, não tava agüentando o pique de show direto, e já ia aposentar. O Monteiro falou: se rolar a possibilidade você se interessa? Eu falei: pô, Paralamas, né? Rorrorrô. Só que eu não acreditei, e tinha o Frejat que também tava me chamando, rolava um burburiozinho de que pintava uma chance. Aí, ele [Monteiro] me ligou no dia primeiro de maio, eu não conhecia a banda, ninguém assim. Show dia sete. Tem uma fita aqui, (sm: onde?) a primeira turnê foi Londrina, Maringá, Ponta Grossa e, por ali, uma última cidade que eu não me lembro. Foram quatro shows. Daí eu fiquei tirando, o Monteiro me deu uma fita de show ao vivo, eu acho que tirei mais ou menos a voz do trombone, não deu pra tirar tudo. Tirei o básico ali, fiquei por um período de três meses, e depois... de lá pra cá...

sm: Mas como é isso, você nem improvisava? Porque vindo de escola clássica...
BC: Não, tinha a escola clássica, mas eu já tava no meio. Eu só não largava a Sinfônica porque tinha uma garantia. Em 97 eu ainda tava na Orquestra, mas foi de 90 pra cá que eu comecei a tocar pop. Já fazia disco de artista, tinha a banda de salsa, tava descobrindo o popular. A Rio Salsa, a banda nossa, teve inclusive música em novela da Globo [Salsa e Merengue; e Kubanacan]. Até hoje, a gente ainda ouve alguma coisa falando. Foi uma experiência muito legal, dali todo mundo saiu. O naipe era eu, Jessé [Sadoc, trompete], Henrique Band [sax], era uma galera que tá hoje em dia aí. A banda acabou porque um foi pro Lulu, o outro pro Paralamas, o Jessé foi fazer com o Ed Motta... Todo mundo, geral, não teve como segurar... Tava todo mundo pleiteando um lugar e é a galera que tá tocando pelo Brasil aí.

Reggae B - fonte: Google Images
sm: Mas fala mais aí da história de não ter confiança pra tocar popular...
BC: É, o pop é... Na Orquestra [OSB] eu tinha carteira assinada, na época era um bom salário. A questão é o financeiro e tudo, porque no pop é aquilo... O estilo a gente pega, música é música, quem tem feeling vai pegar, o medo é da segurança mesmo. Porque pra viver aqui fora, bicho, tem que ser malandro. Se o telefone não toca, é foda. Isso aqui é foda [mostra o celular], as pessoas têm que chamar. Antigamente não, tinha um salário ali. Graças a Deus eu faço Paralamas, Orquestra Imperial, Reggae B, né? Poder ter gravado disco de Gil, pessoas assim que você já era fã, sempre gostei de popular.

Eu fui músico por causa de carnaval, cara. Fui músico por causa de carnaval, sempre adorei. Mas naquela época o meu pai falava: ó, cuidado, não-sei-que, vai estudar sério. Porque o sinfônico também te dá uma disciplina do cacete, de estudo. Não é tocar em naipe, não é isso. Mas te dá leitura, técnica de instrumento, afinação... E vou te dizer que valeu, acho que tudo vale, e música é música. Não tem essa coisa de só rock... Eu gosto é de tocar. Samba, tudo.

sm: Mas e Paralamas, você ouvia?
BC: Rarrá, eu lembro que quando me fizeram essa pergunta, eu até falei: volê, volê [cantando ‘Cinema Mudo’]. Rarrarrá. Eu conhecia os hits, ‘Uma Brasileira’, ‘Alagados’, o que todo mundo conhece do Paralamas. Agora a obra eu fui conhecer depois.

sm: Não tinha disco?
BC: Ah, não tinha. Mas gostava, entendeu? Já tinha assistido a show na praia de Copacabana. E eu até falo, nego não acredita, mas que se tivesse que tocar em uma banda seria no Paralamas. E pintou justamente o Paralamas.

sm: E desde 97 você não saiu mais do Paralamas: em todo disco, em toda turnê, você sempre tava lá tocando...
BC: São raros os momentos como ontem, que vocês viram que não... Mesmo assim o Herbert me convidou, e tal: pô o trombone não tá aí? E eu: não, em respeito aos colegas... E eu queria assistir, ver os caras que eu também sou fã. Mas eu acho que eles têm que gravar um disco assim, roquenrou.

sm: Mas você acha que um show como o de ontem é que fez eles pensarem em gravar um disco assim?
BC: Não, não acho não, o Paralamas é uma banda que sempre teve muita audácia, foi a primeira banda a botar samba no pop rock, a primeira a ter levada de samba no meio. E acredito que não vai demorar em vir um disco de roquenrou. Vão lançar um disco de reggae, que é outra coisa que eles sabe fazer muito bem. Tem o Bi... O Bi, João Barone, o Fera [João Fera, tecladista da banda], o Herbert, eu... sabe? O reggae... Eles são muito abertos, eles são muito bacanas mesmo. E eu acho que em nenhum espaço dão o mole que eles dão pra gente de perguntar mesmo opinião da gente. De a gente estar no disco, de somar, na gravação. No dvd inclusive eu cantei, cara, que doideira...

sm: É a música que o Manu Chao canta...
BC: É, é uma parte do Manu Chao, inclusive agora que o Andreas Kisser tá fazendo uns shows com a gente, shows grandes, e eu to cantando uma música do Sepultura, olha que doideira. Rerrê.


sm: Rarrá, é Ratamahatta...
BC: É, rarrarrá, eu peguei a letra: eu não sei, eu nunca tinha nem ouvido. Rá. Quando eu cantei, me deram a letra, me falaram mais ou menos como é que era. Não tinha tempo, eu falei: não vou nem escutar o disco original, pra na hora não tremer, né? Porque, porra, pra ir depois de ouvir o disco lá...

foto retirada do site dOs Paralamas (by Gislaine)

Bidu entoa Ratamahatta no Planeta Atlântida 2006

sm: Você já ouviu agora?
BC: É, aí eu ouvi depois. Fiz o dever de casa. Me deram o disco, eu escutei, tal. Não é ser cantor, mas um mestre-de-cerimônia, um cara que vai lá e... eu tô curtindo. Sou um pau-mandado, vamos tocar? Eu toco.

sm: É, mas rola muito papo entre vocês.
BC: É, é. Os caras são gente boa. Na gravação do último disco, não... de um disco que eu gravei – é muito legal a relação – até teve uma vez, é uma história que eu não canso de falar, na boa... foi o primeiro disco dos Paralamas que eu gravei, tinha uma música com um solo de trombone. E eu fiz, e falei: pô, não gostei do solo. E tinha o Malta lá [Carlos Malta, saxofonista], um cara... pô, bicho. Sabe, quem não vai querer botar um solo numa música? Depois eu botei vários outros, mas não gostei. Cara, falei pros caras: tô sendo honesto, não tá bom, não tô fazendo média. (sm: Qual era a música?) Não lembro, depois passou dois anos, e eu gravei o solo dessa música. ‘Trem da Juventude’! Tem a versão que o Malta gravou e a versão acústica que eu gravei. No Acústico, eu gravei o solo, mas naquele momento... sei lá. Eu pedi: tira isso, não tá legal. Que é uma coisa de jogar pro time. Lógico, quando eu faço um solo, faço com o maior orgulho, mas se não ficou legal, ter que ter noção de chegar e falar. E eles ali amarradões: não, bicho. O Fera: ó... E um ano depois eu gravei. Rola uma verdade.

foto: Bruno Maia
sm: A composição dos arranjos do Paralamas são de vocês três juntos? Os de metais...
BC: Geral! Lógico, o Monteiro é nosso band leader ali, mas eu dou idéia, o Fera dá, todo mundo dá. A gente mostra a frase, este último disco então, não foi uma coisa de levar o arranjo pra ver em casa, fizemos ali: essa introdução, ó, gostaram? O Herbert viu: tá legal, não? Gostaram? Bi? [respondendo:] Não, aquilo ali tá não-sei-que. E a gente: é, vamos mudar aqui. Tudo certo? E aí, fica uma coisa de banda. Legal, assim, a abertura.


por Bernardo Mortimer e Bruno Maia

5 Opine:

At 04:29, Anonymous Anônimo said...

tive a chance de conversar com Bidu Cordeiro domingo e, além de músico brilhante, é um cara educado pra caramba, gente fina mesmo..parabéns pelo site! um abraço, Du

 
At 02:08, Anonymous Anônimo said...

muito boa a entrevista
o bidú é um cara cheio de histórias e um grande incentivador
parabéns!
max sette

 
At 15:54, Anonymous Anônimo said...

Parabéns pela matéria! Muito bacana!

Abs

Mariana Vitarelli

 
At 02:30, Anonymous Anônimo said...

é importante que se divulgue esse trabalho, parabéns a todos =)

 
At 01:20, Blogger Gabriel Felipe said...

Além de um exímio músico, é um ser humano espetacular.
Conheci Bidu Cordeiro neste fim de semana. E fiquei fã do cara!

 

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