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Bernardo Mortimer
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26.6.06

Tony Parsons e Greil Marcus

Pensar e Dançar

       Quem assistiu a Quase Famosos vai lembrar de Lester Bangs, o crítico de rock exemplo para o jovem Patrick Miller (baseado no jovem Cameron Crowe). Todo mundo, pelo menos durante o filme, quer ser jornalista de música, viver a magia dos bastidores de uma turnê continental, se aproximar dos anseios, dúvidas, vaidades, fraquezas de um artista, para melhor apresentá-lo ao público. Ser o cara que a dizer o que é legal, e mais: o que não é e porque.
      Lester Bangs é o símbolo de uma geração que transformou o rock em algo eterno, sem morte nem ressurreição. Pop virando indústria, se retroalimentando, incorporando a mídia na mensagem. O pop sendo o que insere alguém no mundo: o importância do estilo. Daí, para a prática de teorizações, buscas de sentido para aquilo que, afinal, é também vida – de muita gente. Tudo sempre de volta à pergunta primordial: para que estamos aqui?
      Pois na seqüência a ele, que você pode ler rapidamente por aqui, na passagem da psicodelia para o punk e a androginia, vieram caras como Dick Hebdige (autor do importante “Subcultures: the Meaning of Style”), Simon Frith, John Clarke, Greil Marcus e Tony Parsons. Foram os dois últimos que eu li recentemente.

      A editora Barracuda lançou “Disparos do Front da Cultura Pop”, de Tony Parsons, no ano passado. É uma coletânea de artigos dele de 76, na NME, até 94, no Daily Telegraph. O livro se divide em cinco temas: Música, Amor e Sexo, Polêmica, Viagens e Cultura. Vale a pena ler os textos de Música, alguns de Amor e Sexo, e os de Cultura – os mais recentes. As Viagens são chatíssimas, e as Polêmicas não são, nhé, polêmicas.
      No livro, há histórias sobre os Ramones sendo cuspidos na Inglaterra, quando ainda estavam sendo descobertos, os Pistols apanhando nos EUA, ele tentando dizer o que há de especial no Clash, em 77, dois anos antes de “London Calling”, portanto. Tem uma conversa-quase-psicanalítica com David Bowie, que acaba passando por cocaína. E dá para ver os pêsames dele à mãe de Cobain, a quem se identifica por ter passado também, com idade parecida, pelas mortes de Hendrix, Morrisson, Jones. Ela reagiu à perda do filho com um: “eu falei para ele não se juntar ao clube dos idiotas”.
      Sobre sexo, ele fala que “a única coisa que uma mulher nunca vai perdoar num homem é a falta de comprometimento”, “Garotas do rock não são groupies, No entanto elas não são tão difíceis de levar para cama”, e “todos os homens do mundo gostam de sexo oral (...) porque um boquete alivia o fardo do desempenho”. É engraçado, e faz pensar um pouquinho. Mas, para ter uma idéia, ele trabalhou na Elle, e alguns textos têm um climão Elle de ser. Nada contra, só estou avisando.
      Por fim, na Cultura, o melhor. Um artigo para Laranja Mecânica, obra-prima de violência coreografada de Kubrick, que diz muito sobre a Inglaterra, onde o filme foi filmado e depois tirado de exibição. E o filme é um pouco, justamente, sobre o berço de mods, teds, rockers, punks e outras tantas subculturas, pelo fantástico e sedutor Alex, droog falador de nadsat, fã de Ludwig e tratado pelo Estado.
      Na mesma seção, há encontros com Cicciolina, Martin Amis e Ian McEwan imperdíveis.

      Outra editora esperta, a Conrad, colocou uma coleção Iêiêiê nas livrarias. “A Última Transmissão”, de Greil Marcus, deste ano, já tem outra onda. As críticas usam rock para falar de sociedade. Assim, um disco do Rolling Stones é o ponto de partida para se falar da virada de uma década, das flores coloridas de 60 para a meia-noite sem lua de 70. Da euforia para a ressaca. Ou o amadurecimento do punk quando o horror do “não” do Sex Pistols vira “sim” com “London Calling”, Clash mais uma vez - punk alegre e divertido, agora sim com lugar marcado na história. Andando para frente, o PiL de John Lydon (ex-Rotten – Sex Pistols) permite uma discussão sobre o mainstream, o underground e a arte livre popular, que não se vende. É a ponte entre a disco, negros como Kwesi Johnson e Augustus Pablo e o que não mais é punk, ou seja, uma provocação mais sutil, talvez menos certeira, talvez mais interessante.
      A politização questionando o pop (lembra de “Daí, para a prática de teorizações, ...., é também vida – de muita gente” lá do segundo parágrafo?) da Rough Trade, selo de Gang of Four e Raincoats em um primeiro momento, pós-punk até o caroço, é o tema de outro texto. E, por fim, o melhor deles, que pega o pulo do Joy Division para o New Order e fala da importância do pop para a busca de significados e sentidos, seja essa busca bem sucedida ou não, seja essa busca o que o artista tinha em mente ou não. Pense e Dance.
      Pode não ser comum pensar o rock por referências à Literatura, às vanguardas européias do início do século passado, ao Cinema russo, mas faz enxergar algumas coisas que estavam lá o tempo todo e você não via. Sei lá. Dance e pense.


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