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18.12.06

Show :: Adriana Partimpim

fotos de divulgação
O Rio de Janeiro assistiu àquela que, em teoria, foi a última apresentação da primeira turnê de Adriana Partimpim. Nos próximos anos, ela deverá ficar escondida em algum lugar que Adriana Calcanhotto não deverá mostrar. Partimpim pode ter tido a vida de um álbum só, mas também pode ainda reaparecer. Mas acho que nessa, a coisa tá mais pra Ziggy Stardust mesmo.

A última apresentação da turnê não apresentou novidades ao que se vê, por exemplo, no DVD. Dentro de um cenário que reproduzia esculturas de origami, a crooner se protege com uma banda afiada. O processo de infantilização dos músicos lembra o que Manoel de Barros costuma fazer com a poesia. Por acaso (ou não), tinha lido a(s) entrevista(s) do poeta à revista Caros Amigos desse mês pouco antes de me dirigir ao Vivo Rio. E as palavras dele batem em cheio com a leveza dos brinquedos na mão do (ótimo) baterista e percussionista Guilherme Kastrup, por exemplo. O processo de desaprender, de chegar na essência do simples, é a chave da composição do trabalho dos músicos. Apesar disso, não há adornos no palco. Tudo que se vê entra alguma hora criando som.

Por mais simples que pareça, um olhar mais cuidadoso repara que o espetáculo é todo marcadinho. Os gestuais de Adriana não são tão espontâneo quanto o dos músicos parecem ser. Isso recupera o profissionalismo daquilo tudo. Destaque para a entrada e saída de Adriana, que é suspensa por cordas, como se voasse, lembrando aquele lance da nave da Xuxa chegando e indo embora. Xuxa, que aliás, é – bem ou mal – uma das últimas referências que se tem pra música infantil no país, sem falar na eterna Bia Bedran. E pensar nisso é esquisito, pois se parte do pressuposto de que há quase 20 anos essa linguagem infantil está meio abandonada. As últimas referências interessantes são os trabalhos de Toquinho no fim da década de 70, início dos anos 80. As crianças que viram Partimpim tiveram um espetáculo que a minha geração não teve.

A platéia, formada por uma enormidade de crianças, é uma delícia para quem está acostumado à vida de shows noturnos. Imagino que pra quem toque também. Poucos eram os que estavam lá desacompanhados de algum pequeno. Porém, ter mais de 18 anos não foi empecilho pra ninguém deixar de soltar a voz. O final do espetáculo foi emocionante, quando Partimpim se dirigiu à frente do palco pra cumprimentar todas aquelas mãos pequenas e encantadas.

Ponto baixo para a parada que a cantora fez na música “Fico assim sem você”. O hit, tão aguardado, foi interrompido no auge, na subida pro primeiro refrão. Adriana parou, reclamou do som, disse que estava difícil, mexeu em alguma coisa e recomeçou. Tudo bem, o público pode ouvir o hit querido mais de uma vez, porém, na segunda o climão já tinha ido pro beleléu. Por mais que houvesse dificuldades acontecendo, naquele momento faltou sensibilidade. Pra quem estava na platéia, não se percebia nada demais no som. A única vez em que isso aconteceu foi no último número da tarde, a música “Oito anos”. A guitarra da Adriana ficou muito alta e, por vezes, embolou com a voz.

Em relação ao CD, há a inclusão de quatro músicas feitas por Adriana para poesias de Ferreira Gullar. Elas já estão no DVD, mas ganham força dentro do show, onde parecem criar um capítulo próprio para elas, sob a temática dos gatos. Outra bela faixa, que também aparece no DVD, é “Quando Nara ri”, de Partimpim e Kassin, feita para a filha dele. Aliás, a parceria com o pai de Nara me parece ser um bom indício para esse gênero infantil. Explico-me. Talvez a geração de Kassin seja, desde o pessoal do início dos anos 80, a mais ligada ao universo infantil. Nos shows do Acabou La Tequila, as referências passavam um pouco por ali, o Los Hermanos já fez cover do Trem da Alegria, enfim... O que passa pela minha cabeça é que, agora que essa geração está na casa dos 30 anos, começando a ter seus filhos, ela possa se interessar por desenvolver mais essa temátic infantil. Kassin ter feito essa música pode ter sido mais um sinal disso.

Seria ótimo se isso acontecesse. Bem como seria ótimo se Partimpim voltasse. A experiência dela chegou ao fim depois de dois anos e deixou evidenciado que há uma demanda desse público. Por ora, foi uma ducha num deserto. O que era doce se acabou.

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ficha técnica
Adriana Partimpim
Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2006
VivoRio


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E já que a Partimpim é gaúcha, parabéns ao Internacional e à gauchada colorada da Graforréia Xilarmônica! Meu amigo Alexandre Oppermann também deve estar muito feliz.

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Aliás e a propósito, o tal do Alexandre Pato tá mais pra Monkey. Pra Arctic Monkeys! Repara só! Ele é igualzinho a qualquer um dos integrantes do grupo. Pode escolher.

8 Opine:

At 02:05, Blogger O Anão Corcunda said...

Opa!

As últimas referências interessantes, não dá pra resumi-las ao Toquinho somente. Atento para a transcriação, do Chico, dos Saltimbancos (a trilha do filme dos Trapalhões foi lançada em 1981). Acho que nossa geração também teve ainda o privilégio de assistir ao Sítio do Picapau Amarelo, que tinha uma trilha fantástica. Isso, é fato, não se traduziu em muitos concertos.

Outro trabalho dirigido a crianças ('linguagem infantil' me parece um termo inadequado por superficialidade) de altíssima qualidade na década de 80 é o do Grupo Rumo, um disco chamado 'Vamos Passear'. Música de primeira que trata o ouvinte como alguém que pensa, seja ele criança ou adulto. O Hélio Ziskind, integrante do grupo, continuou passeando por essa área, o Luiz Tatit também. Talvez eles sejam mais conhecido em São Paulo. Mas o fato é que não estão, nem nunca estiveram, na grande mídia.

Teve também uma época de música com a Turma da Mônica. Até a Tetê Espínola, que é uma cantora, no mínimo, bastante talentosa, participou de um filme-desenho (Mônica e a Sereia do Rio). Teve umas trilhas também com cada personagem. Mas não vingou.

E é possível que haja alguns outros. Os Trapalhões lançaram alguns discos... já vi (não ouvi), uma vez, um vinil do Zacarias. A se pesquisar.

Quanto a esse trabalho da Adriana Pau Canhoto, confesso que nunca ouvi e tenho a maior resistência em fazê-lo. Já ouvi muitos comentários bons, mas não consigo descolar de mim o sentimento de que ela é uma das piores cantoras que já ouvi. A inexpressividade dela é brutal, um convite à depressão, apologia do sofrimento. E ainda acho as letras dela bem ruins. Mas ela vem sendo bem-sucedida nessa empreitada última.

Ah, e pelo amor de Deus, não dá pra ter dúvidas em relação à Xuxa. Quando você diz que ela, "bem ou mal", foi a maior referência nos últimos tempos, dá ódio. Bem ou mal é o cacete. Tudo o que ela fez foi mal, e muito mal, mal mesmo. Pra não dizer mau.

Abraço
André

 
At 09:59, Blogger Bruno Maia said...

Nao sei se podemos dizer que nossa geracao foi a ultima a ver o Sitio. Vimos, sim, mas já era em forma de reprise dos programas gravados entre 77-81, se nao me engano. E isso continuou rolando, fora da Globo, nos anos 90. Entao, teve mais gente que viu. Nao conheco esse trabalho do Rumo, nem acho o que vc citou da Turma da Mônica suficientemente bem difundidos, o que nao quer dizer que nao tenham qualidade. Acho apenas que há um tempo há essa dificuldade de fazer com que um trabalho infantil de qualidade chegue, de fato, às crianças.

E é claro que nao dá pra resumir ao Toquinho, mas o citei justamente porque acho que ele foi o centro que convergia o trabalho de Chico, Edu, Novos Baianos, Vinicius, etc... Foi ele quem puxou o bonde com mais força, se dedicou mais tempo a esse público. Creio que, talvez, o Saltimbancos, do Chico (que na verdade nao é do Chico, neh...) é de 1977, o que sinalizaria uma anterioridade aos trabalhos do Toquinho. Porém, acho que ele, mais do que o Chico, se dedicou a isso e puxou o bonde. Por isso o citei.

Quanto a Adriana Calcanhotto, entendo sua impressão, mas ela nao me atinge. Acho que o principal "charme" (nao sei se essa eh a palavra adequada) é aquela coisa séria, austera, sóbria que pode ser tomado como inexpressivo. Ela cantando "Vambora" com toda aquela frieza, olhar blasé perdido, é cortante. Tal qual quando ela canta "No dia em que fui mais feliz, eu vi um aviao, se espelhar no seu olhar até sumir". Concordo que muitas vezes ela é um convite à depressao, mas isso nao eh verdade sempre e nao é necessariamente ruim.

Não é minha cantora favorita, mas tá longe de ser a pior.

 
At 12:24, Blogger O Anão Corcunda said...

Ê ê, não falei que fomos a última geração a ver o Sítio, apenas que, de fato, assistimos. Só a acrescentei como uma referência fundamental para os pares de nossa idade. Mesmo que tenha sido reprise. Foi na Globo, e com grande repercussão, talvez muito maior que a Arca de Noé do Toquinho que você citou. Depois que saiu da Globo, a repercussão diminuiu a ponto de ofuscar o programa. Então, talvez tenhamos sido a última geração que o assistiu em peso mesmo (agora eu falei!) :)

Isso pq não quero contar essa segunda fase tenebrosa, com aquelas cores horrorosas, de pouco tempo atrás, que teve lá um bom sucesso.

Os trabalhos do Rumo e da Mônica não foram bem difundidos, como não deixei de colocar (embora os da Mônica tenham passado até em especial de Natal da Globo). E por razões bem diferentes: o da Mônica, acho que porque fracassou mesmo; o do Rumo, por ter um nível de qualidade anti-Global.

Mas são referências muito interessantes e posteriores à Arca de Noé (tomemos como um marco), e que merecem, no mínimo, menção ao se tratar do assunto. Apenas isso. Principalmente o do Rumo, de tão inovador - e influente - que foi e é (só fui conhecer já marmanjo).

Acho que o trabalho do Rumo deve ter chegado, e muito, mas não diretamente. Tenho a impressão de influenciou muitos músicos que hoje trabalham voltados à criançada. No mais, o restante do trabalho do grupo continua ainda sendo uma das diretrizes mais interessantes da música brasileira. Rumo Aos Antigos é uma obra-prima. Isso, acredito, também conta muito.

Se chegaram ou não, "de fato", às crianças... isso é uma questão complicada, ainda mais por causa da intermediação dos pais. Já trabalhei em loja de CDS e nunca vi uma criança atrás da Pau Canhotim, só uns pais mais "cults".

Você fala que as crianças foram lá cumprimentar o personagem. Será que era mesmo uma relação com aquele personagem? Ou era a exitação de uma criança de ver alguém fantasiado num palco? Em suma, será que era algo com O personagem ou com UM personagem? Isso importa?

Pra mim, isso é uma questão: como se mede a repercussão de um trabalho nas crianças? Pela voracidade dos pais em fazê-las ouvir? Pela presença física em audições e concertos? Pelas lembranças que elas carregam quando crescem?

Essa história de que só fui conhecer o grupo Rumo já marmanjo me faz lembrar que, quando pequeno, eu ouvi muito, através do meu pai, uma banda paulista chamada Premeditando o Breque (ou Premê, para os íntimos). Tinha um disco que eu achava muito engraçado, e se chamava "O Melhor dos Iguais". Só depois, entrando em contato com o Rumo, fui começar a descobrir que ambas eram bandas do mesmo "movimento" paulistano, que os músicos trabalhavam muito entre si e tal... curioso efeito do que "chega" numa criança.

E, bom, não deixa de ser engraçado, mas uma das músicas que eu mais gostava quando pequeno, era Eu Não Matei Joana D'arc, do Camisa de Vênus. E Polícia, dos Titãs.

Na verdade, acho que o que importa mesmo é se o trabalho tem qualidade musical. Se ele é "voltado" ou não para crianças, parece-me algo secundário e sobrevalorizado, meio fetichista. As crianças, nem de perto, não monopolizam o que é infantil...

Não me parece também é que o Toquinho tenha lá sido esse centro todo. Ao que parece, por exemplo, e para ficarmos na Arca de Noé, já li que era um projeto muito mais do Vinícius que do Toquinho. Ou não? Aí também não sei tão direito.

Acho o trabalho de transcriação do Chico muito mais importante e com muito mais qualidade que a Arca de Noé. Detalhe é que falei de uma "transcriação", não falei que era "do Chico" - o que na verdade não importa quase nada. Mesmo porque o trabalho de trazer essas músicas para a língua portuguesa, com as letras que tiveram, é um puta trabalho importante, e o Chico fez com excelência. E melhor que 99% dos outros (eu acho, particularmente, que dá de mil a zero na Arca de Noé).

Não trate assim com desdém esse imenso trabalho que é traduzir um texto, ainda mais artístico...

Quando à Pau Canhoto, o único problema é que ela faz esse "charme" de poste em todas as músicas que já ouvi, sem exceção.

Agora, uma coisa é ouvir um relato de sofrimento. Outra coisa é comemorar a dor de corno e achar legal ser infeliz! Os psiquiatras devem adorar Pau Canhoto...

Valeu.

 
At 16:51, Anonymous Anônimo said...

De um mês pra cá mais ou menos, minha irmã de 9 anos ouve High School Musical, da Disney, umas 3 vezes por dia (cd e dvd). Mesmo sem conhecer o trabalho da Partimpim, eu preferia q ela a ouvisse, mas nem sei se isso faz parte do universo apartamento-shopping-Santo Agostinho-Cartoon Netork dela.

 
At 23:02, Anonymous Anônimo said...

o nome dela é Calcanhoto..

e uma pena ninguém aí ter falado de Mamonas Assassinas

mario

 
At 21:54, Anonymous Anônimo said...

Andre, o nome dela é Adriana Calcanhotto, tenha respeito ok?
Arca de Noé são poemas do Vinícius musicados por vários parceiros entre eles o Toquinho. Os poemas são muito anteriores às canções e estão no livro homônimo.

 
At 01:20, Blogger O Anão Corcunda said...

A lembrança dos Mamonas Assassinas é boa. Eles tinham qualidade como instrumentistas e eram bons parodiadores, além de carismáticos. Acho maneiro quando as pessoas relembram nomes.

Agradeço o esclarecimento quanto às origens da Arca de Noé. Acabo de conferir o CD, onde se lê: "Vinicius Para Crianças". O Toquinho compôs a grande parte das músicas, mas o Vinicius é quem capitaneou a "produção". Não sabia que os poemas haviam sido lançados em livro homônimo antes.

Sei que o Toquinho lançou um disco chamado 'Casa de Brinquedos', a maior parte em parceria com o Mutinho, mas nunca ouvi. Há mais trabalhos?

Quanto à Adriana Pau... ops, Calcanhoto, tenho o maior respeito por ela... é que a influência do Casseta & Planeta é mais forte e esse trocadilho, convenhamos, é tentador. Mas prometo que vou me comportar.

 
At 14:09, Blogger Oppermann said...

acabei de achar meu nome no teu blog! Agora posso responder. Sim estou muito feliz! a vida voltou ao normal... ter a vergonha de ganhar um jogo do barcelona e nao se classificar para o gauchao e ser o primeiro campeao a nao passar pela primeira fase da libertadores, enche todos os gremistas de muita alegria.
e vc como anda? tudo tranks? abs

 

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