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13.2.07

FEIRA MÚSICA BRASIL :: (balanço final)

Primeira edição deixou muito a desejar

Ignorando peças fundamentais da nova configuração da indústria da música, o evento deve servir de aprendizado.


A Feira Música Brasil, que terminou ontem no Recife, tentou dar um impulso à organização da cadeia produtiva da economia da música no país. Com o suporte financeiro do poder público (Ministério da Cultura, BNDES, Petrobras, Governo de Pernambuco, Prefeitura do Recife e SEBRAE), o evento se apresentou como "o ponto de referência de negócios da música brasileira", definição de Paula Porta, assessora especial do MinC e coordernadora do PRODEC (Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura). Porém, o que se viu de fato foi um evento ainda incipiente, sem a participação do setor privado, feito às pressas e ainda longe de se tornar referência de qualquer coisa.

A ausência do capital privado foi decisiva para o esvaziamento da feira. Não se viu, por exemplo, nenhum stand de empresas de telefonia, de emissora de rádio ou tv, de portais de conteúdo, nem tampouco de grandes gravadoras. O espaço era ocupado por selos pequenos (a maior representante do setor fonográfico era a Biscoito Fino), por iniciativas de fomentos regionais e, sobretudo, pelos financiadores do evento. SEBRAE e Petrobras ocuparam as maiores áreas. Afora isso, os produtos oferecidos não estimulavam o consumo. Nos cerca de 30 stands abertos ao público era possível encontrar desde instrumentos musicais até doce de leite e cachaças. Outro, era dedicado exclusivamente a produtos de limpeza e armazenamento de CDs, como se estivéssemos em 1992 e o mp3 não tivesse sido criado. Houve até expositor que não apareceu para ocupar seu stand.

Do lado das inovações, poucas coisas. Talvez a principal tenha sido o Coolnex, uma espécie de cartão, com a arte e as informações de determinado álbum. Nele, o consumidor encontra um código interno que habilita o download legal de músicas daquele trabalho para um computador, através de uma parceria com o portal iMúsica.

- É um produto que torna tangível o que antes era apenas virtual, com um conceito que agrega valor. Além disso, agiliza o pagamento ao vendedor e o acesso ao produto para o consumidor – explica Eduardo Almeida, diretor de planejamento do Coolnex.

Na FMB, estes cartões foram distribuídos de graça, mas a promessa é que em três meses estejam à venda por preços populares em todo país. Outro que chamou atenção, mesmo não sendo pioneiro na prática, foi o músico pernambucano Eduardo Kalil. Ele circulou pela feira distribuindo o próprio disco. O produto entregue por ele trazia a capa, a bolacha prensada na parte de cima, mas com a mídia virgem. As músicas, cuja ordem já vem indicada, devem ser baixadas no site do artista e queimadas no gravador de CD caseiro.

Em teoria, a principal seção da FMB era a rodada de negócios promovida pelo BNDES. Ela foi muito criticada por alguns dos participantes no primeiro dia. A agenda inicial foi organizada pela produção da feira e, com isso, os participantes perderam a liberdade de analisar e escolher com quem gostariam de conversar, sob o risco de criarem um constrangimento para si próprios. Isso foi se resolvendo ao longo dos dias e as reclamações foram se transformando em otimismo. Como as negociações iniciadas na FMB ainda dependem de conclusões que só virão nos próximos meses, não havia o cálculo preciso de qual foi o valor financeiro movimentado.

A parte artística foi a menos problemática. Com uma boa programação de shows, cumpriu o papel de divulgar nomes do cenário independente, que iam desde os pernambucanos do Bongar, passando pelos espanhóis do La Kinky Beat, até o carioquíssimo Nélson Sargento, que fez um show emocionante no Marco Zero. Sargento também foi um dos destaques da FMB por ter passado três dias ajudando a vender os próprios CDs. Os artistas vinculados a grandes gravadoras só participaram de shows na sexta-feira, quando foi comemorado os 100 anos do frevo com um grande concerto. A apresentação foi financiada pela prefeitura da cidade e contou com artistas como Gilberto Gil, Lenine, Alceu Valença, Luiz Melodia e Maria Rita. Ney Matogrosso foi um dos destaques da noite, cantando o clássico "Me segura, senão eu caio". Na ocasião, todas as referências à FMB foram retiradas do palco. Coincidência ou não, foi o único dia em que o Marco Zero ficou lotado. Conversando com locais, era perceptível que a programação da FMB, apesar de contar com três palcos, não se preocupou em divulgar fortemente os shows pela cidade. Muita gente não sabia o que estava acontecendo por ali, muito menos tinha informações sobre quem se apresentaria. Com exceção de sexta-feira, os shows acabaram sendo vistos sobretudo pelos participantes da feira.

Apesar de ter sido concebida como um evento itinerante, em 2008 a FMB acontecerá novamente no Recife. Com mais tempo de planejamento e uma edição já realizada para servir de experiência, a tendência é melhorar. Para isso, porém, será necessário abrir mais o olhar, ser mais generoso com os agentes dessa indústria e menos parcial.

- Nesta primeira edição, teve muita gente querendo ver se seria um evento de verdade. Tenho certeza de que diante desse resultado, todas as pessoas e empresas envolvidas de alguma forma com a música virão, porque a Feira Música Brasil vai ser o ponto de referência - afirma Paula Porta.

Mais do que afirmações, é necessário um bom planejamento, autocrítica e mais conversa com a indústria, para que a FMB alcance tal objetivo. Por enquanto, tudo ainda não passa de promessa.

*******************
(texto também publicado no Globo Online)

2 Opine:

At 23:04, Anonymous Anônimo said...

Tambem tive esse sentimento. Apesar de empresas e pessoas sérias a feira deixou um sabor de que faltava algo. As empresas do mainstream parecem não terem acreditados no potencial da feira.
Espero que nas próximas edições isso se resolva.

 
At 02:28, Anonymous Anônimo said...

Caro Bruno, valeu pelo comentário positivo, espero que vc baixe também as músicas e goste!! Abraço, Eduardo Kalil.

 

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