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3.2.07

Show :: Chico Buarque

fonte: Google Image

O show da turnê “Carioca”, de Chico Buarque, não chega a empolgar. Há algumas razões para isso e mesmo sem querer vou me pegar caindo no lugar-comum de traçar paralelos usando o mais recente trabalho do Caetano.

Caetano optou por ousar. À sua maneira, bem ou mal, mas o fez. Arriscou num disco esteticamente diferente do que vinha fazendo. O show da turnê encontrou eco em um público que topou e curtiu a nova experiência. Nos shows do Circo Voador, a galera chegou junto, se solidarizou e fez um espetáculo à altura da carreira do compositor baiano.

Chico optou pela segurança de apenas renovar as canções, mantendo praticamente a mesma banda do disco anterior. Luiz Cláudio Ramos já faz aqueles arranjos ali há muito tempo e imprimiu uma assinatura clara. Boa ou ruim, careta ou sofisticada, não vou entrar nessa questão. Fato é que ao optar por isso, Chico não se aproximou mais de quem ainda não o acompanhava. O que ele fez foi aumentar sua discografia e esperar a cumplicidade daqueles que o acompanham e veneram há 40 anos. A casa estava lotada apesar dos pesares da chuva e do preço escandaloso dos ingressos, injustificável até pela simplicidade pobre demonstrada na composição cenográfica, bem aquém do que se podia esperar.

Na turnê “Carioca”, Chico valoriza as músicas do novo trabalho. Alguns clássicos? Sim, poucos. A questão é que o público que o disco novo de Chico levou ao Canecão era o mesmo que já acompanha o cantor há tanto tempo. A nova geração que estava presente era composta de pessoas que, na maioria, conheceram a obra de Chico entre o fim da turnê de “As cidades” e o início de “Carioca” através dos clássicos, dos discos antigos, ou até mesmo do “As cidades – Ao vivo”, mais generoso em “hits”, vamos chamar assim.

O disco novo de Chico vendeu bem, mas não emplacou na boca do povo. Talvez pelas harmonias mais herméticas, talvez por soar menos pessoal, talvez por olhar demais para uma cidade que parece não interessar muito. A solução desta equação no show é fria. Durante a maior parte do tempo acontece um distanciamento entre a platéia e a banda. Chico desfila as músicas e, no ar, fica a sensação de que “a próxima eu vou cantar junto”. Não canta. O show não emplaca justamente por uma certa indefinição conjuntural com o que se propôs no disco. Chico fez um álbum sem grandes mudanças e, por isso, não provocou uma renovação de público. Essa platéia, por sua vez, é fã de Chico menos por causa do disco novo e mais pela carreira. Em “As cidades” a situação foi parecida, mas o show era mais generoso com esse público. Agora não. Até a escolha das músicas antigas não privilegia os maiores “hits”. Em vez de um “Cotidiano”, por um exemplo, rola um “Bye bye Brasil”, entende? São uns “hits” lado-b, não óbvios. Por isso, paga-se um preço.

Não é questão de condenar a postura do artista de não tocar o que o povo quer ouvir. Definitivamente não. Caetano não saiu por um repertório de hits, mas isso se justificava pela proposta de apresentar algo novo, uma nova linguagem, uma nova estética. Nesse sentido, em "Carioca", Chico optou por não seguir este caminho. Ok. Agora, se a idéia é continuar na linha das canções buarquianas, não havia muito por quê de se fazer um repertório tão frio, abrindo mão dessas canções buarquianas. Um argumento possível é justamente que na turnê de "As cidades", como já dito, isso foi feito. Porém isso não soluciona a equação. O fato é que no show atual há pouca troca entre o artista e o público.

Em relação ao show de abertura da turnê, realizado em 16 de junho de 2006, em Berlin, houve poucas mudanças. A entrada de uma música ou outra, como Morena de Angola e a saída de uma aqui outra ali, como Vai Passar. A diferença da expectativa do público aqui e lá acentua o argumento desta crítica. Lá, o grande barato era a reaproximação com a terra natal através de um dos seus principais cantores populares. Qualquer coisa que Chico cantasse, desde que fosse em português, cairia bem, como caiu. Como ninguém ainda conhecia o disco (então) recém-lançado, não havia o constrangimento no ar que ficou no Canecão. O distanciamento era aplacado pela saudade e esse era o tom. Além do que, a abertura de Mart'nália deixou as coisas ainda mais alegres e leves.

No fim da apresentação de ontem no Canecão, quando começou a se mesclar mais as novas canções com os grandes "hinos" populares, o show ganha outro clima. Ganha sorrisos. E termina bem. Um docinho pra criança não sair dizendo que não gostou.

O que esse texto pode fazer parecer uma decepção não chega a ser de todo porque Chico ainda toca "As Vitrines" e "Futuros Amantes". Só isso já derruba qualquer linha escrita e justificaria qualquer noite. Emocionalmente falando, é claro.

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ficha técnica
Chico Buarque - turnê "Carioca"
Canecão
02 de fevereiro de 2007

3 Opine:

At 12:08, Blogger André Monnerat said...

Veja só, você faça de "As vitrines" e "Futuros amantes", minha namorada saiu satisfeita com "Eu te amo", eu fiquei bobo com "Grande hotel". O cara tem tanta música, que cada um faria um set list diferente.

Gostei mais do "As cidades" do que desse show, mas acho que no que o CD ao vivo sair, muitos desses lados B, que quando lançados não foram nada lados B, vão voltar a cair na boca do "povo".

Ele tem tanta música que acho que, por mais que ele não esteja dando guinada nenhuma na carreira (e precisa?), é mais do que compreensível que ele decida não continuar tocando as mesmas, ressuscitar coisas de que gosta, enfim.

 
At 00:24, Anonymous Anônimo said...

Desculpe... O Chico não fez nada novo, mas devia ter tocado os Hits...
...o Caetano foi ousado!!! Onde? só se foi na banda que o acompanha que é bem ruim...e ele canta rock faz muito tempo...
...Ainda bem que alguém continua compondo MÚSICA BRASILEIRA...ele tem na banda Luiz Claudio Ramos(que ainda não tinha feito esses arranjos não, sem falar nas formações) Wilson Das Neves(vc sabe a importância dele pro samba e pra música do país?) e Jorge Helder, não precisa mesmo mudar...
e o disco ao vivo ver ser diferente do último...vai ter ele canatando A bela e a Fera, Grand Hotel...

 
At 21:26, Anonymous Anônimo said...

eu fui ao show em porto alegre, me encaixo em algumas das coisas aí escritas (queria ouvir alguns "sucessos antigos"), mas discordo da comparação com o disco do caetano, que não achei ousado nem nada, mas sim oportunista, fácil demais, e nem tanto inovador quando se pensa na proposta do caetano, de se agarrar a qualquer coisa que possa ser chamada de "vanguarda" num dado momento..esteticamente ele é o mesmo caetano, um grande parnasiano (com inatacável conteúdo, diga-se de passagem).

voltando ao show do chico, eu queria ouvir algumas músicas antigas também, como Flor da idade, que é minha preferida. Concordo que o show foi meio "frio", é natural que esperemos algo mais sintético de sua grande carreira - mas talvez esta escolha de lados-b signifique a maneira com a qual ele vê seu momento atual: Carioca é o novo trabalho, e não o último. Pensando bem, ficaria mesmo horrível e de mal gosto uma produção baseada em revivals.. além do mais, as músicas que eu desejava ouvir no show e não foram tocadas, todas eram do Cambaio e do As cidades, não tão antigos sucessos mas coisas maravilhosas (cambaio, carioca, cecília, chão de esmeraldas, veneta, xote de navegação, lábia, suburbano coração, uma canção inédita)..de nossa parte (fãs), querer revivals é algo meio triste; temos que levar em conta a importância de ter o chico querendo mais de sua carreira.

 

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