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Bruno Maia
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26.1.07

Saudade: Tom Jobim

Reencontros. Ou, simplesmente, 'Vai...'


      Essa manhã, enquanto eu tentava me manter acordado na frente do computador, via com o canto do olho o Arquivo N do Tom Jobim, na Globo News. Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim foi um ídolo da minha infância, ao lado de improváveis Michael Jackson e Madonna, antes do Rock in Rio 2 me apresentar o Information Society, o Megadeth, o Joe Cocker, e muito antes de eu passar tardes vendo a extinta MTV ou passar noites no Empório acompanhando os sets dos djs, que sempre passavam por REM, Placebo, Garbage, Ramones, etc. Isso para não me alongar muito.
      Pois, você já sabe, o Tom faria oitenta anos no dia 25 de janeiro. Ontem. Isso me faz lembrar direitinho quando eu, ainda um aluno de flauta doce que preferiria tocar um instrumento mais pop, fui encorajado pela minha mãe na Cobal do Leblon. "É o Tom Jobim, diz que você toca as músicas dele na flauta, pede um autógrafo". Fui lá. Fiquei nervoso, não falei direito, quem pediu o autógrafo foi a minha mãe mesmo. Eu fiquei olhando, o Tom ficou meio orgulhoso, meio debochado, me mostrando para um casal de amigos e tentando se lembrar qual tinha sido a última vez que tinha dado um autógrafo. Na época, foi só quando a minha mãe contou para o meu pai que o meu espanto indignado virou um sorriso diante da ironia cínica de Tom. O autógrafo e a lembrança da mão na minha cabeça, falando qualquer coisa como "Vai..., Tua vida, Teu caminho é de paz e amor...", continuam por aí.
      Remexendo um pouco, voltam. Cada vez um pouco mais amarelados. A assinatura de Tom, e eu me acho no direito de repetir o tratamento assim, carinhosa e intimamente, era quase uma linha de batimento cardíaco. Talvez fosse o meu, menino, naquele dia.
      Dias, meses, eu diria quatro ou cinco anos depois, eu estava longe de só dançar samba, vai, ainda nos twists, calipsos e tcha-tcha-tchás. Em um dia oito de dezembro de noventa e quatro, férias da escola, quatorze anos, e vi entrar no ar um plantão do MTV No Ar. Sem muitas informações, minha memória diz que com ar bem sério e até gaguejante, Chris Couto dava a notícia: morreu Tom Jobim, em decorrência de uma operação que fazia nos EUA. Ninguém sabia que ele tinha viajado por problemas de saúde, a operação não era grave, e nos últimos anos ele vinha fazendo mais shows no Brasil, inclusive levando um piano para a pedra do Arpoador, na tentativa de ver os brasileiros conhecendo o que os brasileiros fazem, assim, sem necessariamente o B maiúsculo que ninguém mais do que Antônio Carlos mereceria.
      Assim que saiu o plantão da MTV, avisando que mais informações viriam a qualquer momento, eu fiquei deitado na cama dos meus pais por um tempo. Sem reação. Triste. Chorei. Não me lembro de ter chorado com uma notícia de tv, a não ser nesse dia 8 de dezembro, aos quatorze anos. Fiquei trocando de canal, Globo e MTV, sem controle remoto, esperando alguma nova informação. Liguei para minha mãe, no trabalho, e ela ficou triste, mas não abalada como eu achava que seria o natural. Que devia ser o natural. Ora, era o Tom. Aquele que tinha autografado o caderninho de telefones dela. Passei a tarde atrás de novas informações, cruzando notícias sobre a morte, querendo ouvir as repercussões, acompanhando a cobertura que começou na guerrilheira MTV de então, furando a poderosa líder de audiência, e terminou com uma edição do Jornal Nacional cheia de correspondentes e caras sérias.
      Anos depois, era eu o jornalista. Tom teria oitenta anos. Eu tenho vinte e seis. Já aprendi que "a única coisa que se leva da vida é a vida que se leva", que meu "caminho é de paz e amor", e não pretendo parar de circular por novas lições de Tom, um cara que gostava de música, conversa, bebidas e de natureza. Desses caras que os jornais costumam dizer que era apaixonado pela vida.

      Ouvindo: "Em Minas Ao Vivo Piano e Voz"

1 Opine:

At 12:12, Blogger Bruno Maia said...

É exatamente por aí. Minha lembrança não é tão nobre. Lembro de ver o plantão num intervalo do Chaves, sendo rompido por uma chamada do (extinto e sensacionalista) "Aqui Agora". Lembro exatamente que pra anunciar, eles colocaram "Samba do Avião", com a imagem de um descendo no Galeão... Também fiquei totalmente arrebentado. Não tinha ainda idéia da razão que me fazia sentir daquele jeito. Dez anos depois, em 8 de dezembro de 2004, fui o estagiário nervoso que revirou todos os arquivos acessíveis da Rede Globo para dar o melhor de si em prol de um programa - justo o Arquivo N - em homenagem aos dez anos de morte de Tom. Muito me orgulho pois na época não era comum a Globonews dar crédito aos estagiários, mas a labuta foi tão insana que consegui ganhar os tais créditos num programa em homenagem ao Tom, que se não ficou do jeito que eu imaginava - afinal eu era um relis estagiário - pelo menos me permitiu sentir que minha homenagem estava feita. Era justamente a semana de lançamento do inacreditável Minas Ao Vivo, com Tom acompanhado apenas de seu piano e voz. Inspirado por isso, justo nessa época, voltei a freqüentar - como faço até hoje - a floresta da Tijuca, suas trilhas, estradas e cachoeiras. E lá dentro, a música de Tom - como se precisasse - se explica impressionantemente.

Viva!

 

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