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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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18.1.07

Podcasts :: Entrevista com Maestro Billy

O tão alardeado formato de podcast ainda não vingou da forma como se previa quando ele apareceu. Especialmente no Brasil, podemos colocar a lerdeza e a dificuldade em se criar legislações que protejam a inovação tecnológica, ou que se interessem em, ao menos, dialogar com ela, como uma das responsáveis pelo delay.

Na virada entre o ano, no qual os last.fms, myspaces, pandoras e mogs da vida cresceram e se legitimaram como a (até agora) 'melhor forma customizável de ouvir música na internet', e o ano que começa com essa história toda, conversei via e-mail com Maestro Billy. Ele, além de DJ do programa "Caldeirão do Huck", é reconhecidamente um dos caras mais ligados ao podcast no país e à tentativa de se moldar um modelo economicamente viável para o formato.

(por Bruno Maia)

sm:: Primeiramente, pra situar quem vai ler isso e por ventura não sabe, queria que você falasse do espaço que os podcasts ocupam na sua vida profissional e da sua relação/história com esse formato.

MB: O Podcast surgiu na minha vida profissional em Abril de 2005. Um cliente que estrava prospectando prá fazer Spots de Rádio me ligou perguntando o que era Podcast... Ele acabara de sair de uma reunião para mudar o site da empresa e o webdesigner falou sobre Podcast. Ele não fazia a menor idéia do que era, então me ligou pra saber. Eu também não sabia o que era e fui pesquisar. Descobri o que é Podcast e tentei começar a fazer. No começo dei várias cabeçadas, tentando descobrir como funcionava, etc. Até que falei pra Rosana Hermann, do Querido Leitor. Ela criou um post sobre o assunto, pedindo que, quem soubesse alguma coisa sobre isto, me ajudasse no meu blog. Apareceu o Fábio Sales, que entende tudo de XML e afins. Me ensinou passo-a-passo como fazer pra postar, etc. Aí sim a coisa começou. Se você for no meu blog, lá no começo, verá que tem todo tipo de teste (que deu errado)... Hoje em dia cerca de 50% dos produtos que saem da minha produtora são Podcast. De abril de 2005 até hoje, tive um aumento expressivo de ouvintes dos meus programas particulares (ADD e AAA), e alguns clientes me procuram pra fazer Podcasts Corporativos. Hoje temos Heineken, Volkswagen, Editora Abril, Rexona, MASP e Affair entre nossos clientes de Podcast.

sm:: Os podcasts surgiram como uma grande possibilidade de se mudar o eixo da difusão de música. Isso começou como teoria em 2000, como ação em 2001 e como a tentativa de uma ação massificadora em 2003. O que se vê é que, pelo menos até agora, essa consolidação do formato não aconteceu, pelo menos do tamanho que se imaginava que fosse chegar a ter. Os podcasts ainda parecem muito mais uma ‘ferramenta a mais’ do que a salvação da lavoura. Por que disso?

MB: O Podcast tem que ser visto como mais uma mídia, não como uma simples forma de divulgação de música e afins. E não só de música vive um Podcast. O Podcast é uma grande chance de passar conhecimento e informação a um grande e específico publico sem gastar muito.

Uma empresa que vende adubo pra arbustos de pequeno porte. Não é adubo pra árvore, nem pra grama, é pra arbusto de pequeno porte. Tem um monte de gente que pode comprar este adubo, mas o universo é bem menor do que os compradores de adubo normal. Vale investir um monte de dinheiro em propagandas em rádio e TV? Pra atingir um universo gigantesco, mas que não é o universo dos compradores de adubo para arbustos de pequeno porte ??? Acho que não.

O Podcast entra aí. Você faz um programete legal, com informações, dicas técnicas, explicações e até música. E divulga pra quem compra este tipo de adubo. Faz divulgação em lojas de adubo, divulga em mala direta, email mkt, sei lá. Então, o custo do Podcast é infinitamente menor do que a propaganda de Radio ou TV e vai chegar exatamente no seu universo de "compradores de adubo pra arbustes de pequeno porte.

O mesmo acontece com música. Qual a chance de uma "banda de heavy metal finlandês com traços de Grunge Rock da Birmânia" tocar em uma rádio? Agora qual a chance desta banda chegar ao publico alvo dela? Por radio e TV é muito dificil. Agora pelo Podcast é fácil. Cria o Podcast, mostra o som, faz entrevista com a banda, e divulga nas listas de discussão sobre "banda de heavy metal finlandês com traços de Grunge Rock da Birmânia". É a mega-especialização da mídia. Chegar exatamente no seu consumidor, otimizando verba e facilitando o trânsito de informação. Não chega a ser a salvação da lavoura ainda, mas com o tempo a coisa pode tomar uma proporção enorme e quem já faz Podcast será ouvido.

É a chance de artistas e produtos chegarem no ouvido de quem interessa. Por exemplo (hipotético total): se o meu programa, que está "no ar" desde Abril de 2005 torna-se uma referência de lançamentos de bandas novas... muita gente (artistas) virá me procurar para lançar seus produtos. E muita gente interessada em sons novos ouvirá meu programa... aos poucos, com o barateamento dos computadores e das conexões em banda larga, a coisa vai aumentando.

sm:: O surgimento de serviços como o Last.fm e o Pandora atrapalharam o 'caminhar' dos podcasts ou ajudam?

MB: Muito pelo contrário, até ajudam. As pessoas passam a pensar no áudio na internet como uma boa opção à compra de CDs ou a pirataria. Quanto mais gente colocar áudio e conteúdo na internet, maior a chance das pessoas se interessarem em acessar, seja a LastFM ou o Pandora, ou um Podcast, o MySpace, etc, etc, etc. A Internet tem que ser uma alternativa à mesmice das TVs e rádios. Quem tem interesse em novidades, vê na internet sua salvação auditiva.

sm:: Especialmente no Brasil, a luta pela regulamentação dos setores envolvidos com a difusão de música digital e com a difusão digital da música, parece ser ainda mais inglória. Você poderia nos dar um breve histórico do que o que já foi feito e o que está sendo feito nessa direção por aqui?

MB: Tenho contato permanente com o ECAD (que ainda não sabe se vai cobrar alguma coisa sobre músicas de podcasts) e com as editoras e gravadoras. Estas sim querem cobrar. Mas o preço inviabiliza o negócio. Elas querem algo similar ao que cobram de Ring Tones. R$ 500 por música para armazenamento, mais R$ 0,30 por download de cada música. Só que entre o Podcast e o Ring Tone existem diferenças enormes. Só uma já inviabiliza este modelo de negócio: O Ring Tone é cobrado do cliente, o Podcast não. As gravadoras aos poucos percebem que os Podcasts e o proprio áudio disponível na internet é uma excelente forma de divulgação. Ao lançar um CD, alguns artistas (e suas gravadoras) já disponibilizam músicas para download gratuito em sites especializados. Isto é bom. Você puxa a música e não está fazendo nada de ilegal... se gostar do que ouviu, vai comprar o CD ou comprar o download do resto do disco.

Tento ainda mostrar às gravadoras, via ABPod (Associação Brasileira de Podcasters) que realmente o Podcast é uma ferramenta muito boa para divulgação. Como a música está em um contexto (com locução, trilha, vinheta, etc) e a qualidade de MP3 é baixa pra se pensar em queimar um CD, não existe teoricamente nenhum problema em tocar músicas em Podcasts. Só que a visão das gravadoras é outra, que remonta do tempo da invenção da prensa do Gutenberg. Aliás, nossa lei de direitos autorais remonta esta época onde poucos detinham a produção e a distribuição. Hoje em dia a coisa mudou completamente. O que vai acontecer num futuro próximo? As pessoas não vão querer mais tocar músicas de gravadoras, pra evitar problemas, e também porque acharam coisa mais interessante perdida na internet.

sm:: Como é a relação do ECAD com os podcasters?

MB: Por enquanto nenhuma. Só algumas reuniões virtuais, onde eles deixaram claro que o ECAD ainda não sabe se cobrará alguma coisa sobre Podcasts. Por ser um conteúdo pra ser ouvido em MP3 players ou em seu computador, não é passível de cobrança pelo ECAD, que cuida da execução pública. Se por um acaso, alguma casa noturna resolver tocar um Podcast pra quem está lá, o ECAD deve cobrar da casa noturna, não do Podcaster que criou o produto. Eles ainda não chegaram num consenso interno, mas acham que não devem cobrar, por não ser execução publica, mas sim troca de arquivo e armazenamento em mídia eletrônica.

sm: Gostaria que você falasse um pouco mais sobre a ABPOD.

MB:A Associação Brasileira de Podcasters foi criada em 13 de Maio de 2006 com o intuito de fortalecer o Podcast no Brasil, bem como de representar os Podcasters brasileiros. Nossa idéia é agir no sentido de melhorar e facilitar a vida dos Podcasters perante, por exemplo, sites de hospedagem, editoras musicais, gravadoras, etc. Já temos a ata de criação assinada e devidamente registrada em cartório, mas ainda não temos, por exemplo, um Código de Ética acertado, nem sabemos ainda quanto vamos cobrar do associado. Como a coisa é muito virtual, fica dificil tomar alguma atitude que todos concordem ou que todos os participantes conversem e resolvam...

Uma ação em andamento é com o Ibope, no intuito de termos medição oficial da audiência de Podcasts. Isto será ótimo para empresas que queiram fazer Podcasts mas não sabem como medir.

Outra ação já tomada, e que ainda se enrola muito, é a tentativa de acordo entre a ABPod e as Editoras/gravadoras. Muito dificil e enrolado, já que temos que falar separadamente com a ABEM, a ABPD, a ABMI, etc, etc, etc. Aos poucos acredito que consigamos fechar alguns acordos interessantes com estas Associações. E também estou conversando com o ECAD. Mas ainda não tenho nada acertado pra te passar.

Outra idéia da ABPod é divulgar ao maximo os Podcasts. Para isto, ainda dependemos dos associados, para fazermos campanhas online e outras coisas. Mas alguns associados já fazem e se disponibilizaram a ministrar pela ABPod cursos e palestras em faculdades, etc, etc, etc....


sm:: O advento do Creative Commons é uma saída para quem quer fazer podcasts "dentro da lei"?

MB: Sim. Eu mesmo, quando faço Podcasts corporativos, só uso CCommons. Ou algum artista/gravadora/editora que libere explicitamente seu produto pra aquela finalidade. A empresa que me contrata não pode nunca correr o risco de tomar um processo na cabeça por usar música não liberada. E a cada dia que passa, a qualidade dos artistas em CCommons melhora muito. É só procurar que você acha músicas sensacionais.

sm:: Quando você faz um podcast patrocinado, como são as negociações de pagamento de direitos autorais aos artistas que disponibilizaram as músicas em CC?

MB: Todos os artistas que toco nos Podcasts corporativos liberaram a execução e divulgação das músicas, contanto que não tenha nenhum lucro envolvido. Não vendemos nenhum Podcast e nem colocamos a música sozinha, sem nada junto (vinheta, por exemplo), que dê para um ouvinte "roubar" a música e posteriormente vendê-la. Tento também sempre entrar em contato com o artista, explicar a situação e pedir mais um OK por garantia. 100% dão este OK. Inclusive alguns artistas de grandes gravadoras conseguem liberação de uma ou outra música pra esta finalidade. Foi o caso do Mombojó, do Babado Novo, do Sampa Crew, dos artistas da PontoComRecords de Porto Alegre e mais um monte de gente que, às vezes até, pede pra tocar...

sm:: Queria que você explicasse melhor como é esse lance de fazer ("vender") um podcast pra Heineken, pra Volkswagen, etc, e não pagar os artistas.

MB: No caso da Volks, a Trama cedeu gentilmente o fonograma para os Podcast. Dai entraram o Mombojo, o Cansei de Ser Sexy e mais um que não lembro o nome. É um "acordo de cavalheiros" entre a Volks e a Trama. Além destes fonogramas da Trama, também rolaram fonogramas da PontoCom Records, que me mandou um contrato liberando TODAS as musicas deles para usar onde eu bem quisesse e entendesse, contanto que toda vez que eu tocasse uma delas, eu citasse o nome do artista e da gravadora. Só que no caso da Volks, alem do Podcast, o áudio virou CD. Portanto a PontoCom vendeu a musica pra Volks prensar o CD do programa. Contrato normal de venda para prensar o CD.No caso do Pretinho Basico, da Revista Claudia, além das musicas da PontoCom, eu também toquei artistas gringos que, assim como a PontoCom, gentilmente cederam seus fonogramas pra mim. Exclusivamente pra mim, pra eu usar onde eu quiser (no caso no Podcast da Revista Claudia). Toda vez que vou tocar uma musica que eu pesquiso na internet, alem de checar se ela eh CCommons (e qual a categoria de CC dela) eu ainda mando um e-mail para o artista, explicando o que pretendo fazer com a música, avisando que é um programa patrocinado pela empresa X, que é somente Podcasts, que não terá venda atrelada ao produto, etc, etc, etc.

(clique em cima da figura para visualizá-la em boa qualidade)


O mesmo acontece com o Podcast da Heineken. Tudo lá é CC, eu faço a pesquisa, procuro, acho, vejo se é CCommons, entro em contato e aí sim eu toco a música.Sempre que mando e-mail, falo que é um Podcast "sponsored by Heineken Beer", etc, etc, etc. Nenhum artista até o momento teve alguma objeção sobre isto. Muito pelo contrario. Alguns ainda mandam outros links para outras musicas. Entendem que este formato é divulgação para o produto deles.Uma vez, para uma outra empresa, eu quis fazer um CD com as músicas que toquei nos Podcasts produzidos. Entrei em contato, disse que pretendia fazer um CD com as músicas e perguntei quanto cobrariam por isto. Alguns não tiveram interesse, outros liberaram sem custo e outros queriam um valor X (pelo que me lembro, em dólares, variava entre US$ 300 a US$ 500). Só que pra fazer as transferências monetárias necessárias, pegar assinaturas cedendo a obra pra aquele projeto, e outros entraves, a coisa acabou não saindo do papel...A coisa tá meio assim. Além do CCommons, ainda tenho que explicar o que faço e perguntar se as pessoas liberam. Trabalhinho tranqüilo... hehehe.

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Só lembrando que meus textos sobre a segunda semana do Humaitá Pra Peixe estão no site do festival, que aliás, está de altíssimo nível. Parabéns especiais ao Gabriel Lupi e ao Léo Fróes.


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