Zé de Riba no Humaitá Pra Peixe
Leão do NorteZé de Riba é acima de tudo um cara sério. Quando é folclórico, quando é apocalíptico como Conselheiro, quando é árido ou quando é só um embolador de tudo, a abordagem do Nordeste desse Zé é profundamente respeitosa e honesta. Até quando ri de si mesmo, ele é assim. E o show é forte, miscigenado, cheio de pontes com o mundo. Ao lado de uma banda muito competente, o maranhense migra por linguagens afinal de contas parecidas sem deixar de ser ele mesmo, acima de tudo coerente. Um trabalho de muita força.
O mais legal é que se fosse para rotular, não daria para encaixá-lo no mesmo world music de Lenine, por exemplo, a quem não deixa de lembrar. Mas o que o pernambucano tem de world, esse maranhense tem de si próprio. O mesmo dá para dizer de outra referência de Zé, André Abujamra, esse citado nominalmente durante a interpretação de Alma Não Tem Cor, do Karnak. Explicando: se Lenine e Abujamra, cada um por um caminho, exploram gêneros olhando para fora, o maranhense tem as mesmas curiosidades com um olhar para dentro. Cada gesto teatral, cada estrutura de arranjo com a entrada da flauta transversa ou o solo de guitarra, remete a anos do que se vive repetidamente nos sertões, misturando cordel, Armorial, Canudos, teatro mambembe, trovas, alucinações, mitologias readaptadas, tropicalismo e fome. E é isso que Zé apresenta no picadeiro ao respeitável público. Sem leões banguelas, macacos tabagistas ou elefantes esquálidos.
A referência Karnak aparece de novo, por acaso (para quem acredita) no título de uma Juvenal que não é aquela, e mais explicitamente no maestro da banda, Mano Bap, o baixista da banda de Abujamra. Daí vir o humor e o conhecimento de causa ao passar por tudo o que passa a banda, de três percussionistas, um sopro, baixo e guitarra.
Aliás, um dos percussionistas se destaca pelo uso de uma bateria eletrônica Roland HPD-15, de dezesseis pads programáveis, com um som de surdo-midi tão cheio de peso e harmônicos que pouca gente percebe de cara não ser o surdo mesmo.
O engraçado é perceber que justamente no ponto mais fraco da apresentação, Reprocesso, tocada em duas versões, e nome do disco de Zé de Riba, é que o artista aposta. Em uma letra com algo entre B Negão e Gabriel O Pensador, o artista abre mão de todo um peso de excelência que carrega nas costas para tentar ser palatável e falar uma língua que não se encosta na dele. Entre tantas línguas tão ao alcance e tão bem incorporadas, a que foi escolhida para representar o artista é o tiro na culatra. Que ninguém se deixe levar por ela.
5 Opine:
"Oito pilha um real" foi a melhor frase do show dele. Eu bem quero achar oito pilhas por um real.
critica muito boa, a unica coisa que eu discordo e que a musica reprocesso e muito forte!!! nada ver com Gabriel o Pensador ou B Negão...vc esta esquecendo o passado repentista do zé de riba.. o DNA dele esta nesta musica!!!
Vai tomá cachaça com o Zé um dia e vc vai ve daonde vem a historia deste repentista desde os 14 anos de idade...chamar o som dele de RAP num ta podendo né?
Ouçam no myspace.com/zederiba o novocd de Zé de Riba participação da CÉU e do guitarrista Bina Coquet. abraço
Zé de Riba é um compositor espetacular, mas as pessoar que conhecem ele mais tempos, sabe quanto ele é artista, comediante. Pena que ele não entrou a fundo no teatro e tv, porque daria um ótimo comediante.Falo assim porque vivi com ele, e sei sua cultura, sua facilidade e expressar. Um abraço do amigo de sempre, Helton Maciel
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