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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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30.3.07

Música Chappa Quente - Artista s/a

Introdução e Conclusões Finais

       “Para achar algo comparável a Internet, você teria que voltar uns quinhentos anos, até a criação da imprensa de Gutemberg, o nascimento da cultura de massa – que, incidentalmente, foi o que acabou com o mundo de reis e aristocracias. A tecnologia está tirando o poder da elite da mídia tradicional. Agora, são as pessoas que estão tomando o controle”.
       Esse pensamento, irônica ou cinicamente, é de Rupert Murdoch – o australiano que hoje é um dos maiores, se não o maior magnata de mídia do mundo. E foi dito quando a News Corp, empresa dele, comprou o site de relacionamento MySpace. Então, mais do que uma bravata ou um recado de oráculo dos novos tempos, a reflexão serve para dar peso ao que todo já percebeu. A Internet mudou tudo, e é só o começo.

       Para falar só de música, as trocas de arquivos e de informações que a rede mundial de computadores permitiu pôs em crise todo um sistema de funcionamento da cadeia produtiva fonográfica. As gravadoras e os artistas que detinham algum poder dentro dessa indústria estão sendo obrigados a rever posições, a enxugar equipes, a lidar com outros números. E uma série de novos artistas, novos selos, novos festivais, e até novos consumidores – gente que não alimentava o hábito de ouvir música – entrou na dança.
       Já está fácil dizer que a crise é fonográfica, não da música. Mas o que o artista acha disso? Um discurso comum é o de que vender música gravada vai acabar, no mínimo como fonte relevante de renda. O consumidor não saberia mais pagar por música. Ao artista, restaria fazer mais shows – e os ingressos mais caros são um fator global, não é só culpa da carteirinha, como parece – e encontrar novas formas de se viabilizar: set de dj, projetos paralelos, música para videogame, para cinema, para televisão, para publicidade, para videoquê, para desfile de moda.
       Sendo alarmista ou não o fim da venda de música, o fato é que o papel de uma empresa encarregada de gerenciar a carreira de alguém fica cada vez mais difícil.
       Entre os artistas novos, exemplos como o das aparelhagens do Pará, como o do grupo emo gaúcho Fresno ou como o do Cansei de Ser Sexy já são conhecidos de quem acompanha o noticiário de música. Lá fora, é o Arctic Mokeys, a Lily Allen, o Gnarls Barkley. Casos de gente que foi aparecer no jornal tradicional ou ter um disco com distribuição em massa só depois de já ter um público fiel até fora do seu estado de origem. Quando o artista é novo, a Internet e os arquivos de mp3 são o caminho necessário para que ele seja o próprio empresário, divulgador, assessor de imprensa, vendedor na banquinha. Até mesmo o próprio estrategista. Uma rede que liga página no myspace com fãs com fotolog com comunidade no orkut com site da banda com tramavirtual e etc é a sustentação que põe um nome, e não outro, em destaque. Quem trabalha e pensa soluções mais criativas sai na frente.
       Outro dado desse novo momento é que começam a surgir também os novos artistas independentes – gente que sempre foi de gravadora e que agora prefere assumir as rédeas da própria carreira, negociar álbum a álbum. Como será a distribuição, a estratégia de marketing, a equipe que vai tratar da produção, etc. Abaixar o próprio custo é quase sempre uma necessidade, uma nova realidade e se der para fazer isso sem restringir a taxa de lucro ou cair com a qualidade... melhor.
       Ou seja, a divisão que existia entre artista bancado e independente, entre mainstream e underground começa a ser mais sutil e mais subjetiva. Ou simplesmente a não existir. No momento em que gravar um disco ficou mais barato, sair da garagem (ou do fundo do quintal) deixou de ser o primeiro passo para estar no mundo. Isso muda também algumas regras não-escritas do mercado. Só para citar um exemplo, até a década de 90 uma banda nova só mereceria investimento se os integrantes tivessem no máximo vinte e cinco anos. Bem, hoje, isso não faz o menor sentido.
       A major como escritório onde o artista batia ponto não é mais um formato, e cabe a cada um armar para si uma infra-estrutura que dê conta de fazer a roda girar: compor, ensaiar, gravar, lançar, se apresentar, se sustentar. Mas mesmo as gravadoras – de Trama a Sony – hoje tentam se adequar a essa nova demanda e organizam tentativas de agenciamento e de gerenciamento. Os novos departamentos ainda são mais uma aposta do que outra coisa, mas indicam que a mentalidade já não é a do século passado.
       A mesa ‘Artista s/a’ quer tratar desse novo momento na vida do artista, seja ele iniciante, veterano ou a estrela da programa de tv de domingo. Quando vender estilo torna-se mais negócio do que vender faixas de música, os papéis necessariamente têm que ser repensados.


Considerações Finais

      A mesa começou com o texto acima, e depois de idas e vindas em que o artista estava sempre, de certa forma, perplexo no meio de Internet e gravadoras – sem vilões ou salvadores – chegou-se a alguns pontos interessantes. A música como atividade econômica e cultural sobrevive a crises porque mexe com a tal da emoção. Em um momento em que o Brasil e o mundo crescem – a música vai junto. E a Internet mudou hábitos de uma forma que, com maior ou menor entusiasmo, todos concordam que deu impulso fundamental para o consumo de música.
      A primeira grande questão é: qual é o real impacto dos novos hábitos da Internet – ainda mais quando a faixa de pessoas que a utilizam cresce sem que a gente possa saber até quanto – nos veículos tradicionais. Para ficar em um exemplo, o que será do New York Times impresso daqui a quinze anos? Os donos do jornal acham que o fim.
      E a segunda questão, a que interessa mais diretamente aos propósitos da mesa: como financiar um artista nesses novos modelos, uma vez que as gravadoras já não fazem isso? Algumas soluções foram pensadas: parcerias publicitárias, o cd como investimento do artista (e incentivos culturais a eles também), a estrada dos palcos e um caminho de ingressos mais caros (independente de carteirinhas de estudante, um absurdo sem discussão, na verdade). Ou várias outras, personalizadas, customizadas, e que possam mudar de um dia para o outro. Assim como a sua página pessoal do myspace, ou sua lista de mais tocadas no last.fm, sei lá.
      O fato é que a comunicação entre artista e mídia, entre artista e público, entre eu e você, e você também, está mais aberta. E isso nos leva ao paradoxo: mais acessível, e mais concorrida. O que nos leva ao paradoxo que da Grécia até hoje é que mais deu certo: a comunicação está mais democrática. Tem que aprender a lidar com isso.


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