Acontecerá :: PHUNK DELUXE
sm: Pensando-se na idéia de construção de cena, no Rio de Janeiro, a festa tem um papel importante que não é exatamente o de servir de palco para artistas. Como você vê a Phunk para as movimentações do hip hop rio e do charm, por exemplo? É ponto de encontro, é lugar de troca de referências musicais, é o que...?
Saens Peña: Vejo a Phunk como lugar de encontro para as pessoas que gostam de música. Nunca estivemos muito preocupados com as classificações. Acho esse tipo de espaço importante. A cidade já vive muito cercada de classificações/divisões. Acredito que numa pista de dança a pessoa perde todas essas referências. Acho o público da festa bem diversificado. E o som também. Temos uma preocupação em deixar as pessoas dançando. Nosso compromisso é com o groove, esteja ele num samba do Ismael Silva ou num beat do LCD soundsystem. Acho que o fato da festa ter esse nome faz com que as pessoas associem diretamente à black music mas, na minha opinião, atingimos outras fronteiras. O caso é que não gostamos de estar presos à rótulos. Conseguir atingir o jovem urbano que gosta de música é o nosso objetivo.
Artur Miró: A Phunk é feita por uma galera que, antes de fazer ou tocar em festas, teve bandas juntos e viveu - ou vive até hoje, caso do Vj SImpla, que tem a banda Filme - o mundo da música carioca. Ao iniciarmos a festa, sempre tivemos a idéia de ter um MC, alguém que comandasse a pista de dança, no estilo old school. E coincidentemente, a Phunk é contemporânea de um período de crescimento do Rap carioca, logo após o fim da saudosa Zoeira, produzida pela Elza Cohen. A partir da residência da festa no Cine-Buraco, em 2004, começamos a convidar djs e atrações para a festa, geralmente ligadas ao hip-hop. Don Negrone era nosso MC e com a entrada do Pedrão Selector no trompete (outro velho amigo de bandas nos anos 90), o formato de festa com performace ao vivo fechou. Chamamos algumas pessoas nessa época, fizemos batalhas de Mcs, os B-Boys e a rapaziada do grafite começaram a marcar ponto e aí a festa foi ganhando um clima de encontro da galera ligada ao Hip Hop carioca. O Emílio (Dj Saens Peña) também é um cara ligado ao Hip Hop do Rio, conhece todos, já dirigiu um documentário sobre o tema e está realizando outro... Passando para o Bola Preta em 2005, ganhamos um palco, um espaço, que dava para convidar as pessoas, criar um esquema melhor de apresentação, e foi o que aconteceu. Assim, já passaram pela festa Aori, Babão, Marechal, Biguli, B Negão, Max B.O., Black Alien, MC Funnk, Apavoramento Sound System, Marcelinho da Lua, Dj Castro, Urcasônica, Digital Dubs, Nepal e muitos outros.
Acho que a contribuição da Phunk para a cena musical carioca é ter se tornado um espaço não só de apresentação de Mcs, Djs e equipes, como um ponto de encontro dos que fazem música. E aí acho que é o clima de encontro e o som que rola na festa que reúne a todos. O rap, o ragga, o funk, o samba-rock, o soul, as misturas sonoras de Fela Kuti a Timbaland... Todos acabam se identificando com algumas das músicas que rolam lá. Há uma galera do meio musical carioca que vai lá trocar idéia, ouvir um som, dar uma canja, um confere... É uma festa também que toca o som da rapaziada de agora, tendo uma relação direta com as bandas e produtores locais. Tocamos as músicas do Digital Dubs, de B Negão e Seletores, do Turbo Trio, dos Inumanos, Black Alien... A festa é parte dessa cena.
sm: Ao mesmo tempo, essa parceria com os artistas sempre existiu. No próximosábado será a vez do Mamelo Sound System (SP). Como se dá a escolha desses convidados e de que forma essas apresentações entram no conceito da festa?
Saens Peña: Existe muita música boa sendo feita na cidade e no país. Acho que a festa tem um papel de difundir isso, de ser um canal pra isso. Sempre convidamos pessoas com quem temos afinidades e que estão desenvolvendo um trabalho que admiramos. É o caso do BNegão, Black Alien, Marcelinho da Lua, Marechal, Digital Dubs, Grand Master Raphael, Aori, Max BO, etc... Essas pessoas não costumam ter o seu trabalho tocado no rádio. Admiramos o trabalho do Mamelo. Acho o "Velha Guarda 22" (novo Cd do Mamelo) um dos 5 melhores cds produzidos aqui no ano passado. É motivo de orgulho servir de palco para essa galera.
Artur Miró: Como dito acima, após irmos para o Bola Preta, as apresentações volta e meia rolam na festa. Na Phunk Deluxe, que acontece de dois em dois meses na Fundição Progresso, temos justamente o conceito de fortalecer essas apresentações, agora com uma estrutura certa para um show de maior porte, e não apenas uma participação na festa, como acontece volta e meia no Bola Preta. A escolha dos convidados se dá pelo gosto em comum dos organizadores, que quase sempre converge, e pelo perfil da festa e dos freqüentadores, claro. Mas a idéia é sempre convidarmos o que está rolando "agora" na música brasileira. Como o conceito sonoro da festa, sempre olhando para frente, tocando o groove de todos os tempos, e incorporando as novidades e batidas que estão inventando a todo momento na música mundial.
sm: Na Fundição, vocês mudam o nome da festa para PHUNK DELUXE. Essaalteração é só pelo tamanho que a coisa toma ou de fato é um evento diferente?
Saens Peña: A festa na Fundição é a mesma. Somos 3 Djs (Eu, Artur Miró e Coisa Fina) com estilos diferentes e que se complementam, além dos 3 VJS (Simpla, Milena Sá e Timba). A diferença crucial é a possibilidade de levar um grupo para se apresentar. A estrutura de som e luz da Fundição é excelente pra isso. Então, além do som da festa temos também um show de qualidade. O espaço também é maior. Na primeira reunimos 1800 pessoas com direito à show do Black Alien, BNegão e Marcelinho da Lua. Temos muitos planos e idéias para o futuro, isso é só o começo.
Artur Miró: Bem o nome Deluxe é, principalmente, para diferenciar da festa no Bola e mostrar que é uma festa maior. Além do tamanho do evento (que, ao ocorrer na Fundição Progresso, aumenta em mil pesoas a capacidade de freqüentadores), há uma idéia de que a Deluxe seja um espaço em que a Phunk possa trazer bandas maiores e shows mais longos, como a apresentação de Gérson King Combo e Supergroove na primeira versão (ainda no Circo Voador), Black Alien e Da Lua na segunda versão e agora o Mamelo Sound System lançando seu disco novo, que todos da festa são fãs. Assim, na Deluxe, podemos expandir a festa, trazendo convidados de outros estados, etc. Aí, voltamos para a primeira pergunta, porque trazendo essa galera, estamos ampliando os laços musicais das cenas.
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