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10.5.07

Entrevista: Pedrão Selector (2)

Pegar a Parada e Botar o Teu Processo Ali



      Dando prosseguimento à entrevista de Pedrão Selector, o trompetista fala um pouco de uma questão que supera música e internet. O tal custo-Brasil. O meio de divulgação do próprio trabalho está ao alcance no myspace, há um circuito de festas que ajuda a fechar as contas no fim do mês com a experiência de tocar com djs em live pa, e até excursão pela Europa ele coloca no currículo, pelo Seletores de Freqüência.
      Mas é justamente a comparação com a vida de lá, da Espanha mais precisamente, que põe as chamadas caraminholas na cabeça. Será que do outro lado do oceano, onde tem contatos abertos e mantidos, fica o caminho para uma vida de música mais tranqüila? Essa pergunta, ele é que faz. Para ser respondida sabe-se lá quando... Enquanto isso, tem a primeira parte da entrevista aqui, e umas historinhas de composição, criação artística, brasileirismos e estrangeirismos. Se diverte aí.

sm: Nas tuas duas páginas do myspace, você cai para outras ondas, outras experiências musicais. Conta aí.
PS: Há coisa de dois anos, eu finalmente montei um computador onde eu pudesse gravar minhas músicas em casa. Porque nesse tempo, na verdade, foi assim: eu tocava guitarra, compunha alguma coisa, tinha começado a tocar trompete, comecei a tocar música dos outros, e a parte de ser compositor, de ter alguma coisa minha, começou a ficar em segundo plano. Isso durante muitos anos. Aí, finalmente, saiu uma graninha e eu montei, botei os programas, papapá. E eu comecei a fazer as músicas minhas mesmo, voltar a fazer. Tocar guitarra... Mais agora em 2006 é que eu comecei a fechar as idéias. E aproveitando essa porra de myspace, eu falei: vou botar lá pra ver qual é. Mas enfim, ainda sem pretensão. Tá engatinhando, botei a poucos meses no ar. [sm: e é uma onda mais guitarra, né?] Mais rock, isso. Por enquanto, né? Rarrarrá.
E tem outro projeto, de dub, que também tá no myspace. É o monkeyz. É bom por causa disso, você pode fazer e botar no ar.

sm: E esse projeto, que é teu com um camarada, é o que?
PS: Cara, é uma viagem. Já rolou até show. A gente pega umas músicas conhecidas, já rolou de Mutantes, de Beatles, e transformamos em dub. E enlouquecemos, fazemos uma esquizofrenia, mas tamos querendo pegar sempre umas referências variadas, até porque muita gente ouve dub e não sabe direito o que é, bararã bararã. Todo mundo que faz dub no Brasil, faz muito à maneira jamaicana, sabe? Quer ser jamaicanista. A gente, não. Não é jamaicano, nunca vai ser, [sm: Mas como assim?] Cara, nêgo produz a parada da mesma forma que se produz na Jamaica, sabe qual é? Quer produzir da mesma forma. E eu não vejo assim.

sm: Mas me explica melhor.
PS: Cara, para mim é não pegar referências para que um cara que chegue e ouça não ache que aquilo pode muito bem não ter sido feito no Brasil. A não ser pela letra em português, se for o caso. Ou seja, é como se fosse pegar um rock e imitar Franz Ferdinand, sacou? Eu acho maneiro você pegar a parada e botar o teu processo ali, então a gente decidiu pegar uma parada que a gente pudesse aproximar essa linguagem psicodélica do dub às pessoas, ao público em geral. Aí pegamos umas músicas mais conhecidas e...

sm: [interrompendo] Na última entrevista que a gente fez para o sobremusica, eu [Bruno] falei com o Nelson Meirelles. E o Nelson falava muito da evolução do reggae a partir do ponto de vista jamaicano. E o dub entra como prova de que o reggae não é hippie de cachoeira, [PS: Com certeza,] mas ele falava muito do processo de fazer olhando para a Jamaica. Ao mesmo tempo, ele falava do discurso de...
PS: [interrompendo] É, mas esse pessoal que você tá falando tem essa coisa jamaicana total. Eles seguem a tradição de fazer do jeito da Jamaica. Eu acho bom pra caralho, mas não é uma coisa que quando eu fui fazer a minha parada, falei: não quero fazer dessa forma. Quero fazer completamente diferente. Subverter e fazer... A gente pega, por exemplo, Ando Meio Desligado, e faz uma versão em dub. Toca um Ando Meio Desligado loucão, sacou? Então quem nunca ouviu dub vai pegar e dizer: ah, essa música é do Mutantes, tá diferentona. É mais nessa onda que a gente tá pensando. A gente não tá pensando em iniciados. É pra galera que acha que dub é Bob Marley. A gente faz para essa galera. Rarrarrá. A gente não quer tocar numa festinha sei lá onde para cem cabeças, a gente quer ser o mais palpável possível. Lógico, sem perder qualidade, a gente não vai para um lado pop e tosco.

sm: Beleza, e eu queria falar de live pa também, que eu acho que é o que você mais faz, né?
PS: É. É verdade. Rarrarrá. O live pa começou... A primeira vez que eu fiz um live pa na minha vida, o Dodô, que era o baterista da Pelvs, e hoje em dia é dj, ele tinha uma festa num espaço em Botafogo, chamada Playground. Era sempre no domingo. Isso, em 97, 98. Aí ele chamou: vamos começar a fazer umas paradas ao vivo, não sei que, e foi assim que começou. De brincadeira mesmo. Ele soltava as músicas, sem nenhuma perspectiva de que poderia se tornar uma coisa... [sm: viável?] Viável, assim, de estar em uma festa, uma coisa mais pensada, conceitual.

sm: Mas você assistia live pa?
PS: Não, não, nem sabia que tinha esse nome: live pa? O que? Depois é que eu fui descobrindo ser maneiro pra caralho. Então, eu fiz essa epocazinha ali com ele, e beleza... Tempos depois, ele mesmo me chamou, porque ele fazia outra festa na [antigo puteiro que virou casa de forró, e depois de festas em geral, na zona Sul do Rio] Casa Rosa. Aí, era eu, ele e um percussionista. Aí eu já tinha visto vários live pa, já tava mais ligado na parada. Mesmo assim, era uma coisa bem mambembe, sabe? E eu comecei a ficar mais próximo disso. Esse mesmo dj que faz o monkeyz comigo, o Robhinson, tinha um projeto lá, e a gente chegou a fazer uns live juntos. Aí, começou, né? É um dj camarada, vou fazer. E foi isso, até chegar na [festa] Phunk... E lá fora [Europa], eu fiz uns também.

sm: Mas foi indo sempre nesse esquema: convidou eu vou?
PS: É convidou... Não! Na Phunk, eu me convidei. Rarrarrá.

sm: Mas conta aí, até porque a Phunk é uma festa que começou de galera, pequena, eu me lembro de rolar na Cobal, pra umas cem pessoas, sei lá... Depois foi Cine-Buraco...
PS: A Phunk sempre foi... Assim, eu tocava na Casa Rosa, mas já tava com uns problemas lá de... enfim, de relacionamento, envolvia os donos da casa, não sei o que. Eu tava meio pra sair, tava só fazendo umas, com os dias contados. Aí eu pego um jornal, e vejo na parte lá... vejo a festa Phunk no Cine Buraco. Com a foto dos caras: Emílio, Fred, conhecidos meus. A gente teve uma banda juntos, na faculdade. Antes dos Elétricos, a minha banda se chamava Os Urucubacas. Faculdade de Filosofia [IFICS, da UFRJ], porque eu fazia umas duas matérias lá. Aí eu pensei: são os caras, fui lá ver a festa. E. porra, o som que eles tocavam era infinitamente melhor do que o som que eu tocava na Casa Rosa, entendeu? Aí, eu falei: caralho, velho. E cheguei pra eles: pô, vamos fazer, eu trago meu trompete, a gente vê como é que fica, e tal. Na semana seguinte, fui de instrumento, fiz, nego se amarrou, curtiu, e eu to até hoje. Eu me ofereci... Só que sem compromisso, rarrarrarrarrá. Uma amostra grátis. E acabou que a festa que eu mais me dei bem, foi a Phunk, que tem tudo a ver, sabe? Eu gosto do que eu toco. Muitas vezes, nas outras festas, eu tava ali por causa da grana e das mulherezinhas, enfim Rarrá. Essa não. Eu acho maneira, tem um diferencial maneiro.

sm: E tem a ver com o funk lá do 021, do Funk Fuckers. Foi uma onda que tu já seguia por um outro...
PS: Exatamente, agora que eu fui para Barcelona, eu já conhecia um dj argentino de lá, e ele me encaixou num esquema lá, que rola mais electro, reggae beat, umas coisas mais eletrônicas, assim. E foi do caralho também, casou bonito. E lá a diferença de resposta de público... [sm: Já tinha tocado com ele?] Nunca tinha tocado com ele. Conheci do primeiro show do BNegão lá em Barcelona, e a gente ficou amigo. E eu já fiz [live pa] com o Xerxes, dj Xerxes, que foi uma onda também. Duas vezes. E a diferença de resposta de público. Aqui no Rio de Janeiro, às vezes nêgo nem entende o que tá acontecendo, o que é som do trompete, que não sai tudo junto. Lá, saindo do palco todo mundo vai falar contigo, durante a parada te aplaude, enfim. Tem mais visão da interação músico x dj. [o garçom pergunta se traz mais uma, e a resposta é sim] Isso é que é mais maneiro. Lá rola um público mais atento, mesmo.

sm: Mas o que você acha que é a diferença?
PS: Cultura mesmo, cara. Lá, eu acho que rola mais interesse, na verdade. Nêgo é mais interessado em sair e buscar as paradas, sabe? Mesmo falando de Seletores. Por exemplo, a gente foi fazer show na Europa, e nêgo lá não tem o nosso disco, nunca ouviu a nossa música, só sabe que a gente é brasileiro e só. E todos os shows na Europa foram infinitamente melhores do que todos os shows que a gente fez no Brasil, sabe qual é? Isso eu falo em resposta de público. A gente fez show em casa cheia lá, e todo mundo ligado na apresentação, [arregala o olho] arrrrrrrrr. Não é como aqui, todo mundo de braço cruzado, te olhando. Nêgo se entrega mais.

sm: Será que não tem uma diferença de aqui, no Rio, nêgo já ter visto o show do Seletores?
PS: Acho que não, cara. É todo show, sabe? A última vez que a gente foi para Barcelona, a gente teve que dar dois ou três bis. A gente saía, arrrr, voltava. Tipo, era uma coisa impressionante. Mas acho que as pessoas já saem de casa com interesse. Aqui tem a coisa de querer ouvir o que já conhecem. Tanto que a dificuldade das bandas novas, por aqui, é justamente essa, né? Lá, vão te ver e se gostarem vão ser teus melhores amigos para sempre. Rarrarrá.

sm: Mas e você? Como você avalia o teu momento de vida pessoal, agora?
PS: Cara, eu to vivendo uma dicotomia sinistra. Eu tava até um mês atrás [portanto, em novembro do ano passado] em Barcelona, fiquei meio que morando lá, porque depois dos dois shows a banda [Seletores] voltou e eu fiquei, e fui fazendo contato com o músicos de lá. E tem uma cena de música. Ao mesmo tempo em que tem mais gente tocando, tem mais espaço também. Tem mais concorrência, e mais possibilidade. E ao voltar para essa realidade aqui, você vê esse mundinho que tem, de picuinhas e a falta de oportunidade mesmo, que existe, de espaço para tocar. E eu to nessa de.. porque eu não chutei o balde e fiquei lá? E eu penso, no ano que vem [2007], em aproveitar a próxima turnê, e me esticar lá. Sabe qual é?

sm: Mas era o plano, né? Eu lembro de a gente ter se falado antes da viagem, e a idéia era ficar até o fim do ano [2006]...
PS: Pois é, acabei voltando. Acabou a grana.... Várias questões, né? [silêncio] Tanto que tem umas músicas dessas, minhas, que eu quero fazer versão para espanhol... Rarrarrá. Vou aproveitar o gancho... Mas sério, lá não é a oitava maravilha do mundo. Tem vários problemas. Não é: ó, caralho... Mas acho que lá é viável você viver de música. E, tipo, aqui é foda. Desde que eu cheguei, a gente vai ter... tem poucos shows rolando, poucas festas acontecendo. Tudo bem, nunca toquei nada que eu não quisesse tocar... mas mesmo assim. Aqui é mais difícil ainda. Aí, eu penso... devia ter ficado lá.... [se lamentando] Mas por outro lado, eu penso: tem o disco do Seletores novo, que a gente tá fazendo as músicas. E eu quero participar, tarará. E eu quero ir mais planejado, dessa vez, fui muito no oba-oba, sabe? Foi bom porque fiz uma porrada de contato, vários esquemas de trabalho lá, mas é aquilo.

sm: Aqui, você faz alguma coisa além de ser músico?
PS: Não. Teria que fazer, se não fosse tão preguiçoso. Hoje, para vir ensaiar [antes da entrevista], eu tive que catar as moedas lá de casa, quase sem dinheiro nenhum, sabe? Até falei com o B: me adianta um dinheiro desses cachês aí? Mas aí é uma situação crítica, porque a gente tomou um calote de um... uma história de um cachê que a gente defendeu lá na gringa, mas que é outra história. Era uma grana com que eu tava contando, e cheguei aqui e [sm: quer dizer que lá fora também rola problema de cachê...] Não mas era brasileiro, o produtor. O calote foi brasileiro, o cara era daqui. Voltei mais cedo em função disso: gastei uma grana lá pensando que tinha o dinheiro depositado aqui, e... Tomei no cu. Uns quinhentos euros que rodaram. Aí: caralho... To penteando macaco para chegar no fim do mês. Mas isso é uma coisa que acontece, também, né?

sm [um para o outro]: E aí? Beleza, né? / Acho que foi, né? / Vou deixar gravando... Como é que foi lá no Roskilde?
PS: Roskilde foi bom pra caralho, né? [Bruno comenta que foi esse ano, 2006] A, você foi esse ano? Então você viu como é o esquema, né? [Bruno: a pergunta é porque eu não vou todo ano pra lá, rarrá] Pois é, porque eu não moro lá. Se bem que não, porque na Dinamarca o frio deve ser uma merda, né? Mas lá foi maravilhoso. A gente tocou na tenda de world music, de noite. Ùltimo show da noite. Bombado. E a nossa sorte foi que na mesma hora tava tocando Duran Duran no palco principal [sm: putz], então geral vazou e encheu... a gente começou a tocar tava meio cheio, aí na segunda, terceira música, a parada ficou lotaaaaada. E esse show, eu fiquei bolado, cara. Foi assim: a galera que tava em volta do palco ficava batendo no palco. Mermão, parecia que nego queria te pegar. Eu nunca vi uma coisa dessa. Ficar batendo mãozinha? Surreal. Aí, também, a gente deu uns dois bis. Não foi o nosso melhor show, mas tá entre os dois ou três da gente, eu acho.

sm: E essa lista aí é só de show lá fora?
PS: Tudo lá fora. O último de Barcelona... o primeiro de Barcelona e o último de Barcelona, e o do Roskilde. Até porque a gente tava naquele esquema lá, né? Um puta festival, ficando de patrão, vendo só show foda... Vi Rahzel, Mike Patton, the Faint, Femi Kuti, Audioslave, muita coisa legal. Mulher bonita, chique.. Muita estrutura. A gente ficou em um hotel-fazenda perto lá de Roskilde. E nem tinha artista, nada. Só a gente. Foi a produção que arrumou isso lá para a gente. Um lugar alucinante, só com umas casinhas lindas. Foi uma semana que mais perfeito, impossível. Quase uma semana, né? A gente chegou na quinta de noite, e pegamos sexta, sábado e domingo. Pô, vi Brian Wilson, cara. A gente tocou no sábado. Vi Bloc Party, nem conhecia a banda. Vi de novo o George Clinton... [Bruno: pô, nem me fala disso que esse show eu perdi. Foi no dia em que o Brasil perdeu da França, na Copa. Eu tava no festival, até com o Ronaldo (Lemos) do Creative Commons. Eu de imprensa e eles por outros festivais, curadoria do Tim Festival, sei lá. Vimos o jogo numa tv em uma parte fechada, e já tava combinado de comemorar onde? No show do George Clinton. Aí perdeu, como é que a gente ia pro show?] Pô, eu ia amarradão. Foda-se Brasil e França, maluco. [Bruno: A gente até tentou, mas depois de três músicas, puto da vida, a gente falou que ia embora.] Pô, agora na minha ida a Barcelona, eu descobri que ele tocou duas semanas antes de eu chegar, muita raiva. Fui tocar num lugar lá, vi o cartaz, quando vai ser, ã, já foi há dez dias... Rarrarrá Até porque lá não tem essa porra de New Order tocar a duzentos reais, né? É preço de gente, tá ligado?

3 Opine:

At 23:20, Anonymous Anônimo said...

Putz, os Urucubacas!!! Shows nas ruínas do IFCS... Fred (Phunk, Máquina do Mundo), Emílio (Phunk e Máquina do Mundo), Simplício (Phunk, Máquina do Mundo e Vibrosensores), Pedro Selektor , Alberto (Somtomé, Nervoso e Os Calmantes e The Alberto)... que turma ...muito bom.

 
At 16:13, Blogger marco homobono said...

pô, bernardo e bruno,
outra entrevista bacana pra cacete.
o trabalho solo do pedrão me surpreendeu, eu escrevi sobre as músicas dele lá no nosso blog.
quem quiser pode acessar em
http://djangos.blog.terra.com.br/a_concorrencia_2
na resenha também falamos do laura palmer.
um grande abraço para todos.
do sempre fã:



marco homobono

 
At 18:37, Blogger Alexandre Leitão said...

Louca a entrevista... adorei... dpois vou acessar as resenhas descritas ai [url]www.trumpetmasters.com.br[/url]

Abcs

 

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