Maratona com o Moptop (parte 3)
A volta para o centro da cidade foi bem rápida. O grupo terá quase uma hora de espera até subir no palco, já que o som foi passado de tarde e não há muito o que fazer. Além da própria equipe, poucas pessoas vêm ao camarim. Os músicos ficam ali, discutindo problemas cotidianos, como por exemplo quem deles é o mais “social”, quais são eventos chatos, mas que são importantes de ir, como ser cordial com as pessoas de uma indústria regida pela vaidade, enfim... Abril foi um mês cheio e as lembranças começam a vir. Eles estiveram pelo Nordeste, tocaram no Abril Pro Rock, fizeram a (recém-encerrada) turnê com o Keane. Tudo isso reaparece nas falas.
Rapidamente eles se dispersam, cada um vai para um lado. Mais do que nunca, Mário se isola. Num dos cantos, ele fecha os olhos e se concentra no som que vem do seu CD-Player. Rock n roll puro. No carro, ele dissera que o disco novo do Bloc Party é muito bom. O baterista é o único que demonstra algum tipo de preocupação com o tal do “entrar no clima pro show”. Gabriel se atira em um sofá na ante-sala. Dormir seria um luxo, mas estar ali já ajuda a relaxar. O mais ilustre entre os poucos visitantes é o produtor e empresário Liminha. Os músicos já o conhecem e o saúdam com certa intimidade. Como o sofá de resguardo era na tal ante-sala, Gabriel é o primeiro a vê-lo. A conversa começa e rapidamente os demais percebem a presença e vão se chegando. Mário é o único que continua se concentrando. Ainda alheio à presença de Liminha, a essa altura ele está deitado no chão do camarim, de olho fechado.
A conversa corre em torno de assuntos de gravadora. Isabel (empresária) chega e também participa. Liminha empresaria os conterrâneos do For Fun, com quem o Moptop gravou recentemente um especial para a MTV que deverá estar no ar em breve. Surge o pedido para que não se filme a conversa. Câmera desligada e o repórter também se afasta. Se o assunto é interno também não cabe ficar ali. Além do que, quando um jornalista está exercendo sua função, às vezes é melhor nem ouvir o que é “em off”.
Mário continua deitado no chão. Algum tempo depois, ele se levanta para dar uma esticada. É nesse momento que ele vê Liminha e também se junta ao grupo. O assunto já se esvaiu e aquele núcleo também se dissipa. Deste instante até a decisão de descer para o show são poucos minutos.
É na penumbra ao lado do palco que os moptops encontram os jotaquests. Enquanto os cariocas já estão vestidos (com o figurino praticamente idêntico ao do show de duas horas antes), os mineiros ainda estão chegando à Fundição. Há algum tempo os integrantes do Jota Quest já demonstram empolgação com o som do Moptop, tanto que essa não é a primeira vez que eles os convidam para abrir um show. Essa coisa de apadrinhar parecia andar meio esquecida no pop-rock brasileiro. A geração do Jota foi a última que soube aproveitar esse tipo de ajuda. No caso deles foi o Skank que, no auge da turnê “O Samba Poconé”, ofereceu espaço.
A espera ao lado do palco é maior do que no show do Citibank Hall. Não fica claro se a demora é em função de algum ajuste técnico ou se os caras desceram do camarim antes da hora. Não mais que de repente um locutor entra no palco e promete maravilhas pra noite que “está só começando”. “E começando em grande estilo”. É nesse clima que o Moptop percebe que deve se encaminhar ao picadeiro.
A recepção não é tão fria como poderia se imaginar, mas também fica longe de empolgar. Gabriel, mais uma vez, demonstra que sabe o que fazer. Elogia a presença da galera, diz que é um prazer está ali, rende honras aos donos da festa, e pronto. Simpatia ganha. ”Moonrock” começa com problemas no som. Todo mundo se olha, mas o show não pode parar. O desconforto é nítido. O som vai se resolvendo aos poucos até ficar redondinho. É nessa hora que a banda cresce.
O setlist já é maior do que no show anterior. Os mineiros não são tão ingleses. A equipe da Fundição não cria problemas com o jogo de luz e o Moptop pode fazer um show de gente grande. Fumaças, cores, climas. Mateus Araújo, que já dirigiu o clipe de “O rock acabou” captura imagens das costas do baixista Daniel para utilizar no novo vídeo da banda. Nas primeiras filas, alguns fãs estão presentes e ajudam cantando. Não há muito o que se acrescentar sobre a performance da banda além do que já foi dito sobre o primeiro show.
O que se vê de diferente é o calor da platéia que visivelmente se rende ao quarteto. Quando Gabriel anuncia a saidera, o coro de “ahhhhhhhh” é alto o suficiente para causar surpresa geral. Está provado que ainda é possível fazer do bom rock uma música pop no Brasil e de comunicação fácil. O distanciamento que as rádios daqui impuseram às guitarras altas é uma equação mal resolvida entre a chamada “falta de investimento” das gravadoras e a falta de bandas com qualidade suficiente para renovar um interesse que foi criado no início dos anos 80. Ainda é pouco pra prever se o Moptop pode fazer o jogo virar, mas aquela reação da platéia é pra deixar uma esperança no ar.
O show termina e os trabalhos também. Cumprimentos dispersos. Alguns vão ficar pra noitada que se apresenta. Depois do show do Jota Quest a promessa é uma festinha só pra convidados, numa área reservada da Fundição, sem hora pra acabar. Outros estão esgotados e vão embora. A câmera é guardada. Depois da maratona, é pódio de chegada e beijo de namorada. O que nos resta é beber alguma coisa e aproveitar o que se mostrar aproveitável.
****************************
Peço desculpas pela falta de fotos no camarim. Elas sumiram depois de um problema no meu HD nessa semana. Vou tentar recuperá-las com o back-up que está com um amigo até segunda-feira. Atualizarei assim que possível. Contece...
0 Opine:
Postar um comentário
<< Home