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29.5.07

A importância do coletivo

Uma questão que há muito tempo aflige o rock carioca é a falta de uma cena. Ok, bandas temos aos montes, lugares para shows se inventam, a criatividade da rapaziada é grande, mas já faz algum tempo que as bandas não constroem uma identidade local forte o suficiente para que a cidade as abrace como suas representantes. Mais do que se falar em diversidade, a questão principal no Rio ainda parece ser a eterna consciência de que, sim, é possível ser the next big thing.

A Globo está aqui, grandes jornais estão aqui, as curiosidades do país se voltam para cá, os grandes hitmakers passaram por aqui, as sedes das gravadoras majors estão aqui. Sempre há a possibilidade de alguém te descobrir a qualquer momento e isso torna as bandas mais pretensiosas, com toda razão. Não há mal nenhum em querer fazer sucesso, acontecer, ser descoberto e amplificar o potencial de alcance da sua obra. Mas enquanto o resto do Brasil vai se conscientizando da importância do mercado médio, de transitar num espectro que não é dos milhões, os cariocas parecem ainda não lidar tão tranqüilamente com isso.

Não se percebe uma cena de bandas articulada na cidade. Sim, há muita gente boa fazendo seu caminho. Mas é cada um na sua e salve-se quem puder. A última vez que se criou uma "cena" de grupos foi com a “Geração Sarau”, capitaneada por ForFun e Dibob. Mais do que valorizar a (pouca) qualidade artística das bandas em questão, fato é que elas conseguiram aglutinar pessoas e lugares em torno umas das outras. O público do grupo "x" tinha a chance de conhecer o grupo "y"e, assim, passava a gostar das duas. Isso se estendeu a algumas outras bandas e todo mundo se deu bem com a história. Até que o Dibob assinou, o ForFun assinou, ambas tentaram ganhar o país e todo mundo ficou no meio do caminho. Ademais, as grandes bandas da cidade não criam uma identificação entre si. Moptop, Canastra, Nervoso, Rockz, Reverse, Los Hermanos, Autoramas, Cabaret, Lasciva Lula, Rio Maracatu, Inumanos,... Gente não falta. Mas parece que cada um segue no seu caminho, remando sozinho, rumo ao limbo. O combo Binário/Ordinário ainda se salva por nadar em praias mais diversas e livres. O samba também parece contrariar essa "lógica" – Casuarina, Galocantô, Anjos da Lua, Orquestra Republicana, etc, formam uma cena de mais trocas, mais generosidade, e o resultado é perceptível nas casas sempre cheias.

Essa falta de troca da "galera do rock" é pontuada por alguns parcos momentos, como a recente temporada realizada no Cinemathèque, que permitiu a algumas bandas fazerem participações nas apresentações das outras. Mas ainda parece ser pouco. Tá todo mundo junto, mas falta misturar.

*****************************
Recife é o oposto disso. Lá, tudo se mistura intensamente e as possibilidades artísticas acabam soando sempre mais ricas. Cada músico tem 50 bandas, projetos, necessidades e funções. Um bom representante da gréia pernambucana é Marcelo Campello, do Mombojó. O rapaz se apresenta amanhã, na Casa da Gávea, com um trabalho totalmente diferente do que constrói com sua banda. Dá pra sacar qual é no MySpace.

Ele falou, por e-mail, sobre isso.

sm :: Qual é a onda do seu trabalho solo?
Marcelo Campello: São minhas composições para violão de sete cordas entre 2002 e 2006, três séries de pequenas peças (35 ao todo) chamadas “Sonhos”, “Soturnos” e “Projeções”.

:: Você é um estudioso, um acadêmico da música, e também tem uma banda que usa muito da linguagem pop. Esse trabalho solo é um "escape" para as idéias mais "complexas" que não se resolvem dentro do Mombojó?

MC: Estudioso, sim, acadêmico nunca me considerei. Gosto de manter a música num plano sentimental, quando a academia praticamente exuma crianças em praça pública. Tem qualquer coisa na poesia que não pode ser apropriada assim... Quanto à outra questão, eu não pensaria em termos de complexidade, mas de função - a grosso modo, Mombojó é pra agitar e “Projeções” é pra acalmar.

30.05.07
Casa da Gávea
Pça Santos Dumont, 166
21hs - R$10

3 Opine:

At 14:55, Anonymous Anônimo said...

Parabéns Brunão! Belo texto.

Abs!

 
At 15:31, Blogger Artur Miró said...

Salve Bruno, belo texto. Realmente a cena musical carioca é uma incógnita se compararmos com outras mais coesas por aí... Acho que vem muito da eterna indecisão cultural do Rio, não conseguindo articulações para além das amizades de colégio ou das oportunidades momentâneas... Estou escrevendo um artigo sobre isso, sobre a cena musical carioca nos últimos dez anos para uma publicação de pesquisadores, e gostaria de saber se vocês me permitem citar esse texto. Meu email é pauperia@gmail.com

Aguardo contato, abraços,
Fred (Arthur Miró, da Phunk)

 
At 13:31, Anonymous Anônimo said...

Fala Bruno.
Meu nome é Henrique Sauer. Adorei o texto.
Vc lembra do Sintonia? Pois é, acho q ele tentava ocupar esse espaço aproximando os publicos e bbandas. por mais que não fosse uma iniciativa dos musicas, acho que valia pela produção/evento. Achoque o projeto volta ano que vem.
Se vc lembra, tem alguma dica? e podemos usar parte desse texto no nosso projeto?
abs
Henrique (henrique.sauer@tvglobo.com.br)

 

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