CD :: Orquestra Imperial, "Carnaval só ano que vem"
A essa altura, já começaram a pipocar as manchetes de “melhor disco do ano” e etecetera por aí... Apesar de não ter dado muito tempo pra galera processar o álbum, que só chegou às lojas na semana passada, e também de ainda estarmos em junho, é irresistível a tentação de dizer o mesmo. Discaralhaço da Orquestra Imperial.
Pra começar, o encarte bem acabado devolve ao ouvinte um prazer que pra muitos andava esquecido, que é o de tatear, sentir o cheiro, olhar e reolhar as fotos, ler as letras, buscar informações técnicas, saber quem é o compositor daquele verso que bateu tão bem... Surpreendentemente o álbum é distribuído pela Som Livre, a gravadora mais associada à produção por atacado do que à qualidade artística (que aqui sobra).
A coincidência de este trabalho chegar ao público na semana seguinte à despedida dos Los Hermanos serve de consolo para metade dos fãs da banda, aquela que curtia mais as composições de Amarante do que de Marcelo Camelo. Não que o disco da Orquestra seja regido pela batuta de Ruivo, mas sim porque a turma de lá está diretamente ligada à estética que ele já vinha trabalhando na banda há algum tempo. “Retrato pra Iaiá”, “Deixa o verão” e “Paquetá” (pra ficar só em uma de cada um dos três discos em que ele participou mais efetivamente como compositor) são pequenos teasers daquilo que veio a se consagrar como “o som da Orquestra”.
O (ex-?) hermano se sai bem, sobretudo na deliciosa (e mais pop de todas) “Yara Djaruba”. As aventuras da Cleópatra caribenha, que “fez do Amazonas seu Nilo e de São Paulo, Bagdá” são acompanhadas por um coro sensualíssimo e empolgante das ‘meninas’ Nina Becker e Thalma de Freitas. Nessa e em outras faixas, os backing vocals delas remetem às pastoras dos sambas clássicos. Chega a ser engraçado ouvir “Yara” e pensar que esse tipo de música já foi popular no Brasil, sobretudo nos anos 40. Hoje em dia é difícil encontrar algo próximo ao que a Orquestra faz.
Outro belo destaque é Thalma. “Não foi em vão” é dengosa e sai arrastando no ouvido. Ela encontra uma interpretação muito acima da média, especialmente se a compararmos com as das “novas” cantoras que vêm inundando as FM “perfil adulto contemporâneo”. O baile de Thalma continua em “Rue de mes Souvernirs”, um samba de Wilson das Neves com o baterista Stephan San Juan, com letra em francês. Com uma pronúncia perfeita, a música tem um quê de cabaré e a voz sussurrada é uma tentação praa quem sente prazer ao pé do ouvido.
As mãos de Berna Ceppas, Kassin e Mario Caldato encontram o equilíbrio que a gravação de uma orquestra demanda. Com as músicas tendo sido gravadas todas ao vivo e em apenas quinze dias, o trabalho dos pequenos ajustes é preciso pra dar vida a tantas tonalidades. Normalmente, quando um disco desce tão redondo e natural é porque a banda é competente e o produtor tem uma mão boa . Bingo.
Podia alongar o texto comentando dos metais - sem dúvida dos melhores que se ouviu na música pop brasileira nos últimos 30 anos -, da faixa cantada por Rubinho Jacobina, das guitarras semi-acústicas que marcam os arranjos, ou das percussões, ou, ou, ou, ou....., tanta coisa pra falar... mas os dedos coçam pra falar de Max Sette e depois que se falar dele, não há porque se falar mais nada.
O disco é dele. Max dá o tom que o samba contemporâneo merecia ter. A voz te leva pros ares da boemia, da cafajestice, da gafieira, do samba de roda, enfim... É a voz masculina mais interessante e mais carioca de que se tem notícia por aí. Nunca tinha me ligado no trabalho dele, mas agora vou cair dentro. Como disse o Bernardo, “melhor que Seu Jorge, né?”. É, muito melhor... As músicas conduzidas pela voz do rapaz deitam nas outras. Mas que fique claro, isso não é um demérito a nada, nem ninguém, e sim uma grande e longa salva de palmas pras interpretações do cantor. “Ereção” tem toda a sacanagem típica que o nome já propõe. A canção, que tem mais parceiros do que versos, deve ter sido composta num ambiente deveras inspirador. A tal “aguardente com limão”, que Max canta, parece muito melhor do que qualquer Sagatiba.
“Era bom” é a música deste disco. Parceria do mestre Wilson das Neves com o próprio Max Sette e cantada em dueto por eles. Alternando as estrofes, eles constroem uma bela ponte entre a “velha guarda” e “a renovação”. A letra é um dos melhores sambas que se registrou recentemente, um primor desde o primeiro verso até o derradeiro “é bom ficar desimportante pra alguém que eu já encantei”.
O que o grupo faz é um disco como há muito não se ouvia no samba brasileiro. No samba? Sim, essa é a fonte mais inspiradora da rapaziada imperial. As canções têm o lirismo e a cadência que o tempo exige para preservá-las. O flerte com o caribe e com os cabarés ajuda o grupo a avançar. Mais do que querer se apropriar de um gênero específico, fazer um “resgate” ou qualquer coisa do tipo, a Orquestra Imperial confirma o que vinha mostrando nos palcos. É uma banda capaz de se apropriar de uma série de influências para se fazer relevante e conquistar seu lugar por méritos próprios e não pelo vazio da nostalgia pura. Palmas para todos eles.
**********************
Vai rolar hoje na Cinemathèque mais um lançamento do bravo selo Midsummer Madness. A banda da vez é a Private Dancers. Além dela, o (bacana) Supercordas também se apresenta por lá. Quem puder, vale o ingresso. (R$20/R$10)
Pra começar, o encarte bem acabado devolve ao ouvinte um prazer que pra muitos andava esquecido, que é o de tatear, sentir o cheiro, olhar e reolhar as fotos, ler as letras, buscar informações técnicas, saber quem é o compositor daquele verso que bateu tão bem... Surpreendentemente o álbum é distribuído pela Som Livre, a gravadora mais associada à produção por atacado do que à qualidade artística (que aqui sobra).
A coincidência de este trabalho chegar ao público na semana seguinte à despedida dos Los Hermanos serve de consolo para metade dos fãs da banda, aquela que curtia mais as composições de Amarante do que de Marcelo Camelo. Não que o disco da Orquestra seja regido pela batuta de Ruivo, mas sim porque a turma de lá está diretamente ligada à estética que ele já vinha trabalhando na banda há algum tempo. “Retrato pra Iaiá”, “Deixa o verão” e “Paquetá” (pra ficar só em uma de cada um dos três discos em que ele participou mais efetivamente como compositor) são pequenos teasers daquilo que veio a se consagrar como “o som da Orquestra”.
O (ex-?) hermano se sai bem, sobretudo na deliciosa (e mais pop de todas) “Yara Djaruba”. As aventuras da Cleópatra caribenha, que “fez do Amazonas seu Nilo e de São Paulo, Bagdá” são acompanhadas por um coro sensualíssimo e empolgante das ‘meninas’ Nina Becker e Thalma de Freitas. Nessa e em outras faixas, os backing vocals delas remetem às pastoras dos sambas clássicos. Chega a ser engraçado ouvir “Yara” e pensar que esse tipo de música já foi popular no Brasil, sobretudo nos anos 40. Hoje em dia é difícil encontrar algo próximo ao que a Orquestra faz.
Outro belo destaque é Thalma. “Não foi em vão” é dengosa e sai arrastando no ouvido. Ela encontra uma interpretação muito acima da média, especialmente se a compararmos com as das “novas” cantoras que vêm inundando as FM “perfil adulto contemporâneo”. O baile de Thalma continua em “Rue de mes Souvernirs”, um samba de Wilson das Neves com o baterista Stephan San Juan, com letra em francês. Com uma pronúncia perfeita, a música tem um quê de cabaré e a voz sussurrada é uma tentação praa quem sente prazer ao pé do ouvido.
As mãos de Berna Ceppas, Kassin e Mario Caldato encontram o equilíbrio que a gravação de uma orquestra demanda. Com as músicas tendo sido gravadas todas ao vivo e em apenas quinze dias, o trabalho dos pequenos ajustes é preciso pra dar vida a tantas tonalidades. Normalmente, quando um disco desce tão redondo e natural é porque a banda é competente e o produtor tem uma mão boa . Bingo.
Podia alongar o texto comentando dos metais - sem dúvida dos melhores que se ouviu na música pop brasileira nos últimos 30 anos -, da faixa cantada por Rubinho Jacobina, das guitarras semi-acústicas que marcam os arranjos, ou das percussões, ou, ou, ou, ou....., tanta coisa pra falar... mas os dedos coçam pra falar de Max Sette e depois que se falar dele, não há porque se falar mais nada.
O disco é dele. Max dá o tom que o samba contemporâneo merecia ter. A voz te leva pros ares da boemia, da cafajestice, da gafieira, do samba de roda, enfim... É a voz masculina mais interessante e mais carioca de que se tem notícia por aí. Nunca tinha me ligado no trabalho dele, mas agora vou cair dentro. Como disse o Bernardo, “melhor que Seu Jorge, né?”. É, muito melhor... As músicas conduzidas pela voz do rapaz deitam nas outras. Mas que fique claro, isso não é um demérito a nada, nem ninguém, e sim uma grande e longa salva de palmas pras interpretações do cantor. “Ereção” tem toda a sacanagem típica que o nome já propõe. A canção, que tem mais parceiros do que versos, deve ter sido composta num ambiente deveras inspirador. A tal “aguardente com limão”, que Max canta, parece muito melhor do que qualquer Sagatiba.
“Era bom” é a música deste disco. Parceria do mestre Wilson das Neves com o próprio Max Sette e cantada em dueto por eles. Alternando as estrofes, eles constroem uma bela ponte entre a “velha guarda” e “a renovação”. A letra é um dos melhores sambas que se registrou recentemente, um primor desde o primeiro verso até o derradeiro “é bom ficar desimportante pra alguém que eu já encantei”.
O que o grupo faz é um disco como há muito não se ouvia no samba brasileiro. No samba? Sim, essa é a fonte mais inspiradora da rapaziada imperial. As canções têm o lirismo e a cadência que o tempo exige para preservá-las. O flerte com o caribe e com os cabarés ajuda o grupo a avançar. Mais do que querer se apropriar de um gênero específico, fazer um “resgate” ou qualquer coisa do tipo, a Orquestra Imperial confirma o que vinha mostrando nos palcos. É uma banda capaz de se apropriar de uma série de influências para se fazer relevante e conquistar seu lugar por méritos próprios e não pelo vazio da nostalgia pura. Palmas para todos eles.
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Vai rolar hoje na Cinemathèque mais um lançamento do bravo selo Midsummer Madness. A banda da vez é a Private Dancers. Além dela, o (bacana) Supercordas também se apresenta por lá. Quem puder, vale o ingresso. (R$20/R$10)
5 Opine:
Fala bruno ! Muito bom o texto e também gostei muito do CD !!
Também gostei da reportagem do Bernardo com o Canastra !! Faça mais reportagens desse tipo, indo até as gravações e bastidores.
aquele abraço
pra baixar o disco do max:
http://maxsette.multiply.com/
abs,
bruno.
a capa desse dico lembra muito o bloco do eu sozinho, né?
Nossa, muito bom o cd!!!
adorei o comentário sobre o cd...
algo antigo, esquecido e talz!!!
muito bom o que a Orquestra tem feito... e muito boa a sua avaliação!
Abraços.
Gostei muito do seu comentário. Realmente esse é um excelente cd, um bom presente. Esse sim vale comprar.
A que tenho mais gostado de ouvir ultimamente é "Jardim de Alah" que possui um belo verso... "Adoro ornar o adro dela"
Parabéns pelo comentário. Ah e Seu Jorge também é bom! Hehe..
Abraço
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